Através de uma rede social recebi um vídeo em que, enquanto transmitido, ouve-se um texto de Louie Schwartzberg, chamado Gratitude. Nele, Louis - como também é conhecido -, trata de milhares de maravilhas do universo que diariamente estão à nossa volta e que, exatamente por serem frequentes, sequer são notadas.
Lembra que cada dia que nos é dado não é somente mais um dia, que o "hoje" é único, um presente dado a você - para que o viva neste exato momento - e a única reação apropriada seria o agradecimento, o que praticamente nunca fazemos.
O amanhecer com sol, nuvens, chuvoso, frio ou quente, só nos interessa pela temperatura, para saber quais roupas teremos de utilizar, se devemos nos agasalhar ou não, mas raramente chama a atenção por sua beleza única, que com a mesma intensidade de cores, posição do sol ou das nuvens, certamente jamais se repetirá.
Há muito poucos anos, diante de um grupo de pessoas onde estava, comentei ser uma pena não haver trazido uma máquina fotográfica para poder, naquele momento, fotografar a beleza de uma flor que via e a reação de uma pessoa que me ouviu, foi dizer que fotografar flores era "coisa de viado". Essa parece ser uma reação normal, pois as pessoas até se assustam quando alguém enxerga o que elas só viram e, normalmente, são necessárias décadas de vida e amadurecimento, para que alguém - se aprender - enxergue e não somente veja o que está ao seu lado.
Ouvindo a mensagem transmitida enquanto via o vídeo, percebi que residindo em um prédio que proporciona a visão de uma paisagem maravilhosa, raramente me coloco a observá-la e muito menos os detalhes por ela proporcionados, como o de um casal de araras - por mim já fotografado - que toda manhã fazia barulho nas folhagens de um buriti localizado na mesma quadra, agora expulso dali pelo proprietário da casa, que cortou a árvore onde ficavam.
Pensei em quantas pessoas ao redor do mundo jamais tiveram a oportunidade de ver a paisagem do alto de um prédio, ou sequer viram um prédio, entraram em um elevador, coisas corriqueiras que sequer percebemos que fazemos. Que em nosso próprio país, milhares nascem, crescem, vivem e morrem, sem sequer terem ido a um grande centro populacional ou visto o mar.
O texto fala da simplicidade com que abrimos uma torneira e a água tratada, potável, escorre por ela, enquanto milhões de pessoas jamais viram água encanada, passam sede ou vão buscar água a quilômetros de distância, na mesma poça onde bebem, urinam e evacuam todos os animais da região.
Enquanto existem países com enormes regiões desérticas, apesar de em nosso país termos algumas áreas com menos água, possuímos rios enormes como o Amazonas, São Francisco, Paraná, Paranapanema e tantos outros, além de enormes regiões alagadas como o Pantanal do Mato Grosso do Sul e, em nosso subsolo, o fantástico Aquífero Guarani.
Assim, penso que realmente devemos passar a observar mais os detalhes à nossa volta, deixar que as maravilhas que nos circundam cumpram o seu papel principal, de nos fazer enxergar o quanto somos felizes.
Sempre que passar por alguma dificuldade, olhe para os lados e agradeça, pois milhões jamais tiveram ou terão o que possui.
João Bosco Leal*
*Escritor, jornalista e empresário