José Genoíno, 66 anos, tem uma história de idealismo e de lutas, quanto a isso não resta a menor dúvida.
Menino, deu duro no roçado, em Várzea Redonda, Quixeramobim. As primeiras letras aprendeu mesmo em casa.
Em entrevista que concederia à Isto É, anos depois, recordou o quanto os pais, pobres valorizavam a educação.
Era inteligente e diligente, qualidades que sensibilizaram o Padre Salmito, que lhe abriu caminho promissor, em Senador Pompeu, cidade ao pé da Serra do Patu.
“Queria ler mais e mais para poder ir embora, então comecei a me esforçar para ser o primeiro da classe”, disse Genoíno em entrevista à Isto É.
Em Senador Pompeu, no tempo livre, o programa dos meninotes era o bate-papo e a brincadeira com os amigos na Praça da Matriz.
Com os mais velhos, a conversa era sobre o futuro – a construção de Brasília-; sobre o agitado presente de Jânio e Jango, e sobre o passado, de Getúlio Vargas, de Virgulino e do Padre Cícero, cada qual, a seu modo, um defensor dos pobres e dos oprimidos.
Recordavam também da seca de 1932; dos flagelados, confinados em acampamentos, ali mesmo, na barragem do Açude Patu, onde, vítimas do desleixo público, morreran aos milhares.
E então o movimento messiânico do Caldeirão de Santa Cruz, nas bandas do Crato, extinto a ferro e fogo pelo governo, com grande morticínio, em 1937?
Genoíno conseguiu apoio para estudar em escola particular. Em contrapartida, auxiliava nas atividades da paróquia.
Pelas mãos do Padre Salmito, começou também a se interessar pela política. O tempo da enxada ficara para trás.
O jovem e idealista estudante partiu em 1964, aos 18 anos, para Fortaleza, decidido a lutar pelo fim das injustiças no Brasil, mas ao mesmo tempo dando sinal de fascínio pelo futuro.
Entrou para a União Nacional dos Estudantes, mas entrou também para a IBM, onde passou dois anos operando computadores.
O resto está aí, disponível na Wikipedia: filia-se ao PC do B, em 1970 integra-se à guerrilha do Araguaia. Preso em 1972, passa cinco anos na prisão. Solto em 1977, leciona história. Foi anistiado em 1979. Mais tarde chegaria à presidência do PT.
Não encontrei, contudo, coisa que tivesse escrito nos anos setenta e que nos permitiria conhecer melhor seu pensamento político no começo de sua trajetória. Há a esse respeito hiatos no depoimento que deu a Denise Paraná, sua biógrafa, autora de O Sonho e o Poder, de agosto de 2006.
A biografia, apresentando o biografado em boa luz, chegou às livrarias em momento adequado.
Aqueles meados da década de 2000 foram perturbadores.
Em 2005, um funcionário do PT cearense, assessor do irmão de Genoíno – José Nobre Guimarães, o deputado cearense mais votado em 2006 - foi preso com 200 mil reais em uma mala e 100 mil dólares em espécie escondidos na cueca.
Nada foi provado que vinculasse o flagrado assessor ao chefe ou ao Partido. Segundo o registro de Veja, apesar do flagrante, o assessor teve a prisão relaxada logo em seguida: a Justiça considerou que carregar dinheiro na cueca, a rigor, não é crime, e que caberia à polícia provar sua origem ilícita.
Mas mesmo assim, o PT não deu mole. O assessor foi expulso da executiva do partido no Ceará e perdeu o emprego.
2005 foi também o ano em que Genoíno deixou a presidência do PT.
Quando saiu o livro de Denise Paraná, em agosto de 2006, Genoíno já fora denunciado pelo Procurador Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF) como um dos líderes do suposto grupo responsável pelo mensalão.
Em agosto de 2007, o STF aceitou a denúncia de Genoino e outros 11 réus pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha.
O deputado, que passou a contar com foro privilegiado em razão da sua eleição em 2006, começou a ser julgado por formação de quadrilha e corrupção ativa no STF em agosto de 2012.
Foi condenado pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha pelo Supremo Tribunal Federal em 9 de outubro de 2012.
Em toda essa história parece que faltou uma coisa ao pequeno de Várzea Redonda, talvez por conta das dificuldades da infância, da sofrida história da região e dos ensinamentos da cartilha do comunismo: acreditar na democracia.
Genoíno não entrou para a luta armada para defender a liberdade e a democracia, mas para trocar uma forma de autoritarismo por outra.
A cartilha pela qual sempre rezou não apreciava as práticas democráticas, percebidas como manifestações burguesas,
Muito menos considerava a Democracia instrumento eficaz de mudança e de justiça social. O único a não transferir o poder para grupos autoritários que se consideram os donos da verdade.
Democracia exige verdadeiros líderes, interessados em fazer boa política, colocando os interesses de toda a sociedade acima dos seus pessoais ou aqueles partidários, quando contrários ao bem comum e ao direito.
Ontem, ao tomar posse como deputado federal, o condenado pelo mais alto tribunal do país por sérias violações à lei, só fez proclamar o valor das leis dos procedimentos democráticas:
- Além da minha consciência serena de inocente (sic), estou cumprindo o dever como deputado federal, respeitando as leis do meu país e as leis constituídas da República”, afirmou.
Pode estar tudo dentro da lei, viva o Estado do Direito.
Mas eticamente, um desastre. Desgasta-se mais um pouco a já combalida imagem do Congresso brasileiro.
|Em entrevista que concederia à Isto É, anos depois, recordou o quanto os pais, pobres valorizavam a educação.
Era inteligente e diligente, qualidades que sensibilizaram o Padre Salmito, que lhe abriu caminho promissor, em Senador Pompeu, cidade ao pé da Serra do Patu.
“Queria ler mais e mais para poder ir embora, então comecei a me esforçar para ser o primeiro da classe”, disse Genoíno em entrevista à Isto É.
Em Senador Pompeu, no tempo livre, o programa dos meninotes era o bate-papo e a brincadeira com os amigos na Praça da Matriz.
Com os mais velhos, a conversa era sobre o futuro – a construção de Brasília-; sobre o agitado presente de Jânio e Jango, e sobre o passado, de Getúlio Vargas, de Virgulino e do Padre Cícero, cada qual, a seu modo, um defensor dos pobres e dos oprimidos.
Recordavam também da seca de 1932; dos flagelados, confinados em acampamentos, ali mesmo, na barragem do Açude Patu, onde, vítimas do desleixo público, morreran aos milhares.
E então o movimento messiânico do Caldeirão de Santa Cruz, nas bandas do Crato, extinto a ferro e fogo pelo governo, com grande morticínio, em 1937?
Genoíno conseguiu apoio para estudar em escola particular. Em contrapartida, auxiliava nas atividades da paróquia.
Pelas mãos do Padre Salmito, começou também a se interessar pela política. O tempo da enxada ficara para trás.
O jovem e idealista estudante partiu em 1964, aos 18 anos, para Fortaleza, decidido a lutar pelo fim das injustiças no Brasil, mas ao mesmo tempo dando sinal de fascínio pelo futuro.
Entrou para a União Nacional dos Estudantes, mas entrou também para a IBM, onde passou dois anos operando computadores.
O resto está aí, disponível na Wikipedia: filia-se ao PC do B, em 1970 integra-se à guerrilha do Araguaia. Preso em 1972, passa cinco anos na prisão. Solto em 1977, leciona história. Foi anistiado em 1979. Mais tarde chegaria à presidência do PT.
Não encontrei, contudo, coisa que tivesse escrito nos anos setenta e que nos permitiria conhecer melhor seu pensamento político no começo de sua trajetória. Há a esse respeito hiatos no depoimento que deu a Denise Paraná, sua biógrafa, autora de O Sonho e o Poder, de agosto de 2006.
A biografia, apresentando o biografado em boa luz, chegou às livrarias em momento adequado.
Aqueles meados da década de 2000 foram perturbadores.
Em 2005, um funcionário do PT cearense, assessor do irmão de Genoíno – José Nobre Guimarães, o deputado cearense mais votado em 2006 - foi preso com 200 mil reais em uma mala e 100 mil dólares em espécie escondidos na cueca.
Nada foi provado que vinculasse o flagrado assessor ao chefe ou ao Partido. Segundo o registro de Veja, apesar do flagrante, o assessor teve a prisão relaxada logo em seguida: a Justiça considerou que carregar dinheiro na cueca, a rigor, não é crime, e que caberia à polícia provar sua origem ilícita.
Mas mesmo assim, o PT não deu mole. O assessor foi expulso da executiva do partido no Ceará e perdeu o emprego.
2005 foi também o ano em que Genoíno deixou a presidência do PT.
Quando saiu o livro de Denise Paraná, em agosto de 2006, Genoíno já fora denunciado pelo Procurador Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF) como um dos líderes do suposto grupo responsável pelo mensalão.
Em agosto de 2007, o STF aceitou a denúncia de Genoino e outros 11 réus pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha.
O deputado, que passou a contar com foro privilegiado em razão da sua eleição em 2006, começou a ser julgado por formação de quadrilha e corrupção ativa no STF em agosto de 2012.
Foi condenado pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha pelo Supremo Tribunal Federal em 9 de outubro de 2012.
Em toda essa história parece que faltou uma coisa ao pequeno de Várzea Redonda, talvez por conta das dificuldades da infância, da sofrida história da região e dos ensinamentos da cartilha do comunismo: acreditar na democracia.
Genoíno não entrou para a luta armada para defender a liberdade e a democracia, mas para trocar uma forma de autoritarismo por outra.
A cartilha pela qual sempre rezou não apreciava as práticas democráticas, percebidas como manifestações burguesas,
Muito menos considerava a Democracia instrumento eficaz de mudança e de justiça social. O único a não transferir o poder para grupos autoritários que se consideram os donos da verdade.
Democracia exige verdadeiros líderes, interessados em fazer boa política, colocando os interesses de toda a sociedade acima dos seus pessoais ou aqueles partidários, quando contrários ao bem comum e ao direito.
Ontem, ao tomar posse como deputado federal, o condenado pelo mais alto tribunal do país por sérias violações à lei, só fez proclamar o valor das leis dos procedimentos democráticas:
- Além da minha consciência serena de inocente (sic), estou cumprindo o dever como deputado federal, respeitando as leis do meu país e as leis constituídas da República”, afirmou.
Pode estar tudo dentro da lei, viva o Estado do Direito.
Mas eticamente, um desastre. Desgasta-se mais um pouco a já combalida imagem do Congresso brasileiro.
by Pedro Luiz Rodrigues