Anita Martins
O primeiro papa que visitou o país foi João Paulo II, com apenas dois anos de pontificado. Ele levou uma multidão de 4,5 milhões de católicos e não católicos às ruas e mexeu com o Brasil.
O papa chegou em 30 de junho a Brasília, onde realizou o gesto célebre de ajoelhar-se e beijar o chão, saudando a terra que acabava de pisar. Até 11 de julho, quando embarcou de volta ao Vaticano, passou por Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Aparecida (SP), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Manaus (AM), Recife (PE), Salvador (BA), Belém do Pará (PA), Teresina (PI) e Fortaleza (CE).
Nas semanas que antecederam a chegada, políticos, artistas e pessoas comuns discutiam quem iria e quem não iria ver o Santo Padre, por que iria e por que não iria, o que faria quando o visse e o que não faria.
Durante os dias da visita, bancos e repartições públicas fecharam, teatros atrasaram os espetáculos e esquemas rodoviários foram alterados. Essa passagem de João Paulo II foi uma das maiores movimentações populares já registradas no país.
Para a vinda do pontífice, foi montado um forte esquema de segurança, considerado o maior da história. Cerca de 9 mil homens foram destacados para cuidar do papa e dos fiéis que o seguiram. Nem a vinda do presidente da França, Charles de Gaulle, em 1964, nem a do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, em 1978, causaram tanto furor.
João Paulo II fez seus discursos com clareza e sem rodeios. Em pleno regime militar, defendeu justiça social, liberdade sindical, reforma agrária, direitos humanos e educação sexual. Por outro lado, condenou a Teologia da Libertação - escola controversa da Igreja Católica que, com influências marxistas, enfatiza a situação social da população - e o aborto.
O governo de João Paulo II
Naquele momento, o pontificado de João Paulo II, então com 60 anos, ainda não estava consolidado. O professor de história da Universidade de Bolonha, Giuseppe Alberigo, avaliava o governo de João Paulo II como contraditório. "Ele faz coisas no sentido de abertura como a multiplicação de suas viagens, o progresso nas questões ecumênicas. E faz coisas de indiscutível fechamento, sobretudo quando se trata de atos internos da Igreja", afirmou em entrevista à revista Veja.
Apesar disso e do pouco tempo no trono papal, João Paulo II já era considerado a figura mais popular do planeta. Até por causa de suas viagens.
A vinda ao Brasil em 1980 foi a sétima chamada peregrinação internacional de seu papado. Pela tradição sedentária da Igreja, antes de João Paulo II, somente um papa, seu antecessor Paulo VI, havia viajado bastante e, mesmo assim, não tanto quanto ele.
Mas nenhuma das viagens do papa até aquele momento se comparariam à brasileira. O Santo Padre havia ido à República Dominicana, México, Bahamas, Polônia, Turquia, Irlanda, Estados Unidos, França e outros seis países africanos. No Brasil, João Paulo II percorreu 13 cidades, ou 30 mil quilômetros, em 12 dias.
Um dos principais motivos para a grandiosidade da viagem foi a importância que a nação tinha (e tem) para o catolicismo. O Brasil já era (e continua sendo) o maior país católico do mundo. No Censo de 1970, 90% da população (63 milhões) se declarava católica. No último Censo, de 2000, a porcentagem caiu para 73,8% (125 milhões), o que não mudou o valor que o Vaticano atribui ao Brasil.