A candidata Marina Silva (PSB) chorou, na noite de quinta--feira (11), ao desabafar junto à Folha sobre a série de ataques que está sofrendo desde que entrou na disputa presidencial e virou uma ameaça verdadeira à campanha de reeleição de Dilma Rousseff (PT). No banco de trás do carro que a levava de volta ao hotel após um dia longo de agendas no Rio de Janeiro, Marina disse à Folha que irá reagir conforme aprendeu com Lula "lá atrás", quando era do PT: não vai se render às "mentiras" propagandas pelos adversários.
Por Marina Dias, na Folha de S. Paulo
Alvo de uma série de ataques desde que entrou na corrida pelo Palácio do Planalto e virou uma ameaça para a presidente Dilma Rousseff (PT), a ex-senadora Marina Silva (PSB) fez um desabafo e chorou ao ser questionada pela Folha sobre as críticas que recebeu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi aliada por 24 anos.
"Eu não posso controlar o que Lula pode fazer contra mim, mas posso controlar que não quero fazer nada contra ele", disse na noite de quinta-feira (11), no banco de trás do carro que a levava ao hotel após mais de 13 horas de campanha no Rio de Janeiro.
Emocionada, disse ser quase impossível acreditar que o petista esteja fazendo isso, mas demonstrou que ainda nutre admiração pelo ex-presidente.
"Quero fazer coisas em favor do que lá atrás aprendi, inclusive com ele [Lula], que a gente não deveria se render à mentira, ao preconceito, e que a esperança iria vencer o medo. Continuo acreditando nessas mesmas coisas", afirmou.
Marina, que frequentemente se declara "injustiçada" pelos ataques do PT, lembrou o que aconteceu com Lula nas eleições de 1989, quando ele disputou a Presidência da República e perdeu para Fernando Collor.
"Sofri muito com as mentiras que o Collor dizia naquela época contra o Lula. O povo falava: Se o Lula ganhar, vai pegar minhas galinhas e repartir'. Se o Lula ganhar, vai trazer os sem-teto para morar em um dos dois quartos da minha casa'."
Em seguida, acrescentou: "Aquilo me dava um sofrimento tão profundo, e a gente fazia de tudo para explicar que não era assim. Me vejo fazendo a mesma coisa agora".
Na porta do hotel em Copacabana, após alguns segundos em silêncio, Marina desceu do carro recomposta. Virou o rosto e disse à reportagem: "Mas não tenho raiva de ninguém, não, nem da Dilma. Vou continuar lutando".
Desde que subiu nas pesquisas, Marina está sob ataques do PT, partido ao qual foi filiada de 1985 a 2009.
Ela deixou a legenda depois de se afastar do Ministério do Meio Ambiente, que comandou por cinco anos no governo de Lula. Marina teve várias divergências com o ex-presidente nesse período. A principal, alega, era a dificuldade para desenvolver sua agenda ambiental.
ESPETÁCULO
Em maio de 2008, ela entregou sua carta de demissão a Lula, que avaliou que a aliada estava fazendo de sua saída do governo um "espetáculo desnecessário". Era o primeiro atrito público entre os dois.
Pouco mais de um ano depois, ao se desfilar do PT, comparou sua saída a um "divórcio" e disse que nem a legenda nem o governo haviam avançado no tema da sustentabilidade". Mais desconforto com Lula.
Nos últimos dias, o PT iniciou uma campanha para desconstruir Marina, afirmando que ela não vai dar prioridade à exploração do petróleo do pré-sal e sugerindo que ela é sustentada por banqueiros, numa referência a Neca Setubal, herdeira do banco Itaú que coordena o programa de governo da candidata.
A propaganda petista também apontou problemas de governabilidade numa eventual gestão Marina, associando a candidata a presidentes que não terminaram os mandatos, como Jânio Quadros (1961) e Collor (1990-1992).
A candidata do PSB diz que é vítima de uma "indústria de boatos e mentiras", que tem o objetivo de "fazer terrorismo" com os eleitores.
CAMPANHA CRUEL
Em seus discursos e entrevistas, porém, a ex-senadora costuma poupar Lula. O petista, por sua vez, usou um comício em Recife (PE), na semana passada, para atacar Marina indiretamente, dizendo que "tem gente querendo acabar com o pré-sal". "Se for necessário, Dilma, me fale que vou mergulhar e buscar lá no fundo [do mar] o petróleo."
Aliados afirmam que o petista ainda se constrange ao criticar a ex-companheira de partido, mas ponderam que a disputa eleitoral é mesmo "bastante cruel"
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