segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Todos os tipos de infidelidade


A infidelidade não é um desvio de caráter, mas um comportamento-padrão a evitar, afirma um psicólogo após estudar milhares de casais

NATÁLIA SPINACÉ
31/08/2014 



Infidelidade (Foto: Getty Images/Ikon Images)
Não engane a si mesmo: traições acontecem, o tempo todo e desde sempre. Clássicos da literatura, como Anna Karenina, de Liev Tolstói, Madame Bovary, de Gustav Flaubert, e O primo Basílio, de Eça de Queiroz, trataram do poder destruidor delas. Mesmo assim, pesquisas mundo afora mostram que o número de adúlteros, entre homens e mulheres, só cresce – talvez porque mais gente traia, talvez porque mais  gente tenha coragem de admitir. Pouco se avançou, porém, em tentar explicar as razões que levam à quebra do pacto de confiança e exclusividade e entender como evitá-la. Em O que faz o amor durar (editora Fontanar, 248 páginas), o americano John Gottman, doutor em psicologia e pesquisador na Universidade de Washington, apresenta uma nova forma de olhar para esse mistério.
Ao lado da mulher, a também psicóloga Julie Schwartz Gottman, ele estuda o comportamento de casais há mais de quatro décadas. Em seu laboratório, analisa a linguagem corporal, as expressões faciais e tudo o que é dito entre milhares de casais. Para ele, existe um padrão de comportamento que leva à quebra do pacto, e há muitas formas de infidelidade independentes da temida traição física. “Nossa cultura relaciona a infidelidade a um desvio de caráter ou falta de disciplina, mas isso não é verdade”, diz Gottman. “A maioria das traições não é causada por desejo sexual, e sim por alguma carência afetiva.”

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As ameaças ao namoro feliz (Foto: Reprodução)
Para Gottman, trair vai além da intimidade física com outra pessoa. Um relacionamento amoroso convencional é um contrato de confiança, respeito e proteção mútuos. Tudo que viole esse contrato constitui infidelidade. Além da traição física, ele lista outros dez tipos. Um é o “comprometimento condicional”. Consiste em estar com alguém, mas atento a outras oportunidades. “O indivíduo se sente no direito de flertar e de investir em outras pessoas, mesmo comprometido”, diz. Outro tipo é o “rompimento de promessas”. Uma das partes deixa de cumprir algo previamente combinado, como guardar uma parte do salário ou não sair durante a semana(leia os dez tipos no quadro ao lado).
Apesar das credenciais acadêmicas de Gottman, estudiosos questionam a busca de padrões na infidelidade. “Em relacionamentos, é difícil definir regras que sirvam a todos”, diz  a antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora do livro Por que homens e mulheres traem?. Ela estuda a infidelidade há mais de 20 anos. “Nos casos que estudei, cada casal funciona de um jeito, não há um padrão.”
Gottman discorda. Afirma ter detectado um ciclo de ações e reações que mais comumente levam casais a sucumbir a quaisquer desses tipos de infidelidade, inclusive a física. Chama o primeiro estágio de “estado de negatividade”. Tem início quando um dos dois deixa de dar atenção ou apoio ao outro. As situações podem ser as mais variadas – de faltas sérias, como não estar presente na morte de um parente do outro, a descuidados banais, como se esquecer de cumprir uma tarefa doméstica. Quando o sentimento de mágoa por essa falta não é expressado, ele também não é esquecido. O lado magoado passa a provocar o outro. Isso torna os atritos mais frequentes e leva ambos a assumir uma atitude defensiva. A comunicação fica mais difícil e está instalado o estado de negatividade. Começa a segunda etapa do ciclo que leva à traição: as comparações negativas.

>>Um jogo para você se conhecer melhor

Nesse ponto, um dos parceiros compara seu companheiro ao perfil de um estranho na internet, a um colega de trabalho, a um parceiro do passado ou a um amor platônico. Na maioria das comparações, o cônjuge perde, porque, no estado de negatividade, é difícil perceber e lembrar das qualidades do outro. O distanciamento e a frustração criam o ambiente propício para a traição física e para os outros dez tipos de infidelidade.

A estratégia mais básica para manter um bom relacionamento, segundo Gottman, é evitar iniciar o ciclo, em vez de tentar interrompê-lo depois. É preciso expressar as emoções e conversar sobre os incômodos. Importa também manter em dia o pacto e as combinações – se uma parte não tem condições de cumprir o combinado, é melhor conversar e mudar o pacto, em vez de desrespeitá-lo continuamente. No livro, Gottman ensina técnicas que fazem a conversa render, como usar mais “eu” do que “você”. A ideia é mais explicar ao outro o que se sente, menos fazer críticas. Casais devem atentar para todas as formas de infidelidade e considerá-las sinais sérios. Melhor que tentar resistir às tentações é impedir que elas proliferem.

Ultimamente, no meu relacionamento, em geral eu me sinto:






Sindicato criado por Chico Mendes critica Marina Silva

29/08/2014

Nota da entidade que representa trabalhadores rurais de Xapuri, no Acre, reclama de política ambiental criada pela ex-ministra

FRANCISCO ALVES FILHO
Acre - O entusiasmo com a candidata Marina Silva (PSB) contagiou boa parte do país, mas no Acre, sua terra natal, a insatisfação com a ex-ministra cresceu nos últimos dias. Depois do debate da Band, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri divulgou nota com duras críticas a ela.


Para a sindicalista Dercy Cunha, a candidata Marina é contraditória: “Chico Mendes nunca foi da elite”
Foto:  Reprodução



O texto ataca a política ambiental implantada por Marina, ainda em prática. Além disso, a vice-presidente da entidade, Dercy Cunha, lamenta que a candidata tenha se referido a Chico Mendes, criador do sindicato, como integrante da elite. “Ela foi completamente contraditória. Chico nunca fez parte da elite, ele era uma pessoa simples”, desmente Dercy. 




Nota de esclarecimento sobre a declaração da candidata Marina Silva no debate da Rede Bandeirantes




Diante da declaração da candidata à Presidência da República para as próximas eleições, Marina Silva, onde esta coloca o companheiro Chico Mendes junto a representantes da elite nacional, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri (Acre), legítimo representante do legado classista do companheiro Chico, vem a público manifestar-se nos seguintes termos:

Primeiramente, o companheiro Chico foi um sindicalista e não ambientalista, isso o coloca num ponto específico da luta de classes que compreendia a união dos Povos Tradicionais (Extrativistas, Indígenas, Ribeirinhos) contra a expansão pecuária e madeireira e a conseqüente devastação da Floresta. Essa visão distorcida do Chico Mendes Ambientalista foi levada para o Brasil e a outros países como forma de desqualificar e descaracterizar a classe trabalhadora do campo e fortalecer a temática capitalista ambiental que surgia.

Em segundo, os trabalhadores rurais da base territorial do Sindicato de Xapuri (Acre), não concordam com a atual política ambiental em curso no Brasil idealizada pela candidata Marina Silva enquanto Ministra do Meio Ambiente, refém de um modelo santuarista e de grandes Ong’s internacionais. Essa política prejudica a manutenção da cultura tradicional de manejo da floresta e a subsistência, e favorece empresários que, devido ao alto grau de burocratização, conseguem legalmente devastar, enquanto os habitantes das florestas cometem crimes ambientais.

Terceiro, os candidatos que compareceram ao debate estão claramente vinculados com o agronegócio e pouco preocupados com a Reforma Agrária e Conflitos Fundiários que se espalham pelo Brasil, tanto isso é verdade, que o assunto foi tratado de forma superficial. Até o momento, segundo dados da CPT, 23 lideranças camponesas foram assassinadas somente neste ano de 2014. Como também não adentraram na temática do genocídio dos povos indígenas em situação alarmante e de repercussão internacional.

Por fim, os pontos elencados, são os legados do companheiro Chico Mendes: Reforma Agrária que garanta a cultura e produção dos Trabalhadores Tradicionais e a União dos Povos da Floresta.

Xapuri, 27 de agosto de 2014
José Alves – Presidente
Waldemir Soares – Assessor JurídicO
by O DIA

Por que sua voz soa tão diferente para você mesmo


A voz na sua cabeça é uma mentira. O que você ouve quando abre a boca é muito diferente do que as outras pessoas ouvem

Por que sua voz soa tão diferente para você mesmo
A voz na sua cabeça é uma mentira. O que você ouve quando abre a boca é muito diferente do que as outras pessoas ouvem - e a culpa é do seu crânio. Mais precisamente, da forma como seu crânio vibra.
Sua voz emana da parte inferior da sua garganta, conforme o ar expelido pelos pulmões passa por suas cordas vocais, que vibram e geram som. Esse som então é amplificado pela sua caixa de voz, modulada por palavras na sua língua e lábios, e reverberado pela atmosfera em torno até entrar no canal auditivo do seu ouvinte para estimular seus tímpanos e estruturas do ouvido interno - que convertem então a forma de onda analógica em impulsos elétricos que o cérebro consegue entender.
No entanto, o ouvido interno não ouve só o som de fontes externas. As vibrações que emanam de dentro do seu corpo podem ativar essas estruturas auditivas também. Quando você fala, a rápida vibração das suas cordas vocais faz com que a sua caixa craniana também vibre.
"Quando você fala, as pregas vocais na sua garganta vibram, fazendo com que sua pele, crânio e cavidades orais também vibrem, e nós percebemos esse som", explicou Ben Hornsby, professor de audiologia da Universidade Vanderbilt, à Popular Science.
Mas o som não atravessa os ossos com a mesma facilidade que viaja pelo ar. Essa resistência adicional faz a frequência de forma de onda cair, baixando o tom do som que você ouve internamente e criando uma espécie de efeito de feedback que estimula o tímpano de ambos os lados - isso é, os tímpanos pegam tanto estímulos externos das palavras que saem da sua boca como também a vibração do seu crânio.
Esse fenômeno é intensificado pelo fato de que você não consegue ouvir sua voz diretamente. Como suas orelhas estão posicionadas atrás da sua boca (ou ao menos deveriam estar - estou falando com você, Sloth), o som que sai da sua boca precisa primeiro bater em objetos e então voltar para a sua orelha. Isso faz com que a forma de onda perca energia assim como frequência e tom, resultando em uma voz distorcida em relação ao que as pessoas ouvem saindo da sua boca. Esses dois tons - o interno e o externo - são então recombinados no seu cérebro em um único sinal de áudio que é o que você identifica como a sua voz, mas uma voz com baixo adicionado.

"Você ouve sua voz em estéreo (ar e condução óssea)", explicou Michael Kelly, autor de Understanding the Power of Your Voice (Entendendo o poder da sua voz, em tradução livre), à Toadmasters. "Enquanto outras pessoas ouvem apenas em mono (condução do ar)." É por isso que você acha que sua voz é de um jeito, mas, quando vai ouvir uma gravação feita por você mesmo, acaba se espantando e não reconhecendo quem é aquela pessoa que está falando.

Ilustração por Tara Jacoby

Usos e benefícios da água oxigenada

Usos e benefícios da água oxigenada

O peróxido de hidrogênio, ou mais conhecido em âmbito mundial, como água oxigenada (H2O2) tem muitas propriedades e benefícios que podem ser usados em nossa casa de maneira moderada. É muito importante considerar que este tipo de produto não pode ser usado em grandes quantidades, posto que pode ser instável e, inclusive, tóxico. Sabendo isso, então você poderá aproveitar suas propriedades que funcionam, sobretudo, como desinfetante e antisséptico.

Em casa o uso de água oxigenada pode ser muito útil e variado, este tipo de produto também é utilizado industrialmente e para produtos de beleza relacionados com o cabelo.

11 usos e benefícios da água oxigenada

Levando em conta que a água oxigenada tem propriedades desinfetantes, branqueadoras e antissépticas, estes são alguns dos usos que podemos aplicar para aproveitar seus benefícios.

Limpar feridas

Em casa, no colégio e em muitos centros médicos se utiliza a água oxigenada para limpar e desinfetar pequenas feridas; para este tipo de casos a fórmula recomendada apenas contém por volta de 5% ou menos de peróxido de hidrogênio. Em lesões pequenas se pode umedecer um pedaço de algodão com a solução e depois aplicar suavemente na região afetada.

Branqueador de roupa

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Como uma alternativa ao branqueador, a água oxigenada por ser utilizada para branquear a roupa branca adicionando uma xícara da solução na roupa que estiver de molho. É ideal para retirar manchas de sangue, já que ao aplicá-la diretamente sobre a roupa, a mancha sairá instantaneamente.

Fungos nos pés

Para os frequentes problemas dos fungos nos pés e unhas, é recomendado usar uma dose de 50/50 de água oxigenada e água comum. Para seu uso, recomenda-se colocar os pés de molho alguns minutos pela noite e depois secá-lo bem. A propriedade antisséptica da água oxigenada auxilia na eliminação desses organismos.

Para a boca e as gengivas

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A água oxigenada é um dos enxaguantes bucais mais efetivos, econômicos e pouco conhecidos. É ideal para a limpeza bucal, mas não deve ser ingerida de modo algum, porque pode causar irritações internas. Além de limpar e desinfetar a boca, é ideal para tratar inflamações na gengiva e infecções na garganta, para isso, recomenda-se usar pura diretamente sobre a inflamação ou misturá-la com água, em 50%, e fazer gargarejos durante alguns segundos, evitando, assim, passar a solução na boca. Atenção, portanto, ao uso dessa água nessas regiões mais sensíveis.

Ajuda em cicatrizações

Ao usar a água oxigenada sobre as feridas, pode-se obter um efeito antisséptico e cicatrizante bastante efetivo. Os casos de gangrena também são reduzidos com o uso desse produto.

Higienização das escovas de dente

Uma maneira de manter as escovas de dente de sua casa livre de bactérias, fungos e outros germes é limpá-la com uma solução de água oxigenada. Faça uma mistura 50/50 de água comum e a oxigenada, coloque em um recipiente junto com as escovas, aguarde alguns minutos, enxágue e seque-as bem. Assim, você obterá escovas limpas e livres de germes.

Enemas

Para um enema, recomenda-se usar uma colher de água, 3%, para um litro de água destilada quente.

Manchas na pele

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A água oxigenada é uma grande aliada para desaparecer as manchas na pele, utilizá-la constantemente pode dar resultados em algumas semanas. Para isso, recomenda-se preparar uma mistura 50/50 de água comum e a oxigenada, aplicar sobre a mancha usando um algodão, evitando fazer a aplicação próximo dos olhos porque causa irritação.

Limpar as axilas

O H2O2 é ideal para limpar as axilas e branqueá-las das manchas que vão provocando os desodorantes, além disso, também ajuda a combater o mau cheiro.

Limpeza de casa

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Dissolver 0,05 litros de H2O2 para 3% de detergente comum é ideal para deixar os pratos completamente limpos. Para limpar a tábua e matar as bactérias que ali se alojam, é ideal adicionar peróxido de hidrogênio,3%, com uma quantidade igual de vinagre. Finalmente, é recomendado fazer uma mistura 50/50 de H2O2 com água para desinfetar banheiros, pias, pisos etc.

Luzes no cabelo

Muitos produtos e tintas para o cabelo utilizam a água oxigenada para complementar sua função. Em casa também se pode usar moderadamente como um clareador para seu cabelo, para, assim, conseguir  pequenas luzes sobre ele. Para isso, recomenda-se diluir em 50/50 peróxido de hidrogênio na água comum  e colocar, de preferência, em uma garrafa com borrifador. Para aplicar o cabelo deve estar molhado e pronto para pentear, deve-se aplicar em pequenas quantidades, borrifadas, sobre o cabelo e pentear como de costume. Os resultados serão vistos pouco a pouco e o clareamento não será drástico. Não se deve exceder a quantidade recomendada, porque pode dar resultados nada agradáveis, como o excesso de clareamento.

Terror do EI ameaça acabar com idioma de Jesus Cristo

Oriente Médio

Não só os cristãos iraquianos estão correndo risco de vida. O aramaico falado por parte deles, uma das línguas vivas mais antigas do mundo, corre sério risco de desaparecer, vítima da insanidade irracional dos extremistas sunitas

Diego Braga Norte
Cristãos iraquianos que fugiram da violência na aldeia de Qaraqush, a leste da província de Nínive, descansam na igreja São José, na cidade curda de Erbil, na região autônoma do Curdistão iraquiano
Cristãos iraquianos que fugiram da violência em Qaraqush descansam na igreja São José, na cidade curda de Erbil (Safin Hamed/AFP)
O violento avanço dos terroristas do Estado Islâmico (EI) está ceifando não apenas a vida dos iraquianos, mas também bens culturais. Um idioma ameaçado pela insanidade assassina dos jihadistas é o aramaico. O Iraque tem uma população de cerca de 20.000 pessoas, majoritariamente cristãos, que ainda falam o neo-aramaico assírio, evolução da língua usada por Jesus Cristo há mais de 2.000 anos. O prestigiado linguista americano Ken Hale certa vez afirmou que o prejuízo causado pela extinção de uma língua equivale à detonação de uma bomba no museu do Louvre. Em outras palavras, a morte de um idioma significa também o desaparecimento de um sistema cultural inteiro, com seus padrões de pensamento, oralidade, musicalidade e narração histórica.
Segunda as últimas estimativas disponíveis, ainda da década de 1990, portanto antes da Guerra do Iraque e da tensa ocupação americana, a população falante de aramaico no mundo era de 500.000 pessoas – sendo que metade vivia no norte iraquiano. Hoje os especialistas são unânimes em afirmar que a sondagem da década de 1990 era um exagero e que o quadro atual é desanimador. Estima-se que haja no mundo todo apenas 30.000 pessoas que falam aramaico, sendo que dois terços são iraquianos que habitam o norte do país.
A situação do aramaico ficou ainda mais delicada após a queda das cidades de Mosul, Qaraqush, Tel Kepe e Karamlesh, invadidas pelos jihadistas sunitas. Localizadas na província de Nínive, no norte do país, nessas cidades e em pequenas vilas próximas delas, estavam as únicas escolas primárias e secundárias de aramaico do Oriente Médio, que foram abandonadas às pressas. Segundo os especialistas, a existência de escolas regulares é uma condição sine qua non para a perpetuação de uma língua. Sem as instituições de ensino, a língua fica restrita somente a sua forma oral e enclausurada no ambiente familiar. Com isso, o idioma vai perdendo força rapidamente, podendo sumir em poucas gerações. Fugindo da morte, os cristãos falantes de aramaico dispersaram-se pela região. Os sobreviventes se refugiaram no Curdistão e umas poucas famílias mais abastadas foram para a Turquia. “Há cada vez menos crianças falando a língua. É uma queda considerável para uma língua que já foi universal”, atesta Ross Perlin, diretor da fundação Endangered Language Alliance, que estuda e tenta preservar idiomas ameaçados de extinção.
Segundo o professor Steve Fassberg, especialista em aramaico da Universidade Hebraica de Jerusalém, o desaparecimento do idioma seria particularmente prejudicial para aqueles que, como ele, estudam o cristianismo primitivo e o desenvolvimento do pensamento cristão após a fundação da Igreja Católica. A morte do aramaico atrapalharia também o estudo de outras línguas e dialetos semitas que são pouco falados ou já foram extintos no Oriente Médio, Norte da África e Ásia Menor. Ross Perlin lembra que o aramaico foi extremamente relevante ao longo da história. “O aramaico era o inglês da sua época, era a língua franca falada do Egito à Índia”, explica.

Profeta Jonas

Na lógica nefasta dos jihadistas sunitas que tentam criar uma nação teocrática islâmica em uma região entre o Iraque e a Síria, muçulmanos xiitas, cristãos, yazidis e outras minorias têm apenas três opções: converter-se, fugir ou serem mortos. Por onde o grupo passa, deixa para trás um rastro de ódio, violência e destruição: em Mosul, a segunda maior cidade iraquiana, os jihadistas destruíram a mesquita Nabi Younis, que estava construída sobre um sítio arqueológico de quase 3.000 anos, do século VIII a.C.
O local era conhecido por abrigar a tumba de Jonas, aquele que no Antigo Testamento é retratado como o profeta que foi engolido por uma baleia durante uma tempestade. A parábola da baleia é cultuada tanto pela tradição judaico-cristã como pela islâmica e o profeta Jonas é inclusive citado no Alcorão, o livro sagrado do Islã. Nabi Younis não foi o único templo destruído pelos jihadistas; eles também botaram abaixo a mesquita Imã Aoun Bin al-Hassan, em Mosul, e explodiram dezenas de igrejas católicas e locais sagrados sunitas por onde passaram no Iraque e na Síria. A desculpa para tamanha intolerância é sempre a mesma: os locais eram considerados pontos de apostasia da fé islâmica sunita.
Língua de Jesus – De acordo com os especialistas ouvidos pelo site de VEJA, a língua materna de Jesus – que também falava hebraico – era o aramaico, idioma que deixou marcas no Novo Testamento. Originalmente escrito em grego koiné (versão arcaica do grego), os livros que compõe a segunda parte da Bíblia cristã contêm palavras em aramaico ou derivadas do idioma de Jesus. Em uma passagem marcante do Evangelho de Mateus (27:46), por exemplo, Jesus, pregado na cruz, indaga: ‘Eli, Eli, lamá sabactâni?’ (Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?). As palavras em aramaico resistem em muitas traduções atuais da Bíblia, inclusive em português.
Porém, como as línguas evoluem ao longo dos anos, o aramaico que Jesus falou não soaria como o aramaico falado hoje, conhecido pelos linguistas pela denominação de neo-aramaico assírio. “A linguagem se desenvolveu ao longo dos últimos dois mil anos e também foi influenciada pelo vocabulário de línguas muito próximas geograficamente, como o árabe, o turco e o persa”, explica Fassberg. Em 2004, o filme A Paixão de Cristo, uma sanguinolenta versão do astro hollywoodiano Mel Gibson para a via-crúcis, teve os diálogos em aramaico. Mas a empreitada atraiu críticas de linguistas e historiadores puristas justamente por levar à tela a versão moderna do idioma.
História – Com uma história que remonta há mais de 3.000 anos, a língua aramaica era falada por povos nômades que vagavam numa área que hoje é o território da Síria. Depois, o idioma se popularizou no Oriente Médio por ser a língua oficial do Império Assírio, um dos mais importantes da antiguidade, que dominou a região entre 2000 a.C. e 600 a.C.. Muitos séculos depois, no ano 4 a.C., o macedônio Alexandre, o Grande, conseguiu impor o idioma grego como língua oficial dos territórios que comandava – terras dos Balcãs, na Europa, à Índia, incluindo Egito, Mesopotâmia, Pérsia e outras regiões do Oriente Médio. Mesmo perdendo o status de idioma oficial, o aramaico sobreviveu e prosperou.
Na época de Jesus Cristo, o aramaico era uma das línguas mais faladas da região, junto com o hebraico e o grego koiné. Depois, com o aparecimento da língua árabe (por volta do século IV) e, sobretudo, com a ascensão do islamismo (no século VII), o idioma começou a perder força. Especialistas apontam que o aramaico perdeu relevância ao longo dos séculos porque não era associado diretamente a nenhuma religião e a nenhum império. Os impérios e califados islâmicos disseminaram a língua do Corão, o árabe; o Império Romano adotou o catolicismo como religião oficial e disseminou o latim, que por séculos ficou identificado como a língua dos católicos.
Saiba mais: O que a história tem a dizer sobre Jesus

A perseguição dos terroristas do EI não é a primeira investida violenta contra os iraquianos católicos falantes de aramaico. Entre 1986 e 1989, o governo liderado por Saddam Hussein destruiu mais de 4.000 vilas de curdos, católicos e outras minorias no norte do país, numa tentativa de “arabizar” o Iraque. O ataque às minorias foi interrompido pela primeira Guerra do Golfo, em 1990. A criação da região autônoma do Curdistão, em 1992, representou um alento para as minorias, pois a região no norte do país passou a ser a mais segura, tolerante e próspera do Iraque.
Há no meio acadêmico especializado um debate sobre como chamar a língua em sua versão atual, de neo-aramaico assírio, siríaco ou apenas aramaico. De maneira geral, os linguistas tendem a se referir à linguagem falada como neo-aramaico e à escrita como siríaco. Porém, independentemente do nome, todos estão de acordo sobre o seu inestimável significado cultural e sobre a necessidade de preservá-la. Qualquer tentativa nesse sentido, contudo, dependerá do combate ao Estado Islâmico, que persegue com brutalidade seu plano de instalar um califado nos territórios da Síria e do Iraque pelos quais avança.

by Veja

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