Pelo que se viu até o momento, o ex-presidente Lula assumiu como questão de honra vencer a disputa em São Paulo. Para tanto, não teve nenhum pudor em aliar seu partido a um de seus adversários mais antigos e até então por ele demonizado na política nacional, Paulo Maluf.
Como já amplamente divulgado na mídia, e jamais desmentido pelos interessados, o Estado de São Paulo é o ultimo bastião de resistência à hegemonia petista em todo o País, e para tentar conquistá-lo em 2014, o PT desde já aposta todas as fichas na disputa pelo comando da Prefeitura da Capital. Não será absurdo supor, portanto, que nenhum esforço será poupado por Lula e pelo PT para vencer essas eleições.
Nesse sentido, passados alguns anos das gestões Marta e Erundina, importante compreender o que significaria, afinal, reabrir espaço para a administração petista na capital. No que implicaria, ao fim e ao cabo, entregar-lhes novamente o comando da maior e mais importante cidade do País, em meio essa avassaladora tomada de poder petista em nível nacional.
Para tanto, é preciso ter em conta, como pano de fundo, que no entorno de São Paulo, o que se vê já é a formação de um verdadeiro cinturão vermelho, em cidades cuja administração petista vem sendo fortificada e consolidada à custa de uma enorme e seletiva remessa de recursos e verbas federais para as suas respectivas administrações. Note-se, por oportuno, que igual transferência de recursos não ocorre para municípios vizinhos, quando desprovidos de companheiros à frente da prefeitura.
Referida análise, portanto, relativiza a importância de questões que deveriam, ao menos em tese, constituir a primeira e maior preocupação do eleitor em pleitos municipais, e remete para uma constatação mais profunda, acerca das conseqüências mais remotas, mas nem por isso menos importantes, do resultado das eleições municipais em São Paulo.
Em outras palavras, ainda que numa eleição municipal qualquer a comparação das respectivas propostas de cada candidato acerca de temas como saúde, transporte, educação, saneamento etc. devesse ser o principal foco de analise do eleitor na hora de decidir o seu voto, no caso da eleição de São Paulo a analise dessas questões parece assumir um papel secundário.
Isto porque, a exemplo do que vem ocorrendo nos países vizinhos, o que está realmente em discussão são visões e concepções distintas de mundo. Entra em jogo, nesse caso, a possibilidade de prevalecer toda uma gama de idéias e princípios cuja aplicabilidade não seria inconcebível num cenário de alternância de poder. Entretanto, diante do risco de consolidação de um poder hegemônico em todo o País, tais questões passam a ter maior relevância.
São Paulo sempre foi conhecida pela sua marca de dinamismo, como celeiro de novas idéias e iniciativas. Um local onde o empreendedorismo floresce e cresce em todos os sentidos. Um povo que ama o trabalho, que não favorece o compadrio, que repugna o corporativismo.
Paulistanos são todos aqueles que, tendo nascido ou adotado a cidade como seu lar, nela trabalham, produzem riqueza, educam seus filhos, enfim convivem com uma seara de valores que desde logo reconhece a meritocracia e o ambiente plural e democrático como algo natural e salutar.
Independente dos governantes que por nela passaram, São Paulo nunca deixou de ser a força motriz da economia brasileira, gerando emprego e renda a todos aqueles que se dispõe a arregaçar as mangas e trabalhar com honestidade, ética e respeito.
Conviver com a diversidade de credos e opiniões sempre foi algo natural para o espírito cosmopolita paulistano. Na população de São Paulo, todas as correntes de opinião convivem e se respeitam mutuamente.
O que se vê, em nível nacional, por outro lado, é algo muito diferente disso. Escândalos e mais escândalos de corrupção. Apadrinhamento por todos os lados. Ineficiência e desperdício de dinheiro público, tratado como algo natural e corriqueiro. Desapego pela meritocracia e total aversão pela transparência e pela ética. Tudo para chegar e permanecer no poder. Custe o que custar.
A demolição das instituições publicas, lograda através do total desrespeito com a opinião pública e com a liturgia dos cargos, o achincalhe total e absoluto de todas as referencias éticas e morais ainda existentes na nacionalidade brasileira, são a marca mais evidente de uma maneira atrasada de ver o mundo.
A reação de indignação do governo brasileiro ao processo de impeachment do presidente paraguaio contrasta claramente com o tratamento condescendente dado a figuras como Fidel Castro, Chavez, Cristina Kirchner, Evo Morales e Rafael Correa e tudo isso em virtude de uma visão ideologizada de mundo, que transcende a mera diplomacia e lança perigosas raízes na intervenção da economia, na tentativa de limitar liberdades individuais e de imprensa, na relativização da propriedade privada e do estado democrático de direito.
O risco, portanto, não é de prevalecerem propostas do candidato petista para temas do cotidiano da cidade, uma vez que, como dito acima, São Paulo já conviveu, sem maiores traumas com tal maneira de administrar a cidade. Desta vez, por outro lado, diante do projeto de poder em âmbito nacional, o risco maior é a consolidação de um processo hegemônico de poder, com conseqüências imprevisíveis e indesejáveis para todo o País no longo prazo, e para quem acha que essa visão é mera fantasia, basta olhar o que vem ocorrendo com nossos vizinhos latino-americanos.