quarta-feira, 26 de outubro de 2022

TSE forma maioria para absolvição da chapa Bolsonaro-Mourão

Corte eleitoral julga ações de investigação que acusam os vencedores do pleito de abuso do poder econômico por conta de disparos em massa de mensagens. Relator avaliou que não se evidenciou ilegalidade

Luana Patriolino
postado em 28/10/2021

(crédito: Isac Nóbrega/PR)

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) formou maioria contra as ações da cassação da chapa vencedora das eleições de 2018, formada pelo presidente Jair Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão. A Corte retomou na manhã desta quinta-feira (28/10) o julgamento que apura se os vencedores do pleito das últimas eleições cometeram abuso do poder econômico por conta de disparos em mensagens em massa.

Até o momento, o colegiado tem cinco votos contra as ações. Dois ministros ainda precisam votar. Na última terça-feira (26), o relator do julgamento, ministro Luís Felipe Salomão, se manifestou contra a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.

O magistrado avaliou que não se evidenciou ilegalidade pela prática durante a campanha de Bolsonaro para atacar adversários no pleito, como alegava a chapa perdedora, liderada por Fernando Haddad (PT). Para Salomão, ficou caracterizada o uso de mensagens em massa e no Whatsapp, aplicativo de conversas, mas não se apresentou dados de abuso de poder econômico.

O ministro citou a existência de uma organização criminosa para espalhar informações falsas e atacar instituições democráticas. Salomão também lembrou que os fatos são apurados em um inquérito em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

Luís Felipe Salomão deixa os autos do inquérito contra Bolsonaro e Mourão para o ministro Mauro Campbell, que assumirá o cargo de corregedor-geral do TSE a partir desta sexta-feira (29).

Levando-se em conta o histórico da Corte, a absolvição da chapa Bolsonaro-Mourão não é surpresa. O TSE jamais puniu um presidente da República com a cassação da chapa e as condenações costumam alcançar, sobretudo, governadores e prefeitos — no que se refere aos representantes do Poder Executivo.

Como votou cada ministro
Luís Felipe Salomão (relator): votou contra a cassação da chapa
Mauro Campbell Marques: votou contra a cassação da chapa
Sérgio Banhos: votou contra a cassação da chapa
Carlos Horbach: votou contra a cassação da chapa
Edson Fachin: votou contra a cassação da chapa

Atenção! Contém cenas de socialismo explícito; leia por conta e risco

Atenção! Contém cenas de socialismo explícito; leia por conta e risco
O texto que segue abaixo não é indicado para capitalistas, liberais e pessoas com baixa resistência ao comunismo, informa Ricardo Kertzman


Ricardo Kertzman - Estado de Minas
postado em 28/10/2021

(crédito: Sergio Lima / AFP)

"A Petrobras é uma empresa que só serve para gerar lucro para os acionistas. Uma empresa que hoje só presta serviços para os acionistas, mais ninguém. A chance de você perder algo é zero. Você compra ação de qualquer empresa e pode perder.

Na Petrobras você não perde nunca . Essa empresa é nossa ou de alguns privilegiados?."

Quem foi que disse isso ontem, quarta-feira (28/10), caro leitor: Lula da Silva, o meliante de São Bernardo; Ciro Gomes, o coroné cabra-macho; Miriam Leitão, a ‘terrorista comunista’; ou Jair Bolsonaro, o mito liberal, que veio para nos salvar do socialismo, ao lado de Paulo Guedes, o nosso indefectível (im)posto Ipiranga ?

Antes de eu responder, me permitam o seguinte comentário: qualquer empresa que se preza visa lucro para os acionistas. A Petrobras é uma empresa de capital misto, logo, não apenas precisa, como deve... gerar lucro! Mais ainda: a petroleira é uma das maiores, senão a maior, pagadoras de impostos do país, e também empregadoras.
Calma, digo já

Outra coisa: o imbecil que disse a besteira acima também disse que: ‘precisamos quebrar o monopólio da Petrobras’. Só que tal monopólio já foi quebrado faz anos! Ou seja, além de ter ideias estúpidas sobre o papel das empresas em uma economia de mercado, o idiota sequer sabe do que está falando - para não variar, aliás.

Por fim, me permitam mais uma observação: a besta-fera ignorante também disse: ‘eu estou cansado da Petrobras, só dá trabalho’. Ele declarou que quer a privatização da empresa . É tão estúpido, mas tão estúpido, que pensa que, uma vez privatizada, a empresa começará a dar prejuízo ou irá congelar seus preços, pode?

Vamos lá: quem disse tantas besteiras foi Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto . Poderia ter sido qualquer político ou ideólogo de esquerda, sim. Até porque, como visto recentemente, a Petrobras quase quebrou pela política de congelamento de preços de Dilma Rousseff, nossa inesquecível e única estoquista de vento.

Bozo comunista

Como tenho dito, além de burro — muito burro! —, e mal assessorado — muito mal assessorado! —, o amigão do Queiroz mostra-se, cada vez mais, um estelionatário eleitoral, que se vendeu como antissocialista, e pratica hoje a cartilha do lulopetismo: populismo eleitoral, farra fiscal, aumento de impostos e descontrole de gastos.

O patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias - compradas e/ou alugadas a preços de barraco — está dando piti porque quer, como um bom estatizante cretino, intervir na política da Petrobras, mas não pode. Daí, como é burro de marré de si, imagina que, uma vez privatizada a estatal, o preço da gasolina cairia.

Jair Bolsonaro, o arregão que correu de um humorista de 20 anos de idade , entende tanto de economia quanto de coronavírus, cloroquina, vacinas e aids. Ou seja, nada. Por isso, recorre à velha, surrada e ineficiente propaganda socialista — o petróleo é nosso! — tentando angariar algum apoio. Porém, o máximo que consegue é passar ainda mais vergonha.

Desesperado, Bolsonaro parte para o socialismo e promete taxar milionários


Jair Bolsonaro, naquele freak show semanal a que chama de 'live', anunciou que pretende, se reeleito, tributar as grandes fortunas



"Enganamos direitinho, hehehe"(foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Portal UAI)Em 2018, eu e milhões de otários votaram em Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, no segundo turno das eleições presidenciais por pura ojeriza à maldita cleptocracia lulopetista, mas, também, acreditando na promessa de "menos Brasília e mais Brasil", já que ventos pretensamente liberais eram soprados na direção dos eleitores.

O amigão do Queiroz é, sem a menor sombra de dúvida, o maior estelionatário eleitoral da história política brasileira, e a concorrência, como sabemos, é bastante forte.

Não há uma mísera promessa de campanha que tenha sido cumprida, e que não se refira, diretamente, às questões de cunho ideológico, sobretudo religioso.

Não vimos um centavo do trilhão de reais em privatizações prometidos por Paulo Guedes, o ex-posto Ipiranga, liberal de araque que seduziu os trouxas, como eu, com sua fala fingida e indignada contra o Estado, os privilégios, a corrupção, os "seis bancos e seis empreiteiras que escravizam 215 milhões de otários no Brasil".

Nem a porcaria da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), TV estatal que custa mais de 500 milhões de reais por ano e não tem audiência - antiga TV Lula, hoje BolsoTV - esses caras se dignaram a atirar no lixo. E nem vou tocar nos assuntos corrupção, centrão, teto de gastos e outras indignidades dessa gente cafajeste.

O tiro de misericórdia - se é que será mesmo, pois a cada dia temos um novo tirambaço na fuça disparado por este desgoverno -, a confissão testemunhal de culpa, ou melhor, de estelionato eleitoral, foi protagonizada ontem, quinta-feira (1/9), por ninguém menos que o patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, em pessoa!!

Jair Bolsonaro, naquele freak show semanal a que chama de "live", anunciou, ao vivo e em cores, para todo o Brasil, que pretende, se reeleito, tributar as grandes fortunas. Atenção! Não foi o meliante de São Bernardo, vulgo Lula da Silva, Ciro Gomes ou o presidente do Partido da Causa Operária, não. Foi o liberal, rárárárá, Bolsonaro.

Sim, meus caros e caras, o devoto da cloroquina rasgou a fantasia e cuspiu, mais uma vez!, na cara de quem votou em um antissocialista e elegeu um falsário. Onde estão agora a FIESP, a Faria Lima, a FEBRABAN…? Onde está o "chigago boy", Paulo Guedes, e o discurso contra a criação ou o aumento de impostos? Cadê o "menos Brasília", pô?

O governo não cortou despesas, não realizou reformas (fiscal, tributária e administrativa), não combateu corrupção e desperdício de dinheiro público (haja vista o bilionário orçamento secreto), estourou o teto de gastos e agora, no desespero, às vésperas da eleição, flagrado em mais uma mentira (manutenção do Auxílio Brasil em 600 reais) vem com esse papo.

Como diz o meme da internet, "o golpe tá aí, cai quem quer"! Taxação de grandes fortunas é uma bandeira histórica da esquerda brasileira. Que Jair Bolsonaro assuma, portanto, seu lado socialista, comunista, petista, ou sei lá que diabos de "istas", e pare de dar uma de liberal, pois nunca foi, e sua história de três décadas no Congresso prova o que eu digo.

domingo, 23 de outubro de 2022

Bolsonaro recorre a condenados no mensalão e réus na Lava Jato para romper isolamento político e pressionar Maia


Presidente oferece cargos a políticos do Centrão, mesmo após prometer que não lotearia o seu Governo
Bolsonaro durante protesto que pedia o fechamento de poderes no domingo.SERGIO LIMA (AFP)

No discurso aos seus apoiadores, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diz que não faz acordos, que representa a nova política e que não loteia o seu Governo para legendas. Na prática, isolado politicamente desde o início da pandemia de coronavírus, agiu de maneira distinta e se aproximou de figuras que foram condenadas ou são rés em dois dos maiores escândalos de corrupção do país: o mensalão e a Lava Jato. Tudo contou com apoio da ala militar de sua gestão. Desde a semana passada, Bolsonaro e seus ministros participaram de reuniões com interlocutores da “velha política” que dizem combater.

Estiveram à mesa presidencial representantes de Valdemar Costa Neto (PL) e Roberto Jefferson (PTB), ambos condenados no mensalão, além de Gilberto Kasab (PSD) e Ciro Nogueira (Progressistas), investigados pela Operação Lava Jato (na noite de quinta-feira a CNN e a revista Época publicaram um vídeo de Jair Bolsonaro ao lado Arthur Lira (PP) onde o presidente cumprimenta a família do deputado, réu em uma ação ligada à Lava Jato). Na movimentação. ainda foram ouvidos representantes do Republicanos. Juntos, esses cinco partidos têm 159 dos 513 deputados federais. É o núcleo duro do bloco conhecido como Centrão. Atualmente, quase nada no Legislativo é aprovado sem os votos desse grupo, que está sob a influência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).

Oficialmente, Bolsonaro pediu integração dos partidos para superar as crises sanitária e econômica da covid-19. Nos bastidores, contudo, ele ofereceu dezenas de cargos de segundo e terceiro escalão. Vai desde a presidência do Banco do Nordeste até o comando dos Fundos Nacionais da Saúde (FNS) e da Educação (FNDE). No curto prazo seus objetivos são frear o que considera “pautas bombas” que o Congresso queira votar nesse período e evitar qualquer discussão sobre um eventual processo de impeachment. No médio prazo, pretende influenciar na sucessão da Câmara em janeiro de 2021, tendo um candidato governista para se opor ao próprio Maia – que articula uma mudança constitucional para concorrer a um quarto mandato consecutivo – ou a quem for indicado por ele.

Em contrapartida, os partidos que emplacarem seus indicados já teriam maneiras de interferir na disputa das eleições deste ano, irrigando prefeituras com recursos e ajudando a eleger parte da base eleitoral que servirá de sustentação para o pleito de 2022. O primeiro sinal de que a articulação está dando certo ocorreu já nesta quarta-feira, quando a pedido do Governo e de megaempresários, a Câmara desistiu de votar um projeto de lei que obrigava as empresas bilionárias a fazerem empréstimos compulsórios ao Executivo no período de combate à pandemia de coronavírus. O autor da proposta é Wellington Roberto, líder do PL na Casa.
MDB, DEM e PP

O presidente do MDB, Baleia Rossi, foi outro que se reuniu com o presidente. Mas ele diz que nada lhe foi oferecido e que esteve na reunião apenas para colocar sua bancada, de 34 deputados, à disposição do Governo para combater a covid-19. “O MDB não reivindica, não pede e não indicará nenhuma função no Governo federal”, diz. Rossi tem a missão de trazer alguma relevância aos emedebistas, que tinham assentos em todos os governos desde a redemocratização. Diz que sua prioridade não é buscar o embate, como Bolsonaro tanto apregoou nos últimos meses. “Momento agora não é de radicalismo, de briga política”.

O próximo a se reunir com o presidente é Antônio Carlos Magalhães Neto, que preside o DEM e é prefeito de Salvador (BA). O encontro está previsto para esta quinta-feira. No caso de ACM Neto, ainda não está clara qual será a postura de Bolsonaro.

Os principais incentivadores da aproximação de Bolsonaro com os representantes partidários foram os ministros-generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral) e Walter Braga Netto (Casa Civil). Eles entendem que, sem um elo entre presidente o Legislativo, não será possível dar andamento às pautas econômicas necessárias para auxiliar no combate à covid-19. A preocupação deles é a de evitar que as pautas governistas inteiramente alteradas no Parlamento, como foi a ajuda emergencial aos Estados e municípios.

No último dia 13, a Câmara aprovou uma proposta que mais que dobrava os gastos que União pretendia ter com essa ajuda financeira, atingindo o patamar de 89,6 bilhões de reais. Sob a batuta de Maia e de governadores, o Centrão ajudou a desfigurar o pacote de socorro fiscal desenhado pelo Ministério da Economia. Antes, os mesmos parlamentares aumentaram de 200 reais para 500 reais mensais a ajuda de custo que o governo deveria dar à população mais pobre durante o período da crise – mais tarde o Executivo concordou em elevar para 600 reais.

As alterações nas propostas governistas fizeram com que Bolsonaro elevasse as críticas contra o presidente da Câmara. O mandatário diz que o deputado quer tirá-lo do poder. Sob a mesa de Maia há sete pedidos de impeachment que dependem de uma decisão unilateral sua para serem iniciados. O clima esquentou depois que Bolsonaro participou no domingo de um ato pró-fechamento do Legislativo e do Supremo Tribunal Federal. E arrefeceu na segunda-feira, quando ele disse a apoiadores que era a favor da democracia e entendia que todos os poderes deveriam seguir abertos. Os vaivéns presidenciais, com acenos radicais e supostos recuos, têm sido praxe, e estão longe de terminarem.

sábado, 22 de outubro de 2022

Tecnologia da vacina contra a Covid-19 é estudada para prevenção ao HIV e combate ao câncer, com pesquisas no Brasil


Plataforma de RNA mensageiro, utilizada nos imunizantes da Pfizer e da Moderna, deu um salto com o investimento decorrente da crise sanitária, e tem potencial para revolucionar a vacinologia, afirmam especialistas

Por Bernardo Yoneshigue

14/08/2022

Instalações da fábrica de vacinas da Fiocruz, Bio-manguinhos, no Rio de Janeiro. Bernardo Portella e Peter Ilicciev / Divulgação Bio-Manguinhos - Fiocruz

Embora alvo de pesquisas há mais de 30 anos, a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm) parecia ainda distante de se tornar realidade. Porém, com a pandemia e o investimento nunca antes visto na história das vacinas, vieram duas conquistas inéditas para a área: os primeiros imunizantes com a tecnologia inovadora a serem aprovados e aplicados em larga escala, e a produção de vacinas desenvolvidas em tempo recorde, em menos de um ano.


Agora, que além de consolidada e segura a tecnologia se mostrou altamente eficaz, já estão em testes estratégias com a técnica para a prevenção inédita de doenças como HIV, zika, ebola, herpes, além de novas vacinas mais eficazes para tuberculose, malária, dengue e gripe. Há até mesmo estudos promissores que implementam o RNAm para o combate ao câncer e de diagnósticos como diabetes e anemia falciforme. Os pesquisadores traçam um cenário otimista para grandes avanços científicos na próxima década.

E o Brasil deve ganhar destaque com a produção própria de imunizantes e terapias que adotam a tecnologia. Na Bahia, já é desenvolvida uma nova vacina contra a Covid-19 que utiliza a plataforma, por cientistas do Senai Cimatec, que está em testes clínicos. Em 2021, Bio-Manguinhos, da Fiocruz, foi escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como parte de uma seleção mundial para incentivar a criação de imunizantes com o RNAm. Além de também desenvolver uma nova vacina para a Covid-19 com a tecnologia, o instituto pesquisa terapias para câncer e prevenção de outras doenças.

— Nós estávamos trabalhando com tecnologia de RNAm por alguns anos, principalmente focado em vacinas terapêuticas para o tratamento do câncer, mas com a pandemia passamos também a desenvolver nossa própria vacina para a Covid-19 de RNAm, que está em testes. Essa tecnologia estava em estudos há décadas, mas deu esse salto com a crise sanitária e se mostrou de fato muito eficaz. Agora esperamos que vamos ter resultados positivos semelhantes com outras doenças — afirma o vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, Sotiris Missailidis.

As altas expectativas que envolvem o RNA mensageiro se dão por alguns fatores. O primeiro deles é a forma de atuação. Basicamente, trata-se de um código com instruções para que as células do corpo produzam determinada proteína. No caso das vacinas da Covid-19, em vez de o imunizante introduzir o vírus inativado ou uma parte dele para que o sistema imunológico produza as defesas, o RNAm utiliza o próprio organismo como “fábrica” da proteína S do coronavírus, que então é lida pelo corpo para produzir as células de defesa e anticorpos.

— Sem dúvida o RNAm revolucionou a vacinologia, porque você consegue através de um código levar o indivíduo que recebe a vacina a produzir a própria proteína. Isso é uma revolução porque permite que produzamos proteínas contra qualquer coisa, então anticorpos contra alguma doença, proteínas que inviabilizam tumores, doenças degenerativas. Em teoria, a tecnologia é aplicável para diabetes, Alzheimer, câncer, não apenas doenças infecciosas. É uma esperança para muitas outras doenças que até então nós ou não temos vacina ou que precisamos de alternativas melhores — explica o infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri.

Ele conta que, desde 1990, a plataforma é estudada, mas era considerada instável em testes. A situação mudou em 2005, quando uma equipe de pesquisadores americanos desenvolveu cápsulas de gordura, chamadas de lipossomos, que envolvem o RNAm e conseguem levá-lo integralmente ao organismo. Um dos cientistas responsáveis pela descoberta escreveu inclusive um artigo na revista científica Nature Reviews Drug Discovery, em 2018, intitulado “Vacinas de RNAm - Uma nova era na vacinologia”, em que listou uma série de estudos com resultados promissores da tecnologia.

Além do amplo potencial, as vacinas de mRNA têm demonstrado eficácia superior aos modelos convencionais e têm um potencial para fabricação com menor custo. Isso porque, pela plataforma ser sintética, e não envolver vírus vivos, não exige, por exemplo, um laboratório de biossegurança. Além disso, podem ser desenvolvidas e adaptadas de forma mais rápida, o que possibilitou que os imunizantes da Covid-19 tivessem os testes clínicos iniciados menos de seis meses após o Sars-CoV-2 ter sido descoberto na China, em 2019.

Um dos resultados mais aguardados para a nova geração de vacinas que começam a ser testadas é a do imunizante contra o HIV. Neste ano, a Moderna – farmacêutica criada com foco no RNAm e responsável por uma das vacinas da Covid-19 – deu início à fase 1 dos testes clínicos com algumas candidatas. Estão também na primeira etapa os estudos com um imunizante para o Nipah henipavírus (NiV), patógeno altamente letal, originalmente de animais, que provoca surtos pontuais em humanos na Índia e em Bangladesh.

Porém, essas não devem ser as próximas a saírem do papel. O laboratório conduz ainda testes com uma vacina para o vírus da Zika, que já estão em fase 2, e para uma nova versão do imunizante contra o vírus Influenza, causador da gripe, que está na fase 3. Há também estudos para versões conjuntas de vacina da gripe com a da Covid-19 e uma proteção para o vírus sincicial respiratório (VSR), microrganismo que causa um alto número de hospitalizações e óbitos em crianças pequenas e ainda não pode ser combatido com imunizantes.

Potencial de produção no Brasil

Missailidis, da Fiocruz, destaca que, embora a produção de vacinas com a nova tecnologia esteja começando principalmente em países do exterior, eventualmente Bio-manguinhos pode se tornar autônomo na fabricação de terapias com RNAm.

— Nosso maior problema era ter a capacidade de desenvolver novas tecnologias sem depender dos Estados Unidos, da Europa, de países que normalmente chegam com os produtos primeiro e depois fazem uma transferência de tecnologia. O esforço que estamos fazendo nesse momento é para mudar esse paradigma. E nós podemos usar o RNAm para doenças raras, doenças negligenciadas, que muitas vezes não são de interesse de grandes farmacêuticas, mas que a Fiocruz, como uma instituição pública, tem a missão de poder atender essa parte da população — diz o vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-manguinhos.

O novo imunizante da Fiocruz para a Covid-19 de RNAm, que deve começar os testes clínicos no início do ano que vem, tem ainda o diferencial de despertar a resposta imune não apenas com a proteína S do coronavírus, mas também a N. Segundo Sotiris, a segunda proteína é mais conservada, então espera-se que ofereça uma maior imunidade para proteger contra novas variantes.

Há também o desenvolvimento da tecnologia pelo Senai Cimatec, na Bahia, em parceria com a empresa HDT Bio Corp, dos Estados Unidos. O infectologista e pesquisador-chefe da instituição, Roberto Badaró, que lidera a pesquisa, explica que a vacina de RNAm utiliza ainda uma nanopartícula inédita capaz de proteger a molécula e aumentar a absorção no organismo, e celebra o projeto como um passo importante para o domínio da plataforma no Brasil.

— Hoje nós temos capacidade de fabricar essa vacina aqui no Brasil, nós incorporamos essa tecnologia lá no Senai Cimatec e estamos terminando os estudos de fase 1. É uma revolução grande essa plataforma, então nós estamos muito animados que o Brasil vai ter uma participação competitiva no cenário internacional de uma vacina moderna — afirma Badaró.

Ele conta que há um imunizante com a tecnologia também em testes para leishmaniose, uma doença provocada por um protozoário e transmitida por mosquitos que, se não tratada, pode ser altamente fatal.

— São milhares de pessoas que adquirem leishmaniose no Brasil e na América Latina, que é uma doença desfigurante que, quando pega a mucosa nasal, destrói o nariz, sendo uma doença séria, mas que não tem muita atenção por ser tropical. Só que essa tecnologia irá nos ajudar a fazer várias outras vacinas contra outras doenças — acrescenta o infectologista.

Nova arma contra o câncer

Badaró, do Senai Cimatec, conta que há ainda vacinas terapêuticas em desenvolvimento na instituição para câncer de mama, próstata e ovário, que devem ganhar fôlego após o fim dos testes com o imunizante para a Covid-19. O combate a tumores é de fato uma das grandes promessas para o avanço da tecnologia, explica o médico oncologista e professor da Universidade Nove (Uninove), em São Paulo, Ramon Andrade de Mello.

— A expectativa da utilização do RNAm no tratamento do câncer é muito alta. Existem estudos com resultados muito promissores para o uso da tecnologia para que o próprio organismo produza proteínas que atuem com o sistema imune para combater o câncer de uma maneira mais eficaz — explica o especialista, que faz parte do corpo clínico do Hospital Albert Einstein, também em São Paulo.

Isso porque o câncer desenvolve uma proteína chamada de inibidora de checkpoint, que diz ao organismo que aquelas células são saudáveis, embora sejam cancerígenas – o que impede que o sistema imunológico combata o tumor. Porém, o oncologista explica que, com o RNAm, seria possível ensinar as células de defesa a reconhecerem a tal proteína, e então passarem a atacá-la.

Em junho de 2021, a BioNTech – que desenvolveu um dos imunizantes para a Covid-19 junto à Pfizer – anunciou que tratou o primeiro paciente com uma vacina de RNAm contra o câncer de pele, durante estudos clínicos da fase 2.

— Há uns 20 anos, o tratamento do câncer era muito voltado à quimioterapia, mas da última década para cá as novas tecnologias têm mudado a resposta ao problema. Cada vez mais, vamos chegando a melhores resultados e mais próximo de uma possível cura do câncer, ainda que seja um caminho complexo até lá. Para isso, o desenvolvimento de novas terapias, como o RNAm, é essencial. Creio que de 5 a 10 anos, vamos ter a plataforma incorporada às diretrizes médicas. Com certeza é uma tecnologia que merece atenção e investimento — afirma o oncologista.

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