quinta-feira, 3 de junho de 2021

Post com declarações de "famosos". expõem o negócio das redes


Edição que tem como “tema” a cultura do cancelamento, o ''Big Brother Brasil 21'' teve seu clímax na última terça-feira (23/02), quando a rapper curitibana Karol Conká, de 35 anos, foi eliminada da disputa pelo prêmio de R$ 1,5 milhão com 99,17% dos votos.
Ela disputava a permanência na casa com dois outros participantes, o doutorando em economia pernambucano Gilberto Nogueira, de 29, e o instrutor de crossfit capixaba Arthur Picoli, de 26, que tiveram 0,29% e 0,54%, respectivamente. A porcentagem é o recorde de rejeição, consideradas todas as edições do programa.

Pesaram contra a rapper curitibana as várias polêmicas em que se envolveu durante o confinamento, que lhe renderam acusações de cometer tortura psicológica e assédio, por parte do público. A indignação com as atitudes de Karol Conká no “BBB21” motivou campanhas por sua saída, convocadas inclusive por outros artistas , como a cantora Ludmilla e a atriz Deborah Secco, via redes sociais, onde é intenso o debate sobre o programa. Manifestar-se sobre ele é uma forma de se manter “relevante” na discussão.

Mas, na noite da eliminação, uma ação de marketing de uma marca de cerveja - patrocinadora do ''BBB'' acendeu o debate acerca do dilema que as celebridades enfrentam, ao declarar torcida por algum participante do reality.

A campanha consistiu em um post pago, que simulava uma troca de mensagens entre a cantora Preta Gil, a influenciadora digital Lorrane Silva, mais conhecida como Pequena Lô, e a ex-BBB Thelma Assis, campeã da edição 2020 do programa.

''Não concordei com as atitudes da Karol no #BBB21. Mas também sempre questionei, a propagação de ódio e cancelamento são o caminho? Espero que ela aprenda com os erros e seja muito feliz. O que vocês acham?'', publicou Preta.

''É sobre isso! Cancelar e gerar ódio é opressão, mesmo você não concordando com ela. Não precisamos ser iguais. Espero que todos nós possamos aprender a ter mais empatia, tolerância e que todos possam aprender com os erros aqui fora'', respondeu Lorrane.

Os posts foram publicados com a hashtag da marca e com o sinalizador '#publi', o que indica uma postagem paga.

No Twitter, a iniciativa foi vista como ''oportunista'' e ''forçada'', uma tentativa de ''comercializar a empatia''.

''Xô ver se eu entendi... Sério que as pessoas estão negociando 'publi' pra ter opinião sobre questões éticas? Estão colocando preço em empatia? Num momento como esse que vivemos. Eu não canso de me chocar. Real. Real. Real'' escreveu a cantora Maria Rita.

Respingos

Apesar de envolver somente Preta Gil, Lorrane Silva e Thelma Assis, a repercussão da campanha respingou em outros famosos, que, após a saída de Karol Conká, publicaram mensagens demonstrando empatia pela cantora, sendo que anteriormente haviam sido críticos contundentes de seu comportamento.

Quando Karol Conká humilhou seguidas vezes o ator Lucas Penteado, de 24, no confinamento, Ludmilla anunciou no Twitter que pretendia organizar um mutirão para eliminar a rapper, assim que ela fosse indicada à berlinda. No dia em que a líder Sarah Andrade mandou Conká ao paredão, a funkeira escreveu: ''TCHAU, QUERIDA''.

Depois do anúncio da saída, contudo, Ludmilla, que atualmente integra o júri de outro programa da Globo, o “The voice +”, publicou em sua conta no Twitter: ''Gente, Karol eliminada com 99,17%, já criticamos o jogo que ela fez lá dentro, brincamos e zoamos, a partir de agora ela precisa seguir a vida dela. Jogo é jogo, entretenimento, vida real é outra história. Que ela assista tudo e use isso em benefício próprio. Sejam humanos!''.

A atriz Deborah Secco seguiu a mesma lógica. ''Quem acha que a gente consegue eliminar a Karol com 100% dá RT!'', escreveu ela, após a formação do paredão no último domingo, 21 de fevereiro.
Depois da eliminação, a atriz assumiu outra postura. ''Karol saiu com recorde de rejeição! Mas, como o (apresentador) Tiago (Leifer) disse, a rejeição foi pelo jogo que ela escolheu fazer. Aqui fora ela merece todo o respeito, ver tudo o que aconteceu com calma e refletir sobre quais passos vai querer dar daqui pra frente.''

Marília Mendonça também seguiu a mesma conduta. ''VAAAAAAAI, BRASIL'', postou, no dia em que o paredão foi formado. Depois da eliminação, ela publicou: ''Acabou o jogo galera... Agora é ser humano... Sei que a gente já falou sobre isso, mas não custa lembrar... Adoro zoar com vocês (sobre o jogo), mas sei que tem gente que confunde as coisas... Não gosta? Não acompanha! Perseguição, não!'', tweetou.

Outros famosos, como Maisa Silva, Neymar, Cleo Pires, Bruno Gagliasso e Anitta, adotaram o mesmo comportamento.

O humorista Marcelo Adnet fez piada com a situação. ''O ódio à Karol Conka é legítimo dentro do jogo, mas deve ser perdoado fora dele! Essa é a mensagem de paz do Biscoito Torcida, dos Grampos Gina e dos Calçados Moleca!'', escreveu ele, que também ironizou a tag #publi ao trocá-la por #pugli.

Ameaças

A estratégia é justificada pelo fato de que as reações às atitudes de Karol Conká tomaram uma proporção maior do que a esperada pela própria produção do programa. Durante sua participação no ''Mais você'', na manhã de quarta-feira (24/2), a rapper comentou que sua família vem sendo ameaçada.

No bate-papo com Ana Maria Braga, Karol se comparou à Carminha, personagem interpretada por Adriana Esteves na novela ''Avenida Brasil''. Há algumas semanas, Boninho, o diretor do ''BBB'', fez um paralelo da rapper com Odete Roitman, personagem interpretada por Beatriz Segall na novela ''Vale tudo''.

Quando foi anunciada como participante do ''BBB21'', a rapper foi vista como uma forte candidata ao prêmio. Caso não conquistasse o R$ 1,5 milhão, ao menos esperava-se que ela saísse mais prestigiada do programa, como ocorreu com Manu Gavassi e Babu Santana, do ''BBB20''.

Logo no início do confinamento, ela fez comentários depreciativos em relação ao sotaque da advogada e maquiadora paraibana Juliette Freire, de 31, o que lhe rendeu uma acusação de xenofobia fora da casa.

Ela também agrediu verbalmente Carla Diaz, de 30, e a acusou injustamente de flertar com o educador físico Arcrebiano, de 29, com quem Karol forçou um relacionamento na casa.
O maior de seus ataques foi direcionado a Lucas Penteado, a quem ela chegou a expulsar da mesa de refeição. ''Quero comer na paz do senhor, entendeu? Não quero que você fale enquanto estou comendo. Me respeita'', disse ela, ao exigir sua saída da mesa.

Entre o anúncio da eliminação e a chegada de Karol Conká ao estúdio do ''BBB'' para o rápido bate-papo com o apresentador Tiago Leifert, a Globo inseriu um longo intervalo comercial, o que fez surgir a teoria de que a emissora teria reservado esse momento para orientá-la sobre o que dizer ao vivo.
A emissora nega e assegura que o bloco publicitário já estava previsto, pois muitos anunciantes se mostraram interessados pelo horário, segundo informações do site UOL.

Assim que chegou ao estúdio, a rapper foi convidada a explicar sua passagem pelo reality. ''Eu me perdi dentro de mim, me senti muito frustrada. Eu nunca imaginei que fosse dar uma surtada. É muito louco. Chegar ali e não conseguir controlar. O sentimento de culpa foi me deixando mais amarga'', afirmou.
Karol aproveitou o espaço para se desculpar por suas atitudes.

Contas verificadas fazem posts fakes no Twitter

Na noite da saída de Karol Conká, uma onda de posts fakes tomou conta do Twitter. Neles, influenciadores digitais com contas verificadas - ou seja, autenticadas pelo próprio site - publicaram mensagens fazendo-se passar por outras pessoas.

Um dos que mais circularam foi um tuíte atribuído a Lucas Penteado, no qual o ator negava a amizade com a rapper. Quem o publicou, no entanto, foi o influenciador Gustavo Rocha, que mudou sua foto de perfil e seu nome para se fazer passar pelo ator.

Diante do engajamento gerado pelo post, Lucas se manifestou: ''Não quero cercear ninguém de brincar e se divertir com entretenimento e memes, inclusive quem muda o nome do perfil no tt (Twitter) e faz a zoeira comigo e essa situação. Mas fiquem ligados que apenas o meu perfil oficial representa os meus posicionamentos. Tmj (Tamo Junto), família! Boa noite''.

Gustavo Rocha respondeu: ''Lucas, não tive a intenção de ofender ninguém e peço perdão pelo ocorrido. Foi uma brincadeira de mau gosto, porque, no fim, as pessoas realmente acharam que era você. Não pensei na hora. Não quero prejudicar ninguém, jamais”.

Responsável por receber os participantes do reality para um café da manhã no dia seguinte à sua eliminação, Ana Maria Braga é sempre um nome bastante comentado nas redes. O público cria teorias sobre a apresentadora não querer entrevistar determinados ex-BBBs, sobretudo quando a rejeição deles é alta.

Um post feito pelo youtuber Caio Pericinoto em nome de Ana Maria viralizou na última terça (23/02). ''Se bater 1000 likes nesse tweet, amanhã eu peço pra Globo colocar a TV Globinho no horário do meu programa!''

Na noite de quarta (24/02), a apresentadora usou sua conta oficial para alertar sobre os tuítes falsos. ''Primeira pergunta: vocês sabem que os tuítes de ontem eram de contas fake, certo? Que eu tava de jejum, que não ia, palavrão e coisa e tal. Usam a foto, o nome até o selo, mas não era eu...''
E acrescentou: ''Há quem diga que vivemos numa era de pós-verdade. É inegável que você já recebeu (e talvez até já acreditou e repassou) fake news...''. (GA)

by Estado de Minas

domingo, 30 de maio de 2021

“Rumorese”: A estratégia de controle mental mais sutil que opera em toda a sociedade




O rumorese é composto por uma série de idéias projetadas para serem acreditadas, independentemente de sua veracidade ou racionalidade. Geralmente, trata-se de especulações ou deturpações que se espalham porque causam impacto em nossas emoções mais atávicas.



Em “O Grande Ditador”, Hynkel, o personagem interpretado por Charles Chaplin, fala Grammelot, uma linguagem composta de sons, palavras e rumores que têm significado que, no entanto, outros parecem entender.

No romance “1984”, George Orwell se referiu a uma “linguagem neo” a serviço do sistema de controle, na qual todas as palavras consideradas “perigosas” para o regime foram eliminadas. O lema do partido é: “Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”.

Na verdade, essa linguagem sem sentido, que fala muito sem dizer nada, se espalhou entre nós a uma velocidade vertiginosa, como uma epidemia real. O filólogo Igor Sibaldi chamou de “rumorese”. E é importante ser capaz de detectá-lo, porque – sem perceber e de maneira sub-reptícia – pode acabar restringindo nosso pensamento e, portanto, limitando nossas decisões de vida.
O que é rumorese?

Rumorese é falar muito sem dizer nada, é a “capacidade” de colocar uma palavra após a outra, rapidamente, sem se preocupar que a mensagem seja consistente, tenha significado ou valor. Um discurso em rumorese é composto de palavras vazias ou termos excessivamente ambíguos que são frequentemente contraditórios entre si.

Rumorese é, portanto, a linguagem de todos aqueles que querem se destacar, mas não têm nada importante para contribuir com o mundo. É também a linguagem daqueles que querem exercer controle sem recorrer à razão ou ao entendimento. É uma linguagem em que os sons prevalecem e o significado é óbvio.

Vivendo na sociedade da loquacidade

Nos tempos em que conta mais quantidade do que qualidade, não deve nos surpreender que falar muito sem dizer nada tenha se tornado a norma. Como Thoreau disse, “parece que o importante é falar com rapidez e não com bom senso”.

Quem não aprende esse idioma, mas fala de maneira sensata, pode ser visto com desconfiança pelos outros. Seu discurso será classificado como muito complicado e raro, porque exige uma capacidade de atenção e reflexão perdida.

Assim, discursos razoáveis, lógicos e coerentes tornam-se incompreensíveis para a maioria, uma maioria que foi convenientemente lobotomizada graças a uma educação sistemática à loquacidade.

De fato, para funcionar em certos contextos sociais e ter “sucesso”, muitas pessoas são forçadas a aprender a falar mais e dizer menos. Quem não se sente perdido, como um peixe fora d’água, como se fosse o único são em um manicômio, testemunhando uma cena absurda que se desenrola com extraordinária normalidade. Quem não fala esse idioma acaba, portanto, se sentindo marginalizado, excluído e raro.

O “rumorese” cria o absurdo que nos lobotomiza

“Estamos prontos para fazer as modificações necessárias, de uma justiça por parte do cidadão, implementando reformas que não modificam o processo em andamento …”

Essas palavras, tiradas de um jornal, podem nos parecer familiares, uma vez que fazem parte dos rumores políticos, embora seja verdade que existem muitas outras variantes que falam muito sem dizer nada que se estenda a diferentes áreas de nossas vidas.

Nesse exemplo, embora o leitor possa se sentir feliz porque as “reformas necessárias” serão aplicadas, na realidade elas “não modificarão o processo em andamento”, o que significa que tudo mudará para que nada mude. A isto se acrescenta que o fato de a justiça ser da parte do cidadão é uma contradição, uma vez que a justiça não deve estar em lugar nenhum, mas ser imparcial.

O rumorese, portanto, serve apenas para gerar confusão e criar expectativas que nunca serão satisfeitas, por isso acaba gerando frustração. As contradições flagrantes e o absurdo que ele gera fazem com que uma parte do nosso cérebro se desligue, cansada de procurar uma lógica inexistente. E é precisamente esse tipo de lobotomização autoinfligida que se adapta a todos aqueles que aproveitam os rumores para alcançar seus objetivos.

A isto se acrescenta que, como os rumoreses não têm significado em si, geralmente é mais credível quem tem maior autoridade. Se não entendermos dois discursos antagônicos, teremos a tendência de fundamentar e acreditar no discurso institucionalizado e canonizado. O poder do referente trabalha sua mágica onde não há hábito do pensamento livre.

E isso significa que a razão e o diálogo não prevalecem, mas o poder. Como Thoreau advertiu, “o homem aceita não o que é verdadeiramente respeitável, mas o que é respeitado”.

A reflexão como arma contra palavras vazias

O rumorese é composto por uma série de idéias projetadas para serem acreditadas, independentemente de sua veracidade ou racionalidade. Geralmente, trata-se de especulações ou deturpações que se espalham porque causam impacto em nossas emoções mais atávicas.

De fato, o rumorese se espalha de maneira extremamente eficaz e é uma ferramenta de manipulação perfeita, porque geralmente ajustamos nossa visão de mundo à percepção que os outros têm. Pensamos que muitas mentes não podem estar erradas, portanto, quem eu estou errado sou eu.

O melhor antídoto para conter essa conversa vazia é a razão. Precisamos passar tudo pela peneira do nosso pensamento. Não importa de onde venham as palavras ou quem as disse, temos que questioná-las e, se necessário, refutá-las. É nesse ato de desconstrução do que foi dito que encontramos nossa verdade e nos tornamos livres.

Emissoras estão em poder de poucos




DA SUCURSAL DO RIO
São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2001
Folha São Paulo


Além da presença de políticos, há o problema da concentração de mercado na radiodifusão. As emissoras de TV estão em poder de poucos grupos empresariais. A família Marinho tem participação societária em 32 concessões, o que representa mais de 10% das geradoras existentes no país.
As quatro grandes redes nacionais de televisão -Globo, SBT, Bandeirantes e Record- têm, somadas, 75 emissoras próprias, mais de um quinto das concessões de TV comercial.

Os Marinho têm 11 das 40 emissoras de TV existentes no Estado de São Paulo, o que dá uma proporção de 28%. Duas destas emissoras - a TV Vale do Paraíba, em São José dos Campos, e a TV Aliança Paulista, de Sorocaba- foram concessões dadas pelo ex-presidente José Sarney. A terceira concessão obtida pela família naquele governo foi a TV Cataratas, de Foz do Iguaçu (PR).

Em seis anos, os Marinho quase dobraram suas emissoras de televisão. Em 1994, eles apareciam no cadastro do Ministério das Comunicações com apenas 17 emissoras. Agora, três gerações da família já aparecem como acionistas em emissoras em Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Distrito Federal. Há concessões registradas em nome de Roberto Marinho, de seus três filhos e de cinco netos.

O registro em nome de diferentes pessoas da mesma família é um artifício legal encontrado pelas empresas para ultrapassar o limite de propriedade de TVs permitido na legislação. O teto por acionista é de duas concessões por Estado e dez em âmbito nacional, sendo cinco em VHF (canais de número 1 a 13) e cinco em UHF (do canal 13 para cima).

A Globo tem afirmado que ampliou sua participação no setor com aquisições legais e transparentes e que obedece à lei. Segundo a empresa, não é a família Marinho que possui 32 emissoras, mas pessoas físicas que, independentemente do parentesco entre elas, investiram no setor.

As redes Bandeirantes e SBT também aumentaram suas concessões nos últimos anos, mas em escala menor do que a Globo. A família Saad, da Bandeirantes, passou de nove para 12 concessões, enquanto a família Abravanel passou de nove para dez.

Nesse período também a Igreja Universal do Reino de Deus construiu seu império de 21 emissoras, divididas em três redes: Record, Rede Mulher e Rede Família.

Afiliadas da Rede Globo lideram ranking de ligações com políticos, seguidas pelas do SBT e da Bandeirantes

Políticos controlam 24% das TVs do país


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2001

Levantamento exclusivo feito pela Folha mostra que pelo menos 59 emissoras de televisão -24% das 250 concessões de TV comercial existentes- pertencem a políticos. Dentro de dois meses, o número subirá para 60, com a inauguração da TV do senador Gilvam Borges (PMDB-AP), em Macapá.
Esses números referem-se a empresas que têm concessão do governo para gerar programação e não incluem as milhares de retransmissoras que funcionam com licenças precárias e apenas repetem o sinal das geradoras nem as TVs educativas.

A Rede Globo tem 21 afiliadas ligadas a políticos, contra 17 do SBT e 9 da Bandeirantes. Entre os políticos ligados comercialmente à Globo, estão os ex-presidentes da República José Sarney e Fernando Collor de Mello e três governadores: Roseana Sarney (PFL-MA), Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e o tucano Albano Franco, de Sergipe.

Entre os afiliados da Rede Globo encontram-se ainda o senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (PFL-BA), o ex-senador João Calisto Lobo (PMDB-PI), oito deputados federais e um estadual.
No SBT, estão o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), e o presidente interino do Senado, Edison Lobão (PFL-MA). Na lista da Bandeirantes figuram três senadores -entre eles, o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), e o vice-governador de Alagoas, Geraldo Sampaio, do PDT.

Crise em Alagoas

Uma emissora de televisão na mão de políticos pode ser uma arma tanto para promover aliados quanto para atacar adversários.
De janeiro a abril deste ano, o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB), esteve em guerra contra a TV Gazeta, afiliada da Globo pertencente à família Collor de Mello, que o acusou de tramar o assassinato do coronel Cavalcante. O militar cumpre pena em Maceió pela morte de um irmão do governador, em 1991."Era uma acusação sem nenhum fundamento, apenas porque Collor e eu somos adversários históricos. Fui para ofensiva. Suspendi entrevistas e publicidade oficial para as Organizações Arnon de Mello", diz o governador.

Ele conta que gravou em vídeo as imagens veiculadas pela TV e que entregou a fita ao ex-diretor de Jornalismo da Rede Globo, Evandro Carlos de Andrade. A emissora passou a enviar jornalistas de Recife para cobrir os eventos importantes de Alagoas.

Segundo Ronaldo Lessa, a guerra acabou em abril, quando a TV Gazeta noticiou que as acusações não procediam. No dia 9 de julho, o ex-diretor de jornalismo da Gazeta, Célio Gomes, foi substituído pelo então coordenador do núcleo de rede da Globo no Paraná, Clésio Oliveira. A Globo nega que tenha feito intervenção na afiliada, mas admite ter sugerido Clésio para o cargo. A TV Gazeta não comentou o episódio.

Mais recentemente, em maio, a Globo teve problemas na Bahia. Sua afiliada local, a TV Bahia, da família de Antonio Carlos Magalhães, não cobriu as manifestações em Salvador pela cassação de ACM. A Globo usou imagens feitas por um sindicato no noticiário nacional, mas -pelo menos para efeito externo- justificou a conduta da afiliada dizendo que ela subestimou os protestos.

Coronelismo

A forte influência política na radiodifusão é uma herança dos governos anteriores que Fernando Henrique Cardoso não conseguiu modificar. "O coronelismo eletrônico é uma face do atraso brasileiro. Mostra a nossa carência de cidadania e fragilidade partidária", diz o diretor da Faculdade de Comunicação da Universidade Nacional de Brasília, Murilo Ramos.
Ramos lembra que FHC, ao anunciar Sérgio Motta para ministro das Comunicações, em 1995, prometeu explicitamente mudar esse quadro. "Não mudou. Pelo contrário, consolidou o poder político no setor."

A família Sarney tem o maior império de comunicação do Maranhão, Estado em que controla quatro emissoras de TV afiliadas da Globo: as TVs Mirante das cidades de São Luís, Imperatriz, Santa Inês e Codó.

No Rio Grande do Norte, as quatro emissoras comerciais de televisão existentes pertencem a políticos, de acordo com o ex-ministro Aluísio Alves, tio do governador Garibaldi Alves e um dos acionistas da TV Cabugi, afiliada da Globo.

Aluísio Alves conseguiu a concessão da TV Cabugi quando foi ministro da Administração no governo Sarney. Foram agraciados, na mesma ocasião, os senadores Agripino Maia (PFL) e Geraldo Melo (PSDB).

Além da TV, a família Alves é dona de rádios e do jornal "Tribuna do Norte", de Natal.
O ex-ministro diz que a TV não lhe dá dividendos políticos. "O contrato com a Globo não permite fazer política com a emissora, mas meus adversários usam as deles. Só tenho liberdade de fazer política no jornal e nas rádios."

SBT
Entre os políticos vinculados comercialmente ao SBT, além de Tasso Jereissati e Edison Lobão, estão o senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR), Orestes Quércia (ex-governador de São Paulo e atual presidente do PMDB no Estado), o prefeito de Araçatuba (SP), Jorge Maluly Neto (PFL), e o ex-governador do Paraná Paulo Pimentel. Constam também quatro deputados federais, entre eles, o ex-governador da Bahia Nilo Coelho (PSDB).

Maluly Neto e Sílvio Santos são sócios da TV Araçá, de Araçatuba. O prefeito admite que ser proprietário de TV o beneficia politicamente. Em entrevista à Folha, por telefone, ele travou o seguinte diálogo:

Folha - De que maneira a TV o ajuda politicamente?

Maluly - Você pode mostrar sua atuação. O fato de noticiar ajuda.

Folha - Há fatos relativos à sua gestão que são divulgados em sua TV e não saem nas emissoras concorrentes?

Maluly - Com certeza. Quando há fatos proeminentes na cidade, elas cobrem, mas nem sempre eu apareço. A mesma notícia, na nossa emissora, traz uma pontinha de declaração da gente.
Na avaliação de Maluly Neto, os radiodifusores tem 50% a mais de chances de se elegerem do que os demais candidatos, o que explica o interesse dos políticos pelas rádios e televisões.

Bandeirantes
A Bandeirantes é a rede de televisão com o maior número de senadores entre seus afiliados. Além de Jader Barbalho, também estão na lista os tucanos Geraldo Melo, do Rio Grande do Norte, e Romero Jucá, de Roraima.

Ainda faz parte da listagem o ex-senador e ex-governador do Mato Grosso Júlio Campos. A mulher dele, Isabel Campos, é diretora-executiva da TV Oeste, da cidade de Cuiabá.
Campos é o único político que figura no cadastro do Ministério das Comunicações como titular de emissora de televisão em Mato Grosso, mas, na avaliação de Isabel, "quase 100% das rádios e televisões do Estado têm vínculos com grupos políticos".
Ela diz que as emissoras que apóiam o governo são favorecidas na distribuição da verba publicitária e que a TV Oeste estaria sendo discriminada por pertencer a Campos. "Nem sempre o vínculo explícito com um político favorece a emissora", afirma.

Outras redes

Oficialmente, a Record tem apenas cinco afiliadas com políticos, mas sua situação não é comparável às das demais redes. "A Record é um caso à parte. Ela está a serviço de uma denominação religiosa, a Igreja Universal do Reino de Deus, que tem seus representantes do Congresso", afirma o diretor da Faculdade de Comunicação da UNB.

A CNT, que tem quatro geradoras próprias de televisão, é a rede com vínculo político mais explícito. Seu acionista controlador é o presidente nacional do PTB e deputado federal pelo Paraná, José Carlos Martinez.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

TSE autoriza quebra de sigilo e pode cassar chapa Bolsonaro-Mourão

Tribunal busca responsáveis por ataque à página ‘Mulheres Unidas Contra Bolsonaro’, com 2,7 milhões de integrantes, nas eleições de 2018. Uma das ações foi movida pela coligação O Povo Feliz de Novo
26/05/2021 17h32

Foto: Adriano Machado


Após invasão e alteração do nome por criminosos, print da página do Facebook foi usada no perfil de 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a quebra de sigilo e disponibilização de informações de cinco empresas de tecnologia relativas a duas ações contra a chapa presidencial Bolsonaro-Mourão. A chapa é investigada por um ataque hacker à página no Facebook “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” nas eleições de 2018. Uma das ações foi movida pela coligação O Povo Feliz de Novo, encabeçada pelo PT. A decisão foi tomada pelo ministro Luis Felipe Salomão, corregedor-geral eleitoral.

Após o ataque à página, que tinha mais de 2,7 milhões de membros na rede social, o grupo passou a se chamar “Mulheres Com Bolsonaro”. Pela decisão, as empresas de telefonia terão de informar dados cadastrais dos números de telefone utilizados para moveintações na página e que foram identificados pela Polícia Federal. Além disso, as empresas de tecnologia intimadas devem apresentar os registros de acesso ao grupo.

À época da eleição, Bolsonaro chegou a compartilhar uma foto do grupo, já com o nome alterado, em seu perfil no Twitter, com uma mensagem de agradecimento. Salomão pediu ainda que o Twitter informe, no prazo de até cinco dias, o número de IP do celular ou computador utilizado para publicar a mensagem.

A mensagem de Bolsonaro, datada de 15 de setembro de 2018, dizia: “Obrigado pela consideração, Mulheres de todo o Brasil!” Bolsonaro tornou prática comum a utilização de estruturas subterrâneas para promover notícias e perfis falsos a fim de fraudar as eleições de 2018.

As empresas intimadas a prestar esclarecimentos são o Facebook, o Twitter, a Microsoft, a Oi e a Vivo. Desde o resultado das eleições de 2018, a Justiça Eleitoral já recebeu oito ações pedindo a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.

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