quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Justiça de SP condena a 14 anos de prisão estudante que usou faca e espada para matar gamer Sol

Julgamento ocorreu nesta segunda (8) no Fórum Criminal da Barra Funda. Defesa de Guilherme Costa alegou que ele não se lembrava de ter matado Ingrid Bueno em 2021. Parecer técnico particular informava que réu tem doença mental. MP discordou ao mostrar laudo oficial que descarta problema. Juíza recomendou, porém, que condenado tenha consultas psiquiátricas.


Por Kleber Tomaz, g1 SP — São Paulo
08/08/2022 23h37 Atualizado há 16 horas

Guilherme Alves Costa, de 18 anos, acusado da morte de Ingrid Oliveira Bueno da Silva, de 19 anos. — Foto: Reprodução/G1


Após um ano do crime, a Justiça de São Paulo condenou a 14 anos de prisão o estudante Guilherme Alves Costa, de 18 anos, que usou uma faca e uma espada para matar a gamer Ingrid Oliveira Bueno da Silva, de 19 anos, conhecida como Sol. A informação foi confirmada na noite desta segunda-feira (8) pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), por meio de sua assessoria de imprensa.
O réu foi a julgamento popular nesta segunda pelo assassinato da vítima em 22 de fevereiro de 2021. Sol foi morta na casa de Guilherme, em Pirituba, na Zona Norte da capital paulista. O júri ocorreu no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste. A maioria dos jurados votou pela condenação do acusado, e a sentença foi dada pela juíza Michelle Porto de Medeiros Cunha Carreiro.
O estudante, que já estava preso, continuará detido. Ele foi condenado pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil e meio cruel. Segundo a acusação, o assassino tentou "degolar a vítima", que tinha conhecido pela internet havia um mês.
"Deixo de conceder a ele o direito de recorrer em liberdade. As razões que levaram à decretação de sua custódia cautelar persistem, ora reforçadas pela condenação", escreveu a juíza na decisão.
Michelle ainda recomendou que Guilherme tenha consultas psiquiátricas durante o período em que estiver preso. "Oficie-se à prisão onde está custodiado, com a recomendação de que o condenado seja submetido a acompanhamento médico psiquiátrico no curso do cumprimento da pena."
O julgamento já deveria ter ocorrido em 3 de março, mas foi adiado pela magistrada. À época, a defesa do réu juntou ao processo documentos que ainda não tinham sido analisados antes pelo Ministério Público (MP). Depois ele teria de acontecer em 9 de maio, mas também foi adiado em razão da falta de testemunhas.Motivo do crime é desconhecido

Começa o julgamento do estudante acusado de matar a gamer Ingrid Sol
Apesar de ter gravado um vídeo no qual confessa o crime, Guilherme, que é conhecido como Flash Asmodeus no meio dos games, nunca explicou por que assassinou Ingrid. Ela jogava profissionalmente como gamer (saiba mais abaixo). Os dois se conheceram durante partidas online do Call of Duty: Mobile, um jogo de tiro para celulares.
Após matar a gamer, Guilherme gravou um vídeo e compartilhou a imagem nas redes sociais admitindo o assassinato. Em seguida, se entregou numa delegacia, onde foi preso pela Polícia Civil, e continua detido desde então. "Eu quis fazer isso", disse o estudante numa filmagem feita por policiais que o prenderam em flagrante.

'Ataque contra o cristianismo'
De acordo com a investigação, Ingrid foi encontrada morta a facadas depois de ter ido à casa de Guilherme. Os policiais querem saber se os dois tinham algum relacionamento e se o assassinato foi planejado.
A suspeita da polícia é a de que o crime tenha sido premeditado. Guilherme chegou a fugir após matar Ingrid. Depois falou que iria se suicidar, mas foi convencido pelo irmão a se entregar. O irmão havia visto o corpo da gamer sobre uma cama. Segundo o relato deste familiar, o estudante havia lhe dito que a garota “teria atravessado seu caminho” e por isso a matou.
Guilherme ainda afirmou aos policiais que escreveu um livro de 52 páginas, intitulado "Meu Dicionário", para explicar os objetivos do crime. A polícia conseguiu uma cópia dele, que foi anexada ao inquérito.
Nele, o assassino afirmou, de acordo com a Justiça, que "planejava um ataque contra o cristianismo e que seria um soldado de um exército, tendo ainda asseverado que a vítima teria atrapalhado seu caminho, o que, em tese, acena para a possibilidade de envolver um plano para atingir outras pessoas".

Semi-imputável

William Vinicius Sartório, Joao Marcos Alves Batista e Fernanda Magnusson, advogados de Guilherme Alves Costa — Foto: Jeferson Galli/Divulgação

Antes do júri, os advogados do réu alegavam que o acusado não se lembrava de ter matado Ingrid. Nesta segunda, João Marcos Alves Batista, um dos responsáveis pela defesa, afirmou que vai recorrer da decisão da magistrada.
"Maioria dos jurados votou pela condenação. Mas mesmo assim, receberá atendimento psiquiátrico. Mas vou recorrer da decisão por entender que a pena deveria ser de 12 anos, mas a juíza aumentou para 14 anos", disse o advogado.
Um parecer técnico feito por um psiquiátrica particular, encomendado pelos advogados de Guilherme, e que foi anexado ao caso, alega que o réu tem doença mental e precisa de tratamento psiquiátrico.
De acordo com o documento, o acusado possui "Transtorno Delirante Persistente e Traços de Personalidade Antissocial", que o levam a "distorção do entendimento da realidade"
"Guilherme é semi-imputável e é isso que vamos buscar provar no julgamento", chegou a dizer Batista ao g1. Ele defende o réu com os também advogados William Vinicius Sartório e Fernanda Magnusson.
Se o júri considerasse que o acusado é semi-imputável, ele poderia escapar de uma condenação que o levaria à prisão, seguindo para tratamento médico num hospital. Lá ele teria restrição de liberdade, como medida de segurança, sem poder deixar o local. Mas seria analisado periodicamente por especialistas que poderiam dar ou não alta médica para ele sair."No nosso entendimento, Guilherme não tem condições de voltar ao convívio social porque ele representa risco à sociedade", falou João Marcos antes do julgamento.imputável

Jogadora Sol, dos esportes eletrônicos, é assassinada a facadas

O Ministério Público discordou da alegação da defesa de Guilherme de que ele é semi-imputável. Para o promotor Rodrigo Alves Gonçalves, que acusou o réu, "o estudante é imputável" e pode responder criminalmente por seus atos.
O representante do MP baseia essa afirmação no laudo oficial feito por peritos da Justiça, que concluiu, em abril do ano passado, que Guilherme não possui nenhuma doença mental.
O exame de insanidade mental havia sido realizado a pedido da própria defesa do réu, que, no entanto, criticou a maneira como esse teste foi feito e o seu resultado. "Foi um laudo incompleto, de poucas folhas. Por isso pedimos um parecer técnico particular mais completo de 22 páginas", rebateu o advogado do acusado.

Gamer

A gamer Ingrid Bueno, a Sol, tinha 19 anos — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Ingrid disputava Call of Duty: Mobile pelo time FBI E-Sports. Guilherme jogava em outro time, o Gamers Elite, e a suspeita da polícia é a de que eles se conheceram durante partidas do game online. Um grupo de jogadoras homenageou a gamer morta dentro do jogo preferido dela.
A organização FBI E-Sports declarou ao GloboEsporte que Ingrid era uma excelente jogadora.
"Ela ingressou no nosso esquadrão de meninas e fez muita amizade com os rapazes da line Black Stars, onde ela ficou até o seu final. Ela era uma excelente jogadora, tinha um espaço em nossos corações. Era uma pessoa extraordinária, sempre nos motivando e acreditando. A ligação dela com todos os membros era super boa, super respeitosa, amistosa e educadíssima. Dedicamos a ela nosso respeito máximo, e à família dela, nossos sentimentos e nossas condolências", informa o comunicado da FBI E-Sports.
Em nota, a Gamers Elite informou que Guilherme enviou um vídeo com imagens da jovem morta no grupo da organização, e os responsáveis afirmaram que informaram "as devidas autoridades" e pediram para que os integrantes do grupo não compartilhassem o vídeo. A organização comentou ainda que nunca viu o jogador pessoalmente e que "não compactua com qualquer criminoso de nenhum modo e jamais irá compactuar ou fazer apologias ao mesmo".

Jogadora Sol, de e-sports, foi morta com faca e espada em SP; entenda o caso

terça-feira, 9 de agosto de 2022

A morte de Teori.


 

Brasil deve R$ 1,8 bilhão à ONU e pode perder direito a voto em 2022

No orçamento da União, há apenas R$ 397,8 milhões previstos para as Nações Unidas. Itamaraty classifica situação como “constrangedora"
Talita Laurino


29/08/2021 15:24,atualizado 30/08/2021 0:38

Reprodução/Flickr/Knows Photos

O governo federal acumula dívida com a Organização das Nações Unidas (ONU) que já chega a R$ 1.778,7 bilhão (U$ 342 milhões), de acordo com o Itamaraty. A despesa pode fazer o país perder o direito de voto na Assembleia Geral de 2022, o que “prejudica a imagem do Estado como cumpridor de suas responsabilidades internacionais”, segundo o Ministério das Relações Exteriores.

Para evitar esse constrangimento, o Brasil precisa honrar valor mínimo de US$ 114,3 milhões – o equivalente a cerca de R$ 600 milhões – até 31 de dezembro deste ano, informou ao Metrópoles o Ministério da Economia.

No orçamento da União, entretanto, há apenas R$ 397,8 milhões previstos para a ONU, o que significa que a equipe econômica deverá movimentar recursos de outras áreas para quitar os débitos mais imediatos. “Providências estão sendo tomadas para a solicitação de recursos orçamentários suplementares e posterior pagamento até o fim do presente exercício”, justificou a pasta.

Confira as dívidas em aberto:
Contribuição ao orçamento regular da ONU: em aberto o exercício 2021 (a vencer no dia 31 de dezembro), no valor de US$ 85,27 milhões, equivalente a R$ 443,4 milhões na cotação atual.
Missões de Paz da ONU: dívida no valor acumulado de US$ 253,71 milhões, equivalente a R$ 1.319,2 bilhão. Quantia referente ao período de 2016 a 2021 (a vencer em 31 de dezembro).
Contribuições aos tribunais internacionais: no valor de US$ 3,08 milhões (R$ 16,016 milhões). Montante referente aos anos de 2019 e 2021 (a vencer em 31 de dezembro).

Caso o pagamento não seja efetuado, o artigo 19 da Carta das Nações prevê a perda do direito ao voto como penalidade imediata. Isso ocorre quando a dívida total do país atinge o equivalente a dois anos de contribuições.

O próprio Itamaraty já classificou a situação como “constrangedora”. Tradicionalmente, o país abre a Assembleia Geral da ONU.

A fala inicial do Brasil ocorre desde 1947, quando o diplomata Oswaldo Aranha presidiu o evento em dois momentos: na discussão do status da Palestina, que desde o fim da Primeira Guerra Mundial estava sob mandato britânico, e na 3ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a qual aprovou a criação do Estado de Israel.

Além disso, o Brasil também poderá perder seu direito ao voto no Conselho Econômico e Social, que discute importantes temas, como desenvolvimento sustentável, energia e inovação. Os assuntos são de extrema relevância para o país, uma vez que uma fatia de 59% da Amazônia Legal está no território brasileiro.

Palácio do Itamaraty

Paulo Guedes, ministro da EconomiaHugo Barreto/Metrópoles

Brasil deve R$ 1,8 bilhão à ONU e pode perder direito a voto em 2022  
     
Devedores

Atualmente, há apenas três países com dívidas acumuladas na ONU: Somália, Ilhas Comores e São Tomé e Príncipe. Seus governos, entretanto, conseguiram provar que vivem crise econômica gravíssima, e, por isso, preservaram seus direitos nas Nações Unidas. O Brasil não pode alegar o mesmo.

Questionado sobre o motivo de as dívidas ainda não terem sido honradas, o Ministério da Economia afirmou que “o pagamento ainda não foi realizado porque não houve disponibilidade orçamentária”.

A pasta ainda informou que teve conhecimento apenas no dia 12 de agosto, por meio do Itamaraty, sobre o valor mínimo a ser pago.

“Existe a previsão de que todo esse valor, R$ 397,8 milhões, seja pago até 31 de dezembro”, garantiu o Ministério ao Metrópoles.

O débito com a ONU é mais uma preocupação para o ministro da Economia, Paulo Guedes, com as contas públicas. Nas últimas semanas, ele vem defendendo o parcelamento de precatórios, que são dívidas da União reconhecidas pela Justiça.

domingo, 7 de agosto de 2022

Mitomania: Quando mentir se torna uma compulsão?


Abril 01, 2020


Dia 1º de abril é o Dia da Mentira, data em que é muito comum inventar uma mentira para pregar uma peça em alguém. Mas para algumas pessoas, mentir é uma compulsão, tornando-se algo rotineiro e difícil de controlar. É a chamada mitomania: compulsão pela mentira, contada de forma consciente, que busca proteger a pessoa ou falsear a realidade para que ela pareça melhor.

A mitomania é um transtorno mental, levando a um sofrimento psíquico da pessoa que vive alimentando suas próprias mentiras. O mentiroso compulsivo geralmente inventa fatos para aumentar sua importância e realizações, pintando um quadro que lhe dê poder. Para sustentar suas histórias, uma mentira vai levando a outra, de modo que ele se vê refém de suas invenções.
Qual o limite entre a simples mentira e a mitomania?

A mentira social é aquela que tem como objetivo não ferir alguém ou evitar um conflito. Por exemplo, quando alguém corta o cabelo, você não gosta do resultado, mas diz que ficou bom.

No caso das mentiras compulsivas, o mitomaníaco inventa histórias para melhorar sua realidade, parecer possuir mais do que tem ou encobrir alguma atitude. Com o passar do tempo, a pessoa pode até mesmo se perder entre o que é verdade e o que foi inventado

A mitomania está relacionada a outros quadros de doenças psiquiátricas e psicológicas, como transtornos de personalidade antissocial. Geralmente, a pessoa com o transtorno pode ser identificada quando suas histórias não batem ou quando ela tenta esconder o lugar onde mora, emprego ou família.

"Não tem um dia que minha filha não minta. Na maioria das vezes é quando ela faz algo errado e me preocupa o fato dela não se importar em envolver pessoas na trama", contou a dentista M.E, de 50 anos, em uma entrevista ao portal Viva Bem do Uol. Ela é mãe de uma garota de 15 anos que passa por acompanhamento psicológico e relata que se sente envergonhada por não saber lidar com o problema. "Ela é impossível e nega a mentira mesmo quando é pega no pulo".

De acordo com o psiquiatra Alfredo Maluf, do Hospital Israelita Albert Einstein, vários fatores psicológicos e ambientais podem colaborar para o desenvolvimento da mitomania. "Os fatores ambientais podem ser desde as relações familiares e pessoais complicadas até eventos estressantes. A mitomania pode ser, também, associada a sintomas de várias patologias, como por exemplo transtorno de personalidade, bipolaridade e sociopatia”, explica o médico.
Compulsão por mentiras: tratamento para mitomania

O diagnóstico da mitomania exige um acompanhamento profissional, que muitas vezes não é fácil e requer tempo.

O tratamento da compulsão por mentiras começa com a investigação da identificação das outras doenças associadas. Pode ser indicada a psicoterapia, terapia com finalidade de cuidar de problemas psicológicos como ansiedade e depressão, ou psiquiatria clínica, que inclui o uso de medicamentos.

No caso do tratamento medicamentoso, o teste farmacogenético pode ser um aliado para uma resposta mais rápida e sem efeitos colaterais. O exame analisa como os genes podem interferir no desempenho nos medicamentos, sendo utilizado para orientar o médico na escolha dos fármacos e dosagens.

O teste farmacogenético indica quais medicamentos tendem a apresentar melhor desempenho no organismo do paciente e oferecem menos riscos de efeitos colaterais.
VIPs: Filme traz Wagner Moura interpretando a história real de um mitomaníaco

VIPs é um filme brasileiro de 2011 em que Wagner Moura faz o papel de um mitomaníaco. A história é baseada em fatos reais, relatando diversos episódios da vida de Marcelo Nascimento da Rocha, um golpista que ficou conhecido nacionalmente por assumir a personalidade de outras pessoas.

De piloto de avião à dono de companhia aérea, Marcelo não tem limites na hora de se passar por outras pessoas. O filme mostra a dificuldade do personagem em encontrar sua própria identidade, o que o leva a essa compulsão por mentir.

Confira o trailer

Pseudologia fantástica (mitomania): como tratar a mentira patológica




Você já conheceu uma pessoa que mente com tanta frequência que parece até que a própria pessoa acredita na mentira? Infelizmente, trata-se de um transtorno no qual o hábito de mentir se torna patológico: a mitomania, ou pseudologia fantástica.

Vamos encarar a verdade: mentir nem sempre é prejudicial. Às vezes, é feito por um bom motivo, como para não magoar nossos amigos. É o caso de quando dissemos que o novo corte de cabelo do colega está legal, por mais que não nos agrade muito.

No caso da pessoa com mitomania, há uma tendência de mentir exageradamente, sem que haja qualquer razão aparente ou ganho pessoal através da mentira. Não é que a pessoa usa a mentira para manipular as situações e ganhar alguma vantagem, mas sim que ela tem a necessidade de inventar ou fantasiar histórias. Esse tipo de comportamento está frequentemente ligado a uma necessidade de se sentir aceito, o que pode ser a razão por trás das mentiras.

O nome pseudologia fantástica foi cunhado por Dr. Delbruck, um médico alemão que descreveu esta condição pela primeira vez na literatura médica, no ano de 1891.
Características da mentira patológica

Ainda que algumas mentiras sejam comuns, como mentir que fez um bolo que foi comprado na padaria por falta de tempo, há também uma grande quantidade de mentiras muito bem elaboradas, que seguem ordem cronológica e tem um enredo próprio. Essas pessoas podem criar histórias fantásticas sobre viagens, eventos, entre outros, ou até mesmo fingir ter uma doença grave.

As principais características da mentira patológica são:As mentiras são fáceis de acreditar e contém elementos verdadeiros: Uma pessoa com alguma doença pontual, como um resfriado, pode mentir que seus sintomas são de uma doença mais séria ou até mesmo crônica;
A mentira é mantida por um longo período e não está relacionada a uma pressão imediata: Mentir sobre um caso extramarital ou uma nota ruim na escola são mentiras motivadas pelo desejo de esconder alguma coisa, mas as mentiras contadas por compulsão não têm uma origem assim;
As mentiras têm maior probabilidade de atribuir valores positivos à pessoa: É mais fácil a pessoa mentir sobre ter doado dinheiro para caridade do que sobre ter sido expulsa de um bar, por exemplo;
As motivações das mentiras são internas, não externas: Uma criança pode mentir sobre um comportamento para evitar ser punido pelos pais. Na mentira patológica, este não é o caso, pois não há uma motivação externa (como uma recompensa) clara para a mentira.
Pessoas com mitomania sabem que estão mentindo?



Há uma certa discussão a respeito da consciência desses pacientes a respeito de suas próprias mentiras. Quando confrontadas, algumas pessoas com mitomania podem admitir estar mentindo. Em outros casos, há pessoas que genuinamente não conseguem discernir a realidade da sua ficção. Alguns especialistas acreditam que, neste caso, não se trata de mentira patológica, mas sim de algum outro transtorno delirante.

Existem algumas evidências de que pessoas que sofrem com pseudologia fantástica demonstram sinais de nervosismo e respostas de culpa diante de um detector de mentira. Contudo, não há certeza se essas pessoas têm consciência de que estão mentindo. Ainda assim, há especialistas que acreditam que pessoas com mitomania fazem esforço para acreditar em suas mentiras, a fim de reduzir a sensação de culpa.

Causas da mitomania

Em grande parte dos casos, na raiz da mitomania, está uma criança insegura que não foi muito bem aceita pelos pais e familiares. Desta forma, a criança se viu forçada a criar uma personagem que fosse amável para seus pais, que atendesse às suas expectativas, mesmo que isso significasse mentir para eles.

Embora “mentir é feio” seja uma das primeiras coisas que as crianças aprendem, as respostas positivas dos pais em relação às mentiras contadas pela criança servem de reforço, fazendo com que a criança tenha tendência a repetir esse comportamento.

Quando a criança cresce e seu mundo social se expande às amizades, o comportamento de mentir continua. Ele é reforçado pelos novos amigos, que inicialmente não têm motivos para duvidar de suas histórias, e até mesmo pelos pais, caso as mentiras continuem correspondendo às expectativas desses cuidadores.

Pensando assim, há quem acredite que a mitomania não seja um transtorno mental por si só, mas sim um comportamento aprendido. Ela pode ser classificada como um mecanismo de enfrentamento (coping) mal adaptativo — o que significa uma maneira não saudável de lidar com os problemas.

De fato, a mitomania não está presente no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) como um transtorno separado, mas sim como um sintoma de diversas outras condições mentais. Dentre elas estão o transtorno de personalidade antissocial, transtorno de personalidade narcisista, ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno afetivo bipolar, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e o transtorno de personalidade borderline. Sendo assim, as mesmas condições que levam uma pessoa a desenvolver qualquer um desses transtornos são capazes de levá-la a desenvolver, também, a mitomania.

Existe uma outra teoria que diz que a pessoa tende a contar as mentiras e acreditar nelas porque a realidade, em contrapartida, é dolorosa e sofrida. Trata-se de uma maneira de se defender dos próprios traumas e problemas existentes em sua vida. No entanto, neste caso, é bem provável que se trate de um transtorno delirante.

Tratamento

Felizmente, existe tratamento para a mitomania, e o paciente pode melhorar significativamente. Contudo, existem alguns fatores que complicam um pouco.

Em primeiro lugar está a idade. Adultos com mitomania podem ter dificuldades no tratamento porque, como já mentem compulsivamente há muito tempo, é difícil acabar com o hábito. Quanto mais cedo esse problema é descoberto, melhor é o prognóstico. Se você é responsável por alguma criança ou adolescente e suspeita que ele(a) sofre com mitomania, é importante contatar um profissional rapidamente para evitar que o hábito fique cada vez mais forte.

Outro problema que dificulta o tratamento é a existência de transtornos associados. No caso de pacientes com transtorno de personalidade narcisista, por exemplo, a procura pelo tratamento é muito baixa, uma vez que a pessoa tende a acreditar que não tem nenhum problema, ou até mesmo que não necessita de tratamento porque “não é louco”.

Esse comentário, impregnado de preconceitos e julgamentos a respeito da saúde mental, infelizmente é muito frequente e impede que pessoas procurem tratamento para problemas que têm solução. Na maioria dos casos, quando pessoas com esse tipo de transtorno procuram ajuda, é porque outras pessoas as convenceram ou porque suas relações sociais ficaram tão complicadas que elas não veem outra opção.

Mais um problema que pode surgir é quando o paciente mente para seu terapeuta. Como as mentiras patológicas não precisam de uma motivação externa para acontecer, é possível que o paciente minta para seu terapeuta repentinamente, inclusive a respeito do seu progresso com o tratamento, o que pode prejudicá-lo gravemente.

Sabendo disso, quais podem ser os possíveis tratamentos?

Terapia cognitivo-comportamental

Tratando-se de um comportamento aprendido ou mecanismo de coping mal adaptativo, a terapia cognitivo-comportamental pode ser de grande ajuda para remover o hábito da mentira do paciente com mitomania.

Levando em conta que a mentira foi um comportamento reforçado ao longo do tempo por consequências positivas, como a aprovação dos pais ou dos colegas, o psicólogo deverá trabalhar ajudando o paciente a deixar de encarar essa aprovação como reforçadores, ou reforçando outros comportamentos que entram em conflito com o comportamento de mentir, como contar uma verdade.

Ainda que tal comportamento esteja enraizado numa tentativa de não sofrer com a realidade, o profissional pode ajudar o paciente a encontrar novos métodos de coping adaptativos (ou seja, saudáveis) para as adversidades em sua vida.

Na teoria, parece bem fácil, mas a prática leva um bom tempo. Felizmente, a terapia cognitivo-comportamental costuma ter efeitos positivos mais rapidamente do que alguns outros tipos de psicoterapias, levando o paciente a uma melhora significativa em pouco tempo.

Vale lembrar que o psicólogo não é capaz de fazer o paciente parar de mentir por si só. Inclusive, a mentira nem sempre é um comportamento abominável, e não há necessidade de proibir o paciente de mentir. No entanto, se ele realmente quiser parar com a mitomania, o psicólogo será de grande ajuda, oferecendo diversas ferramentas que o paciente pode usar para diminuir a frequência de suas mentiras.

Outros tratamentos

Como a mitomania costuma vir acompanhada de alguns transtornos, o tratamento destes pode acabar com o hábito da mentira. Nestes casos, é importante consultar um psiquiatra para ver se há a necessidade de um tratamento farmacológico (medicamentos), além de fazer o acompanhamento através da psicoterapia.


A mitomania pode ser mais comum do que se pensa. Pessoas que você conhece podem estar sofrendo com este problema, mas é importante ter em mente de que elas só vão melhorar se elas quiserem e buscarem ajuda. Se você acredita que algum amigo ou parente sofre com o problema, converse sobre isso! Se você se identifica, procure um profissional, pois você só tem a ganhar.

Referências

https://psychcentral.com/encyclopedia/pathological-lying/

https://www.bustle.com/p/11-fascinating-scientific-facts-about-pathological-liars-8259837

https://www.goodtherapy.org/blog/psychpedia/compulsive-lying

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