terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Tríade obscura: narcisismo, maquiavelismo e psicopatia


Aqueles que não têm a capacidade de se conectar com os outros ou têm a capacidade de se desconectar deliberadamente das suas emoções podem fazer parte dessa tríade obscura. Existe um conjunto de características de personalidade que definem o narcisismo, o maquiavelismo e a psicopatia.

Nos casos mais extremos, os indivíduos que compartilham as características dessa tríade chegam a se transformar em criminosos ou se perdem no amplo espectro das doenças mentais. No entanto, também há aqueles que não cumprem os critérios para um diagnóstico psiquiátrico e convivem diariamente conosco.

As pessoas que apresentam esses traços e formas de comportamento são chamadas de personalidades obscuras por causa das suas tendências insensíveis, egoístas e malévolas nos seus relacionamentos com os outros. Delroy Paulhus e Kevin-Williams, psicólogos da Universidade da Colúmbia Britânica, foram os responsáveis ​​por batizar como tríade obscura a parte mais negativa das relações humanas.


O narcisismo

“Tudo é permitido para mim” ou “Os outros só existem para me adorar”, são exemplos típicos de pensamentos dominados pelo narcisismo. São pessoas egoístas, com um sentido de direito egocêntrico e uma autoimagem positiva, embora pouco realistas se considerarmos a opinião das pessoas ao seu redor.

Os narcisistas são “encantadores de serpentes”. No início são muito queridos para os outros, seus comportamentos são agradáveis ​​e atraentes, mas com o passar do tempo, podem se tornar muito perigosos. Eles podem até, sem querer, mostrar quais são as suas verdadeiras intenções: obter mais admiração e poder.

Eles geralmente ficam entediados com a rotina, por isso procuram desafios difíceis. A maioria dos narcisistas procura uma posição de liderança, advocacia ou qualquer outra profissão que envolva altos níveis de estresse. De acordo com o psicanalista Michael Maccoby, o narcisismo é um distúrbio cada vez mais frequente nos níveis superiores do mundo empresarial e está diretamente relacionado com a competição, ao salário e o glamour.

Um dos seus pontos fortes é a grande capacidade de convencimento que possuem. Graças a isso, eles se cercam de um grande número de seguidores, são capazes de convencer sem fazer nenhum esforço. Em suma, conseguem sempre o que eles se propõem. Além disso, como não são empáticos, não são escrupulosos com os meios e as estratégias que utilizam para alcançar os seus objetivos.

O interesse e a preocupação dos narcisistas com os outros é zero, apesar da sua grande teatralidade. Eles não sentem remorso e são impassíveis às necessidades e sentimentos das pessoas ao seu redor.

Agora, o seu calcanhar de Aquiles é a sua autoestima. Os narcisistas, muitas vezes, têm uma autoestima muito baixa, que é acompanhada de uma vulnerabilidade interna e uma certa instabilidade. Por isso, geralmente procuram se relacionar com pessoas que consideram inferiores para exercerem o seu domínio e se sentirem poderosos.

O maquiavelismo

Para os “maquiavélicos”, o fim justifica os meios, independentemente das consequências que possam surgir. Geralmente são pessoas muito calculistas e frias, destruindo qualquer tipo de conexão emocional verdadeira com os outros. Embora possuam traços em comum com os narcisistas, como o egoísmo e o uso dos outros, há uma característica que os diferencia: são realistas nas percepções e estimativas que fazem das suas habilidades e dos relacionamentos que mantêm.

Os “maquiavélicos” não tentam impressionar ninguém, pelo contrário. Eles se mostram como são e preferem ver as coisas claramente, porque dessa maneira podem manipular melhor o outro. Na verdade, eles se concentram nas emoções das pessoas que querem manipular para obter o que querem. Se conhecerem os seus sentimentos, será mais fácil escolher a melhor estratégia para manipulá-lo.

De acordo com o psicólogo Daniel Goleman, as pessoas com características maquiavélicas podem ter uma menor empatia com os outros. A sua frieza parece derivar de uma falta no processamento tanto das próprias emoções quanto das dos outros.

Na verdade, para eles as emoções são tão desconcertantes que, quando sentem ansiedade, geralmente não sabem diferenciar se estão tristes, cansados ou simplesmente não estão se sentindo bem. No entanto, possuem uma grande capacidade de perceber o que os outros pensam. Mas, como diz Goleman, “mesmo que a sua cabeça saiba o que fazer, o seu coração não tem a menor ideia”.


A psicopatia, a personalidade mais perigosa da tríade obscura

Os psicopatas consideram as outras pessoas como objetos com os quais podem jogar e usar de acordo com a sua vontade. No entanto, ao contrário das outras personalidades da tríade obscura, quase nunca experimentam ansiedade e até mesmo parecem ignorar o que significa sentir medo.

A frieza do psicopata é extrema, por isso pode tornar-se muito mais perigoso do que as outras personalidades da tríade obscura.

Como não sentem medo, podem permanecer serenos mesmo em situações emocionalmente intensas, perigosas e aterrorizantes. Eles não se importam com as consequências das suas ações e são os melhores candidatos para se tornarem presidiários.
Os circuitos neuronais desse tipo de pessoas dessensibilizam o segmento do espectro emocional associado ao sofrimento. Por isso, a sua crueldade parece insensibilidade porque eles não conseguem detectá-lo. Além disso, o remorso e a vergonha não existem para eles.

No entanto, os psicopatas têm algumas facilidades para “se colocar no lugar do outro” e, assim, pressionar os botões apropriados para alcançar o seu objetivo. Eles são muito persuasivos. No entanto, esse tipo de pessoas, apesar de se destacarem na cognição social, caracterizam-se pela compreensão das relações e do comportamento dos outros apenas a partir de uma perspectiva lógica ou intelectual.


Como vemos, parece que o lado negro praticado pelos Sith em Star Wars não é tão irreal quanto pensávamos. A presença desta tríade obscura nos relacionamentos íntimos leva a maus-tratos através da violência psicológica. São personalidades tóxicas que estabelecem círculos de poder, controle, hostilidade e aprisionam mentalmente as suas vítimas.

A chave para não cair nas suas redes é trabalhar a nossa independência emocional. É preciso saber estabelecer limites claros nos nossos relacionamentos e não permitir que ninguém os ultrapasse. Sem dúvida, nos protegermos deve ser a nossa prioridade em todos os tipos de relacionamentos.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Oito anos depois, Justiça torna réus funcionários de escola de SP após morte de aluna em excursão

Eles vão ser julgados por abandono de incapaz. Exames apontaram que Victoria Mafra Natalini morreu por 'asfixia mecânica, na modalidade de sufocação direta'. MP e Justiça entenderam que dois professores e três gestores fizeram a atividade com baixo número de monitores.

Por Carlos Henrique Dias, Valmir Salaro, g1 SP e Fantástico

26/09/2023 05h03 Atualizado há uma semana


Victoria Natalini foi encontrada morta no dia 17 de setembro de 2015: causa da morte foi asfixia — Foto: Reprodução / Facebook

A Justiça tornou réus dois professores e três gestores da escola Waldorf Rudofl Steiner, de São Paulo, por abandono de incapaz no caso da estudante Victoria Mafra Natalini, que desapareceu e foi encontrada morta durante uma excursão escolar em uma fazenda em Itatiba, no interior do estado.

Em 14 de setembro deste ano, o promotor ofereceu a denúncia contra os funcionários da escola. No mesmo dia, o juiz Ezaú Messias dos Santos, do Foro de Itatiba, considerou a acusação plausível para torná-los réus. O processo será digitalizado e as audiências, marcadas.

O juiz também arquivou o inquérito policial com relação ao crime de homicídio sem a identificação do autor da morte. O procedimento poderá ser reaberto se surgirem novas informações.

Em 10 de julho de 2023, o DHPP tinha indiciado os dois professores que estavam com os alunos, na época. A polícia entendeu que eles foram omissos com as obrigações e uma suposta negligência levou a estudante à morte.

O delegado Nilson Lucas Júnior tinha determinado o indiciamento por abandono de incapaz com resultado morte, com pena que varia entre quatro e doze anos de reclusão, se houver condenação.


Em nota, a escola informou que "reitera que segue comprometida em contribuir com as autoridades e a justiça desde o primeiro dia das investigações. A escola lamenta profundamente o falecimento da aluna Victoria Natalini e se mantém solidária aos seus familiares e colegas".

E complementa: "A instituição de ensino também reforça que todos os procedimentos de segurança necessários foram adotados durante a viagem de estudo do meio e que, após a constatação da ausência de Victoria, as autoridades competentes foram contatadas. Esclarece, ainda, que em todas as atividades pedagógicas desenvolvidas – sejam na escola ou em ambiente externo - disponibiliza equipes de profissionais capacitados para acompanhamento de seus alunos".

O g1 tenta contato com a defesa da fazenda.

Relembre o caso

Fazenda em Itatiba, no interior de São Paulo — Foto: Reprodução/TV Globo

Em 2015, a Victoria e mais cerca de 30 alunos faziam trabalho extracurricular na Fazenda Pereiras, na Rodovia Engenheiro Constância Cinta, em Itatiba, no interior de São Paulo, entre os dias 11 e 18 de setembro.

Antes de desaparecer, a estudante afirmou que iria ao banheiro e teria sido permitida a ida sozinha.

“Ocorre, que, no trajeto, por motivos ainda não esclarecidos, a vítima veio a óbito, tendo o seu corpo sido abandonado em meio a um matagal, em local totalmente ermo”, escreveu o promotor.

Segundo a denúncia, os professores continuaram nas atividades e não foram apurar onde estava a vítima. “Ninguém percebeu a ausência de Victória por horas”, detalhou. Ela foi achada sem vida, depois de uma força-tarefa na região.

O entendimento de abandono de incapaz ocorreu porque, para o promotor, o gestor-executivo, uma gestora pedagógica e a coordenadora do ensino médio permitiram a excursão com baixo número de professores e monitores para o acompanhamento de alunos.

O que apontam os laudos


Local onde seria o banheiro e onde o corpo foi encontrado em Itatiba — Foto: Reprodução/TV Globo

À época do caso, o laudo do Instituto Médico Legal (IML) de Jundiaí apontou morte por causa indeterminada. Segundo o pai dela, João Carlos Siqueira Natalini, a menina era saudável.

Os exames indicaram que Victória não tinha usado drogas nem tomado bebida alcoólica. Ela também não apresentava sinais de violência sexual.

O pai de Victória chegou a contratar peritos particulares para analisar o caso. A conclusão deles foi que a estudante realmente foi assassinada e que o criminoso carregou o corpo da menina até o local.

Com isso, o novo laudo do Centro de Perícias da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo apontou que aluna poderia ter sido assassinada. A reviravolta do caso foi revelada pelo Fantástico.

O documento foi um pedido feito Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Paulo (DHPP), que assumiu o caso em março de 2016. Os novos exames concluíram que Victoria morreu por "asfixia mecânica, na modalidade de sufocação direta".

terça-feira, 8 de agosto de 2023

CASO MARIELLE: SUSPEITOS DE ENVOLVIMENTO NO ASSASSINATO TEMIAM PRISÃO DE DOMINGOS BRAZÃO


O político Domingos Brazão é investigado como um dos principais suspeitos de mandar matar Marielle Franco e Anderson Gomes, em março de 2018.

O Intercept 
26 de jul de 2023, 15h37

O caso Marielle


Marielle Franco virou um símbolo internacional após seu assassinato no dia 14 de março de 2018. Com os olhos do mundo no Rio de Janeiro, todos estão perguntando: #QuemMandouMatarMarielle? E por quê?

NA VÉSPERA DA OPERAÇÃO POLICIAL que levou para cadeia os ex-policiais militares acusados de matar Marielle Franco e Anderson Gomes, outros suspeitos de envolvimento no crime temiam a prisão de um político investigado como um dos possíveis mandantes do atentado: Domingos Inácio Brazão.

No dia 11 de março de 2019, às 23h, Jomar Duarte Bittencourt Júnior, conhecido como Jomarzinho e filho de um delegado da Polícia Federal, enviou uma mensagem por WhatsApp a um policial militar. O atentado que matou Marielle e Anderson completaria um ano dali a três dias.
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Quem recebeu a mensagem foi um sargento da PM, Maurício da Conceição dos Santos Júnior. Jomarzinho informava que no dia seguinte pessoas seriam presas no âmbito da investigação do atentado contra a ex-vereadora.

“Pelo que me falaram vão até prender Brazão e Rivaldo Barbosa”, escreveu Jomarzinho.

“Putz”, respondeu o sargento.

O diálogo mostra que operação policial foi vazada, e é ainda mais importante porque revela o temor com a possível detenção de Domingos Brazão, um político com passagem pelo MDB no Rio, e cujo nome sempre esteve no rol de suspeitos de ser um dos mandantes do atentado contra Marielle. Além disso, a conversa reforça a hipótese de que o atentado teve motivação política, como destacado pelo ministro Flavio Dino, ao determinar a abertura de um inquérito sobre o caso no começo deste ano.Troca de mensagens entre suspeitos revela medo de que Domingos Brazão fosse preso em operação da Polícia Civil, em 2019.

A primeira menção refere-se a Domingos Brazão, líder de uma família de políticos com atuação na Zona Oeste do Rio de Janeiro e suspeito de ser aliado de milicianos na região. À época, ele estava afastado do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, acusado pela Operação Lava Jato de receber propinas de empresários do setor de transporte.

As investigações cogitam a hipótese de que Brazão mandou matar Marielle para se vingar de Marcelo Freixo, ex-deputado estadual e atual presidente da Embratur na gestão Lula. Freixo ajudou procuradores da República em operações da Lava Jato do Rio que resultaram nas prisões de políticos do MDB, a exemplo do próprio Brazão, e dos então deputados estaduais Jorge Picciani (já falecido), Paulo Melo e Edson Albertassi.
Post no Twitter do Ministro da Justiça, Flávio Dino sobre a abertura de investigação da Polícia Federal no caso Marielle Franco.

“Cogita-se a possibilidade de Brazão ter agido por vingança, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações movidas pelo Ministério Público Federal, que culminaram com seu afastamento do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro”, afirmou a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, quando foi debatida a federalização do caso, em maio de 2020.

“Informações de inteligência aportaram no sentido de que se acreditou que a vereadora Marielle Franco estivesse engajada neste movimento contrário ao MDB, dada sua estreita proximidade com Marcelo Freixo”, também está escrito no relatório da ministra.

Já Rivaldo Barbosa é delegado e ex-chefe da Polícia Civil do Rio. Tempos depois, a PF associou a ele a um suposto recebimento de propina para impedir avanços na investigação do caso. Barbosa nega.

A operação, de fato, aconteceu como Jomarzinho previa, mas os presos foram outros: os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz. Élcio firmou, recentemente, acordo de delação premiada e confirmou que foi o motorista do carro usado no atentado de 14 de março de 2018 e que Lessa foi o autor dos disparos. Ronnie Lessa também foi filiado ao MDB durante alguns anos.

Quando foi preso saindo do condomínio Vivendas da Barra, Lessa admitiu aos policiais civis que estava em fuga. Ele tinha recebido a informação de Maxwell Simões Corrêa, o Suel, ex-bombeiro e seu sócio em negócios milicianos. Por sua vez, Suel soube por Maurício, que o avisou logo depois de conversar com Jomarzinho.

A cadeia de vazamento da operação foi a seguinte: Jomarzinho contou a Maurício. Este contou a Suel que, por sua vez, contou a Lessa.

E um detalhe chama a atenção. Lessa decide fugir, mas o nome dele não é especulado entre os que seriam presos de acordo com Jomarzinho, que cita Brazão e Rivaldo Barbosa. Mas mesmo assim, Lessa optou por escapar da operação.

Essas informações constam na investigação da Polícia Federal que resultou na prisão de Suel na última segunda-feira, 24 de julho. Ele é suspeito de ter participado do planejamento do atentado contra Marielle e foi delatado por Élcio. Jomarzinho e Maurício foram alvos de mandados de busca e apreensão.O político Domingos Brazão é investigado como suspeito de ser um dos possíveis mandantes do atentado que matou Marielle Franco e Anderson Gomes. Foto: Reprodução/Globo
Brazão suspeito de mandar matar Marielle

A violência marca a trajetória pública de Domingos Brazão. Em março de 1987, Domingos Brazão matou a tiros um homem e feriu outro por causa de uma desavença entre vizinhos. O inquérito policial mostrou que ele perseguiu os dois homens e efetuou os disparos pelas costas. Ele alegou legítima defesa. O caso nunca foi submetido a júri popular e tramitou durante 15 anos até a denúncia ser rejeitada pela corte especial do Tribunal de Justiça, quando Brazão era deputado estadual.

“A autoridade policial destacou, à época, a índole violenta e perigosa do réu, que constantemente portava arma e se unira a ‘grileiros’ que disputavam a posse das terras na região”, afirmou em 2002, José Muiños Pinheiro Filho, então procurador-geral de Justiça, chefe do Ministério Público do Rio de Janeiro, e posteriormente desembargador.

Anos depois, Brazão teria seu nome citado na CPI das Milícias, que foi presidida pelo então deputado estadual pelo Psol Marcelo Freixo. Marielle Franco trabalhou no caso como assessora parlamentar dentro do gabinete de Freixo.
‘Cogita-se a possibilidade de Brazão ter agido por vingança, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações.’

Desde o começo das investigações sobre as mortes de Marielle e Anderson, Domingos Brazão figurou entre os suspeitos de ser um dos mandantes do crime. Ele prestou depoimento meses após o atentado e negou qualquer participação.

Em um inquérito anterior da PF, que apurava um esquema para atrapalhar as investigações do duplo homicídio, ele foi citado em 2019 “como um dos possíveis mandantes.

No mesmo ano, a então procuradora-geral da República Raquel Dodge chegou a afirmar na denúncia que fez contra Brazão por obstrução de justiça que ele “arquitetou o homicídio” de Marielle. Brazão negou, novamente, qualquer envolvimento.
Freixo foi à Justiça contra Brazão

Os caminhos de Freixo se cruzaram novamente sete anos depois do relatório final da CPI das Milícias. Em 2015, Domingos Brazão havia sido escolhido pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para ocupar uma vaga do Tribunal de Contas do Estado, o TCE. A indicação foi apadrinhada pelo então presidente da casa legislativa, Jorge Picciani, então seu correligionário no MDB. Para assumir o cargo no TCE, Brazão se desfiliou do partido.
A conversa reforça a hipótese de que o atentado teve motivação política, como destacado pelo ministro Flavio Dino, ao determinar a abertura de um inquérito sobre o caso no começo deste ano.

O único partido a se opor foi o Psol, do qual Freixo era o principal representante da bancada. Ele ingressou na Justiça do Rio para barrar a ida de Brazão ao TCE. Não conseguiu.

Freixo também teve papel fundamental na Operação Cadeia Velha, deflagrada em novembro de 2017, cinco meses antes da morte de Marielle. Nomes fortes do MDB no estado foram presos, a exemplo dos deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Mello e Edson Albertassi. Este último, pouco antes de ser preso, havia sido indicado para uma vaga no TCE, tal qual como Brazão. Daquela vez, sim, Freixo obteve uma liminar na Justiça impedindo a posse de Albertassi no Tribunal de Contas do Rio.

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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Morre, aos 83 anos, a atriz Aracy Balabanian



Por Bruno de Freitas Moura -
Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

A atriz Aracy Balabanian morreu na manhã desta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, aos 83 anos. A confirmação foi feita pela Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul da cidade. A causa da morte não foi revelada. “A Clínica São Vicente lamenta a morte da paciente Aracy Balabanian e se solidariza com a família e amigos por essa irreparável perda”, diz o hospital, ao informar não ter autorização da família para divulgar mais detalhes.

A artista é dona de uma carreira de cerca de 50 anos, com participação em mais de 30 novelas e peças de teatro. Além disso, ficou marcada pelo programa Sai de Baixo, da TV Globo.

Filha de uma família de origem armênia, Aracy Balabanian nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em 22 de fevereiro de 1940. Na adolescência, cultivava o sonho de ser atriz. Ainda na época de escola, quando morava em São Paulo, entrou para o Teatro Paulista do Estudante. Aos, 18 anos, Balabanian passou para duas faculdades, Escola de Arte Dramática de São Paulo e Ciências Sociais, na Universidade de São Paulo (USP). Mas deu razão à vocação e terminou apenas a de Arte Dramática, mesmo contrariando pai, que não queria que ela se tornasse a atriz.

A partir de 1963, aos 23 anos, iniciou a participação de espetáculos do Teatro Brasileiro de Comédia, entre eles, Os Ossos do Barão. Ainda na década de 50, começou a trajetória na TV. Em 1965, trabalhou em Marcados pelo Amor, na TV Record. Em seguida, fez novelas na extinta TV Tupi.

Nos anos 70, Aracy Balabanian estreou na TV Globo. A primeira novela foi O Primeiro Amor, em 1972. No ano seguinte, trabalhou no programa infantil Vila Sésamo. A maior parte da trajetória artística dela foi na emissora carioca, ao mesmo tempo em que se apresentava também em peças teatrais. Entre 1986 e 1988 trabalhou na TV Manchete, voltando à Globo, em 1989, para fazer Que Rei Sou Eu.
Dona Armênia

O sotaque e alguns costumes da família de origem armênia ajudaram a forjar a personalidade de dona Armênia, papel de destaque de Balabanian na novela Rainha da Sucata (1990). A aceitação do público foi tão grande que a personagem voltou na novela Deus nos Acuda (1992).

"Eu aprendi a ler e a escrever, e declamava em armênio, porque começaram a fazer isso comigo [ensinar] muito cedo. Meu pai e minha mãe me ensinavam poemas, que eu declamava", lembrou a atriz em entrevista ao Programa Sem Censura, da TV Brasil, em 2015. No programa, ela lembrou que recitava os poemas em festas que reuniam outras famílias de origem armênia. "Aí os velhos choravam, então eu percebi que fazia as pessoas se comoverem, bem pequenininha", contou. "Isso eu fui cobrar meu pai mais tarde, ele me incentivou [na carreira artística]", brincou.

O sucesso mais duradouro de Aracy Balabanian é a socialite Cassandra, do humorístico Sai de Baixo (1996-2002). O programa de TV era gravado no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, com a presença de plateia, o que fazia com que os artistas levassem ao ar cenas repletas de improvisação. Muitas vezes, a atriz não segurava o riso no meio dos diálogos.

O último trabalho na televisão foi em 2019, no especial de fim de ano Juntos a Magia Acontece.
Repercussão

Parceiro de Balabanian no Sai de Baixo, o ator Miguel Falabella publicou uma homenagem à atriz nas redes sociais. “Minha amada Aracy, minha rainha, atriz de primeira grandeza, companheira irretocável, amor de muitas vidas. Obrigado pela honra de ter estado ao seu lado exercendo nosso ofício, obrigado pelo afeto, pelos conselhos, pelas gargalhadas e pela vida que você tão delicadamente me ofereceu”.

“Uma atriz referência para todos nós, um ícone de várias gerações, seus personagens ganharam as ruas com seus bordões maravilhosos, com sua integridade, sua dignidade, sua inteligência e humor”, publicou a atriz Beth Goulart.

A atriz Patrícia Pillar também se despediu de Balabanian. “Atriz adorável, com seu jeito tão próprio, tão original... Lembro a alegria enorme que senti quando soube que trabalharia a seu lado em Rainha da Sucata! E sempre me senti assim a cada vez que trabalhamos juntas. Fico aqui com o coração partido, desejando paz e conforto a seus familiares, aos inúmeros amigos e fãs”.

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, lamentou a morte na rede social X (antigo Twitter). “Notícia triste que recebo agora da partida da querida Aracy Balabanian. Uma grande mulher, filha de refugiados, pioneira na televisão brasileira, atriz brilhante. Impossível pensar em Aracy e não lembrar de suas risadas em cena como Cassandra. Fez história e vai fazer falta. Meus sentimentos à família e aos amigos”, escreveu.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, escreveu nas redes sociais que a atriz “dedicou sua vida à cultura, nos presenteando com o seu brilhantismo em personagens que marcaram gerações”. Castro acrescentou que “seu legado ficará para a história do país e no nosso coração. Meus sentimentos e abraço para familiares e amigos de profissão de Aracy”.

“O Brasil perde uma grande atriz”, lamentou o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. “Meus sentimentos aos amigos, familiares e fãs”, completou.

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