sábado, 14 de abril de 2012
Agnelo descarta renúncia: 'não tenho culpa no cartório'
by Estadão
André Dusek/AE
"Agnelo Queiroz afirma que não há fatos
que liguem seu governo com Cachoeira"
BRASÍLIA - Identificado pela Polícia Federal como o '01 de
Brasília' e o 'Magrão', citado em diálogos da quadrilha comandada pelo
contraventor Carlinhos Cachoeira, o governador do Distrito Federal, Agnelo
Queiroz (PT), está sob pressão do seu partido, com o governo sob vigilância do
Planalto e como protagonista de uma crise que faz ressuscitar o fantasma da
intervenção federal. Auxiliares diretos seus se envolveram ou tentaram se
aproximar do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Mesmo assim, em entrevista ao Estado, Agnelo garante que não
vai renunciar nem se afastar do cargo 'sob qualquer hipótese'. A não ser uma:
'Só se me abaterem fisicamente', diz, reproduzindo inconscientemente o script do
ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, de que só deixaria o governo a bala - e
que saiu demitido. 'Tenho conversado com a presidente Dilma', adverte, para
sinalizar apoio.
Cercado por denúncias desde que assumiu o cargo em 2011, e com
baixos índices de popularidade, Agnelo é alvo de inquérito criminal no Superior
Tribunal de Justiça (STJ) por suspeita de irregularidades desde seus tempos no
Ministério do Esporte (2003-2006) e, depois, como diretor da Agência de
Vigilância Sanitária (2007-2010). Agora é alvo também da CPI mista do Congresso
que vai investigar as atividades de Cachoeira. Além do apoio da presidente
Dilma, garante que tem o da direção do PT para resistir às pressões. 'O cara só
pensa nisso (renúncia) se tem culpa no cartório. E eu não tenho', afirma. Ele
vê, na CPI, uma oportunidade de provar sua inocência.
O governador disse que encontrou no governo uma máquina pública
dominada por 'corrupção sistêmica' e, assim, atraiu a ira de grupos econômicos
poderosos contrariados. Disse também ter-se encontrado apenas uma vez com
Cachoeira, numa reunião com empresários da indústria farmacêutica, em 2009 ou
2010, e negou que tenha recebido apoio financeiro ou caixa dois para sua
campanha.
O senhor vai renunciar ou se afastar do cargo para facilitar as
investigações?
Absolutamente. O cara só pensa nisso se tem culpa no cartório.
Defendo a CPI e quero a apuração disso porque não tenho culpa no cartório.
O Planalto mandou reforços federais para seu governo, numa
espécie de intervenção branca. O sr. perdeu o apoio da presidente Dilma e do
PT?
Os reforços foram iniciativa nossa. Não foi nada (de
intervenção ou socorro) do Planalto. Passei um ano e três meses paquerando para
trazer um grande quadro federal, que é daqui de Brasília, o Luiz Paulo Barreto
(ex-ministro da Justiça, que assumiu a Secretaria de Planejamento do GDF esta
semana). Não houve intervenção. Só fala isso quem não conhece a presidente
Dilma. Não tem acontecido isso (abandono do Planalto ou do PT). Tenho conversado
com a presidente. Ontem mesmo (quinta-feira) estive com o presidente Rui Falcão
(do PT). Tenho apoio de vários partidos e da minha bancada inteira no DF.
O presidente Rui Falcão afirmou que a CPI vai servir para
desmascarar a farsa do mensalão...
Acho que ela vai desmascarar mesmo os ataques contraditórios
que estou sofrendo. Estão tentando fazer com que a população acredite que há uma
ligação (minha com Cachoeira). Mas os diálogos mostram o contrário: que os caras
não conseguiram (emplacar o lobby). Não há um único exemplo de o cara ter
emplacado alguma coisa.
Brasília vive o trauma de escândalos recentes, como o da Caixa
de Pandora, que provocaram a prisão e cassação de um governador e indiciamento
de vários políticos. O sr. teme ser punido por esse clima de clamor público?
Essa crise não é minha nem do PT, nem de Brasília. Não há um
único fato que mostre envolvimento do governo do DF com esse grupo (de
Cachoeira).
E quanto às suspeitas de favorecimento da Delta nos contratos
com o GDF?
Não teve nenhuma facilidade, sequer um aditivo em favor da
Delta. Ela só está aí porque ganhou na Justiça o direito de manter o
contrato.
Porque então o sr., eleito governador em 2010, pediu ao
governador em exercício, Rogério Rosso, a prorrogação do contrato com a Delta?
Não é uma forma de beneficiar?
Em absoluto. Fiz um pedido genérico em relação a serviços
essenciais do governo. Se não, quem vai recolher o lixo?
O que se coloca nos diálogos interceptados é que a Delta e
Cachoeira deram apoio financeiro à sua candidatura e depois cobraram a fatura em
forma de nomeações e contratos.
Nego absolutamente. Cite uma nomeação ou contrato. A nomeação
do João Monteiro (SLU) foi minha. É uma pessoa séria, não tem vinculação nenhuma
com esse segmento.
Com relação ao Cachoeira, num primeiro momento o sr. disse que
não o conhecia e depois admitiu ter tido um contato com ele. Como foi esse
contato e do que trataram?
Há uma forçação de barra brutal. Chegaram a publicar, a partir
de diálogos de terceiros, que eu estava pedindo uma audiência com o Cachoeira
(risos). É absolutamente mentiroso. Se eu quisesse falar com ele, por ser um
empresário do ramo farmacêutica, jamais falaria com ele por vias como essas. Foi
um encontro antes de eu ser candidato. Visitei várias indústrias em Goiás, São
Paulo, fiz reuniões. Falei com outros empresários, não só com ele.
A que o sr. atribui essa onda de denúncias?
Há uma tentativa desesperada de envolver o meu nome e o PT
nessa crise. Essa crise não é nossa, é do DEM e do PSDB de Goiás. A PF
investigou um ano e meio a contravenção-jogos, caça-níqueis, bingos e os crimes
conexos. O que a PF pegou, efetivamente? Pegou um senador, Demóstenes Torres, e
o DEM de Goiás , em 300 telefonemas, entre os quais negociando interesse do jogo
no Congresso. Está tudo fartamente disponível. Uma série de relações com o setor
político de Goiás. Prefeitos, deputados, vereadores. Na lista da PF não constam
o DF nem meu governo. Não fomos lenientes ou omissos com relação à expansão do
jogo no DF.
Mas o senhor afastou seu chefe de gabinete e dois assessores.
Não é uma forma de admitir envolvimento?
Em absoluto. Não há uma declaração ou diálogo direto dessas
pessoas. Há um diálogo atribuindo influência sobre o chefe de gabinete (Cláudio
Monteiro), falando em dinheiro para indicar o presidente do Serviço de Limpeza
Urbana. O que ele (Monteiro) fez? Saiu do governo, vai se defender, mostrar que
isso é falso e, uma vez provada a falsidade, voltar pro governo.
O sr. não recebeu nenhuma doação de campanha ou caixa dois,
seja de Cachoeira ou da Delta?
Em absoluto.
Além da Monte Carlo, o sr. é alvo de inquérito, no STJ que
apura irregularidades na sua gestão no Ministério do Esporte e na Anvisa.
O processo que corre no STJ é do meu interesse porque provém
de uma denúncia de um bandido, que alegou ter-me dado suborno na véspera do
período eleitoral (abril de 2010). Foi espontaneamente a uma delegacia num
sábado e lá encontrou o delegado e o promotor para tomar o depoimento. Como
depois eu fui eleito, o caso subiu para o STJ. Espero desmascarar esses
detratores. As denúncias com relação à Anvisa já foram apuradas e rechaçadas. No
(programa do Ministério do Esporte) Segundo Tempo não há nada contra minha
gestão, tive todas as contas aprovadas, com certidão do TCU e CGU.
Quem está tentando derrubá-lo?
Estou enfrentando grupos poderosos, que saquearam o patrimônio
público. Sou alvo desses interesses contrariados. Instaurei uma Secretaria de
Transparência e fiz 14 mil auditorias. Estou buscando o dinheiro saqueado. Estou
pedindo de volta R$ 750 milhões roubados. Já declarei várias empresas inidôneas.
E não tem ninguém preso. (O esquema) está aí operando, com métodos que não há em
nenhum outro lugar do País.
Sarney passa mal e viaja a SP para fazer exames
by Estadão
- 0 O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se submeterá a uma série de exames neste final de semana, após ter se sentido mal na noite de sexta-feira, quando se preparava para dormir na residência oficial. Por volta das 14 horas deste sábado, Sarney viajou para São Paulo, onde era aguardado no Hospital Sírio-Libanês. A assessoria do senador não soube informar se ele ficará internado até o final dos procedimentos médicos.
No próximo dia 24, Sarney completará 82 anos. A idade, segundo
amigos, tem acentuado seus problemas estomacais, sobretudo quando enfrenta
conflitos pessoais e políticos.
Como presidente da Casa, Sarney foi derrotado ao se manifestar
contrário à criação da CPI do Cachoeira, encarregada de investigar a ligação do
contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e
agentes públicos.
O senador chegou a alertar ao governo que a apuração, cujos
principais alvos atualmente são dois políticos da oposição - o governador de
Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) -
corre o risco de atingir aliados do Palácio do Planalto.
O secretário de Comunicação de Sarney, jornalista Fernando
César Mesquita, informou que o presidente do Senado decidiu antecipar um
check-up marcado para o dia 19, alegando que não estava se sentindo bem.
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