segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Os skatistas, a privatização da praça, o gás de pimenta e a cultura da reclamação


Ai, ai…
Assim começo os textos quando movido por aquele tédio provocado pelas coisas fora do lugar. Há eventos aparentemente bestas, mas que valem quase como uma sentença definitiva de condenação. Civilização? Respeito ao outro? Do escritório da Presidência da República ao banco da praça, vale a máxima segundo a qual o que é de todos é, então, de ninguém.
Soldados da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo se envolveram numa confusão com skatistas na Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo. O quiproquó aconteceu no dia 4 passado, uma sexta-feira gorda. Um dos praticantes do “esporte” filmou parte da confusão, editou a coisa como quis e meteu o vídeo no YouTube. Até agora, são 408.047 acessos. Antes que eu comente qualquer coisa, segue o vídeo. Volto em seguida.

VolteiVamos ver. É claro que há mais do que sete erros no que se vê acima. O que faz um representante da GSM sem farda? A julgar pelas imagens — editadas, repito —, o spray de pimenta era desnecessário. O rapaz que está sendo imobilizado, ao menos no trecho levado ao ar, não parece oferecer resistência.
A Secretaria de Segurança Urbana — sim, o prefeito Fernando Haddad criou uma — emitiu nota nesta segunda informando que os guardas envolvidos no episódio foram afastados e anunciando a abertura de uma sindicância.
Como se chegou a isso?A Praça Roosevelt ficou dois anos fechada para reforma. Foi reaberta no dia 29 de setembro. Informação para os que não conhecem a região: trata-se de uma área densamente povoada. No dia seguinte à entrega da nova praça, os skatistas ocuparam o local. Eles privatizaram o espaço público. Não são exatamente “garotos”. Os marmanjos intimidam os demais usuários do local — que correm, sim, risco de ser atropelados por suas manobras.
Os bancos foram transformados em obstáculos e plataforma de suas manobras. Prestem atenção em como funcionam as coisas num país que mistura uma histórica cultura de desrespeito ao espaço público com o “militantismo” politicamente correto do que Robert Hughes chamou “a cultura da reclamação”. Vamos lá.
A Praça Rossevelt foi projetada para a prática do skate? Resposta: “Não!”. Os bancos foram pensados para ser obstáculos e plataforma de manobras? Resposta: “Não!”. Por isso, diga-se, muitos já estão quebrados. É possível conciliar o passeio de pedestres com skatistas tomados pelos fumos da adrenalina? Se você quer ter a perna, o braço ou crânio rachados, a resposta é “sim”.
Qual era a única coisa sensata a fazer? Ora, o óbvio: PROIBIR A PRÁTICA DO SKATE NO LOCAL. É o que se faria nas boas democracias do mundo. O espaço, que é de todos, não pode nem ser entendido como espaço de ninguém nem como espaço de um grupo. Mas se escolheu outro caminho.
Em outubro, fez-se uma reunião, calculem, com representantes de uma associação de moradores da região e… dos skatistas! Sim, esses marmanjos — que, tudo indica, já estão com a vida ganha — foram tomados como parte legítima de uma causa, embora, por óbvio, não o sejam. Eles têm o direito de apresentar ao poder público a petição que lhes der na telha. Podem até reivindicar a derrubada da igreja que fica ao lado e a construção, no lugar, de uma pista de skate. Incompreensível é que a Prefeitura os tenha levado a sério.
Feita a reunião, chegou-se a um “acordo”: eles só poderiam usar uma parte da praça entre, atenção!, 8h e 23h!!! Quando eu ficar menor (consta que a gente perde altura com a velhice), vou ser skatista! Quero 15 horas do dia para não fazer po..a nenhuma! Só para andar de skate e fumar Hollywood. E ainda reclamar do poder público. O que há de fabuloso na definição desse intervalo? É que os “esportistas” skateavam noites adentro e madrugadas afora. Aquela parte dos paulistanos que moram por ali e que dormem de noite e trabalham de dia (refiro-me àquela minoria que costuma  gerar riqueza e recolher impostos) reclama do barulho.
Como não existe — que eu saiba! — um sindicato de skatistas e como as pessoas que praticam esse “esporte” são livres pensadores, é claro que o acordo não funcionou. Eles continuam a ser os donos da praça. E os demais usuários que se danem.
De volta à confusãoA confusão começou quando os guardas metropolitanos tentaram, de modo obviamente impróprio, coibir o uso inadequado da praça. Aí deu tudo errado. É evidente que se tem ali a expressão clara do despreparo. Os soldados dizem que foram recebidos a pedradas. Não se vê isso no vídeo editado. Ainda que seja verdade, a conduta ficou longe do desejável.
Mas se trata de um erro derivado de outro, este de origem: os skatistas não têm de estar ali, ora bolas! Eles não podem privatizar o espaço público. Mas sabem como é… Na era da cultura da reclamação, cada tribo e cada grupelho têm mais é de reivindicar o que consideram os seus “direitos”. Qualquer noção de dever se confunde com repressão e reacionarismo.
E olhem que a coisa só não pegou fogo pra valer nas redes sociais porque, agora, o prefeito é Fernando Gugu-Haddad, o político cute-cute, que resolve tudo com amor, caras e bocas. O spray de pimenta foi só um acidente de percurso. É claro que a nova secretaria não pode ser responsabilizada pelos excessos — e falo sério. Imaginem, no entanto, qual seria a reação da rede petralha se o novo prefeito fosse um tucano… Haveria o risco de o senador Eduardo Suplicy liderar uma manifestação de skatistas, ao som de Blowin’ in the Wind ou de alguns versos dos Racionais MC’s.  
by Reinaldo Azevedo

The Best. by Deise













                                                      Fotos by Jadson Lira. (via Facebook)

Existem pessoas que tornam a tolerância tão difícil, que esta deveria ser considerada praticamente em superpoder. [Fernanda Young]


He rolled a feeling ...by Deise


Golaço da corrupção



Aprovada em comissão especial da Câmara dos Deputados, a proposta de emenda constitucional que restringe os poderes de investigação do Ministério Público é um golaço para o time da corrupção.
Ainda não foi aprovada em plenário, mas deve ser encarada como um grave entrave ao combate à corrupção. O Ministério Público corre o risco de ser impedido de investigar. E isso, certamente, não será bom para o Brasil.
É preciso refletir sobre os riscos de uma proposta que visa cercear, tolher e manietar a instituição que, de forma mais eficaz e notória, combate a crônica impunidade reinante no País. De fato, o Ministério Público, em colaboração com a Polícia Federal, tem conseguido esclarecer diversos casos de corrupção. Tratam-se de instituições que prestam inestimável serviço à sociedade.
Será que o Ministério Público, que é quem forma as convicções sobre a autoria do crime, não pode fazer diligências para ele mesmo se convencer?
Está em andamento um movimento para algemar a instituição. Se o Congresso excluir o MP do processo investigatório, o reflexo imediato será o questionamento sobre a legalidade e até a completa anulação de importantes apurações.
Vejo com bons olhos o protagonismo do Ministério Público no combate aos predadores da sociedade. Se membros do MP cometem abusos, é preciso aperfeiçoar os mecanismos de controle, em vez de restringir sua atuação.
Se não houver uma mobilização da opinião pública contra a chamada PEC da Impunidade, a sociedade pode descobrir tarde demais que os corruptos estão ganhando um passaporte definitivo para a impunidade.
Alguns políticos vislumbram abusos em certas ações do Ministério Público e querem esvaziar as atribuições investigatórias da instituição. Trata-se de uma proposta contraria aos interesses da sociedade.
Se existe uma instituição que tem contribuído para a construção de um novo país, democrático e republicano, tem sido o Ministério Público, responsável pela vigilância no gasto do dinheiro público, na defesa do meio ambiente e na ação contra criminosos, inclusive aqueles com maior poder econômico ou político.
O papel do Ministério Público, guardadas as devidas proporções, se aproxima, e muito, da dimensão social da imprensa. A atividade exige, por óbvio, independência e sensibilidade ética.
Preocupam-se alguns com os riscos de prejulgamento que podem advir de uma declaração precipitada e pública da autoridade (leia-se do Ministério Público) estampada em manchete de jornal. Procuram, por isso, criar um sistema que proteja a intimidade e garanta a presunção de inocência de pessoas submetidas a um processo investigativo.
Esse cuidado legítimo, contudo, pode transformar em regra o que deveria ser rigorosamente uma exceção. O segredo de justiça pode ser uma salvaguarda da honra. A experiência, no entanto, demonstra que essa cautela jurídica tem, frequentemente, sido uma aliada da impunidade.
O princípio da presunção de inocência deve ser garantido, mas não à custa da falta de transparência. O princípio constitucional da publicidade, pelo qual qualquer cidadão tem direito a obter das autoridades públicas informações de interesse pessoal e geral, é, na expressão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), “verdadeira pedra angular sobre a qual se edifica o Estado Democrático de Direito, pois a exigência de transparência na prática governamental qualifica-se como prerrogativa inalienável que assiste a todos os cidadãos”.
Fatos recorrentes evidenciam a importância da informação jornalística e da ação do Ministério Público como instrumento de realização da justiça. Alguém imagina, por exemplo, que o julgamento do mensalão teria sido possível sem a pressão de um autêntico jornalismo de denúncia?
O Ministério Público, muitas vezes, é acionado por fundamentada apuração jornalística. É o ponto de partida. Ninguém discute que o Brasil tem avançado graças ao esforço dos meios de comunicação, mas também graças ao trabalho do Ministério Público.
A informação é a base da sociedade democrática. Precisamos, sem dúvida, melhorar os controles éticos da notícia. Consegue-se tudo isso não com censura ou limitações informativas, mas com mais informação e com mais pluralismo.
O mesmo se pode dizer do trabalho do Ministério Público. Como escreveu a jornalista Rosane de Oliveira, respeitada colunista de Política do jornal Zero Hora, “em um país em que a polícia carece de recursos para investigar homicídios, tráfico de drogas, roubo de carros e outros crimes, não se compreende a briga pela exclusividade na investigação, típica disputa de beleza entre as corporações. Em vez de as instituições unirem forças, tenta-se com essa emenda constitucional impedir o Ministério Público de investigar. Mais fácil é entender o sucesso do lobby no Congresso: boa parte da classe política não suporta os promotores com sua mania de investigar denúncias de mau uso do dinheiro público. Entre promotores e procuradores, uma das frases mais repetidas é que uns não gostam do Ministério Público porque não conhecem seu trabalho, e outros, porque conhecem bem demais”.
A corrupção é, de longe, uma das piores chagas que maltratam o organismo nacional. Esperemos, todos, que o Congresso Nacional não decida de costas para a cidadania.
É preciso que a sociedade civil, os juristas, os legisladores, você, caro leitor, e todos os que têm uma parcela de responsabilidade na formação da opinião pública façam chegar aos parlamentares, com serenidade e firmeza, um clamor contra a impunidade e uma defesa contundente do papel do Ministério Público no combate à corrupção.

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciência Sociais – IICS (www.iics.edu.br) e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia . E-mail: difranco@iics.org.br

 Fonte blog do Noblat

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