quarta-feira, 16 de junho de 2021

Suspeita de tráfico de órgãos também é investigada pelo MP


A suspeita surgiu após o enterro de pessoas identificadas, mas enterradas como indigentes

SÃO PAULO
30/06/2015 -


Se voc é ligado à USP e recebe 14 mil corpos por mês  REPRODUÇÃO

O MPE (Ministério Público Estadual) de São Paulo ainda suspeita da possibilidade de que haja tráfico de órgãos para pesquisa e estudo no Svoc (Serviço de Verificação de Óbitos da Capital). O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) apura o caso em inquérito que corre em sigilo desde o ano passado.

A suspeita surgiu de outro inquérito da instituição que investigava o enterro de pessoas identificadas (com RG), mas enterradas como indigentes. Na ocasião, uma das pessoas ouvidas pelo MPE, a doméstica Maria Cecília Leão, relatou ter tentado transferir o corpo do pai do Cemitério de Perus, mas foi desaconselhada por coveiros. De acordo com ela, o corpo chegou "oco por dentro" e estava "só a pele".

Além disso, dois comportamentos do Svoc constatados no relatório do Plid (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos) do MP serão encaminhados para apuração: foi verificado que há acumulo de partes de corpos no serviço, que ficam quase um ano armazenadas antes de serem encaminhadas para estudo. Outra dúvida é o motivo de diversos cadáveres que passaram pelo SVOC terem os números de registro duplicados, mesmo quando as necropsias foram feitas em um mesmo ano.

"Poder e dinheiro regem máfia de tráfico de órgãos no Brasil", diz vítima ameaçada de morte

Juiz de casos implora a ministro do STF para ler sua decisão; pai recebe ameaças em seu blog

 Eugenio Goussinsky, do R7
19/09/2015 
Paulinho Pavesi morreu no hospital em Poços de Caldas em 2000
REPRODUÇÃO/PPAVESI.BLOGSPOT.COM.BR

O tráfico de órgãos é um crime silencioso, sem tiros, sem assaltos, muitas vezes sem palavras. Deixa rastros de dor nos familiares de pessoas levadas à morte. E, no Brasil, está cada vez mais difícil de ser rastreado, detectado, punido, apesar da garantia de instituições médicas de que é muito difícil um órgão ser transplantado irregularmente.

Muitos casos, que estão próximos de ser configurados dentro desta definição, acabam sendo diluídos pelos argumentos de advogados e por inúmeros recursos, deixando claro que, mesmo com decisões judiciais a favor, é muito difícil, pela sua subjetividade, enquadrar alguém pela prática deste crime.

Um dos exemplos mais conhecidos está correndo risco até de prescrever, segundo o juiz da 1ª Vara Criminal de Poços de Caldas, Narciso Alvarenga Monteiro de Castro. A própria defesa diz que o julgamento de médicos acusados de homicídios, que teria sido remarcado para o próximo dia 6 de abril, está suspenso.

Esse processo, que julga acusação de homicídio, foi transferido de Poços de Caldas para Belo Horizonte porque, segundo o juiz, Poços de Caldas não tinha condições de fazer um julgamento isento, devido às pressões.

— Quando foi marcado o júri para Poços de Caldas, nenhum réu recorreu... quando foi marcado o júri em BH vários recorreram, especialmente Alvaro Ianhez [um dos acusados], cuja prescrição se dará em 2016, quando fizer 70 anos.

Enquanto isso, de Londres, para onde foi após receber ameaças de morte, Paulo Pavesi denuncia que a máfia do tráfico de órgãos é uma realidade no Brasil. Em 2008, ele recebeu asilo político na Itália e permaneceu na Europa.

— No Brasil, você pode matar e vender órgãos que não tem problema nenhum. A Justiça dá uma ajuda boa. No caso do meu filho foram abertos três inquéritos há 15 anos e um inquérito pela lei deve durar no máximo 30 dias.

Pavesi se refere à morte de seu filho Paulo Veronesi Pavesi, em 2000, quando tinha dez anos, em Poços de Caldas. O menino morreu no hospital, após queda em playground do prédio, mas a Justiça local concluiu que ele estava vivo no momento em que os médicos determinaram o transplante de seus órgãos.

Alguns médicos foram presos, condenados por transplante irregular, mas logo deixaram a cadeia, com habeas corpus. Monteiro de Castro garante que o caso revelou a existência de uma máfia na cidade.

E Pavesi diz que ela existe até hoje, com núcleo em São Paulo e ramificações pelo Brasil, baseada em listas de clínicas particulares, paralelas à do Sistema Nacional de Transplantes. Segundo ele, o esquema tem um funcionamento simples e está bem engrenado.

— É bem simples. Entra um paciente em um hospital, vítima de um AVC ou de um acidente de carro que teve algum problema no cérebro, por exemplo. Todos os exames são feitos nessa pessoa, até porque ela está sendo atendida em emergência. De posse destes exames, você tem o perfil desta pessoa, você sabe para quem ela pode doar o rim.

Conforme ele disse, inicia-se a partir da declaração da morte encefálica, um procedimento burocrático.

— Do lado legal funciona desta maneira: a pessoa é constatada morta, os dados são levados para a fila e vão comparar para ver quem é o próximo que pode receber o órgão. O que a máfia faz? Ela tem uma lista paralela, ela pega esses dados e compara com a lista dela, que tem pessoas inscritas em consultórios particulares aguardando por um rim. A máfia tem poder financeiro e político. No Brasil, com poder e dinheiro, você faz o que quiser e a máfia é regida por isso.

Segundo Pavesi, no esquema da máfia, uma lista privada tem privilégios sobre a do Sistema Nacional de Transplantes.

— O procedimento é o mesmo, só se muda a lista, o que era da lista pública vai para a lista privada. E se na lista privada a pessoa oferece muito dinheiro e está muito necessitada, surge a necessidade de apressar a morte do paciente para resolver logo o problema. É o que eles [da máfia] estão fazendo.

Pavesi completa, dizendo que a notícia da morte de um parente pega a família em um momento fragilizado. Ele diz que os órgãos de Paulinho foram doados, mas se sentiu enganado, por ter sido vítima do que define como máfia. E que o "esquema" só foi descoberto porque, por ambição, percebeu que havia cobranças indevidas na conta hospitalar.

— Aí o médico está em um hospital público, em contato com a família que geralmente não tem a mínima instrução e diz: Olha, o seu parente está morto, a senhora quer doar os órgãos? Você não tem como contestar isso, você não tem como questionar. É leigo e fala, tá bom. Foi o que aconteceu comigo. Eles têm tudo nas mãos. Você está sem chão e pensa em doar. Só que na verdade na maioria dos casos o paciente não estava morto, estava vivo.

Súplica do juiz

A morte de Paulinho foi denominada como “caso 0” na cidade. A partir dele, se iniciou uma série de investigações de outros casos de transplantes ilegais. Monteiro de Castro ressalta que, em mais uma demonstração de que sua decisão de condenar vários médicos por transplante ilegal, inclusive mandando alguns a júri popular, tinha total embasamento jurídico.

— As provas foram muitas, estudei a fundo o caso, me debrucei em documentação por muito tempo. Advogados e procuradores também chegaram a esta conclusão. Justiça não é uma brincadeira, é coisa séria e não cheguei a esta conclusão por acaso.

O juiz ressalta que, outra decisão dele, em relação ao caso 1, de outra pessoa morta que teve seus órgãos transplantados, também, segundo ele de forma ilegal, foi corroborada em segunda instância.

—A sentença do caso 1 foi a segunda que proferi, em 2013 (a 1ª foi a pronúncia do Caso Pavesi, em 2012). A decisão em 2ª instância que confirmou a sentença do Caso 1 foi do TJMG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais).

Sem aceitar o habeas corpus dado a médicos condenados por ele por tráfico ilegal, Monteiro de Castro enviou documentação ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, implorando para que os ministros do órgão leiam o texto, em que afirma que o julgamento foi imparcial. Diz um trecho:

— Porém este Magistrado roga, suplica a Vossas Excelências que leiam, com a atenção sempre dispensada, todo o vasto material que acompanha estas singelas linhas.

A partir do momento em que fez a denúncia, Pavesi afirma que começou a ser perseguido por estar ferindo interesses de uma ala poderosa na cidade. Nenhum médico está preso até hoje e, segundo Pavesi, os acusados continuam atuando na medicina. O juiz Monteiro de Castro também garante ter recebido várias ameaças. E as ameaças de morte, de acordo com Pavesi, são recorrentes.

Ameaça indica vingança contra família de vítima
REPRODUÇÃO/SITE A VERDADE. NADA MAIS QUE A VERDADE

Uma delas, a última, ocorreu em fevereiro de 2014, em um comentário anônimo em seu blog "A verdade. Nada mais que a verdade", criado para colaborar com as investigações. A mensagem (veja imagem ao lado) dava a entender que se algum familiar de Pavesi entrasse em algum hospital de Poços de Caldas não sairia vivo.

— Eles estão usando um hospital público para ameaçar minha família e eu não posso fazer nada. Mandei a mensagem para o Ministério Público (de Minas Gerais) e ele me respondeu que era problema meu.

Contatada pelo R7, a assessoria de comunicação do Ministério Público de Minas Gerais não se pronunciou sobre a afirmação.

Outro lado

O advogado de defesa Leonardo Costa, de um dos acusados de homicídio, Alvaro Ianhez, diz que a decisão do juiz apontando a existência de uma máfia em Poços de Caldas é absurda, com inexistência de provas reais e por isso pediu no STJ (Superior Tribunal de Justiça) efeito suspensivo para a decisão, que será novamente avaliada em Brasília. A suspensão vale também para a denúncia contra os outros acusados.

— Entramos com recurso porque a decisão do TJMG [Tribunal de Justiça de Minas Gerais] é errada e estou contestando essa decisão. Não posso admitir que uma decisão errada contra o meu cliente prevaleça. O juiz deu uma decisão, o ministro do STJ está invalidando a decisão dada no processo. Neste caso, prevalece a decisão do ministro. A opinião particular do juiz não me interessa.

Ianhez, em vídeo, diz inclusive lamentar o fato de que denúncias deste tipo desestimulem a doação de órgãos e deixem de salvar muitas vidas.

Segundo o médico Mário Abbud Filho, coordenador do Departamento de Ética em Transplantes, da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), atualmente é praticamente impossível ocorrer um transplante irregular, após a regulamentação com a criação do Sistema Nacional de Transplantes, em 1997, que possibilita um rastreamento por todo o Brasil e possui uma lista organizada e comandada por um computador.

Abbud Filho comenta que transplantes de órgãos como coração, fígado e pâncreas, de pessoas que morreram, é feito por ordem na fila. Já o de rim é por compatibilidade, aferida por um computador, sem interferência externa, segundo ele. Na época das mortes em Poços de Caldas, garante o coordenador, não havia lista oficial de transplantes, com exceção de algumas cidades em São Paulo.

Segundo ele, em relação ao fígado e ao pâncreas, estes devem ser transplantados apenas em pessoas aparentadas até, no máximo, o grau de primo-irmão. Caso isso não haja parentesco, o transplante só pode ser feito com autorização judicial, após especificações das comissões médicas.

Para Abbud Filho, são necessárias várias coincidências para a realização de um transplante de rim de uma pessoa que morreu, inclusive a compatibilidade com o receptor, o que exige uma infraestrutura completa, impossível, segundo ele, de haver em um local clandestino.

Por ser um órgão duplo, ele ressalta, o rim é o único propício ao comércio ilegal, com transplante entre vivos.

— Tirar um órgão de um doador morto para transplantá-lo para um receptor é complicado. É necessária uma combinação perfeita de eventos.

O médico da ABTO afirma que, apesar de ter ficado sabendo dos fatos, não acompanhou de perto os casos em Poços de Caldas. E acredita que as condenações ocorreram porque na época a definição da documentação para comprovação da morte cerebral, segundo ele afirma, não estava tão bem definida como hoje.

Abbud Filho destaca ainda a necessidade de campanhas para mostrar à população que a doação de órgãos é um processo transparente e confiável. Além disso, segundo ele, os hospitais “mais do que nunca têm que ter os comitês de ética trabalhando e monitorando qualquer possível tentativa de comércio de órgãos”.

terça-feira, 15 de junho de 2021

A primeira vez que vi "O diário de um brasileiro na Pensilvânia", foi em 1999. Recebi por e-mail e estava em Power Point, com imagens (cenas) Era um domingo pela manha, tipo 7h... Ri muito. Será que alguém ainda tem esse Power Point???

Quem vê aquelas fotografias de paisagens cobertas de neve, imagina um paraíso branquinho coberto de algodão doce por onde a gente pode deslizar e brincar, mas a realidade geralmente, como todos sabemos, costuma ser bem mais áspera do que as fotografias fotochopadas...


12 Agosto.
Hoje me mudei para minha nova casa no estado da Pennsylvania. Que paz! Tudo aqui é tão bonito. As montanhas são tão majestosas. Quase que não posso esperar para vê-las cobertas de neve. Que bom haver deixado para trás o calor, a umidade, o tráfego, a violência, a poluição e aqueles brasileiros mal-ducados de São Paulo.
Isto sim que é vida!

4 Outubro .
A Pennsylvania é o lugar mais bonito que já vi em minha vida. As folhas passaram por todos os tons de cor entre o vermelho e o laranja. Que bom ter as quatro estações. Saímos a passear pelos bosques e, pela primeira vez, vi um cervo. São tão ágeis, tão elegantes, é um dos animais mais vistosos que jamais vi. Isto deve ser o paraíso. Espero que neve logo.
Isto sim é que é vida!

11 Novembro.
Logo começará a temporada de caça aos cervos. Não posso imaginar como alguém pode matar uma dessas criaturas de Deus. Já chegou o inverno. Espero que neve logo.
Isto sim é que é vida!

2 Dezembro.
Ontem à noite nevou. Despertei e encontrei tudo coberto de uma camada branca. Parece um cartão postal... uma foto. Saí a tirar a neve dos degraus e a passar a pá na entrada. Rolei nela e logo tive uma batalha de bolas de neve com os vizinhos (eu ganhei) e, quando a niveladora de neve passou, tive que voltar a passar a pá. Que bonita a neve! Parecem bolas de algodão espalhadas por todos os lados. Que lugar tão bonito!
Pennsylvania sim é que é vida!

12 Dezembro.
Ontem à noite voltou a nevar. Que encanto. A niveladora voltou a sujar a entrada, mas bom... que vamos fazer, de todas maneiras, isto sim é que é vida.

19 Dezembro.
Ontem à noite nevou outra vez. Não pude limpar a entrada por completo porque, antes que acabasse, já havia passado a niveladora, assim, hoje, não pude ir ao trabalho. Estou um pouco cansado de passar a pá nessa neve. Droga de niveladora!Mas, que vida!

22 Dezembro.
Ontem à noite voltou a cair neve, ou melhor dito... merda branca. Tenho as mãos cheias de calos por causa da pá. Creio que a niveladora me vigia desde a esquina e espera que eu acabe de tirar a neve com a pá para passar. Vá pra PQP pariu!

25 Dezembro.
Feliz Natal ... branco, mas branco de verdade, porque está cheio de merda branca. Viado! Se pego o filho da put@ que dirige esta niveladora, juro que o mato. Não entendo porque não usam mais sal nas ruas para que se derreta mais rápido este gelo de merda.

27 Dezembro.
Ontem à noite ainda caiu mais dessa merda branca. Já são três dias direto que não saio. Nada mais faço senão passar a pá na neve depois que passa a bost@ da niveladora. Não posso ir a lugar algum. O carro está enterrado debaixo de uma montanha de merda branca. O noticiário disse que esta noite vai cair umas 10 polegadas a mais de neve. Não posso acreditar!

28 Dezembro.
O idiota do noticiário se equivocou outra vez. Não foram 10 polegadas de neve... e sim 34 polegadas mais dessa merda! VTC! Seguindo assim, a neve não se derreterá nem no verão. Agora resulta que a niveladora quebrou perto daqui e o FDP do motorista veio me pedir uma pá. Que descarado! Disse-lhe que já tinha quebrado 6 pás limpando a merda que ele me havia deixado diariamente. Assim quebrei a pá na cabeça daquele imbecil. Que bost@. Que saco, cacete!

4 Janeiro.
Ao fim, hoje pude sair de casa. Fui buscar comida e um cervo de merda se meteu diante do carro e o atropelei. O conserto do carro vai me sair uns três mil dólares. Estes animais de merda deviam ser envenenados. Oxalá os caçadores tivessem acabado com eles o ano passado. A temporada de caça deveria durar o ano inteiro.

15 Março.
Escorreguei no gelo que ainda há nesta merda de cidade e quebrei uma perna. Ontem à noite sonhei estar sob uma palmeira.

3 Maio.
Quando me tiraram o gesso, levei o carro ao mecânico. Ele disse que o assoalho estava todo enferrujado por baixo, por culpa do sal de merda que jogaram na ruas. Será que esses cornos não têm outra forma de derreter o gelo?

10 Maio.
Mudei-me outra vez para São Paulo. Isto sim que é vida! Que delicia! Calor, umidade, tráfego, violência, poluição e falta de educação. A verdade é que qualquer um que imagine morar nessa Pennsylvania de merda tão solitária e fria é um retardado... ou deve estar louco!Isto sim é que é vida!

Os 11 furos do caso Bilynskyj, o delegado e influencer armamentista cuja namorada ‘se suicidou’


Furos na investigação beneficiam versão delegado Paulo Bilynsky, que recebeu apoio da família Bolsonaro. A família da modelo Priscila Bairros acredita em assassinato.

16 de Junho de 2020, 16h49


Foto: Fepesil/TheNews2/Folhapress


FUZIL SEM NÚMERO. Marca sem identificação”.

Essa descrição consta no boletim de ocorrência da morte da modelo Priscila Delgado de Bairros, registrado no dia 20 de maio, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo. O porte de fuzil sem número de série é um crime inafiançável. Nove dias depois, a Secretaria de Segurança de São Paulo disse que a polícia errou e o que foi originalmente identificado como uma arma, na verdade, era um “acessório”.

Essa é só mais uma das controvérsias que cercam a morte de Priscila no apartamento do delegado Paulo Bilynskyj, que tomou seis tiros e foi ferido na perna, na mão, no peito, na costela e no braço. Segundo o policial, Bairros, noiva do delegado, disparou contra ele após um surto de ciúmes e depois se suicidou. A família da jovem suspeita que Bilynskyj, delegado influencer que usa o Instagram para falar de armamentos, possa ter assassinado ela.

Ainda não está claro o que aconteceu na manhã de 20 de maio. Mas até agora uma coisa ficou evidente: as posições da Polícia Civil e do Ministério Público sobre o que aconteceu na manhã de 20 de maio aliviam a barra do delegado.

Após passar 13 dias internado, Bilynskyj recebeu alta, prestou depoimento e manteve versão.

Acompanhe o caso.

Na descrição do B.O., constam que seis armas e milhares de munições foram encontradas no apartamento: duas pistolas (uma da Polícia Civil), uma metralhadora, uma espingarda (com registro vencido, ainda no nome de Helenice Vaz de Azevedo Corbucci) e dois fuzis. Um deles é aquele registrado no B.O..
Os upper receivers listados no boletim são como a base da parte superior, que conecta o cano ao corpo da arma longa.Foto 1: Michel Delsol/Getty Images | Foto 2: Reprodução

Solicitei, então, à SSP o boletim com a correção da informação sobre a peça em questão. No B.O., é identificado como “fuzil” e, logo abaixo, são descritos dois “upper receiver” (que pode se referir a uma peça onde ficam agregadas componentes essenciais para o funcionamento de uma arma ou o conjunto de todas as peças) com “acessórios”. Mas, em entrevista telefônica, o órgão disse que não houve correção no documento porque era apenas um “acessório” e não uma arma em si. Ou seja, o B.O. não foi editado porque a SSP considerou que nós, jornalistas, não entendemos o que estava escrito. O erro não seria deles, mas um erro nosso de interpretação. Como você pode ler abaixo, está escrito: “FUZIL – Nº SEM NÚMERO – Marca: SEM IDENTI.


Se o delegado tinha mesmo um fuzil não numerado em casa, deveria ser preso. Mas, como foi determinado que tecnicamente a arma não existe, Bilynskyj está solto. A questão é que, ainda que a SSP tenha razão e trate-se apenas de um acessório, a posse dele também pode configurar crime, com pena de três a seis anos, dependendo das variáveis, segundo advogados criminalistas que entrevistei.

No B.O., há dois upper receivers sem numeração e mais os acessórios, como o reddot (um apetrecho que dá aquela mira de luz), a lanterna e um gripp (a empunhadura que vem acoplada em um cano). Tudo isso costuma vir conectado no upper. É ali que encaixam.

Os upper receivers listados no boletim são como a base da parte superior da arma, que conecta o cano ao corpo da arma longa, como um fuzil. Dentro deles, há várias peças essenciais. Ou seja, não é um “acessório” como a SSP defende: é uma peça fundamental para um fuzil funcionar. Sem ele, a arma não funciona. É como o tronco de um corpo, que conecta os membros.

Ouvi então o advogado criminalista João Carlos Dalmagro Jr., que é atirador desportivo e conhece bem a legislação e o controle sobre armamentos. “A descrição do B.O. leva a crer que se está tecnicamente diante de parte de uma arma. Se o upper receiver estiver acoplado ao cano, onde o número de série deve estar gravado, a consequência penal da posse desse conjunto é a mesma da de uma arma em si. Então, precisa de autorização do Exército para aquisição”, me disse Dalmagro.

Ele vai além: “A impressão que se tem a partir desse boletim de ocorrência é que o upper receiver faz parte desse conjunto, mas para ter certeza disso seria necessário ver o que foi apreendido”. Dalmagro também chama atenção à forma como os acessórios foram listados no B.O, que leva a crer que o fuzil e as peças são uma coisa só. “Os acessórios estão listados na mesma linha que os upper receiver, ao contrário do que ocorre na descrição da metralhadora, de onde se extrai que ela foi apreendida “com” acessórios e bandoleira, mencionando-se inclusive o número dos mesmos (1 red dot e 1 grip com lanterna). Tudo leva a crer que é uma coisa só“, pontua.


Questionada se os acessórios estavam acoplados no upper receiver e cano, a SSP disse não ter essa informação.

A resposta é curiosa. Ao mesmo tempo que diz não ter detalhes dos acessórios, a secretaria tinha a informação suficiente para pressionar o UOL no dia 30 para alterar o título de uma matéria sobre o número de fuzis de Bilynskyj. O título era “Polícia errou ao contar fuzil a mais em casa de delegado, diz secretaria” e foi alterado para “Fuzil relatado em BO do caso Bilynskyj é um acessório, diz SSP”.


A pena para a posse ilegal de arma de fogo de uso restrito – ou parte dela, como seria, em tese, o caso de um upper receiver “completo” – é de reclusão de três a seis anos. Se estivermos falando de arma de fogo de uso proibido, a pena sobe: entre quatro e 12 anos. Dalmagro lembra ainda de um detalhe. “Com a alteração trazida pelo pacote anticrime, nesta última hipótese (arma de fogo de uso proibido), o delito é considerado hediondo. A hediondez do crime, além do aumento da pena em si, veda o indulto e endurece as possibilidades de progressão de regime e livramento condicional”.

O upper receiver é um produto controlado. As pessoas podem ter peças sobressalentes, se forem dos fuzis que elas já têm, como a do Colt apreendido, por exemplo.


Upper receiver não é “acessório”, mas peça fundamental para o fuzil funcionar, como fica claro na imagem acima.

Foto: Divulgação


Lembram daquelas 117 peças de fuzis apreendidas em 2019 com o amigo de Ronnie Lessa, PM acusado de envolvimento na morte da vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes? O upper receiver é esse tipo de peça. É como um lego. Você pode combinar vários uppers e lowers de calibres diferentes. Como as peças são menores que o fuzil completo, elas são mais fáceis de se contrabandear. As peças renderam prisão e processo ao miliciano e ao amigo.

As 117 peças de fuzil encontradas com o amigo de Ronnie Lessa.
Foto: Divulgação

Uma história quase perfeita

A história do crime contra o delegado, que é sensação entre bolsonaristas e que recebeu o apoio dos filhos do presidente – inclusive com pedidos de doação de sangue –, tem outros pontos intrigantes.

Mesmo sem nenhum laudo pronto, a Polícia Civil indicou a versão do seu colega Bilynskyj como “presumível”, ou seja provável, mesmo ainda sem comprovação. Ao UOL, Ronaldo Tossunian, delegado seccional de São Bernardo do Campo, disse que “a versão apresentada e as circunstâncias não eram inverossímeis à questão apresentada pelo delegado”.

No boletim consta “suicídio consumado” para a morte de Priscila. O Ministério Público, que deveria investigar o que ocorreu na manhã do dia 20, já adiantou o que vem pensando até aqui. A promotora do caso disse que está “acompanhando o bom trabalho que a polícia vem desempenhando”.

A Corregedoria da Polícia Civil abriu um inquérito paralelo para investigar as circunstâncias do caso, que podem ser classificados como tentativa de homicídio, feminicídio e até uma tentativa de homicídio na qual o delegado matou a modelo em legítima defesa (o que, neste caso, ainda teria o adicional de falso testemunho).

Outra questão interessante são os exames residuográficos, feitos para detectar a presença de pólvora na pele. O exame de Priscila ficou pronto no mesmo dia e deu positivo. Bilynskyj só fez o exame mais de 24 horas depois sob a justificativa de que ele foi encaminhado ao hospital. Mas Priscila também foi. Ainda não há resultados do de Bilynskyj. “Nunca vi um exame como este dar positivo”, me disse um investigador com quase uma década de polícia. Isso porque é difícil que os resíduos se fixem no corpo. Ele não é 100% confiável ou conclusivo.

Em entrevista ao Fantástico, Bilynskyj afirmou: “eu vi que ela atirou nela“. Mas o laudo da perícia pode causar reviravolta na investigação da morte de Pricila. Segundo a revista Época, a perícia feita no apartamento concluiu que a bala que matou a modelo não partiu da arma que estava no chão do lado do seu corpo com o carregador removido.

Bilynskyj disse ainda que Priscila nunca fez curso de tiro, mas que municiou a arma sozinha. Os pais da modelo afirmam que ela nunca teve contato com armas. O advogado da família da modelo acredita que Paulo a desarmou e atirou contra a então namorada, com a mesma arma que ela usou contra ele.

Uma semana depois da primeira perícia, uma nova foi feita no local com uma simulação usando duas armas ao invés de uma. Isso significa que a primeira versão dos fatos – de que o suicídio e os tiros em Paulo foram dados com a mesma arma – mudou ou estava sendo reavaliada. Havia ali ainda uma faca, sem sinais de sangue.

O casal começou a paquerar pelo Instagram no fim de 2019 e, em abril, foram morar juntos. Nas duas semanas em que dividiram o mesmo teto, os tuítes de Bilynskyj foram de “Homem é tudo igual, fiel, carinhoso e só consegue olhar pra uma mulher só” a “A cada 3 segundos uma mulher ilude 10 homens no Brasil. #verdades“. 

De 29 tuítes publicados entre abril e maio no perfil do delegado, 19 são sobre relacionamento atribulado. Mulheres que iludem, que não tem coração, homens traídos – mensagens que destoam bastante de quem está, como dizia Bairros às amigas, apaixonado e planejando casamento para o início de junho.

Os próximos capítulos da trama estão por vir.

Correção: 17 de junho, 13h20

Uma versão anterior desse texto dizia que 29 tuítes de Bilynskyj haviam sido publicados de abril a março. Os tuítes foram publicados, na verdade, entre abril e maio. A informação foi corrigida.

Correção: 24 de junho, 16h

Uma versão anterior grafou incorretamente, na legenda da foto, o número de peças de fuzis encontradas com o amigo de Ronnie Lessa. A informação foi corrigida.


China deixará de extrair órgãos de presos executados para transplante

A partir de 1 de janeiro as doações serão feitas exclusivamente de forma voluntária

Pequim - 05 DEZ 2014 

Propaganda reflete em vitrine que expõe foto de Mao Tsé-Tung.GREG BAKER / AFP

A partir de 1o de janeiro, a China suspenderá por completo a utilização de órgãos de presos executados para transplantes. A partir dessa data, os órgãos serão fornecidos exclusivamente por doações voluntárias dos cidadãos, afirmou Huang Jiefu, ex-vice-ministro da Saúde chinês e responsável pelo Comitê Nacional de Doações de Órgãos. As declarações foram feitas durante um seminário e veiculadas pela mídia estatal chinesa.

Apesar da polêmica provocada e das críticas recebidas de organizações internacionais, a prática de extrair órgãos de executados é muito utilizada na China diante da falta de doações voluntárias. A cada ano, 300.000 pacientes no país ficam na fila por um transplante, mas o número de cirurgias não chega a 10.000, afirmou Huang.

A proporção de doadores na China, o país com a maior população do mundo - 1,34 bilhão de pessoas - é de 0,6 a cada milhão de habitantes. Em comparação, afirma Huang, na Espanha esse índice é de 35 por milhão. O baixo índice de doadores entre os chineses pode ser atribuído, entre outros fatores, às raízes da crença tradicional na reencarnação. Muitos exigem ser enterrados com todos seus órgãos, já que acreditam que eles farão falta na outra vida. Além disso, existe a desconfiança em relação a um setor propenso à corrupção e práticas irregulares, que alimenta um enorme mercado de tráfico de órgãos, inclusive pela Internet. Em 2007, o Governo proibiu o transplante de órgãos de pessoas vivas — exceto em caso de familiares próximos — e o comércio de órgãos.

“Não podemos negar que existem duas razões por trás do lento desenvolvimento da doação de órgãos na China", afirmou Huang. “Além da falta de entusiasmo devido à mentalidade tradicional, as pessoas ficam preocupadas se os órgãos serão distribuídos de forma justa, aberta e transparente” aos pacientes na fila de espera.

Não é a primeira vez que o Governo chinês, e em concreto Huang, afirma que suspenderá a extração de órgãos de executados. No ano passado, Huang prometeu que essa prática seria eliminada gradualmente em um prazo de dois anos a partir de novembro de 2013, e seria substituída por um programa de doações voluntárias, lançado em 2010. Segundo números do governo divulgados pela mídia chinesa, 38 centros dos 169 autorizados para transplantes já estão recusando órgãos provenientes de presos submetidos à pena de morte; neste ano as doações somam 1.500, mais do que o volume obtido entre 2010 e 2013.

A China mantém em segredo o número de presos executados a cada ano. Em um relatório publicado em outubro a organização de direitos humanos Dui Ha, com sede em São Francisco (EUA), calculava que no ano passado 2.400 presos foram executados, 20% a menos do que em 2012. Segundo essa organização, a República Popular da China executa mais presos do que todos os países juntos, ainda que o número tenha diminuído desde 2007.

As organizações de direitos humanos consideram a extração de órgãos de presos executados uma forma de abuso e denunciam que as autoridades chinesas pressionam os condenados à morte para que autorizem a doação, ou utilizam os órgãos sem o consentimento dos executados ou das famílias dos presos. O Governo sempre negou as informações.

Um artigo publicado em 2012 na revista médica britânica The Lancet, e que foi assinado por Huang e outros autores, revelou que “65% dos transplantes realizados na China usam órgãos de pessoas falecidas, sendo que os presos executados respondem por 90% desse total.”.

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