terça-feira, 3 de novembro de 2015

Camille Claudel: a quem serve a normalidade?


Por Daniela Lima.

“Não há civilização sem loucura […] ela acompanha a humanidade por todo lugar que haja imposição de limites”.
– Michel Foucault

Eles surgiram de botas e capacetes. A porta arrombada. A matilha em peso a agarrou pela garganta. Golpeada, jogada no chão. Ela não diz uma palavra. […] Lá fora a ambulância espera. 10 de março de 1913. Os dois cavalos relincham sob o chicote. (DELBBÉ, 1988, p. 366-7)

“Censuraram-me (ó, crime horrendo) por ter vivido completamente sozinha”, escreve Camille Claudel do manicômio de Montdevergues. Camille rompeu com alguns destinos impostos às mulheres de sua época como naturais. Não se casou, não teve filhos e se dedicou a uma atividade considerada masculina: a escultura. Até 1897, mulheres eram excluídas das principais escolas de artes francesas, como a École de Beaux-Arts. Trabalhavam como ajudantes ou assistentes de artistas e não podiam assinar as obras que ajudavam a realizar. Camille não assinou Les Portes de l’Enfer ou Les Bourgeois de Calais. Ficou à sombra de Rodin.



Resistir às tentativas de controle de seus gestos, condutas e opiniões influenciou gravemente na decisão de seu irmão, Paul Claudel, de interná-la à força. “É preciso evitar o escândalo”, ele dizia. Loucura não é tudo aquilo que age contra a natureza. É tudo aquilo que desnaturaliza formas de poder. A existência de Camille mostrava que não havia um destino natural para mulheres.

No documentário Michel Foucault Par Lui Même, Foucault diz que “experiências que deveriam ser consideradas centrais, valorizadas positivamente, são consideradas experiências-limite, a partir das quais se põe em questão a exclusão social”. Em última instância, o julgamento dessas experiências não se diferencia daquele que determina se um hábito é aceitável ou não. Mulheres eram internadas pelos mais variados motivos: engravidar indevidamente, gastar muito dinheiro, estar desempregada e – ainda mais violento – por um simples pedido da família. Na loucura, parecia caber tudo aquilo que era desviante à média ou à norma.

O laudo de internação concedido por um médico amigo da família afirmava que Camille tinha delírios persecutórios envolvendo Rodin e cultivava hábitos miseráveis: não cuida da aparência, usa roupas puídas e sapatos gastos, não se lava, mantém as cortinas sempre abaixadas e as janelas fechadas, alimenta muitos gatos e vive sozinha, reclusa, numa casa quase sem móveis. São visíveis tanto as marcas da violenta relação com Rodin como o julgamento moral de seus hábitos.

Em seus 29 anos de internação, Camille implorou que Paul Claudel a tirasse de Montdevergues. Este período é retratado nas cartas que Camille escrevia para Paul Claudel e no filme Camille Claudel 1915:

“Hoje, três de março, é o aniversário do meu sequestro em Ville-Evrard: faz sete anos que faço penitência nos asilos de alienados. Depois de terem se apoderado da obra de toda a minha vida, mandam-me cumprir os anos de prisão”. (DELBÉE, 1988, p.201)

“Durante todo inverno não me aqueci, estou gelada até os ossos, cortada ao meio pelo frio. […] Uma amiga minha, uma pobre professora do liceu Fénelon que veio cair aqui, foi encontrada morta de frio na cama. É medonho!” (p. 255)

“Quanto a mim, estou tão desolada por continuar a viver aqui que eu não me sinto mais uma criatura humana”. (p. 275)

Essas experiências desviantes, que deveriam levantar questões sobre o sistema de poder que determina o que é normalidade, eram reconhecidas apenas como um ponto de ruptura em relação a esse sistema. Portanto, passível de punição. Em História da Loucura, Foucault diz: “é verdade que muitas vezes se interna para fazer alguém escapar ao julgamento: mas interna-se num mundo onde o que está em jogo é o mal e a punição, a libertinagem e a imoralidade, a penitência e a correção”.

Camille Claudel nunca saiu de Montdevergues. Morreu em 1943, aos 79 anos. Foi enterrada em vala comum e seu corpo nunca foi encontrado. Paul Claudel não compareceu a seu funeral em Montdevergues.

O crítico de arte Mathias Morhardt escreveu sobre a obra Les Causeuses (1893), de Camille, para o Mercure de France, em 1898:

“a observação da natureza […] não basta para realizar obras-primas. É preciso uma paixão particular. É preciso um dom especial que permita extrair da própria observação da vida o que constitui o elemento primordial da obra-prima e que é, de certa forma, o testemunho da verdade, o sentido da sua beleza. […] Les Causeuses é um poema escrito magnificamente. […] Essas quatro mulheres sentadas em círculo em torno de uma ideia que as domina, em torno de uma paixão que as inspira e penetra. […] Um poema onde o sangue circula, onde alguma coisa palpita, onde há ombros que alguma emoção interior levanta, onde há peitos que respiram, onde se comprova, enfim, a prodigiosa riqueza da vida. […] Ela é viva! Ela vive permanentemente”.

A pequena escultura que cabe na palma de uma mão, como um segredo, parece fazer Camille respirar através do tempo.

[Detalhes da escultura Les Causeuses, de Camille Claudel]

Quem vigia as fronteiras da normalidade?

“O mais notável não era que fosse a irmã de Paul Claudel e a amante de Auguste Rodin. Não, o que me impressionava, o que me impedia de fechar o livro, era isso: ela era ESCULTORA.” (p.2)

Uma menina com os cabelos desgrenhados, vestido sujo, andando com pesados baldes de barro vermelho no meio do capim cerrado: – Era uma bruxa! Uma bruxa que conseguia transformar o barro em corpo humano.

Quando Camille carregava, cambaleante, baldes de barro para fazer as primeiras esculturas, em Villeneuve, já ouvia de sua mãe que estava louca. Essa demarcação das fronteiras da normalidade é usada para limitar quais são as experiências possíveis para mulheres. A questão da normalidade (ou de como ela se transforma em mecanismo do poder) não é puramente teórica: é parte da nossa experiência.

Aliás, seria mais adequado falar de normalidades e não de normalidade. Normalidade não é uma categoria estável. Depende de critérios sociais, culturais, ideológicos e até religiosos arbitrários. Já foi considerado normal ver duas pessoas lutando até a morte como forma de entretenimento, escravizar populações inteiras, trancar mulheres para o resto da vida em manicômios para tentar normalizá-las. A relação normalidade/loucura é um dos instrumentos divisores do poder. Funciona sob o princípio da porta giratória, que trava de acordo com um comando arbitrário e estabelece demarcações dicotômicas: normais e loucos, pessoas de bem e bandidos, sadio e doente. O sujeito é dividido no seu interior e em relação aos outros:

Esta forma de poder aplica-se à vida cotidiana imediata que categoriza o indivíduo, marca-o com sua própria individualidade, liga-o à sua própria identidade, impõe-lhe uma lei de verdade, que devemos reconhecer e que os outros têm que reconhecer nele. (FOUCAULT, 2009, p. 236)



Quando Camille transgrediu os estereótipos de gênero de sua época, revelou mecanismos de poder que fabricam esses estereótipos. Era um exemplo perigoso para outras mulheres. Portanto, tentaram “corrigir” violentamente suaanormalidade. O que define o anormal é que ele constitui, em sua existência mesma, a transgressão de leis invisíveis da sociedade, leis que são naturalizadas. O anormal desafia aquilo que é demarcado como impossível e proibido. Imaginem que disparate: uma mulher esculpindo pedras!

Quando se diz “mecanismo de poder”, não se trata de uma abstração, mas de um modo de ação de uns sobre os outros. É uma ação sobre a ação dos outros. É a violência sobre uma vida, que é forçada, dobrada, reduzida, partida: esculpida com martelos e espátulas.

O indivíduo a ser corrigido vai aparecer nesse jogo, nesse conflito, nesse sistema de apoio que existe entre a família e, depois, a escola, […], a igreja, a polícia, etc… (FOUCAULT 2014, p.49)

Por exemplo, uma instituição escolar: sua organização espacial, o regulamento meticuloso que rege sua vida interior, as diferentes atividades aí organizadas, os diversos personagens que aí vivem e se encontram, cada um com uma função, um lugar, um rosto bem definido […] A atividade, que assegura o aprendizado e a aquisição de aptidões ou de tipos de comportamento, aí se desenvolve através de todo um conjunto de comunicações reguladas (lições, perguntas e respostas, ordens, exortações, signos codificados de obediência, marcas diferenciais do “valor” de cada um e dos níveis de saber) e através de toda uma série de procedimentos de poder. (FOUCAULT 2009, p. 241)
As memórias de Camille Claudel (e as nossas próprias memórias) nos dão pistas de como esses mecanismos funcionam:
Camille é diferenciada dos outros: passa a ser “a louca”, o que reduz a sua humanidade ao que possa caber nesse estereótipo. Não se sabe até que ponto ela é chamada de louca para que o poder seja exercido sobre ela ou se existe uma patologia consequente da ação biopolítica brutal desse mesmo poder, possivelmente os dois.
Camille é institucionalizada: se a normalidade é um mecanismo do poder, o enclausuramento, a vigilância, o sistema recompensa/punição, e a hierarquia piramidal são algumas formas de normalização. Reduzir a humanidade de alguém para que ela caiba num determinado estereótipo de normalidade é, por fim, uma forma de governo. Camille passa 29 anos num manicômio.
Foto de abertura
Segundo Georges Canguilhem, “o anormal não é o patológico. Patológico implicapathos, sentimento direto e concreto de sofrimento e de impotência, sentimento de vida contrariada”. O anormal é aquele que revela, no mesmo momento de sua existência desviante, mecanismos de padronização das formas de vida. A anormalidade é aquilo que escapa da normalização imposta pelo poder. E, em certa medida, sempre se escapa dessa normalização. Mas escapar completamente – ou seja: ser livre – é algo que só se alcança coletivamente. A sensação do escape individual não é mais que do uma mera sensação, já que sempre existirá outro mecanismo disciplinar pronto para agir. E não se pode agir contra esses mecanismos individualmente.
A única medida da patologia deveria ser o sofrimento e não a inadequação a um sistema ele próprio patológico. Não um padrão de normalidade criado para que uns governem os outros. A normalização é a supressão brutal daqueles que espontânea ou politicamente mostram as pequenas e grandes irregularidades, ou seja, as falhas, desses mecanismos de governo. É a supressão daquele que são “a forma natural ou política da contranatureza” (FOUCAULT 2014).
Em um dos últimos momentos da História da Loucura, Foucault diz que esse mundo que acredita avaliar e justificar a loucura precisa justificar-se diante dela, já que seus esforços, seus debates se medem por obras desmedidas, como as de Camille Claudel. A loucura é um saber, algumas vezes fechado, inacessível, inquietante. Um saber que desafia o poder.
Loucos são cada vez mais aqueles que ameaçam a conservação do poder.
BIBLIOGRAFIA:
Daniela Lima assina uma resenha do livro Mulher, Estado e revolução: política da família Soviética e da vida social entre 1917 e 1936, da historiadora americana Wendy Goldmann, na última edição da Revista Margem Esquerda: ensaios marxistas. Saiba mais sobre a Margem #24 clicando aqui.

Pés descalaços


Acho que está na hora de você trocar estes sapatos. Pra dizer bem a verdade, já passou da hora.
Eu sei que não vai ser nada fácil. Sei que, um dia, distraída, você o enxergou na vitrine e ele
pareceu brilhar de uma forma especial. Na verdade, você nem tinha saído de casa com esse 
intuito naquele dia, mas é sempre difícil resistir a um belo par de sapatos.
Você deu mais algumas voltas no shopping, visitou outras lojas, mas já não conseguia pensar 
em outro par. Tinha que ser aquele. 
Então, voltou à loja e, finalmente, os calçou.
E pareceu que flutuava. Os pés, confortáveis, sorriram. Você também. Decidiu então ficar com 
eles. Levou para casa. Para o quarto. Para a vida. 
A impressão é que havia encontrado o melhor calçado do mundo.
Que seria sempre assim. Era incrível como ele combinava com todas as suas roupas, o fazia
sentir bem,bonita, atraente, feliz. Você não queria mais tirá-los dos pés. 
Acontece que o tempo passou e as coisas,
pouco a pouco, mudaram. 

Na primeira esfolada você passou um pano úmido e fingiu não perceber as marcas deixadas.
Depois, ele começou a perder o brilho.
E parecia que já não combinava mais.
Mas não se joga fora um sapato tão especial
assim. Dar para outra pessoa? 
Nem pensar! 

E, por isso, você continuou a usar.
Continuou a acreditar. E fingia que
continuava tudo como antes. 

Até que ele começou a te machucar.
Primeiro, deixou o calcanhar vermelho. 
Depois, os dedos começaram a incomodar.
Calos, dor, 
sangue. E agora já era difícil fingir que estava tudo bem. 

E hoje, ao te ver ainda com eles, eu precisava escrever para você. Ei! Você mesmo! 
Esse sapato aí já não te serve mais. Já é hora de voltar às compras. Ou, talvez,
você devesse andar descalça por um tempo. Acredite em mim. Depois que você
se acostumar a andar com os pés no chão não será qualquer calçado que irá te satisfazer.
Quem sabe experimente uma  chinela rasteirinha até os pés cicatrizarem. 

Só peço que não saia pelas vitrines procurando outro par igual.
Já é hora de desfilar de calçados novos. Outra cor e outro modelo. Uma bota ou uma sandália
de salto talvez.

A ideia é experimentar algo diferente. Diga adeus aos sapatos velhos! Guarde as lembranças
boas,  mas não se esqueça dos calos.
Amor próprio, desapego e sapatos novos. 

O que mais uma mulher pode precisar?

Pés bem calçados sempre estarão prontos para dançar. E é como um grande escritor disse
certa vez:pode ser que, com o próximo, você queira dançar para sempre.
Tomara que sim.
___
Escrito por Rafael Magalhães 

sábado, 31 de outubro de 2015

Marcelo Odebrecht é moído em depoimento ao juiz Sergio Moro. Compilamos os melhores momentos


by ReaçaBlog


Pelo tom que Marcelo Odebrecht adotou, fica a impressão que as considerações iniciais do depoimento seriam usadas como peça de propaganda contra a Lava Jato. Felizmente, o juiz Sergio Moro cortou o barato do empreiteiro.
Compilamos em seis vídeos curtos, com menos de um minuto, os melhores momentos. Assista:

Parte 1: Interceptações telefônicas de familiares

Parte 2: Contas no exterior

Parte 3: Direito de defesa

Parte 4: O direito de permanecer calado

Parte 5: Transferências internacionais da Odebrecht

Parte 6: Procurador truca Odebrecht em relação às contas suíças

É fácil entender depois desse depoimento a catarse coletiva que os procuradores da Lava Jato, o juiz Sergio Moro e os agentes da PF causam no Brasil.




quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O capitalismo produz alguns idiotas. O socialismo não produz nada.


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rei do camarote 28-10
Caros leitores, vocês acompanharam uma notícia tempos atrás sobre o aumento absurdo no preço de um medicamento? Bem, vou relembrá-los da história para fazermos um exercício juntos sobre o capitalismo e socialismo. Let’s?
O medicamento Daraprim foi adquirido em agosto pela empresa Turing Pharmaceuticals nos Estados Unidos. Esse remédio serve para o tratamento da toxoplasmose, que é uma doença infecciosa que afeta quem tem o sistema imunológico comprometido, como por exemplo os portadores do vírus HIV. Ao adquirir o medicamento, a empresa resolveu aumentar o preço em 5000%, ou seja, era de USD 13.50 e foi para USD 750.00. O custo da produção do medicamento é de USD 1.00, mas a empresa declarou que os custos para distribuição e marketing aumentaram muito nos últimos anos e não estava incluso neste preço e que o lucro sobre o produto seria reinvestido em pesquisas para tratamentos. Por motivos óbvios, houve uma comoção geral nos Estados Unidos e no mundo, principalmente pela utilização do produto. Chamado para algumas entrevistas, o CEO Martin Shkreli disse que aumentou o preço porque o medicamento era dele e, portanto, poderia fazer o que quisesse. Esse foi o estopim para que o capitalismo começasse a ser responsabilizado por esse tipo de atitude, que esse era o tipo de pessoas que comandavam as empresas e que pessoas doentes que precisavam do remédio não poderiam ter mais acesso a eles pelo preço extremamente elevado. Um erro de interpretação pode causar muita confusão.
É claro que Martin Shkreli é um idiota produzido pelo capitalismo e como ele há vários outros. Os reis do camarote, o pessoal que ama uma ostentação, gente que queima dinheiro para acender o charuto e publica no Instagram, entre tantos outros que deixaram o poder e o dinheiro subir à cabeça. Entretanto, devido ao capitalismo e principalmente ao livre mercado, podemos viver numa sociedade que evolui e traz benefícios para todos, as vezes tendo que passar por transições complicadas. A forma como este capitalismo for aplicada é que vai delimitar isso e pode sim ser destinado ao bem-estar social. E sabem o porquê de o socialismo não ser a solução? Porque com ele praticamente nada é produzido e não saímos do lugar, mantendo todos num nível de vida medíocre. Vamos dar sequência à reflexão.
Voltando a historinha da empresa que comprou o medicamento e subiu seu preço, há 5 dias foi anunciado que outra empresa, a Imprimis, lançou uma droga concorrente com a mesma substância do Daraprim, com o preço inferior a USD 1.00 por pílula. Mas é claro, meu caro Watson. No livre mercado, quando se dá chances para várias empresas concorrerem, essas coisas acontecem. O que Martin Shkreli não enxergou, é que além de se tornar uma das pessoas mais odiadas dos EUA, logo alguém veria a oportunidade e faria melhor. Isso me faz lembrar da polêmica com o Uber, por exemplo, que já falei neste artigo aqui. Ora, num mercado em que o monopólio de licenças fica com o Estado, além de ficar caro, o serviço fica cada vez pior, pois não há alternativas. Desde que o Uber chegou, muitos foram os taxistas que elevaram a barra da qualidade e prestam um serviço melhor. Não precisa ser o Sherlock Holmes para entender este conceito e que se aplica a tudo.
Indo agora mais diretamente para o socialismo, muita gente acha que este sistema irá fazer com que a distribuição de renda seja mais igualitária, através do Estado, fazendo com que todo mundo tenha acesso às mesmas coisas. Mas aí que está, que coisas? Vocês acham mesmo que num mundo socialista iria existir computador com alta tecnologia? Carros elétricos? Iphone? Se existisse celular, teríamos que ficar contente com aqueles tijolos com antenas. How cool.
O socialismo defende que não deve haver propriedade privada, ou seja, ninguém é dono de terras, máquinas, ou qualquer coisa que seja utilizado na produção de bens e serviços, sendo estes pertencentes ao Estado, que na teoria é quem administra os recursos da melhor forma possível para todos os cidadãos. Além disso, esse Estado socialista seria o responsável por manter as pessoas numa mesma classe social, ganhando a mesma coisa. Qual é o erro disso? Na aplicação teórica, é até bonitinho, porém na prática é bem diferente, afinal cada ser humano, apesar de igual em muitos aspectos, pensa diferente um do outro e atribui importâncias diferentes para as mesmas coisas, sem contar que inchar o Estado acaba por gerar privilégios aos políticos, que se tornam então a classe dominante e delimitam o que o povo precisa por interesses políticos e benefícios do Estado. É claro!
Antes de dar sequência na nossa história sobre o socialismo, vou falar do conceito de utilidade marginal que é de microeconomia e serve para absolutamente tudo nesse mundo. Basicamente, este conceito diz que cada coisa, cada produto, cada serviço, tem uma utilidade diferente para cada pessoa diferente, fazendo com que essas pessoas atribuam um “preço” diferente para elas. Eu gosto muito de chocolate, portanto pagaria mais caro para obter um. Já meu irmão prefere torta de morango, então o preço que ele pagaria num chocolate seria menor do que eu pagaria. Somos diferentes e colocamos preços nas coisas de forma diferente também. Podemos colocar o trabalho sob esta análise. Sempre vai existir uma pessoa mais preguiçosa, para a qual o trabalho tem menos importância do que passar o dia inteiro dormindo. E sempre vai ter a pessoa que, ao contrário do primeiro, gosta de produzir e se sentir útil, tendo como motivação a recompensa, que geralmente é o dinheiro (o preço do trabalho) e também o de construir alguma coisa. A utilidade marginal do trabalho é totalmente diferente para o sujeito A e o sujeito B e, portanto, colocar ambos sob o mesmo regime e querer que tenham as mesmas recompensas, fatalmente dará errado.
Então, num sistema socialista, milhares de pessoas como o sujeito A e milhares de pessoas como o sujeito B (uma simplificação de um sistema mais complexo, é claro), terão a mesma renda. O que vai acontecer? Ninguém é altruísta o suficiente para trabalhar mais do que o outro e ganhar a mesma coisa. A produtividade vai cair e as boas ideias não vão sair do papel. Para que começar a investir tempo e trabalho para uma nova tecnologia? Para que começar a pensar diferente? Se a recompensa vai ser a mesma do que não faz nada ou faz muito pouco, o preço do trabalho não se altera e, portanto, este passa a ter menos importância. O socialismo simplesmente destrói a ideia de que o trabalho é válido e que as recompensas existem colocando todo mundo sob a mesma condição que, em vez do que muitos pensam, será de pobreza. As pessoas passam a fazer apenas o mínimo pela sobrevivência. Basicamente, tudo que for produzido terá qualidade mediana, para não dizer péssima, além de reduzir a oferta de bens.
No capitalismo, justamente pela propriedade privada ser garantida, ou seja, o capital é de alguém e há liberdade de trocas, existe uma real formação de preços através da oferta e demanda, refletindo as preferências dos consumidores. Dessa forma, esse capital empreendido será direcionado de acordo com essas preferências. Como no socialismo os preços não são definidos pelo mercado para bens e serviços, não dá para conhecer a fundo a situação real e ter uma estratégia razoável. Possivelmente haverá problemas e dispêndios desnecessários que não serão corrigidos. Além de tudo isso, o fato de as empresas serem de monopólio estatal e não terem lucro como objetivo, diminui muito a eficiência da produção. Num sistema capitalista, é de interesse particular que a empresa obtenha lucro, senão não há motivos para a existência da mesma e, com isso, sempre haverá melhorias em todos os âmbitos, procurando suprimir os gargalos e ineficiências, desenvolvendo novas tecnologias, entre outras coisas. A diferença crucial entre os dois sistemas está na produção do que a sociedade quer, através do capitalismo, e não do que o Estado julga que a sociedade quer, sem de fato levar em consideração o desejo dela. Qual é a explicação para termos um país como Cuba, com milhares de médicos e comida escassa? Alguma coisa aí deu errado. Vocês sabiam que em Cuba existe uma cota de alimentos para cada pessoa? Até 2010, inclusive, estavam inclusos nesta lista artigos de higiene. Que maravilha, hein?
Não podemos ser inocentes de achar que qualquer ser humano aja apenas e tão somente por caridade. Muito embora possamos ser benevolentes, o interesse individual acaba prevalecendo, é a lei da vida, além é claro, da diferença natural e inexorável da capacidade de cada um. Sinto informá-los, mas tem gente melhor que você por aí. Eu não sou hipócrita de dizer que eu sou igual ao Bill Gates, que é bilionário. Eu sou apenas feliz por ele ter me proporcionado acesso à tecnologia e não me importo de ele ter muito mais dinheiro do que eu. Inclusive, vamos lembrar que Bill sozinho já gastou mais de USD 28 bilhões com filantropia, através da sua fundação de caridade sem fins lucrativos. Existem muitos outros bilionários ou milionários que não fazem o mesmo, infelizmente isso é uma característica pessoal destes que não mudará.
Outro erro na apresentação do socialismo, principalmente pela visão de Marx, é da afirmação que o trabalhador não recebe efetivamente pelo que produz, tendo a “mais-valia” apropriada pelo capitalista, o qual explora esse trabalhador. A primeira coisa é entender que para a produção de determinado bem, o operário precisa de diversos componentes, chamados de fatores de produção, como no caso de máquinas, aparelhos ou qualquer coisa que precise para produzir o bem final. Quem tem dinheiro para investir nos fatores de produção e contrata os operários é o capitalista, que obviamente necessita ser remunerado por isso de forma que valha a pena todo esse investimento, que não é só o dinheiro gasto, como o tempo e o risco de não dar certo. O preço do trabalho é o salário e este será maior ou menor de acordo com o quão difícil é realiza-lo e de quanto valor é agregado ao bem final com o trabalho específico. Quanto mais técnica e sofisticada for a mão-de-obra, mais cara ela se torna. Com o socialismo, simplesmente não existe essa relação, não havendo estímulo a novas técnicas ou otimização da produção. Então, para que estudar?
Um exemplo aplicado à nossa realidade pode ser o programa do Bolsa-Família. Não, eu não sou contra haver algum tipo de assistencialismo às pessoas pobres, desde que esta seja apenas uma medida temporária. Qual é o grande erro do governo brasileiro nessa questão? Não é tirá-los da miséria, mas sim, mantê-los sob esta condição. O que deveria ser feito, na verdade, é um estímulo as empresas nas regiões mais pobres, de forma que estas subsidiem cursos técnicos e melhorem a mão-de-obra local. Ao poder agregar mais valor aos bens ou serviços prestados, esse trabalhador poderá ter um salário adequado, produzindo valor e gerando riqueza. Entretanto, o que existe hoje é justamente o contrário. Temos 14 milhões de famílias que recebem o auxílio e apenas 1,7 milhão saiu voluntariamente por informar uma renda superior ao limite que se enquadra o programa. O erro não está em fornecer ajuda, mas não dar condições necessárias para que estas pessoas produzam. O verdadeiro responsável pela melhora das condições de vida é o trabalho e, portanto, o que temos hoje é uma solução imediatista e não estrutural. O fato é que em muitas regiões do Brasil, as pessoas não querem trabalhar registradas, simplesmente para não deixar de receber o benefício. É maravilhoso reduzir a pobreza e dar vida mais digna a todos, mas não podemos esquecer que deve haver uma contrapartida, sempre.
É claro que existem os empresários exploradores, os desonestos, os corruptos. Isso é diminuído com melhor educação e justiça que funcione para todos, independentemente de suas condições sociais, entretanto, responsabilizar a todos os empresários e empreendedores pela exploração inadequada dos trabalhadores, é apenas preguiça de pensar além. Com quase 40% do PIB consumido em impostos no Brasil, por exemplo, é de admirar que não tenhamos condições de ensino, transporte e segurança de qualidade. A ineficiência do Estado se comprova a cada dia e, com um regime cada vez mais tendendo ao controle deste, fatalmente produziremos menos, sendo levados ao retrocesso.
Se o seu patrão tem mais dinheiro que você, inspire-se em sua história e vá atrás dos seus sonhos. Ambição com responsabilidade é muito benéfico para todos, tanto enquanto indivíduo como perante a sociedade. Vamos produzir e parar de olhar para a grama mais verde do vizinho. Ganhar dinheiro e ser bem-sucedido não é crime! Let’s get to work.

Renata Barreto  é economista, empresária, atua no mercado de capitais há 12 anos, com experiência em trading, estruturações e advisory, nos mercados doméstico e internacional.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Saiba o que Lula pensa sobre machismo e homossexuais


Em 1981, o então líder sindical do ABC e maior expoente do nascente Partido dos Trabalhadores deu uma entrevista para a Revista do Homem (ou Homem), edição brasileira da revista Playboy antes de a Editora Abril utilizar abertamente a marca Playboy.
Nela, Lula fala sobre sexo, machismo, homossexualidade e política. Separamos alguns trechos:
Lula sobre homossexuais:
Homem: E como você vê o homossexualismo, o relacionamento íntimo entre pessoas do mesmo sexo?
Lula: Eu poderia dar uma de presidente de partido e falar, cada um faça do seu corpo o que bem entender, já que a terra vai comer, então que os outros comam enquanto têm vida, mas acho que não é isso. Veja, eu não tenho preconceito não, o cara a que chamam de homossexual no nosso meio a gente chama de veado, mesmo. Eu sou contra isso (homossexualidade), e não sei se é uma questão psicológica ou o tipo de berço que a pessoa teve. E quem sabe nós sejamos os culpados dessas pessoas serem assim, tem que entender como elas são, e embora eu não concorde com isso (homossexualidade) acho que têm o direito de existir, o direito de agirem da forma que julguem melhor, mesmo por que minha opinião a culpa é da sociedade e não delas.”
Lula sobre machismo:
“Homem: Lula, você é machista?
Lula: Depende, eu gostaria de saber o que é ser machista. Vou colocar minha situação para que entenda se isso é machismo, ou não. Muitas pessoas me criticam pelo fato de minha mulher não ter uma participação política como eu tenho. E eu acho que ela não tem que ter, porque eu tenho três filhos e alguém precisa cuidar deles. Eu não posso pagar uma empregada, assim quem tem que cuidar deles é a mulher. Quer queira, quer não, o cara que tem uma vida política como a minha não pode falar, bem eu vou chegar em casa pra lavar a louça, trocar a cama, dar banho na molecada. Seria fantasia e mentira dizer isso. Então se isso é ser machista, eu sou machista. (Silêncio) Eu gosto de tomar banho e que minha mulher leve a roupa pra mim no banheiro. A Marisa ainda corta as unhas do meu pé, me espreme os cravos, trata de mim, e eu acho que ela se sente bem fazendo isso. Eu não admito, por exemplo, as madames que falam em independência e liberdade e colocam uma empregada doméstica ganhando cinco mil cruzeiros por mês e ainda ficam comentando: minha empregada até vê televisão, até almoça na mesa comigo. Então você quer sua liberdade subordinando uma outra pessoa num regime escravocrata?”
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Alguns anos antes, em 1979, Lula deu uma entrevista para a mesma revista. Alguns trechos são históricos e lembrados até hoje:
Lula sobre bestialidade e sua iniciação sexual:
Homem – Com que idade você teve sua primeira experiência sexual?
Lula –
 Com 16 anos.
Homem – Foi com mulher ou com homem?
Lula 
(surpreso) – Com mulher, claro! Mas, naquele tempo, a sacanagem era muito maior do que hoje. Um moleque, naquele tempo, com 10, 12 anos, já tinha experiência sexual com animais… A gente fazia muito mais sacanagem do que a molecada faz hoje. O mundo era mais livre…”
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Lula sobre seus ídolos:
Playboy – Há alguma figura de renome que tenha inspirado você? Alguém de agora ou do passado?
Lula [pensa um pouco]- Há algumas figuras que eu admiro muito, sem contar o nosso Tiradentes e outros que fizeram muito pela independência do Brasil (…). Um cara que me emociona muito é o Gandhi (…). Outro que eu admiro muito é o Che Guevara, que se dedicou inteiramente à sua causa. Essa dedicação é que me faz admirar um homem.
Playboy – A ação e a ideologia?
Lula – Não está em jogo a ideologia, o que ele pensava, mas a atitude, a dedicação. Se todo mundo desse um pouco de si como eles, as coisas não andariam como andam no mundo. (…)
Playboy – Alguém mais que você admira?
Lula [pausa, olhando as paredes] – O Mao Tse-Tung também lutou por aquilo que achava certo, lutou para transformar alguma coisa.
Playboy – Diga mais…
Lula – Por exemplo… O Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que eu admiro num homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer.
Playboy – Quer dizer que você admira o Adolfo?
Lula – [enfático] Não, não. O que eu admiro é a disposição, a força, a dedicação. É diferente de admirar as idéias dele, a ideologia dele.
Playboy – E entre os vivos?
Lula [pensando] – O Fidel Castro, que também se dedicou a uma causa e lutou contra tudo.
Playboy – Mais.
Lula – Khomeini. Eu não conheço muito a coisa sobre o Irã, mas a força que o Khomeini mostrou, a determinação de acabar com aquele regime do Xá foi um negócio sério.
Playboy – As pessoas que você disse que admira derrubaram ou ajudaram a derrubar governos. Mera coincidência?
Lula [rápido] – Não, não é mera coincidência, não. É que todos eles estavam ao lado dos menos favorecidos.
Playboy – No novo Irã, já foram mortas centenas de pessoas. Isso não abala a sua admiração pelo Khomeini?
Lula – É um grande erro… (…) Ninguém pode ter a pretensão de governar sem oposição. E ninguém tem o direito de matar ninguém. Nós precisamos aprender a conviver com quem é contra a gene, com quem quer derrubar a gente. (…) É preciso fazer alguma coisa para ganhar mais adeptos, não se preocupar com a minoria descontente, mas se importar com a maioria dos contentes.”
Relembre Lula dizendo que a cidade de Pelotas no Rio Grande do Sul é “polo exportadora de veados“.
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Fontes:
http://fubap.org/borae/entrevista-de-lula-o-metalurgico-na-revista-homem-em-agosto-de-1981/
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/trinta-anos-de-lula-os-homens-admiraveis/
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/lula-o-sexo-os-animais-e-as-viuvas/

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