1.
Uma coisa é a denúncia (como a do acordo Venezuela/MST). Outra a investigação do caso. Outra a justificativa legal para uma ação militar. Outra a cobrança intelectual pela atenção dos militares. Outra a cobrança do povo nas ruas pela intervenção. A falta de senso das nuances e compreensão do jogo político faz com que uma minoria acredite que a mera denúncia já é motivo para exigir nas ruas a intervenção. Não é. É motivo para as pessoas exigirem nas ruas investigação, lançando ainda mais luz sobre a denúncia, o que automaticamente chama a atenção dos militares, que não precisam de “cartazinho” com o nome deles para saber o que devem fazer, se e quando a Constituição assim o permitir. Uma coisa de cada vez, portanto, ou os manifestantes serão inevitavelmente tachados de golpistas. Sei que alguns não se importam. Sei que não entendem que isto afasta a população do movimento, em vez de atraí-la; e justifica que o PT convoque à militância às armas, como já fez no Facebook. Petistas levaram 40 anos para chegar ao poder. Há manifestantes que, após 12 anos inertes, querem tomá-lo do dia para a noite, correndo o risco de provocar um inútil banho de sangue.
2.
Assim como “leviana” PODE ser entendida como “vadia”, “vagabunda” ou “p***” – e o PT explorou isso na campanha eleitoral para tachar Aécio como homem que desrespeita e até agride as mulheres -, “intervenção militar” SÓ É ENTENDIDA como “golpe” e “volta da ditadura” – e será explorada por jornalistas e políticos petistas assim, independentemente de seu sentido técnico específico, queria você ou não.
Levar cartazes e gritar por isso nas ruas só serve para despertar ainda mais ódio pelo movimento e pelos próprios militares, mais uma vez associados à ditadura, à censura, à tortura e a todo o pacote do mal.
3.
Você tem o documento que prova que o Foro de São Paulo é entidade estrangeira? Você tem o documento que prova que o PT é subordinado a ele? Você já levou o caso aos tribunais nacionais e internacionais para ver se as provas são legítimas e justificam o impeachment e o fechamento do partido? Já aguardou o processo legal? Já moblizou milhões de pessoas nas ruas para exigir a investigação? Ou tem apenas denúncias e viu alguns milhares protestando em São Paulo e já quer ser juiz, povo e Exército, e derrubar o governo?
4.
Para a geração facebook, qualquer meme é uma prova cabal com valor jurídico.
5.
Ronaldo Caiado: “Os ministros Luiz Figueiredo (Relações Exteriores) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) terão que vir aqui detalhar esse acordo nebuloso entre MST e Venezuela.”
Caiado viu o vídeo do acordo e tomou essa providência legal para investigar o caso. Há pessoas – daquele tipo que nunca deu nem 10 reais para um site independente de oposição – que veem o vídeo do acordo e já querem “intervenção militar”.
A essa minoria, pedimos a gentileza de deixar claro o objetivo de suas manifestações de rua e marcá-las bem longe dos protestos anti-PT.
6.
Uma guerra cultural que limpe o nome das Forças Armadas e faça o povo entender que elas não são sinônimo de golpe, ditadura, tortura, censura etc., é uma coisa (que leva anos e precisa ser feita, como fazemos). Outra é sair às ruas clamando pelo Exército.
Sair às ruas clamando pelo Exército antes da hora tende a fazer apenas com que o trabalho da guerra cultural ande para trás.
Em março, o movimento que pedia intervenção militar fracassou. Mas parece que o fracasso subiu à cabeça de alguns.
7.
A oposição cresceu, conseguiu 51 milhões de votos anti-PT. Agora tem força, mas em vez de aproveitá-la, alguns querem chutar o balde. Depois não sabem por que perdem. “É urgente ter paciência”, dizia Goethe. E paciência com luta é bem diferente de passividade suicida.
8.
Político nenhum tem de apoiar pedido de impeachment sem ter provas cabais de que ele se aplica, senhores. É uma infantilidade esperar e exigir que o façam com base em simples denúncias. Eles podem apoiar manifestações, apontar que o povo está insatisfeito etc. Isto não é ser frouxo. Isto é respeitar as instituições, ainda que estejam aparelhadas, o que tanto o povo quanto eles podem denunciar também. O PSDB foi frouxo no combate ao PT nos últimos 12 anos até Aécio subir um pouco o tom, mas não é frouxidão alguma repudiar qualquer salto sobre a Constituição brasileira. O povo pode até gritar por impeachment nas ruas (não que eu recomende tal coisa), mas aos políticos cabe exigir investigação e punição aos corruptos, como fez o senador em sua volta ao Plenário. Tenham senso das nuances. Nem tudo que é tolerável na voz do povo é admissível na voz de um político. O sentimento de revolta contra o PT leva muita gente a exigir dos oposicionistas a postura que os petistas mais desejam que eles adotem para terminar o serviço de assassinar suas reputações.
9.
Que o Brasil se mire no exemplo dos EUA, onde a população rejeitou democraticamente o desgoverno Obama, deu a vitória no Senado aos Republicanos e renovou a minha fé na humanidade. O que seria do mundo, afinal, sem os americanos? Não respondam, MAVs.
10.
Agora Dilma quer diálogo com PSDB. Agora Obama quer diálogo com Partido Republicano. O que oposição tem de fazer? Parar Dilma. Parar Obama.
by Felipe Moura Brasil
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