Tucanos e petistas pensam em criticá-la só no final da campanha. Pode ser tarde demais
LEOPOLDO MATEUS E ALBERTO BOMBIG
29/08/2014 21h02
"Em 2002, nesta época, eu era vice-presidente da República. Já até comprava o terno para a posse. Terminamos em quarto lugar”, diz o deputado federal Paulinho da Força. Naquela ocasião, Paulinho era candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes. Em agosto de 2002, Lula liderava as pesquisas, Ciro estava em segundo – e, nas simulações para um eventual segundo turno, Ciro ganhava de Lula. Essa lembrança faz com que Paulinho veja com ceticismo a ascensão de Marina Silva (PSB) nas pesquisas eleitorais e acredite que o candidato tucano Aécio Neves, principal afetado pela subida de Marina nas pesquisas, ainda possa chegar à segunda fase da disputa.
Ainda assustados com a reviravolta no cenário das sondagens eleitorais após a morte de Eduardo Campos, tucanos e petistas estudam a melhor estratégia para enfrentar Marina. PT e PSDB se prepararam para uma eleição durante meses e, neste momento, disputam um pleito completamente diferente. “Na verdade, começou uma nova eleição. Tínhamos nos preparado para uma campanha. Agora é outra”, afirma o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG).
O tom do tucano Aécio Neves subiu já na semana passada. Ele afirmou que “o Brasil não é para amadores”, em clara referência à inexperiência de Marina em cargos de prefeito ou governador. Por enquanto, a cúpula de sua campanha decidiu que ele não atacará Marina em seus programas de TV. As declarações mais fortes contra ela deverão acontecer em eventos públicos. A expectativa é que o tom vá subindo de forma gradativa nas próximas semanas. “O PSDB não pode abrir mão do seu lugar: a oposição. Não pode permitir que se apropriem desse espaço que lhe pertence. A estratégia deve ser deslocar o oposicionismo oportunista com a necessária clareza”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
O tom do tucano Aécio Neves subiu já na semana passada. Ele afirmou que “o Brasil não é para amadores”, em clara referência à inexperiência de Marina em cargos de prefeito ou governador. Por enquanto, a cúpula de sua campanha decidiu que ele não atacará Marina em seus programas de TV. As declarações mais fortes contra ela deverão acontecer em eventos públicos. A expectativa é que o tom vá subindo de forma gradativa nas próximas semanas. “O PSDB não pode abrir mão do seu lugar: a oposição. Não pode permitir que se apropriem desse espaço que lhe pertence. A estratégia deve ser deslocar o oposicionismo oportunista com a necessária clareza”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
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O plano dos tucanos é associar a imagem de Marina a dois políticos que também se apresentavam como alternativa à política tradicional e tinham pouca estrutura partidária: Fernando Collor e Jânio Quadros. Além disso, eles creem que a campanha deverá expor incoerências de Marina e pontos obscuros da campanha do PSB. Para ser específico: Marina está em seu terceiro partido em cinco anos e surgiram vários mistérios em torno do avião em que Eduardo Campos morreu. Por último, os tucanos pretendem se adequar ao clima emocional que a campanha ganhou após a morte de Campos. A campanha de Aécio, cujo foco era sua capacidade administrativa, deverá passar a dar mais espaço ao “produto Aécio”, envolvendo aspectos como a família e as características pessoais.
O plano dos tucanos é associar a imagem de Marina a dois políticos que também se apresentavam como alternativa à política tradicional e tinham pouca estrutura partidária: Fernando Collor e Jânio Quadros. Além disso, eles creem que a campanha deverá expor incoerências de Marina e pontos obscuros da campanha do PSB. Para ser específico: Marina está em seu terceiro partido em cinco anos e surgiram vários mistérios em torno do avião em que Eduardo Campos morreu. Por último, os tucanos pretendem se adequar ao clima emocional que a campanha ganhou após a morte de Campos. A campanha de Aécio, cujo foco era sua capacidade administrativa, deverá passar a dar mais espaço ao “produto Aécio”, envolvendo aspectos como a família e as características pessoais.
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O impacto da entrada de Marina na corrida eleitoral trouxe problemas para Aécio até em sua terra natal. Em Minas, ele aparecia com mais de 40% das intenções de voto nas últimas pesquisas. Caiu para 34%. O projeto inicial, abrir em Minas uma vantagem próxima a 2,5 milhões de votos sobre a presidente Dilma, já parece inexequível. Em São Paulo, a avaliação de tucanos ligados ao governador Geraldo Alckmin e ao ex-governador José Serra é que Aécio precisa de um discurso mais firme contra o governo Dilma, para não perder completamente o eleitorado antipetista do Estado. O receio é que Aécio possa ser vítima de uma espécie de “voto útil” dos eleitores antipetistas. Eles poderão enxergar em Marina o melhor caminho para tirar Dilma do Planalto. “A gente sente a pressão, é óbvio, mas não chega a ser contestação. Evidente que há preocupações com todas essas mudanças no quadro. Mas nada que produza qualquer esmorecimento na luta”, diz o senador José Agripino (DEM-RN), coordenador nacional da campanha tucana.
O impacto da entrada de Marina na corrida eleitoral trouxe problemas para Aécio até em sua terra natal. Em Minas, ele aparecia com mais de 40% das intenções de voto nas últimas pesquisas. Caiu para 34%. O projeto inicial, abrir em Minas uma vantagem próxima a 2,5 milhões de votos sobre a presidente Dilma, já parece inexequível. Em São Paulo, a avaliação de tucanos ligados ao governador Geraldo Alckmin e ao ex-governador José Serra é que Aécio precisa de um discurso mais firme contra o governo Dilma, para não perder completamente o eleitorado antipetista do Estado. O receio é que Aécio possa ser vítima de uma espécie de “voto útil” dos eleitores antipetistas. Eles poderão enxergar em Marina o melhor caminho para tirar Dilma do Planalto. “A gente sente a pressão, é óbvio, mas não chega a ser contestação. Evidente que há preocupações com todas essas mudanças no quadro. Mas nada que produza qualquer esmorecimento na luta”, diz o senador José Agripino (DEM-RN), coordenador nacional da campanha tucana.
Os estrategistas de Dilma se encontram numa encruzilhada – e que pode ser resumida pelo dilema: “Bater ou não bater, eis a questão”. O dilema tem a ver com dois momentos recentes das campanhas do partido. Em 2012, o então candidato a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, chegou ao segundo turno após ter criticado à exaustão uma proposta de Celso Russomanno (PRB) – naquela eleição, ele fazia o papel de terceira via entre PT e PSDB. Russomanno falou que o preço da passagem de ônibus, em sua administração, seria proporcional ao percurso percorrido. Isso penalizaria a população mais pobre, que mora longe do centro de São Paulo. O PT soube explorar isso e turbinar a campanha de Haddad. Esse caso é visto como inspirador e estimula os petistas a ir para cima de Marina. Existe, no entanto, um exemplo oposto. Em 2008, também na eleição municipal em São Paulo, Marta Suplicy, em queda nas pesquisas, levou ao ar no rádio e na televisão um programa com questionamentos sobre a vida privada de seu adversário Gilberto Kassab. “Você sabe mesmo quem é o Kassab? É casado? Tem filhos?” A insinuação de mau gosto teve o efeito de uma bigorna amarrada aos pés de Marta. Ela perdeu a eleição.
O marqueteiro de Dilma, João Santana, também responsável pelas campanhas de Haddad em 2012 e de Marta em 2008, busca uma síntese entre esses dois caminhos. A estratégia é semelhante à dos tucanos: bater pouco agora, ir aumentando gradativamente. A campanha de Dilma deverá começar a atacar Marina Silva a partir do mês que vem, com mais intensidade na reta final do primeiro turno. Por duas razões. Primeiro, porque pesquisas internas do PT sugerem um risco, ainda pequeno, de Marina virar presidente já no dia 5 de outubro. Segundo, porque Marina não poderá chegar ao segundo turno com uma taxa de rejeição muito abaixo da apresentada hoje por Dilma. Na segunda fase da eleição, a rejeição tem um peso fundamental.
O marqueteiro de Dilma, João Santana, também responsável pelas campanhas de Haddad em 2012 e de Marta em 2008, busca uma síntese entre esses dois caminhos. A estratégia é semelhante à dos tucanos: bater pouco agora, ir aumentando gradativamente. A campanha de Dilma deverá começar a atacar Marina Silva a partir do mês que vem, com mais intensidade na reta final do primeiro turno. Por duas razões. Primeiro, porque pesquisas internas do PT sugerem um risco, ainda pequeno, de Marina virar presidente já no dia 5 de outubro. Segundo, porque Marina não poderá chegar ao segundo turno com uma taxa de rejeição muito abaixo da apresentada hoje por Dilma. Na segunda fase da eleição, a rejeição tem um peso fundamental.
Há ainda uma corrente do PT que defende críticas incisivas a Marina por parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem ela foi ministra do Meio Ambiente. Neste momento da campanha, Lula deverá ser preservado. De imediato, os ataques petistas se concentrarão nas redes sociais e questionarão as posições pessoais de Marina em relação ao aborto e à união civil entre pessoas do mesmo sexo, que a aproximam de um campo mais conservador. Enquanto tucanos e petistas se esforçam em busca de um antídoto contra Marina, os aliados dela se preparam. “Espero que todo mundo bata o quanto puder, porque apresentaremos propostas e programa de governo. Bater não funciona”, diz o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral. Ele quer evitar o nocaute – e, no mínimo, levar Marina a uma vitória por pontos.