sábado, 2 de fevereiro de 2013

Entenda o que aconteceu, de acordo com as informações divulgadas:


O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 236 mortos na madrugada do último domingo (27). O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores:


- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.

- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.

- A banda comprou um sinalizador proibido.

- O extintor de incêndio não funcionou.

- Havia mais público do que a capacidade.

- A boate tinha apenas um acesso para a rua.

- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.

- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.

- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.

- Equipamentos de gravação estavam no conserto.



 Bombeiros combaterm chamas durante resgate na
boate Kiss(Foto: Germano Roratto/Agência RBS)


O que já se sabe: O incêndio começou por volta de 2h30 de domingo, durante apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que contou com efeitos pirotécnicos. As chamas no teto se alastraram rapidamente devido ao material inflamável usado como isolamento acústico, o que produziu fumaça preta e tóxica.
As versões: Sobreviventes relataram que o incêndio iniciou depois do vocalista ter segurado um dispositivo pirotécnico no palco. Faíscas atingiram o teto, forrado de espuma e isopor, e as chamas se espalham rapidamente. O vocalista Marcelo Santos admitiu em depoimento que segurou uma espécie de sinalizador, mas disse não acreditar que as faíscas tenham provocado o incêndio. Integrantes da banda levantaram a hipótese de curto-circuito em fios que estavam no teto.
O que falta ser esclarecido: A perícia poderá apontar onde o fogo começou e o que causou o incêndio. Peritos acharam no chão da boate pedaços do sinalizador, que serão analisados.


Vídeo publicado em canal do YouTube mostra uso
de pirotecnia no palco (Foto: Reprodução/YouTube)


O que já se sabe:

 O uso de artefatos pirotécnicos era comum em shows do Gurizada Fandangueira. Segundo a polícia, a banda utilizou um produto mais barato, próprio para ambientes abertos, que não deveria ser acionado em local fechado.

As versões: Não há lei específica que proíba show pirotécnico em ambientes fechados. No entanto, para que isso seja feito, é preciso liberação do Corpo de Bombeiros, que avalia as condições do local. O vocalista do grupo admitiu que segurou uma espécie de sinalizador, mas disse não acreditar que as faíscas tenham provocado o incêndio. Ele relatou que já havia manipulado esse tipo de artefato diversas vezes em outros shows. Segundo a revista Época, em depoimento à polícia, uma produtora da banda admitiu que comprou “fogos gelados” – espécie de fogo de artifício que não queima – e que a banda não tinha autorização para usá-los.

O que falta ser esclarecido: A Polícia Civil aguarda os resultados das perícias que poderão dizer se o sinalizador usado pela banda provocou o incêndio. Caberá ao inquérito policial apontar também se os integrantes da banda cometeram algum crime ao utilizar um sinalizador proibido para ambiente fechado.


Foto divulgada pela polícia mostra interior da boate
destruído (Foto: Divulgação/Polícia Civil do RS)


O que já se sabe:

 Pelo menos um extintor de incêndio foi manipulado quando o incêndio teve início, mas não funcionou.
As versões: Testemunhas relataram que alguns seguranças tentaram apagar as chamas no teto da boate com extintores e que os equipamentos não funcionaram. Segundo o guitarrista Rodrigo Martins, um segurança e o vocalista da banda tentaram operar o equipamento, que falhou. A boate sustenta que contava com "todos os equipamentos previsíveis e necessários para o sistema de proteção e combate contra o incêndio". O delegado Marcelo Arigony disse que os extintores poderiam ser falsos. Uma ex-funcionária da boate disse à polícia que Elissandro Spohr, um dos sócios da casa noturna, mandava retirar os extintores das paredes por questão estética.

O que falta ser esclarecido: A investigação precisa verificar se os equipamentos estavam regularizados e em condições de funcionamento. Uma perícia deve apontar se os extintores eram ou não falsos. Também é preciso saber se os funcionários souberam manuseá-los de maneira adequada e se receberam treinamento para esse tipo de situação.



O que já se sabe:

 Os bombeiros informaram que o local tinha 615 m² de área e que, portanto, a lotação deveria ser de 691 pessoas. Para o delegado Marcos Vianna, o excesso de pessoas no local está entre os fatores que contribuíram para que o incêndio na boate deixasse tantas vítimas fatais.

Versões: Jader Marques, advogado de um dos sócios da boate, disse que foram impressos 850 convites para a festa e que com 1.000 pessoas a circulação na boate "é considerada boa". De acordo com investigadores, estavam no local cerca de 1.300 pessoas. O Corpo de Bombeiros estimou inicialmente o número de frequentadores em cerca de 1.500.

O que falta ser esclarecido: O número de pessoas que estava dentro da boate na noite ainda é desconhecido. Com essa informação seria possível avaliar se o excesso de gente foi determinante para a tragédia.


Foto mostra as duas saídas que levavam para uma
única porta para rua (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
saiba mais


O que já se sabe: 
A boate tinha apenas um acesso, usado tanto para entrada quanto para saída de pessoas, com porta de tamanho reduzido. Não havia saídas de emergência. A porta, quando totalmente aberta, chegava a uma largura de 3 metros. Saídas de emergência são obrigatórias, mas a quantidade e a posição onde devem ser colocadas são determinadas por uma avaliação técnica feita por um engenheiro ou arquiteto.

As versões: A boate afirmou que contava com "todos os equipamentos previsíveis e necessários para o sistema de proteção e combate contra o incêndio". Segundo major dos Bombeiros, a casa noturna tinha todas as exigências estabelecidas pela lei. Segundo a polícia, a saída única está entre os fatores que contribuíram para que o incêndio deixasse tantas vítimas.Testemunhas relataram que a boate não possuía sinalização interna e que o local ficou às escuras logo que o fogo começou, o que dificultou a saída do público e fez com que muitos frequentadores acabassem no banheiro, onde morreram asfixiados.

O que falta ser esclarecido: Ainda não está claro se o estabelecimento atendia a todos os requisitos de segurança exigidos, uma vez que o alvará não tinha sido renovado, nem se a boate estava funcionando regularmente. A polícia apura se eventuais falhas nas instalações contribuíram para a tragédia.


Prefeitura entregou documentos para a polícia e se
eximiu de responsabilidade (Foto: Iara Lemos/G1)

O que já se sabe:
 O alvará fornecido pelo Corpo de Bombeiros para o funcionamento do estabelecimento está vencido desde 10 de agosto de 2012.

As versões: 
A prefeitura de Santa Maria afirma que a sua responsabilidade era apenas sobre o alvará de localização. Segundo o prefeito Cezar Schirmer, o que estava vencido era o alvará de prevenção e proteção contra incêndio, que é fornecido pelos Bombeiros. O major Gerson Pereira disse que a corporação "fez tudo o que estava ao alcance". A boate sustenta que a situação estava regular pois já havia pedido a renovação.

O que falta ser esclarecido: A polícia apura se a boate efetuou mudanças no local após a última vistoria dos bombeiros, se o processo de renovação do alvará estava regular e se a casa noturna poderia estar funcionando normalmente.




O que já se sabe: Segundo testemunhas, centenas de pessoas ficaram desesperadas com o início do incêndio e começaram a correr em busca de uma saída para a rua. Houve tumulto e muitos frequentadores caíram e foram pisoteados.

As versões: 
Testemunhas relataram que inicialmente os seguranças bloquearam a porta da boate, o que teria atrapalhado a evacuação, e que os funcionários barraram as pessoas que tentavam sair sem pagar a comanda. Conforme os relatos, ao perceberem a fumaça, os seguranças liberaram a passagem. Sobreviventes disseram ainda que a saída da boate foi dificultada por um biombo na porta de entrada e saída e grades colocadas no lado externo para organizar a fila de entrada, o que fez muita gente cair no chão e acabar pisoteada.

O que falta ser esclarecido: A polícia investiga se os funcionários seguiram o protocolo correto para situações de emergência e se os seguranças receberam orientação prévia da direção da casa para barrar clientes em caso de tumultos. Também é preciso avaliar se as portas foram totalmente liberadas e se posição das grades era adequada.


Ilustração mostra o passo a passo da tragédia em
boate que pegou fogo (Foto: Editoria de Arte / G1)

O que já se sabe: 

A boate desrespeitou pelo menos dois artigos de leis estadual e municipal no que diz respeito ao plano de prevenção contra incêndio. Tanto a legislação do Rio Grande do Sul quanto a de Santa Maria listam exigências não cumpridas como a instalação de uma segunda porta, de emergência. Outra medida que não foi cumprida na estrutura da boate diz respeito ao tipo de revestimento utilizado como isolamento acústico.

As versões: 

O advogado da boate Kiss, Jader Marques sustenta que a casa noturna estava em "plenas condições" de receber a festa. Para o delegado Marcelo Arigony, " diversos indicativos" apontam que a casa estava irregular e não podia estar funcionando.

O que falta ser esclarecido: A polícia apura que outras instalações e sistemas da boate não atendiam às exigências da legislação. O Ministério Público, por sua vez, apura a possibilidade de improbidade administrativa por parte de integrantes da Prefeitura, do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos públicos.




O que já se sabe:
 Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros da boate.

As versões: 

O capitão da Brigada Militar Edi Paulo Garcia disse que a maioria das vítimas tentou escapar pelo banheiro do estabelecimento e acabou morrendo. Testemunhas afirmam que muitas pessoas foram para a porta dos banheiros achando que era a saída da boate e acabaram ficando presas ali.

O que falta ser esclarecido: Os investigadores apuram porque as pessoas fizeram dos banheiros uma alternativa de saída e se problemas e a falta de sinalização da boate teriam confundido os clientes.





O que já se sabe: 

A maioria dos mortos, cerca de 90%, tiveram como causa da morte asfixia. Segundo o delegado Marcos Vianna, a espuma usada no revestimento influenciou na formação de gás tóxico, contribuindo para as mortes.

As versões: 

 A médica legista Maria Ângela Zuccheto afirmou que 90% dos mortos tiveram asfixia como causa da morte em razão da rapidez com que o fogo se alastrou e a quantidade de fumaça. Segundo o pneumologista José Eduardo Afonso Junior, do Hospital Albert Einstein, a fumaça deveria conter substâncias tóxicas liberadas devido à queima de materiais inflamáveis, como a espuma do isolamento acústico presente no teto da boate
O que falta ser esclarecido: Ainda não está claro se algumas vítimas morreram após terem sido pisoteadas no tumulto.




O que já se sabe: 

A agonia de parentes e amigos começou por volta das 3h da madrugada, mas o momento em que ocorreram as mortes não foi determinado. A combinação da fumaça com o calor das chamas causa danos diretos ao sistema respiratório, podendo provocar o óbito em poucos minutos.

As versões: A perícia acredita que muitas das vítimas possam ter morrido poucos minutos após o início do incêndio. O médico otorrinolaringologista Richard Voegels, do Hospital das Clínicas da USP, explica que 5 minutos sem respirar pode provocar parada cardiorrespiratória.

O que falta ser esclarecido: A polícia apura se vítimas morreram asfixiadas antes de poderem buscar a saída da boate.



O que já se sabe:
 Não foram localizadas imagens das câmeras da boate. Uma empresa que presta serviços de manutenção para câmeras de segurança entregou à polícia um gravador que seria usado para registrar imagens e informou que recebeu o equipamento há uma semana para ser consertado.

As versões: O dono da boate afirmou que o sistema não estava funcionando havia três meses e que, por isso, o computador não estava mais na boate. A empresa de manutenção disse que o equipamento foi trazido para conserto há uma semana e que o sistema não esteve em funcionamento nesse período.

O que falta ser esclarecido: A polícia apura se o equipamento foi de fato retirado da boate antes do incêndio e se imagens não foram apagadas. Uma perícia vai esclarecer se o equipamento entregue pela empresa de manutenção realmente ficou desativado dutante os últimos dias.




Mauro Hoffmann, um dos donos da boate, é preso
após tragédia (Foto: Emerson Souza/Agência RBS)

O que já se sabe: 

Quatro pessoas tiveram prisão temporária de cinco dias decretada na segunda-feira (27): o dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr, conhecido como Kiko; o sócio, Mauro Hofffmann; o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos; e um funcionário do grupo, Luciano Augusto Bonilha Leão, que fazia serviços de segurança e outras funções auxiliares. Spohr está internado em hospital de Cruz Alta, sob custódia da polícia. Na terça-feira (28), ele tentou suicídio. Os outros três estão no Presídio de Santo Antão. A Justiça também bloqueou os bens da empresa que gere a boate. Os proprietários do estabelecimento também tiveram os seus bens retidos a pedido da Defensoria Pública. Na sexta (1º), foi prorrogada por 30 dias a prisão temporária dos envolvidos.

As versões: Segundo o Ministério Público, a polícia diz que a manutenção da prisão é necessária porque há possibilidade de fuga caso eles sejam soltos nesta sexta, data em que se encerraria a prisão temporária de cinco dias expedidas pelo Judiciário.

O que falta ser esclarecido: Ainda não se sabe se as defesas vão pedir que a liberdade dos suspeitos de envolvimento.



O que já se sabe: 
O inquérito policial que apura as causas e os responsáveis pela tragédia deve levar cerca de 30 dias para ser concluído. O Ministério Público também abriu inquérito civil para investigar a possibilidade de improbidade administrativa por parte de integrantes da Prefeitura de Santa Maria, do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos públicos por terem permitido que a boate continuasse funcionando mesmo licenças vencidas. Segundo especialistas ouvidos peloG1, os crimes possíveis para o caso são homicídio (culposo ou com dolo eventual), incêndio e lesão corporal.

As versões:

 O delegado Marcelo Arigony e a promotora Waleska Agostini dizem que existe a possibilidade dos donos da boate e dos músicos serem acusados de homicídio culposo. "É possível, mas ainda é muito prematuro responsabilizá-los", declarou a promotora. Segundo o promotor Cesar Augusto Claran, o inquérito civil visa apurar se houve falhas ou negligências por parte de órgãos públicos.

O que falta ser esclarecido: Caberá à polícia e ao Ministério Público apontar responsáveis pela tragédia e decidir se haverá indiciamentos e denunciados, e quais os crimes cometidos.


Quase uma semana após incêndio, 114 feridos seguem internados



Incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, matou 236 pessoas no domingo.
Secretaria de Saúde corrigiu números na tarde desta sábado.


Cartaz pede justiça após 236 mortes na boate Kiss (Foto: Iara Lemos/G1)Cartaz pede justiça após 236 mortes na boate Kiss
(Foto: Iara Lemos/G1)
Cinco pacientes do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, receberam alta do hospital entre a noite de sexta-feira (1) e a manhã deste sábado (2). Agora são 114 as pessoas internadas em hospitais do Rio Grande do Sul, segundo a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul. A tragédia provocou a morte de 236 pessoas.
A Secretaria corrigiu os números na tarde deste sábado, depois de ter divulgado que 10 pessoas haviam recebido alta e que o número era de 109 internados. Segundo o órgão, o engano ocorreu porque um dos hospitais de Santa Maria informou equivocadamente o número de pacientes no local.
São 58 pessoas internadas em Santa Maria, sendo pelo menos 25 em UTI e oito respirando por ventilação mecânica. Falta o detalhamento dos pacientes do Hospital São Francisco.
Em Porto Alegre e em Canoas, 54 pacientes estão hospitalizados, sendo 44 em UTI e 33 deles precisando de respiração assistida. Ainda há internados em Caxias do Sul e Ijuí.
Para ajudar no tratamento dos feridos, lotes de um medicamento indicado para o tratamento de intoxicação por gás chegaram ao Brasil na manhã deste sábado (2).  A expectativa do Ministério da Saúde é a de que as doses, chamadas de "antídotos", anulem os possíveis efeitos tóxicos do cianeto no organismo.
Os 140 kits do medicamento hidroxicobalamina (vitamina B12 injetável) serão transportados em uma caixa por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) até Porto Alegre e Santa Maria, onde serão distribuídos aos hospitais em que há sobreviventes internados.
Chamado de “antídoto de gás tóxico”, a hidroxicobalamina ainda não está aprovada no Brasil, que possui apenas uma versão similar, porém menos concentrada. Os medicamentos foram doados pelos Estados Unidos.
Prisões
Quatro pessoas foram presas na segunda por conta do incêndio: o dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr; o sócio, Mauro Hofffmann; o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos; e um funcionário do grupo, Luciano Augusto Bonilha Leão, responsável pela segurança e outros serviços.
Investigação

O delegado Marcos Vianna, responsável pelo inquérito do incêndio na boate Kiss, disse ao G1 na terça-feira (29) que uma soma de quatro fatores contribuiu para a tragédia ter acabado com tantos mortos: 1) o fato de a boate ter só uma saída e a porta ser de tamanho reduzido; 2) o uso de um artefato sinalizador em um local fechado; 3) o excesso de pessoas no local; e 4) a espuma usada no revestimento, que pode não ter sido a mais indicada e ter influenciado na formação de gás tóxico.
O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, afirmou também na terça que a Polícia Civil tem "diversos indicativos" de que a boate estava irregular e não podia estar funcionando. "Se a boate estivesse regular, não teria havido quase 240 mortes", disse em entrevista. "Mas isso ainda é preliminar e precisa ser corroborado pelos depoimentos das testemunhas e os laudos periciais", completou.
Arigony disse ainda que a banda Gurizada Fandangueira utilizou um sinalizador mais barato, próprio para ambientes abertos e que não deveria ser usado durante show em local fechado. "O sinalizador para ambiente aberto custava R$ 2,50 a unidade e, para ambiente fechado, R$ 70. Eles sabiam disso, usaram este modelo para economizar. Usaram o equipamento para ambiente aberto porque era mais barato”, disse o delegado.
O vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos, admitiu em seu depoimento à Polícia Civil que segurou um sinalizador aceso durante o show, de acordo com o promotor criminal Joel Oliveira Dutra. O músico disse, no entanto, que não acredita que as faíscas do artefato tenham provocado o incêndio. Ele afirmou que já havia manipulado esse tipo de artefato por diversas vezes em outras apresentações.
A boate Kiss desrespeitou pelo menos dois artigos de leis estadual e municipal no que diz respeito ao plano de prevenção contra incêndio. Tanto a legislação do Rio Grande do Sul quanto a de Santa Maria listam exigências não cumpridas pela casa noturna, como a instalação de uma segunda porta, de emergência. A boate situada na Rua dos Andradas tinha apenas uma, por onde o público entrava e saía. Outra medida que não foi cumprida na estrutura da boate diz respeito ao tipo de revestimento utilizado como isolamento acústico.
A Brigada Militar informou nesta quarta que a boate não estava em desacordo com normas de prevenção contra incêndios em relação ao número de saídas. Segundo interpretação da lei, o local atendia as normas ao possuir duas saídas no salão principal. Mas as portas, no entanto, não davam para a rua, e sim para um hall. Este sim dava para a rua através de uma só porta. "Foi um ato possível que o engenheiro conseguiu colocar", disse o tenente coronel Adriano Krukoski, comandante do Corpo de Bombeiros de Porto Alegre.
Jader Marques, advogado de Elissandro Spohr, um dos sócios da boate, disse que a casa noturna estava em "plenas condições" de receber a festa. Ele falou sobre documentação da casa, segurança, lotação, e disse que a banda Gurizada Fandangueira não avisou que usaria sinalizadores naquela noite. O advogado ainda afirmou que o Ministério Público vistoriou o local "diversas vezes".
A Prefeitura de Santa Maria se eximiu de responsabilidade pelo incêndio e entregou alvará para a polícia que mostra data de validade de inspeção para prevenção de incêndio, feita pelo Corpo de Bombeiros. A prefeitura afirma que a sua responsabilidade era apenas sobre o alvará de localização, que é válido com a vistoria do ano corrente. O documento informa que a vistoria foi feita em 19 de abril de 2012.
O chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gerson Pereira, disse na quarta que a casa noturna tinha todas as exigências estabelecidas pela lei vigente no Brasil. "Quem falhou, que assuma a sua responsabilidade. Nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e não vou entrar em jogo de empurra-empurra", afirmou.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul abriu um inquérito civil na terça para investigar a possibilidade de improbidade administrativa por parte de integrantes da Prefeitura de Santa Maria, do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos públicos por terem permitido que a boate Kiss continuasse funcionando mesmo com as licenças de operação e sanitária vencidas
by G1
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Achei este texto por acaso. "Mosquito" foi assassinado em dezembro de 2011. Anunciou no twitter que estava sendo ameaçado e deu o nome do algoz. figura carimbada de SC. Embora no texto afirme suicidio, a Policia civil de Palhoça, nao teve certeza. Pois enviou o processo ao Forum de crime contra a vida a apurar. após 140 dias de pericia, o laudo saiu. O promotor (nome nao aparece) SEM realizar diligencia alguma mandou arquivar. O que foi aceito prontamente pelo magistrado, uma vez que o MP, seria o dono da ação. Ainda que quisesse, pela legislação Pátria, O juizo, nada poderia fazer. e com isso Mosquito esta morto, e seu assassino flanando pelos gabinetes de Florianopolis, quiá por toda Santa Catarina. by Deise


Vida e morte do blogueiro Mosquito

publicada domingo, 11/03/2012 às 21:52 e atualizada segunda-feira, 12/03/2012 às 14:31
Conheço o Renan há exatos 20 anos. Ele foi meu primeiro chefe de reportagem em TV. Eu acabava de chegar à Cultura, em São Paulo, cheio de gás, mas sem experiência. Renan era ótimo chefe, mas (ou por isso mesmo?) gostava de aterrorizar os novatos: despachava as equipes pra rua, aos gritos. Antes, municiava-nos com parcas orientações e uma providencial cartela de fichas telefônicas. Na época, era assim que se dava “retorno” pra Redação: encontrava-se um orelhão pra discar e avisar a chefia sobre o andamento da reportagem. Renan atendia as ligações não com um “alô”, mas com um inconfundível “Meu nome é Renan”. Quando a gente se identificava do outro lado, ele devolvia: “intui que eras tu, guri”. Renan rodou o mundo, trabalhou para grandes  jornais, voltou à pátria gaúcha, ganhou prêmios e provocou polêmica. 
O Mosquito eu conheci bem depois, no Primeiro Encontro de Blogueiros, em 2010. O catarinense veio pra São Paulo com fama de briguento. E aprontou mesmo um sururu: discutiu com outros blogueiros, acusou alguns de “chapa-branca”, depois saiu rindo e tentando vender as camisetas do blog “Tijoladas”. Comprei uma, que está aqui na gaveta de casa. Mosquito provocou polêmica sem rodar o mundo. Sentado na mesa de um bar, escrevia o blog que aterrorizava poderosos  catarinenses. Não ganhou prêmio. Encheu-se de dívidas. Mas teve momentos de glória.
O Renan e o Mosquito se encontram agora. O primeiro, no papel de vivíssimo repórter. Mosquito, infelizmente, morto. Mas revive no belo - e triste – perfil traçado por Renan Antunes de Oliveira.(Rodrigo Vianna
===
por Renan Antunes de Oliveira, do jornal Já Porto Alegre
(Ilustração de Ênio Squeff / Fotos de Celso Martins)
A porta já estava aberta quando o padre Elizandro procurou pelo blogueiro Mosquito na rua dos Maracanãs. Ele entrou e deu de cara com o corpo pendurado na escada, enforcado num lençol. A cena parecia de suicídio.
Eram quase cinco da tarde da terça 13 de dezembro. Em minutos a notícia da morte do destemido e temido jornalista catarinense de 52 anos caiu na blogosfera. Tornou-se trending topic no Twitter antes das 10 da noite. A suspeita de assassinato bombou na internet.
A morte dele encerrou a era do “terror midiático” imposta pelo blog ‘Tijoladas do Mosquito’ à política catarinense desde 2008.
As tijoladas eram críticas irreverentes e desbocadas disparadas contra tudo e todos por qualquer motivo e até sem motivo – Mosquito gostava de se apresentar como sendo “o primeiro terrorista midiático” da internet.
Nesta semana, 87 dias depois da morte de Amilton Alexandre, apelidado Mosquito, o Instituto de Perícias de SC confirmou a tese inicial de suicídio. Amigos e familiares acreditam que ele se matou por temer a prisão depois da segunda condenação por difamação.
O Tijoladas conduzia uma feroz campanha moralista contra autoridades, políticos e empresários. Muitas das denúncias eram frias, mas os textos tinham irreverência, humor e bastante palavrões. Ofendeu gaúchos, negros, judeus – e até os vizinhos da rua dos Maracanãs, no condomínio onde foi encontrado morto, o Pedra Branca, na pacata Palhoça, Grande Floripa.
Seus maiores alvos foram a hoje ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti, o ex-governador Leonel Pavan, o prefeito de Floripa Dário Berger e Fernando Marcondes de Mattos, dono do resort Costão do Santinho. Na política nacional deu uns pitacos, agredindo a presidente Dilma com baixarias impublicáveis – Brasília fez vista grossa.
“Ele acertava na dimensão universal de seus ataques contra poderosos, privilegiados e sacanas”, diz o sociólogo Remy Fontana, professor da UFSC, amigo dele por 33 anos. “Mas, algumas vezes foi inconsequente e injusto, expondo reputações à execração pública “.
O blog tinha como lema “jamais se calar”. A operação toda era apenas Mosquito, um netbook Asus e um modem da Claro. Não tinha anunciantes. Ele postava de uma mesa do bar Kibelândia, a central de fofocas da Ilha, onde garimpava notícias entre bebuns e barnabés fora do expediente.
Pela distribuição das tijoladas Mosquito enfrentou 22 processos e a invasão de hackers. O delegado Hudson Queiroz lhe deu uns sopapos e ameaçou matá-lo. Os demais preferiram processos por calúnia, com pedidos de indenização em dinheiro.
MANEZINHO
Amilton Alexandre era nativo, descendente dos colonizadores açorianos. O pai, seu Amadeu, tinha índole mansa. Criou quatro filhos consertando refrigeradores. Mosquito, agitado desde pequeno, foi o primeiro dos Alexandre com diploma universitário. Fez Administração na UFSC.
Em 1979, no episódio conhecido por “Novembrada”,  virou herói dos manezinhos: imagens dele liderando a passeata de estudantes de Floripa contra a ditadura militar apareceram no Jornal Nacional.
Ele e mais seis foram presos pela Polícia Federal. Dez dias de cana, um ano de processo na Auditoria Militar de Curitiba e a apoteótica absolvição dos sete estudantes catarinenses o transformaram numa celebridade local.
No episódio, o papel dele foi de mero agitador, sob ordens dos comunistas do Partidão.  Um dirigente queria sua participação reexaminada por psicólogos. Alguns companheiros o acusaram de ter colaborado com a polícia, mas o ex-senador Nelson Wedekin, advogado no histórico processo, garante que não.
A redemocratização tirou um pouco do brilho popular dele. Magrinho e elétrico na juventude, daí o “Mosquito” , virou obeso na vida adulta. Conseguiu seu primeiro emprego público na prefeitura do PMDB, gestão Edson Andrino. Cuidava de um projeto de cinema na periferia, com expediente nos findis – fosse outro, na certa seria chamado de funcionário fantasma pelo blog Tijoladas.
FAVORECIDO
Em 1987 Mosquito obteve do então senador Jaison Barreto (do Partidão, no PMDB) uma ajudinha pra comprar uma casa de três andares no Centro Histórico.
A bancada do PMDB-SC em Brasília intermediou o pedido à Caixa de financiamento habitacional fora das regras para o herói da luta contra a ditadura. Foi maracutaia. Fosse outro o beneficiado e teria levado uma tijolada daquelas.
Com o dinheiro Mosquito montou o bar Havana – point dos anos 80 e 90 com pouca política, boa música, excelentes feijoadas e carnavais memoráveis. Lá, rompeu com os amigos do PMDB.
O diploma de administrador não lhe serviu para muita coisa. Todos os negócios em que se meteu fracassaram. Transformou a casa da Caixa num sebo de livros. Depois restaurante, loja de informática, mais tarde em loja temática do time do Avaí – no fim, era só um cafofo para as namoradas.
Bolava promoções avançadas demais para Floripa, como vender computadores na feira livre. Fazia bicos. Durante eleições usava as suas capacidades de agitador profissional – chegava nas cidades do interior antes dos candidatos, armava o palanque e esquentava o eleitorado.
Ele era um solteirão convicto. Seu relacionamento mais duradouro foi com Elaine, 17 anos mais nova. Em 2000, tiveram Júlia. Ele sumiu por seis meses, até reaparecer e se dizer pronto para uma família.
Não estava. Sumiu de novo. Foi e voltou por 11 anos. Elaine disse que era louca por ele, mas que não poderia esperar tanto tempo. Meses antes de morrer, Mosquito pedia para juntarem os trapinhos outra vez. Aí ela não quis mais: “Não era homem para família, gostava de viver isolado”.
Ela conta que os dois se mantiveram bons amigos a vida toda. “Mosquito era generoso, quando tinha, tudo era de todos”. Não pagava a pensão de Júlia, mas a mãe não cobrava “porque ele mal podia se sustentar”. Os três almoçavam juntos quase todos os domingos na casa de Palhoça.
NEOPETISTA
Quando começou a Era Lula, Mosquito se filiou ao PT. O Havana já não existia mais. Vapt vupt e ele passou seis meses no Nordeste. Tinha avisado aos amigos que trabalharia num dos novos governos petistas – mas voltou de lá duro, desempregado e mais gordo, quase 130 quilos para 1m78.
Começou então a cavar embaixo dos pés: durante o caso do Mensalão foi num debate com José Dirceu na Assembleia Legislativa/SC e botou a boca nele. O PT viu no neopetista o mesmo Mosquito errático dos tempos do PMDB.
Endividado, vendeu a casa da Caixa. No Kibelândia, adotado como segundo lar, anunciou planos grandiosos com a grana. Iria abrir um jornal em Palhoça. Primeiro passo: comprou na cidade a casa onde morreria.
Ele disse que o plano furou porque os vizinhos do condomínio seriam uns “burgueses egoístas” – isto por não apoiarem seu natimorto jornal.
Logo o dinheiro acabou. De volta ao ócio no Kibelândia, pediu emprego ao PT, então já coligado com o PMDB. Ganhou um, para fiscalizar o programa Luz Para Todos, numa empresa terceirizada pela estatal Eletrosul – se fosse um adversário o beneficiado com o emprego teria sido chamado de aproveitador pelo blog.
Ali ele deu uma tijolada no próprio pé. Denunciou maracutaia na Eletrosul. Como ainda não tinha o blog, enviou para jornais um dossiê com fotos de propriedades rurais de dirigentes do PMDB que supostamente estariam se beneficiando de ligações de energia ilegais. Batendo no aliado, mordeu a mão dos petistas que o nomearam.
Ele foi demitido da Eletrosul. Estava convencido que sua cabeça foi pedida pela então senadora Ideli Salvatti. Recorreu à Justiça do Trabalho para reintegração, dizendo-se perseguido político “por ter feito a coisa certa”.
O juiz trabalhista mandou as denúncias de corrupção para o Ministério Público apurar, mas deram em nada. Mosquito levou só uma indenização de R$ 30 mil. Ele achou pouco e por isto brigou feio com a advogada, fechando uma era: Rosângela “Lelê” de Souza era amiga da primeira hora, uma dos sete da Novembrada.
Fora da Eletrosul e da política, recolheu-se de vez ao Kibelândia. Foi ali, no final de 2008, que ele criou seu Tijoladas. Se achou. E se fechou: “Vinha visitar a mãe e não saia da droga do notebook”, diz o irmão Ênio, eletricista. “Não via mais nada, só aquele blog”.
IRREVERENTE
Mosquito adorava o papel de jornalista blogueiro que criara para si mesmo. De sorriso aberto, gestos largos e em voz alta, dominava os ambientes recontando as tijoladas que dava e as que daria nos ‘inimigos’ – seu discurso público era do tipo “quem não está comigo está contra mim”.
Uma das primeira tijoladas foi sucesso de audiência no blog e reproduzida pela mídia tradicional. Mosquito postou o vídeo da desembargadora Rejane Anderson, do TJSC, gravado por um policial de trânsito. Ela aparecia dando carteiraço para evitar que o carro do filho fosse apreendido.
Os advogados dele acreditam que ali ele fez inimigos poderosos no Judiciário: “As ações contra Mosquito tramitavam mais rápido do que as outras”, garante Edson Silva Jardim, que vê no cliente um herói.
Mosquito bateu tanto em Ideli Salvatti que ela conseguiu uma ordem judicial para impedir que ele citasse seu nome. A mesma decisão ordenou ao Google que suprimisse tudo dele.
Aí ele foi para cima do vereador Marcos Souza, aliado de Ideli. Negro, brindado com o clássico “não faz na entrada faz na saída”. E disparou a tijolada mentirosa de que Souza empregava filha e genro em seu gabinete na Câmara de Floripa.
“Eu o conhecia desde os oito anos e por isso nunca lhe respondi.  Ele era um provocador, desbocado e racista. Para crescer, precisava de alguém para bater”, disse o vereador. Souza ganhou na Justiça e Mosquito fez acordo para um pedido público de desculpas – mas morreu antes de se retratar.
Ele também bateu pesado no ex-governador Leonal Pavan. Denunciado pelo MP às vésperas de tentar reeleição em 2010, desistiu da candidatura. No dia em que Mosquito morreu, Pavan obteve uma vitória tardia: a Justiça rejeitou as denúncias.
Quem ele pegou para Cristo foi o empresário Fernando Marcondes de Mattos, do Costão do Santinho. Mattos foi preso pela PF na Operação Moeda Verde, acusado de subornar vereadores e órgãos ambientais para favorecer seu hotel.
Mosquito só chamava o empresário de “meliante”. Processado, pegou dois anos de cadeia por difamação – pena substituída por serviços comunitários.
A juíza admitiu que Mattos poderia ser condenado. Mas isto não daria a ninguém “o direito de se arvorar em salvador da pátria”. Ela sentenciou: “O blogueiro confunde liberdade de expressão com ofender a honra alheia”.
PERSEGUIDO
Mosquito fez a mesma coisa com o prefeito de Florianópolis Dário Berger. Cheio de processos, mas sem nunca ter sido condenado, Berger se considerava ficha limpa. Os dois se enfrentaram na Justiça.
Audiência, 18 dias antes da morte: juíza, promotor e advogado  viram o blogueiro no banco dos réus quase prostrado. Respirava com dificuldades depois de sobreviver a quatro enfartes. Estava pressionado pela condenação anterior, financeiramente quebrado, com o blog esfacelado por hackers.
O queixoso viu ali uma oportunidade de ouro para dobrar seu algoz. Aí lhe perguntaram candidamente se ele confirmava as afirmações contidas no blog de que o senhor prefeito era corrupto. O velho Mosquito voltou lá do fundo como um vulcão. Apontou o dedo para o rosto de Dário Berger, manteve o escrito e ainda berrou: “Corrupto”!
Bafafá na sala de audiências. Mosquito foi preso na hora. Pagou fiança e saiu gritando da audiência, dizendo-se vítima de um complô legal. Seria  “retaliação pelo que publico” – seus advogados ajudaram na piração descrevendo a cena como prova de que o Judiciário era contra ele.
O ponto alto da carreira de Mosquito foi uma baixaria e uma maldade. Ele jogou no blog todos os detalhes sórdidos de um estupro cometido por dois adolescentes de Floripa – naquele dia obteve 75 mil acessos e se tornou ícone do jornalismo blogueiro independente.
O Tijoladas escancarou o nome dos estupradores, entre eles o filho de um dos donos da RBS, e o da vítima, afrontado a lei que protege menores.
No episódio da RBS Mosquito ganhou o apoio do programa Domingo Espetacular da Rede Record. O jornalista Paulo Henrique ficou alguns dias no Kibelândia para repercutir as denúncias dele contra a afiliada da Globo. Elogiava seu entrevistado como “um Quixote” – Mosquito se sentia supervalorizado e ia mais fundo na briga dos cachorros grandes.
SONHADOR
Em algum momento Mosquito acreditou que seria convidado para ser diretor da Rede Record no Espírito Santo. Estaria na etapa de discutir salários e a contratação de duas secretárias, tudo testemunhado por dona Cristina, garçonete do Kibe. Até que ele confidenciou ao compadre João Vianney ter demorado demais para acertar. Lamentou-se: “Perdi a chance”.
Em 2010 ele entrou noutra briga sonhando grande. Estudantes x polícia, no protesto contra o aumento de passagens de ônibus. Mosquito correu para o terminal e quis assumir a liderança do movimento.
Seria uma novembrada em maio. Os estudantes não entenderam nada. Então enxotaram do caixote aquele velhinho agitador, barbudo, gordo e careca – muitos nem sabiam quem era. Ele se achava vereador sem mandato, já sondava o PSOL para concorrer este ano.
Para se sustentar Mosquito passou a vender camisetas do Tijoladas. Ficava furioso quando os amigos não compravam. Achava que era obrigação deles manter a “mídia alternativa democrática” e ajudá-lo na luta contra a “corrup-i-ção”, como dizia com seu sotaque ilhéu.
“Menos”, diz o ex-presidente da Fenaj Sérgio Murillo de Andrade, amigo dele por 30 anos. “Mosquito não era jornalista, foi só um agitador”.
Ele passou então a viver de achaques. Aos amigos pedia que lhe pagassem   contas de luz, telefone, o rango no bar. Às vezes, não tinha nem o dinheiro da passagem para Palhoça – mas, teimoso, recusava-se a vender a casa.
Queixou-se uma vez que “o blog fez sucesso, ficou famoso, e eu ia levando, sem lastro econômico, minhas roupas acabando”.
Um certo Jairo Viana postou na internet o extrato da dependência dele em 2011: “…pude dar a ele uma cordinha de varal, grampos pra varal, comprei uma camiseta e paguei uma diária de hotel quando ele esteve em Criciúma. Dias depois depositei uns créditos no telefone dele”.  E Viana ainda ficou feliz de ter ajudado aquele “maluco beleza que queria reformar o mundo”.
ATOLADO
Aqui vão trechos da última correspondência de Mosquito com um amigo, onde admitiu que “a ficha demorou a cair… outro dia fui ver e tinha passado meses com 500 pila (reais)”. Logo ele descobriu o que todo mundo sabe: “Não dava para viver apenas pagando água, luz e comida”.
No fim: “Sou um cara que atolou o pé na lama e não sabe como sair”. A turma de fofoqueiros que o conhecia do bar espalhou que o atolado estava sendo sustentado pelo deputado federal Esperidião Amin (PP). Parecia verdade porque Mosquito já tinha declarado voto nele para prefeito.
“Nunca lhe dei um tostão”, disse Amin. “Me deve três úlceras que deu na minha mulher (a ex-prefeita Ângela) de tanto bater por causa dos ônibus”.
No Kibelândia, passou a ser levemente hostilizado. O psiquiatra Heitor Bráulio de Freitas, que bebe por lá todos os dias, disse que viu nele o perfil suicida: “O ego dele era grande demais, não poderia viver sem o blog”.
Desesperado em busca de emprego pediu ao compadre para trabalhar como consultor de educação à distância, mas ouviu um não: “Ele nunca tinha feito isto. As tijoladas assustavam todo mundo e ninguém o empregaria”.
Mosquito então apelou para o amigaço de infância Paulinho Carreirão, sócio da Brognoli PrestServ, a maior do ramo na cidade. Ele não lhe faltou. Ofereceu vaga de pintor de paredes ou fiscal de obras, oferta rejeitada.
ENCURRALADO
Mosquito anunciou o fim da carreira em 9 de dezembro. Fechou o blog e deletou suas 1298 postagens:  ”Não tenho mais como enfrentar as ameaças e retaliações pelo que publico” – fiel ao personagem vítima de poderosos.
Em seguida, num gesto teatral, destruiu o HD do laptop a marretadas, sumindo com as “provas de corrupção de vários casos” – quem viu sabe que era uma pilha de recortes digitalizados, alguns documentos apócrifos e sua coleção particular de fofocas recolhidas no Kibelândia.
Quatro dias depois ele estava morto. Por todos os relatos de amigos ele se sentia sem perspectivas. “Mosquito parecia transtornado quando o encontrei na quarta (7 de dezembro) na esquina da rua Osmar Cunha”, conta a amigaTatiana Lino, dona do café Trajano. “Conversamos bastante, tentei acalmá-lo, mas ele se despediu de mim dizendo que iria se suicidar”.
Na manhã do sábado, 10 de dezembro, ele iniciou a jornada sem volta. Encheu a banheira no andar superior de casa e tentou afogar-se nela.
Às 16h, chorando, chamou a ex-mulher. No telefonema de uma hora explicou para Elaine que fracassou “por covardia”.
Ele avisou que tentaria se matar com outro método. Mosquito ainda disse para Elaine ter destruído o HD do computador com o qual erguera seu reino de quase 1200 dias na internet.
Aquele telefonema choroso era o lado do Mosquito que poucos conheciam. Elaine fez o de sempre nas deprês dele: ouviu, confortou, incentivou. No fim do papo, desligou o telefone: “Achei que seria como das outras vezes”.
A menina também falou com ele. Apesar da pouca idade, deu conselho de gente grande: “Pai, sai dessa, parte pra outra”.
TRAÍDO
Mas, Mosquito estava sem perspectivas. “Ele fez muitas escolhas erradas na vida, inclusive a última”, analisa o ex-senador Wedekin, decepcionado com o cliente que tanto ajudou.
O professor Fontana vê uma trágica coerência na trajetória dele. Em gravação de 50 minutos do jovem estudante para o livro Novembrada, em 1980, recolheu a bravata de que Mosquito nunca iria “integrar-se ou entregar-se” ao sistema: “Foi se inviabilizando como pessoa, mas atacava alguns caras que mereciam. Fez mais bem do que mal à sociedade”.
Mosquito tentou explicar suas atividades num dos últimos posts. Eram quase como abraçar o mundo com as pernas: “O blog foi construído com o objetivo de denunciar corrupção, tratar de assuntos ligados à cidadania e versar sobre os mais diversos temas da blogosfera”.  E postou sua prestação de contas: “Contribui para tentar sanear a política catarinense”.
De Brasília, o poeta Emanuel Medeiros Vieira botou o cara nas alturas. Eis trechos de “Mosquitadas”, para “os amigos dos sonhos de antigamente”, criticando o sistema – sistema que teria provocado a morte dele:
Em silêncio, eu sei, muitos se rejubilam com a tua morte.
Eram inimigos fortíssimos, de vários matizes – fortes não pelo humanismo (são carecedores dele), mas pelo poder mesquinho e pela pecúnia.
Mais do que os processos, a falta de dinheiro, era insuportável enxergar quase todos fechados em si mesmos, a mídia imbecilizante, o egoísmo velhaco, o mundo dirigido pelos financistas, o país dos nossos sonhos na lata de lixo.

Mosquito: não conseguiste conviver com a traição.

CARENTE
Cacau Menezes, colunista mais popular do Estado, escreveu no Diário Catarinense que reconhecia o direito dele de se indignar com tudo e todos.
Os dois foram amigos na juventude, mas adversários na web. Ele viu Mosquito dizendo  ”coisas que a grande mídia não tem coragem… mídia e política estão cada vez mais juntos no que eles querem”.
O colunista deu a entender que Mosquito cometeu suicídio como sua última tijolada, de um jeito que deixaria os desafetos como suspeitos de crime – crime que não aconteceu, de acordo com o perito policial Milton Silva, autor do laudo de suicídio.
As dúvidas surgiram porque vizinhos invadiram a cena antes da chegada da polícia, logo depois que o padre Elizandro descobriu o corpo. A simples presença do padre na casa do ateu confesso já provocara especulações entre os que acreditavam em assassinato.
O padre chegou lá por acaso. Um amigo comum, o blogueiro religioso Nahor Lopes, distante 100 km, pediu para Elizandro, da paróquia do Aririu, a dois quilômetros da Pedra Branca, para dar uma checada em Mosquito, já quando ele não atendia mais o telefone nem emails.
Depois do susto de ver Mosquito morto o padre correu para a rua pedindo socorro aos vizinhos. Um psicólogo e um funcionário da Brasil Telecom que consertava fones no pedaço entraram na casa. Deram uma de CSI. Notaram que um dos pés do morto estava no chão. Foi o psicólogo que espalhou na vizinhança a teoria do assassinato.
Depois deles, um delegado aposentado da polícia gaúcha deu seu pitaco: “O lençol estava amarrado como quem tem caxumba, apenas no queixo”, portanto, seria crime. Mais: “A panturrilha esquerda dele tocava num banquinho, se fosse suicídio teria esperneado e o derrubaria”. Segundo a perícia, as teorias do psicólogo e do delegado são furadas.
SEM SAÍDA
Antes de morrer, Mosquito também falou com o irmão. Ênio fez mais do que Elaine: o convidou para voltar à casa da mãe, onde nada lhe faltaria: “A gente tinha diferenças, mas eu o amava”, disse, com os olhos marejados, sentindo-se culpado por não ter notado que daquela vez era sério.
Os últimos contatos dele foram com o blogueiro Canga. Pediu emprego, numa mensagem desesperada. Queria que o amigo encontrasse a oportunidade entre gente que ele teria ajudado com suas tijoladas, a quem  “nunca pedira nada em troca” – enfim o blog apresentava sua fatura.
Canga não tem dúvida de que o amigo se suicidou. Levou sua opinião ao delegado Attilio Guaspari – encarregado do inquérito e autor da singular tese de suicídio porque o homem estava muito pesado: “Precisamos de cinco para baixá-lo do lençol, logo, teriam que ser cinco ou mais para pendurá-lo”.
Depois que a polícia retirou o corpo da casa dona Elaine foi lá e queimou os arquivos do blog. “Ele era muito organizado com papéis, tinha até o manual de uma batedeira que não existia mais”.
Num momento de ternura e fraqueza, ela balança a cabeça e tenta negar o suicídio. Pergunta ao repórter se não teria sido possível alguém ter forçado Mosquito a se matar mediante ameaças à filha – ela lembra que meses atrás a menina foi seguida por um desconhecido que se dizia fotógrafo.
Ela mesma responde “possível, mas improvável”. Elaine pareceu levemente paranóica com a segurança da filha: “Tenho medo que alguém queira vingar-se nela”.
Elaine não quer mais voltar na rua Maracanãs. Deu o dog Ventania para uma amiga e botou a casa para alugar na Imobiliária Brognoli.
Amilton Alexandre foi sepultado no cemitério do Itacorubi. E ali deu a prova definitiva de nunca ter se integrado no sistema: os amigos tiveram que fazer uma vaquinha pelos R$ 2.600 devidos à funerária São Joaquim.
Um videomaker gravou o enterro para um documentário. O corpo do filho inquieto foi entregue ao infinito na mesma carneira do pacato seu Amadeu.
A viúva e a filha jogaram flores na cova. Amigos fizeram discursos emocionados. A última a falar foi Lelê, enfim reconciliada. Ela o descreveu como sendo “do bem”.
E alguém fez a homenagem símbolo do personagem: jogou um tijolo no caixão.

by Rodrigo Viana
12/03/2012



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Processo:
045.12.003308-3 (0003308-46.2012.8.24.0045)
Classe:
Inquérito Policial
Área: Criminal
Assunto:
Crimes contra a vida
Local Físico:
06/12/2012 00:00 - Cartório - Prazo 22 - 140
Distribuição:
Sorteio - 26/03/2012 às 17:01
1 Vara Criminal - Palhoça
Partes do Processo
Indiciado: A Apurar
Vítima: Amilton Alexandre
Exibindo todas as movimentações.   >>Listar somente as 5 últimas.
Movimentações
DataMovimento
31/01/2013Juntada de mandado
Mandado 1 - Não Cumprido
06/12/2012Aguardando decurso do prazo
27/09/2012Aguardando cumprir despacho
27/09/2012Recebimento
03/09/2012Despacho outros 
1. Os bens ainda apreendidos nos autos deverão ser devolvidos a família de Amilton Alexandre, a ser intimado na pessoa de sua irmã Elisabete; em não sendo possível a devolução, cujo motivo deverá ser certificado nos autos, deverá o secretário do foro providenciar a destinação. 2. Cumpra-se. 3. Após, arquivem-se.
03/09/2012Concluso para despacho
03/09/2012Aguardando envio para o Juiz
03/09/2012Recebimento
motivo: adv tirar cópia
27/08/2012Concluso para despacho
27/08/2012Aguardando envio para o Juiz
24/08/2012Aguardando envio para o Juiz
24/08/2012Recebimento pelo Cartório
18/06/2012Recebimento
8 Promotoria de Justiça da Comarca de Palhoça
18/06/2012Vista ao Ministério Público para intimação
18/06/2012Aguardando envio para o Ministério Público
14/06/2012Aguardando envio para o Ministério Público
14/06/2012Ato Ordinatório-crime
Fica intimado o Ministério Público para, no prazo de 10 (dez) dias, manifestar-se sobre a possibilidade de restituição dos bens apreendidos às fls. 08/09, conforme art. 286 do CNCGJ.
28/05/2012Aguardando cumprir despacho
28/05/2012Recebimento
25/05/2012Despacho determinando arquivamento 
I. Razão assiste ao representante do Ministério Público, cujos fundamentos de seu parecer adoto na íntegra, passando a fazer parte integrante desta. Destarte, determino o ARQUIVAMENTO dos presentes autos, sem prejuízo do disposto no art.18 do Código de Processo Penal. II. Comunique-se à D.P. de origem. III. Cumpra-se. Palhoça
03/05/2012Concluso para despacho
02/05/2012Aguardando envio para o Juiz
30/04/2012Aguardando envio para o Juiz
27/04/2012Recebimento pelo Cartório
25/04/2012Recebimento
8 Promotoria de Justiça da Comarca de Palhoça
25/04/2012Vista ao Ministério Público
02/04/2012Aguardando envio para o Ministério Público
27/03/2012Recebimento
26/03/2012Processo distribuído por sorteio
Incidentes, ações incidentais, recursos e execuções de sentenças
Não há incidentes, ações incidentais, recursos ou execuções de sentenças vinculados a este processo.
Petições diversas
Não há petições diversas vinculadas a este processo.
Audiências


Não há Audiências futuras vinculadas a este processo.



Teor do depacho de
25/05/2012


Autos n.° 045.12.003308-3 Ação: Inquérito Policial - Júri/Indiciário Indiciado: A Apurar R. h. I. Razão assiste ao representante do Ministério Público, cujos fundamentos de seu parecer adoto na íntegra, passando a fazer parte integrante desta. Destarte, determino o ARQUIVAMENTO dos presentes autos, sem prejuízo do disposto no art.18 do Código de Processo Penal. II. Comunique-se à D.P. de origem. III. Cumpra-se.


Palhoça, 25 de maio de 2012

Mônica Bonelli Paulo
Juíza Substituta




Teor do despacho de 03/09/2012


Autos n.º 045.12.003308-3 Ação: Inquérito Policial - Júri/Indiciário Indiciado: A Apurar R. hoje. 1. Os bens ainda apreendidos nos autos deverão ser devolvidos a família de Amilton Alexandre, a ser intimado na pessoa de sua irmã Elisabete; em não sendo possível a devolução, cujo motivo deverá ser certificado nos autos, deverá o secretário do foro providenciar a destinação. 2. Cumpra-se. 3. Após, arquivem-se. Palhoça,

03 de setembro de 2012

Carolina Ranzolin Nerbass Fretta
Juíza de Direito


Em Alta

"Não permita que o ruído das opiniões alheias matem a sua voz interior" (Steve Jobs)

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