sábado, 9 de agosto de 2014

Gravações comprovam: CPI da Petrobras foi uma grande farsa


A CPI da Petrobras foi criada com o objetivo de não pegar os corruptos. Ainda assim, o governo e a liderança do PT no Senado decidiram não correr riscos e montaram uma fraude que consistia em passar antes aos investigadores as perguntas que lhes seriam feitas pelos senadores. A trama foi gravada em vídeo.
Hugo Marques

Era tudo farsa. Mas começou parecendo que, dessa vez, seria mesmo para valer. Em março deste ano, os parlamentares tiveram um surto de grandeza institucional. Acostumados a uma posição de subserviência em relação ao Palácio do Planalto, eles aprovaram convites e convocações para que dez ministros prestassem esclarecimentos sobre programas oficiais e denúncias de irregularidades. Além disso, começaram a colher as assinaturas necessárias para a instalação de uma CPI destinada a investigar os contratos da Petrobras. Ventos tardios, mas benfazejos, finalmente sopravam na Praça dos Três Poderes, com deputados e senadores dispostos a exercer uma de suas prerrogativas mais nobres: fiscalizar o governo. O ponto alto dessa agenda renovadora era a promessa de escrutinar contratos firmados pela Petrobras, que desempenha o papel de carro-chefe dos investimentos públicos no país. Na pauta, estavam a suspeita de pagamento de propina a servidores da empresa e o prejuízo bilionário decorrente da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, operação que jogou a presidente Dilma Rousseff numa crise política sem precedentes em seu mandato. O embate estava desenhado. O Legislativo, quem diria, esquadrinharia o Executivo. Pena que tudo não passou de encenação.     
VEJA teve acesso a um vídeo que revela a extensão da fraude. O que se vê e ouve na gravação é uma conjuração do tipo que, nunca se sabe, pode ter existido em outros momentos de nossa castigada história republicana. Mas é a primeira vez que uma delas vem a público com tudo o que representa de desprezo pela opinião pública, menosprezo dos representantes do povo no Parlamento e frontal atentado à verdade. Com vinte minutos de duração, o vídeo mostra uma reunião entre o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o advogado da empresa Bruno Ferreira e um terceiro personagem ainda desconhecido.
A decupagem do vídeo mostra que, espantosamente, o encontro foi registrado por alguém que participava da reunião ou estava na sala enquanto ela ocorria. VEJA descobriu que a gravação foi feita com uma caneta dotada de uma microcâmera. A existência da reunião e seus participantes foram confirmados pelos repórteres da revista por outros meios — mas a intenção da pessoa que fez a gravação e a razão pela qual tornou público seu conteúdo permanecem um mistério. Quem assiste ao vídeo do começo ao fim — ele acaba abruptamente, como se a bateria do aparelho tivesse se esgotado — percebe claramente o que está sendo tramado naquela sala. E o que está sendo tramado é, simplesmente, uma fraude caracterizada pela ousadia de obter dos parlamentares da CPI da Petrobras as perguntas que eles fariam aos investigados e, de posse delas, treiná-los para responder a elas. Barrocas revela no vídeo que até um “gabarito” foi distribuído para impedir que houvesse contradições nos depoimentos. Um escárnio. Um teatro.    
Geraldo Magela/Ag. SenadoJosé Eduardo Barrocas
TEATRO: Parecia uma encenação — e era mesmo. As perguntas que seriam feitas pelos parlamentares ao ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli foram enviadas a ele antes do depoimento por José Eduardo Barrocas, chefe do escritório da estatal em Brasília, que aparece no detalhe da foto

Depois de amputação de braços e pernas, jovem lança livro de superação


8/2014 19h53Pedro Pimenta - jovem escreve livro de superação depois de amputação de membros (Foto: Joey Clay)

Pedro Pimenta era saudável, estudioso, esportista e baladeiro, como todo adolescente de 18 anos. Em 2009 ele foi internado e diagnosticado com meningococcemia - infecção generalizada causada por uma bactéria. Os médicos deram 1% de chance de sobreviver. Pedro conseguiu, mas amputou os quatro membros - os braços, acima do cotovelo, e as pernas acima do joelho. Dez meses depois nunca mais sentou numa cadeira de rodas, mora sozinho na Flórida, Estados Unidos, onde faz faculdade de economia, e acaba de lançar o livroSuperar é Viver (Leya). "Essa bactéria não é rara e nosso corpo a elimina, mas o meu sistema imunológico estava muito baixo", explica Pedro. No hospital, ele ficou em coma induzido por uma semana e, quando acordou ouviu e viu a notícia. "Quando abri os olhos meus braços e pernas estavam gangrenados. Num dia sou um cara de 1,80 metros, no outro meus membros estavam apodrecidos. Foi um choque", afirma ele, que teve que fazer enxertos tirando pele da barriga e colocando nas pernas. Mas nada desanimou o rapaz. "Quando acordei do segundo coma perguntei sobre o show do AC/DC que teria em São Paulo. Minha família já tinha comprado ingressos duas semanas antes. Consegui a liberação do meu médico para ir de ambulância e voltar imediatamente - isso dois meses depois da cirurgia. Isso me deu mais energia para suportar o resto", diz Pedro.
"Fui condenado a uma vida na cadeira de rodas, sem ter independência. Uma das coisas que me ajudou muito foi estudar música eletrônica no hospital no computador - eu conseguia mexer com os restos dos braços. Até ganhei um concurso internacional de remixes. Por isso não tive depressão, porque tracei metas para manter minha cabeça distraída". Sua 'nova vida' com próteses começou em 2010, seis meses depois de sair da internação. "Comecei a assistir à vídeos de amputados que andavam uma barbaridade. No fim, sempre via a logotipo de uma empresa - poxa, eu sou um baita cliente para uma empresa de próteses. Conheci o vice-presidente da empresa e comecei a fazer um tratamento em Oklahoma (EUA), para ex-soldados feridos do Iraque e Afeganistão que viviam sem cadeira de rodas. Ele me disse: 'você tem que se adaptar o mundo e não o contrário'. Isso mudou minha vida. Foi um treinamento bruto e saí de lá muito mais forte. Desde dezembro de 2010 não uso mais cadeira de rodas. Se você quer chegar a esse nível tem que ser uma pessoa regrada, porque gastamos cinco vezes mais energia do que uma pessoa normal para andar", diz ele.
Quando entrava num restaurante ou lugares públicos fazendo tudo sozinho, as pessoas olhavam para Pedro com ar de admiração e foi assim que começou a receber convites para dar palestras. Em 2012 se mudou para a Flórida para fazer faculdade de economia, conseguiu uma namorada, dirige carro sem adaptação, escova os dentes, faz sua própria comida, enfim, vive uma vida normal. "No início eu colocava minhas próteses em 40 minutos, hoje consigo em cinco minutos. Cheguei num nível de independência que não poderia imaginar", diz ele, que vê mais problema em subir escadas e não em encontrar namoradas. "Arrumei uma namorada muito rápido e isso é como você se enxerga, tendo ou não mãos e pernas", afirma. O que mais mudou dentro de você? "Hoje sou um cara mais atento às dificuldades alheias, ao sofrimento do outro. Quero fazer algo filantrópico porque tenho muito prazer quando sirvo de mentor a outro amputado. Isso para mim é uma missão de vida, servir de exemplo positivo para as pessoas. Na minha casa não tem nada adaptado, lavo, cozinho, limpo a casa e, em vez de ficar desesperado e mandar tudo para o inferno, quebrei tudo em desafios pequenos. Uso a mentalidade para me considerar um cara normal e dizer não às adaptações. Nunca fiz terapia na vida. Sou muito teimoso, mas acredito que quem resolve meus problemas sou eu mesmo", diz.
Trechos do livro:
“Neste livro vou contar minha história de vida: como um garoto paulista de classe média, que como tantos outros ainda não tinha definido que carreira seguir, sofreu uma terrível fatalidade, aprendeu a encarar as consequências e se tornou um homem que supera suas dificuldades com determinação e trabalho duro. Mas não se engane: apesar do curto espaço de tempo — pouco mais de quatro anos — esse foi um processo árduo repleto de momentos de medo, insegurança e muita dor. Encaro meus braços e pernas como ferramentas que perdi. Elas foram substituídas por outras que não funcionam tão bem, mas que me possibilitam fazer quase tudo que fazia antes. De modo diferente, mas que de forma alguma condicionam a minha felicidade”.
“Não há nada mais compensador que testemunhar a transformação das personalidades ao fim do trabalho, saber como fui importante para mudar suas mentalidades. Minha vida é uma luta diária, acompanhada sempre pela dor. Não mato um leão, mas um zoológico por dia. Em vez de me entregar à tristeza, penso em como posso dedicar ainda mais tempo e esforço para avançar com meus projetos e planos”.

Turistas pagam para serem trancados em porões de Budapeste e tentar fugir

09/08/2014 06h00 - Atualizado em 09/08/2014 06h00

'Jogos de fuga' em prédios em ruínas se tornaram populares entre turistas.

Participantes têm que resolver enigmas e abrir cadeados para escapar.

Da Reuters

Jogadora procura por pistas em uma prisão fictícia no jogo de fuga TrapFactory em Budapeste (Foto: Laszlo Balogh/Reuters)

Em um prédio antigo em ruínas de Budapeste, turistas pagam para serem trancados em uma sala e tentar escapar resolvendo uma série de enigmas, abrindo cadeados e tentando adivinhar formas de sair de lá.
“O Buraco do Coelho”, inspirado na história de “Alice no País das Maravilhas”, é um dos cerca de cem jogos de fuga que se espalharam pela capital húngara nos últimos três anos e que já se transformaram em atrações populares entre os turistas.
Jovem procura pistas para "escapar" de sala de fuga no ExitPointGames, em Budapeste (Foto: Laszlo Balogh/Reuters)Jovem procura pistas para 'escapar' de sala de
fuga no ExitPointGames, em Budapeste
(Foto: Laszlo Balogh/Reuters)
Esses jogos de fuga tiram vantagem da grande quantidade de porões decrépitos e casas velhas em ruínas de Budapeste – os mesmos lugares que abrigam os “bares em ruínas”, já bem conhecidos na cidade.
Na última semana, a Hungria organizou seu primeiro festival nacional de jogos de fuga, com centenas de equipes nacionais e estrangeiras participando por todo o país.
Andras Maldrik e Zeno Zoltan Ferencz, donos do ExitPointGames, que opera três salas de fuga no bar em ruínas Fogaskert, dizem que o jogo funciona bem quando requer aptidões variadas, como procurar pistas e resolver quebra-cabeças usando tanto a lógica quanto habilidades mecânicas.
Eles abriram sua primeira sala de fuga dois anos atrás, com um investimento de apenas US$ 3 mil. Agora, estão exportando suas ideias para o exterior e criando empreendimentos parecidos em Viena e em Bucareste.
O ExitPointGames tem dois jogos: Madness, que se passa em uma enfermaria psiquiátrica fictícia, e Mirrors. Depois de “escaparem”, os visitantes podem se recuperar com petiscos e bebidas no bar.
Outro ambiente para jogos de fuga, o TrapFactory, tem uma moderna sala de conferências para sediar eventos corporativos de desenvolvimento de equipes. O negócio abriu em dezembro em uma antiga fábrica da era comunista e tem seis salas.
Atração turística popular
Equipe tenta resolver enigma na sala medieval do TRAP, jogo de fuga em Budapeste (Foto: Laszlo Balogh/Reuters)Equipe tenta resolver enigma na sala medieval do TRAP, jogo de fuga em Budapeste (Foto: Laszlo Balogh/Reuters)
No site de viagens TripAdvisor, dois jogos de fuga, TRAP e Claustrophilia, estão na segunda e na terceira posição entre as atrações mais populares de Budapeste entre viajantes.
Jogador tenta escapar de uma prisão fictícia no jogo de fuga TrapFactory em Budapeste (Foto: Laszlo Balogh/Reuters)Jogador na 'prisão' do TrapFactory
(Foto: Laszlo Balogh/Reuters)
O TRAP também existe em outras cidades europeias. Em uma de suas salas em Budapeste, turistas podem viajar no tempo para o antigo Egito em um porão que parece uma câmara funerária, ou para a Idade Média em ambientes que lembram o interior de um castelo medieval.
Os jogos custam cerca de 12 mil florins por equipe (cerca de R$ 120).
Istvan Karacsony, gerente no TRAP, diz que funcionários assistem aos jogadores por um circuito de televisão e dão dicas se eles parecerem em apuros ou “emperrados”.

Após desistir de cirurgia bariátrica, técnico gráfico emagrece quase 80 kg

09/08/2014 
Psicóloga disse que Milton Bispo Júnior não estava pronto para a cirurgia.
No início, para evitar as tentações, ele recorreu à marmita feita pela esposa.

Fabíola GleniaDo G1,
em São Paulo
Milton Tomaz Bispo Júnior emagreceu 76 kg em 13 meses (Foto: Arquivo pessoal/Milton Bispo Jr.)Milton Tomaz Bispo Júnior pesava 156 kg e, após 13 meses, chegou aos 80 kg (Foto: Arquivo pessoal/Milton Bispo Jr.)
Com 1,78 m de altura e 156 kg, o técnico gráfico Milton Tomaz Bispo Júnior estava passando por uma bateria de exames para fazer a cirurgia de redução de estômago, quando ouviu da psicóloga que fazia o acompanhamento do seu caso que ele não estava pronto para a intervenção. “Isso foi determinante. Fiz todos os exames, mas fiquei com medo e desisti. Então, se eu estava gordo e não podia fazer a cirurgia, eu tinha que fazer alguma coisa”, relata.
A família inteira de Júnior é “redondinha”, segundo ele. “Todo mundo é pesadinho, é genético”, diz. Mas seu caso começou a se tornar mais grave a partir dos 11 anos de idade, quando um problema ortopédico exigiu cirurgia e muito tempo de repouso. Nessa fase, as “tranqueiras” – como bolachas recheadas, chocolates e salgadinhos – viraram suas companheiras de recuperação, e o peso só fez aumentar.
Milton Tomaz Bispo Júnior emagreceu 76 kg em 13 meses (Foto: Arquivo pessoal/Milton Bispo Jr.)Técnico gráfico com suas professoras de ginástica
(Foto: Arquivo pessoal/Milton Bispo Jr.)
Já adulto, o técnico gráfico diz que era viciado em carne vermelha e refrigerante. “Comia em grande quantidade, muita carne vermelha, churrascaria todo dia. Não comia nada de saudável, zero, não gostava”, conta. Para piorar o cenário, ele trabalhava de madrugada e confessa que, muitas vezes, seu café da manhã era um lanche de fast food.
Impossibilitado de fazer a cirurgia após a avaliação da psicóloga, e preocupado com sua saúde – a pressão de Júnior estava alta, chegou a 16 x 11, e o médico disse que era por causa do peso – em junho do ano passado, o paulistano de então 25 anos decidiu mudar drasticamente seus hábitos. Em vez de ir à churrascaria, ele passou a levar marmita para a hora do almoço. “Onde trabalho, não pode levar marmita, mas conversei com meu gestor, expliquei que era uma questão de saúde e ele deixou. Optei pela marmita porque, no começo, eu não ia ter controle.” Só depois de quatro meses ele se sentiu seguro para voltar a almoçar com os amigos em qualquer lugar.
Vencer a “mobilidade zero”, como ele mesmo define seu nível de atividade física antes da mudança, foi mais complicado. “Fui a várias academias, e não gostava de nenhuma, até que conheci uma academia com acompanhamento de personal trainer. Esse foi o grande X da questão, você não faz sozinho, está sempre acompanhado. Foi o que me deu ânimo”, relata.
“No começo eu queria emagrecer 30 quilos, o plano era esse. Quando cheguei perto dos 100 kg, decidi que queria sair dos três dígitos. Depois de baixar dos 100 kg, fui ao médico, achei que estava arrasando, e ele disse: para a sua altura, para o seu porte, é 80 kg. Fui a outro médico, que repetiu a mesma indicação. Então eu decidi: vamos buscar os 80 kg.”
Hoje, pouco mais de um ano depois, o técnico gráfico conquistou os 80 kg, o que significa que ele emagreceu 76 quilos. A atividade física bem orientada ajudou a evitar a flacidez e Júnior conquistou um corpo definido. Mas ele não se deixa seduzir pela vitória. “Não tem como considerar uma batalha vencida, é uma luta diária. A grande questão está nessa disciplina do dia a dia. A ajuda da minha mãe e da minha esposa foram fundamentais. Eu me cerquei de ajuda, porque sozinho ninguém consegue nada.”
Milton Tomaz Bispo Júnior emagreceu 76 kg em 13 meses (Foto: Arquivo pessoal/Milton Bispo Jr.)Paulistano diz que apoio da família e dos profissionais foi fundamental (Foto: Arquivo pessoal/Milton Bispo Jr.)

Contadora do doleiro Youssef desnuda seu esquema de pagamento de propina

Operação Lava-Jato

Parlamentares notórios, partidos e empreiteiras participavam das tramas reveladas por Meire Poza

Robson Bonin, de Curitiba
by Veja
Meire Poza – "O Beto (Youssef) lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro pra lá e pra cá o tempo todo."
Meire Poza – "O Beto (Youssef) lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro pra lá e pra cá o tempo todo." (Jefferson Coppola/VEJA)
É um clássico. As organizações mafiosas caem com maior rapidez quando alguém de dentro decide contar tudo. O que se vai ler nesta reportagem é justamente a história de alguém que, tendo participado do núcleo duro da quadrilha que girava em torno do doleiro Alberto Youssef, pego na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, resolve contar tudo o que fez, viu e ouviu. Meire Bonfim Poza participou de algumas das maiores operações do grupo acusado de lavar 10 bilhões de reais de dinheiro sujo, parte desviada de obras públicas e destinada a enriquecer políticos corruptos e corromper outros com o pagamento de suborno. Meire Poza viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras, sendo embarcadas em aviões e entregues às mãos de políticos. Durante três anos, Meire manuseou notas fiscais frias, assinou contratos de serviços inexistentes, montou empresas de fachada, organizou planilhas de pagamento. Ela deu ares de legalidade a um dos esquemas de corrupção mais grandiosos desde o mensalão. Meire sabe quem pagou, quem recebeu, quem é corrupto, quem é corruptor. Conheceu de perto as engrenagens que faziam girar a máquina que eterniza a mais perversa das más práticas da política brasileira. Meire Poza era a contadora do doleiro Alberto Youssef — e ela decidiu revelar tudo o que viu, ouviu e fez nos três anos em que trabalhou para o doleiro.
Nas últimas três semanas, a contadora prestou depoimentos à Polícia Federal. Ela está ajudando os agentes a entender o significado e a finalidade de documentos apreendidos com o doleiro e seus comparsas. Suas informações são consideradas importantíssimas para comprovar aquilo de que já se desconfiava: Youssef era um financista clandestino. Ele prospectava investimentos, emprestava dinheiro, cobrava taxas e promovia o encontro de interesses entre corruptos e corruptores. Em outras palavras, usava sua estrutura para recolher e distribuir dinheiro e apagar os rastros. Entre seus clientes, estão as maiores empreiteiras do país, parlamentares notórios e três dos principais partidos políticos. Os depoimentos da contadora foram decisivos para estabelecer o elo entre os dois lados do crime — principalmente no setor tido como o grande filão do grupo: a Petrobras. As empreiteiras que tinham negócios com a estatal forjavam a contratação de serviços para passar dinheiro ao doleiro. Nas últimas semanas, Meire Poza forneceu à polícia cópias de documentos e identificou um a um os contratos simulados e as notas frias, como no caso da empreiteira Mendes Júnior (veja o documento na página 54), que nega ter relacionamento com o doleiro. Os corruptores estão identificados. A identificação dos corruptos está apenas no início.

Três políticos no bolso de Youssef


“O André Vargas ajudou o Beto a lavar 2,4 milhões de reais. Como pagamento, ele ganhou uma viagem de jatinho. Eu mesma fiz o pagamento”

Deputado André Vargas (sem partido)

“O Beto fez os depósitos para o ex-presidente Collor a pedido do Pedro Paulo Leoni Ramos (ex-auxiliar do senador e também envolvido com o doleiro). Ele guardava isso como um troféu”

Senador Fernando Collor (PTB)

“O Vacarezza precisava pagar dívidas de campanha. Um assessor dele me procurou em 2011 para apresentar um negócio com fundos de pensão no Tocantins”

Deputado Cândido Vacarezza (PT)

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