Para manter cordão sanitário com Serra Leoa, soldados recebem ordens para atingir nas pernas os imigrantes ilegais
MONRÓVIA - As Forças Armadas da Libéria receberam ordem para atirar em quem tentar furar o cordão sanitário criado há cinco dias para tentar conter o vírus Ebola. A informação foi dada pelo jornal Daily Observer. O medo do surto ainda fez Camarões anunciar o fechamento da fronteira com a Nigéria. O mesmo será feito nesta terça pelo Quênia em relação à Guiné.
A ordem de atirar em quem tentar furar a barreira sanitária foi dada para os soldados nos Condados de Bomi e Grand Cape Mount, na fronteira noroeste do país com Serra Leoa. Segundo o jornal, a ordem de atirar em quem tentar atravessar a fronteira ilegalmente foi dada pelo subchefe do Estado-Maior, o coronel Eric W. Dennis, atendendo a determinações da presidente, Ellen Johnson-Sirleaf.
O diretor do Escritório de Imigração e Naturalização, o coronel Samuel Mulbah, informou que foram registradas entradas ilegais na área de Bo Watersidade. À noite, “alguns indivíduos sem escrúpulos” estariam aproveitando para oferecer a travessia da fronteira em canoas caseiras.
Mulbah destacou nos informes oficiais, segundo o Daily Observer, que “não sabemos o estado de saúde das pessoas que utilizam essas embarcações”. Até agora, o surto já matou 1.145 pessoas, a maioria na região da tríplice fronteira entre Libéria, Serra Leoa e Guiné.
Em uma ordem militar direta, Dennis ordenou aos soldados na área que não hesitem em atirar nas pernas de qualquer indivíduo que entre de forma ilegal na Libéria, vindo de Serra Leoa. “Dessa forma, ao ser atingido, ele se dará conta de que está violando a lei de outro país”, ressaltou o subchefe.
Medo. O receio em relação ao avanço do vírus cresce a cada dia. Apesar de a Organização Mundial de Saúde (OMS) reenviar um informe oficial aos países que não registraram casos da doença até agora, solicitando que mantenham o livre trânsito de pessoas, alimentos e comércio em geral, Camarões anunciou nesta segunda o fechamento da fronteira com a Nigéria - país que confirmou dez infecções na última semana.
“Nossa lógica é de que é preferível prevenir a curar”, disse o ministro camaronês da Comunicação, Issa Chiroma Bakary. Segundo a rádio estatal CRTV, houve forte pressão dos governos regionais na decisão - são 250 quilômetros de fronteira com a Nigéria. Outra justificativa, envolvendo esse grande território, é de que a OMS já admitiu a necessidade de controlar o trânsito de pessoas doentes.
A partir desta terça, o Quênia também fechará as fronteiras com a Guiné. A alegação é de que a medida é “temporária”. Não há, por enquanto, nenhuma restrição em relação à Nigéria.
Cúpula. Já Burkina Faso, que também não registrou nenhum caso de Ebola até agora, suspendeu o Encontro de Cúpula da União Africana sobre Pobreza, previsto para setembro, por causa do “desafio” da doença.
Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anuncia que terá de abastecer com comida 1 milhão de pessoas mantidas em zonas de quarentena nos países africanos afetados pelo vírus do Ebola. Dados divulgados nesta terça-feira, 19, em Genebra apontam que os números de mortos e pessoas afetadas continuam aumentando e, para a OMS, o estabelecimento dessas zonas de quarentena são "fundamentais".
"É importante conter a doença. Se isso acontecer, ganhamos a guerra", declarou a porta-voz da entidade, Fadela Chaib. Ela admite, porém, que a ONU jamais foi obrigada a alimentar 1 milhão de pessoas por conta de um surto de doença.
Pelo menos quatro áreas foram isoladas na Serra Leoa, na Libéria e na Guiné. No caso liberiano, as Forças Armadas foram instruídas a atirar em quem tentar escapar. Cordões sanitários foram estabelecidos em Guéckédou, na Guiné, Kenema e Kailahun, na Serra Leoa, e Foya, na Libéria.
A OMS insiste em defender a medida e garante que a restrição não é uma contradição em relação ao fato de que não recomenda que viagens sejam banidas para esses países. Mas insiste que as pessoas mantidas nessas regiões precisam ser alimentadas e o abastecimento de água deve ser garantido.
Segundo a OMS, as mortes por Ebola na África Ocidental subiram para 1.229. O número representa mais de 50% do total de casos detectados. Ao todo, 2.240 pessoas foram infectadas na Guiné, na Libéria, na Nigéria e na Serra Leoa. Os números incluem 84 mortes entre 113 novos casos reportados entre 14 e 16 de agosto.
Imagens:
1) Liberiano observa o corpo de um homem suspeito de ter morrido por causa do Ebola
2) Forças Armadas da Libéria receberam ordem para atirar em quem tentar furar o cordão sanitário
Fonte: Estadão