A infidelidade não é um desvio de caráter, mas um comportamento-padrão a evitar, afirma um psicólogo após estudar milhares de casais
NATÁLIA SPINACÉ
31/08/2014
Não engane a si mesmo: traições acontecem, o tempo todo e desde sempre. Clássicos da literatura, como Anna Karenina, de Liev Tolstói, Madame Bovary, de Gustav Flaubert, e O primo Basílio, de Eça de Queiroz, trataram do poder destruidor delas. Mesmo assim, pesquisas mundo afora mostram que o número de adúlteros, entre homens e mulheres, só cresce – talvez porque mais gente traia, talvez porque mais gente tenha coragem de admitir. Pouco se avançou, porém, em tentar explicar as razões que levam à quebra do pacto de confiança e exclusividade e entender como evitá-la. Em O que faz o amor durar (editora Fontanar, 248 páginas), o americano John Gottman, doutor em psicologia e pesquisador na Universidade de Washington, apresenta uma nova forma de olhar para esse mistério.
Ao lado da mulher, a também psicóloga Julie Schwartz Gottman, ele estuda o comportamento de casais há mais de quatro décadas. Em seu laboratório, analisa a linguagem corporal, as expressões faciais e tudo o que é dito entre milhares de casais. Para ele, existe um padrão de comportamento que leva à quebra do pacto, e há muitas formas de infidelidade independentes da temida traição física. “Nossa cultura relaciona a infidelidade a um desvio de caráter ou falta de disciplina, mas isso não é verdade”, diz Gottman. “A maioria das traições não é causada por desejo sexual, e sim por alguma carência afetiva.”
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Para Gottman, trair vai além da intimidade física com outra pessoa. Um relacionamento amoroso convencional é um contrato de confiança, respeito e proteção mútuos. Tudo que viole esse contrato constitui infidelidade. Além da traição física, ele lista outros dez tipos. Um é o “comprometimento condicional”. Consiste em estar com alguém, mas atento a outras oportunidades. “O indivíduo se sente no direito de flertar e de investir em outras pessoas, mesmo comprometido”, diz. Outro tipo é o “rompimento de promessas”. Uma das partes deixa de cumprir algo previamente combinado, como guardar uma parte do salário ou não sair durante a semana(leia os dez tipos no quadro ao lado).
Apesar das credenciais acadêmicas de Gottman, estudiosos questionam a busca de padrões na infidelidade. “Em relacionamentos, é difícil definir regras que sirvam a todos”, diz a antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora do livro Por que homens e mulheres traem?. Ela estuda a infidelidade há mais de 20 anos. “Nos casos que estudei, cada casal funciona de um jeito, não há um padrão.”
Gottman discorda. Afirma ter detectado um ciclo de ações e reações que mais comumente levam casais a sucumbir a quaisquer desses tipos de infidelidade, inclusive a física. Chama o primeiro estágio de “estado de negatividade”. Tem início quando um dos dois deixa de dar atenção ou apoio ao outro. As situações podem ser as mais variadas – de faltas sérias, como não estar presente na morte de um parente do outro, a descuidados banais, como se esquecer de cumprir uma tarefa doméstica. Quando o sentimento de mágoa por essa falta não é expressado, ele também não é esquecido. O lado magoado passa a provocar o outro. Isso torna os atritos mais frequentes e leva ambos a assumir uma atitude defensiva. A comunicação fica mais difícil e está instalado o estado de negatividade. Começa a segunda etapa do ciclo que leva à traição: as comparações negativas.
>>Um jogo para você se conhecer melhor
Nesse ponto, um dos parceiros compara seu companheiro ao perfil de um estranho na internet, a um colega de trabalho, a um parceiro do passado ou a um amor platônico. Na maioria das comparações, o cônjuge perde, porque, no estado de negatividade, é difícil perceber e lembrar das qualidades do outro. O distanciamento e a frustração criam o ambiente propício para a traição física e para os outros dez tipos de infidelidade.
A estratégia mais básica para manter um bom relacionamento, segundo Gottman, é evitar iniciar o ciclo, em vez de tentar interrompê-lo depois. É preciso expressar as emoções e conversar sobre os incômodos. Importa também manter em dia o pacto e as combinações – se uma parte não tem condições de cumprir o combinado, é melhor conversar e mudar o pacto, em vez de desrespeitá-lo continuamente. No livro, Gottman ensina técnicas que fazem a conversa render, como usar mais “eu” do que “você”. A ideia é mais explicar ao outro o que se sente, menos fazer críticas. Casais devem atentar para todas as formas de infidelidade e considerá-las sinais sérios. Melhor que tentar resistir às tentações é impedir que elas proliferem.
Ultimamente, no meu relacionamento, em geral eu me sinto:
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Nesse ponto, um dos parceiros compara seu companheiro ao perfil de um estranho na internet, a um colega de trabalho, a um parceiro do passado ou a um amor platônico. Na maioria das comparações, o cônjuge perde, porque, no estado de negatividade, é difícil perceber e lembrar das qualidades do outro. O distanciamento e a frustração criam o ambiente propício para a traição física e para os outros dez tipos de infidelidade.
A estratégia mais básica para manter um bom relacionamento, segundo Gottman, é evitar iniciar o ciclo, em vez de tentar interrompê-lo depois. É preciso expressar as emoções e conversar sobre os incômodos. Importa também manter em dia o pacto e as combinações – se uma parte não tem condições de cumprir o combinado, é melhor conversar e mudar o pacto, em vez de desrespeitá-lo continuamente. No livro, Gottman ensina técnicas que fazem a conversa render, como usar mais “eu” do que “você”. A ideia é mais explicar ao outro o que se sente, menos fazer críticas. Casais devem atentar para todas as formas de infidelidade e considerá-las sinais sérios. Melhor que tentar resistir às tentações é impedir que elas proliferem.
Ultimamente, no meu relacionamento, em geral eu me sinto: