A advogada Fernanda Fleck Freitas, 28 anos, presa na sexta-feira em Tubarão, Sul do Estado, não conseguiu explicar à polícia os motivos de ter visitado na cadeia os líderes da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC), responsáveis pela morte da agente penitenciária Deise Alves, 30 anos, executada há exatos três meses.
Na decisão do juiz Otávio Minatto, sobre a prisão preventiva da advogada, que o Diário Catarinense teve acesso, Fernanda afirma ter sido contratada por uma mulher com iniciais H. para levar atualização processual, entregar peças de vestuário e arranjar visita íntima a presos.
Ouvida pela polícia, H. relatou que procurou a advogada apenas para serviços de defesa de multas de trânsito e para tratar de assuntos relativos ao seu marido, que está preso. A mulher negou ter contratado Fernanda para ela que visitasse outros detentos.
Num vídeo gravado por policiais da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), no seu primeiro depoimento após ser presa, ainda em Tubarão, a advogada também contou a mesma história, mas o álibi acabou sendo derrubado pela investigação policial, a partir do depoimento de H.
Fernanda é acusada pelo Ministério Público de participar da morte da agente Deise, ocorrida em 26 de outubro do ano passado, em São José, na Grande Florianópolis. Ela foi presa de manhã, em sua casa, no Bairro Santo Antônio de Pádua.
— Eu não fiz nada, não sou bandida, sou inocente. Nunca ia passar esse recado. Fui contratada por uma mulher que conheci em 2012. Não sabia de nada disso — declarou Fernanda.
Ela negou ter sido mensageira de presos que ordenaram o assassinato do então diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, Carlos Alves. Os executores erraram o alvo e Deise acabou morta por engano no lugar do marido.
O delegado Rodrigo Green, da Deic, afirma que Fernanda foi presa porque visitou líderes do PGC na penitenciária, no mesmo dia da morte da agente.
— O que temos contra ela é um relatório de visitas naquele dia a esses presos, sendo que ela não atua na área criminal — afirmou o delegado.
Fernanda foi levada para a Deic, em Florianópolis, onde prestou novo depoimento. Na chegada, cobriu o rosto com uma toalha preta e não quis responder as perguntas de jornalistas. Depois, foi encaminhada para o Presídio de Tijucas.
A polícia diz que ela formou-se em Direito em 2007, leva vida simples, atua na área cível e considera um enigma o motivo de seu suposto envolvimento com presos líderes do PGC.
Para o promotor Geovani Tramontin, a advogada se associou à quadrilha para intermediar informações entre os detentos e criminosos que estão nas ruas. E no dia 26 de outubro recebeu e articulou a ordem do PGC.
Justiça a define como canal de informações
O juiz Otávio Minatto, de São José, afirma que a advogada Fernanda Fleck Freitas teria se aproveitado da prerrogativa conferida pela Ordem dos Advogados do Brasil de acesso às cadeias para servir de canal de informações entre os integrantes do grupo criminoso que orquestrou e mandou matar o marido da agente penitenciária, que acabou executada por engano.
O magistrado observa que os indícios de sua participação foram demonstrados na investigação da Deic e pelo Ministério Público de SC. Ele se refere às visitas da advogada aos líderes do PGC antes do homicídio de Deise e no dia do crime, mesmo não sendo ela a procuradora dos referidos presos, o que Fernanda não conseguiu explicar.
Na decisão, o juiz também nega transferência de presos envolvidos na morte de Deise para outras prisões, como pretendiam os advogados de defesa.
Foi autorizado apenas exame de corpo de delito no preso Marciano Carvalho dos Santos, que teria atirado na agente, e em Fabrício da Rosa, o Fabrício do Morro do Horácio, na Capital, que teria arrumado a arma do crime.
Com a denúncia criminal do MPSC recebida pelo juiz, os nove denunciados agora são réus no processo por homicídio e formação de quadrilha e poderão ir a júri popular. Entre os mandantes, executores e a advogada, são oito presos. O nono envolvido é Rafael de Brito, o Shrek Paulista, 30 anos, que está foragido.