domingo, 24 de março de 2013

Lula e as empreiteiras, FHC e a Sabesp




A Folha de São Paulo publicou com grande destaque em sua primeira página, na edição desta sexta-feira, 22 de março de 2013, manchete que parece anunciar um grande escândalo. Diz o jornal, em tom grandiloquente, que “Empreiteiras patrocinam 13 viagens de Lula ao exterior”.
Na linha fina que segue a espalhafatosa manchete, outra “acusação”: “Ex-presidente foi a países onde empresas têm interesses; todos negam lobby”.
No primeiro caderno, o de política, três grandes matérias sobre a manchete escandalizadora:
Devido ao tom da manchete em letras garrafais, colocada em destaque principal na primeira página, bem como devido à redação confusa das matérias vinculadas, têm-se a impressão de que o ex-presidente Lula foi pago com dinheiro público brasileiro para vender facilidades para empreiteiras brasileiras junto ao governo brasileiro.
Apesar do amplo destaque dado à “denúncia”, porém, a certa altura da matéria principal, em vez de ela explicar direito que Lula foi pago por construtoras brasileiras para dar palestras em países da América Latina e da África de forma a promover essas empresas junto a governos dos países daquelas regiões – o que, por óbvio, é positivo porque alavanca negócios para o país – e que não existe qualquer ilegalidade nisso, o jornal preferiu dar uma informação que, em vez de esclarecer, permite alguma dúvida sobre a legalidade da atividade do ex-presidente:
Dois procuradores da República, um delegado federal, um juiz e dois advogados disseram à Folha que não há, a princípio, irregularidades nas viagens por não haver lei sobre a atuação de ex-presidentes”.
A cautelosa expressão “a princípio” supostamente usada pelos “dois procuradores”, pelo “delegado federal” e pelos “dois advogados” que a Folha diz ter consultado, tal expressão não passa de excesso de cautela, possivelmente para agradar a um dos veículos que chantageiam autoridades para que digam ou façam o que querem contra seus inimigos políticos. Afinal, não existe irregularidade alguma na atividade PRIVADA de Lula.
Todavia, tentando estabelecer um vínculo entre relações de Lula com empresas privadas brasileiras e governos estrangeiros e o governo do Brasil, o jornal põe uma segunda matéria que pretende apontar o que procuradores, delegado e advogados que diz que consultou, não viram.
A segunda matéria do caderno Poder da Folha de 22 de março diz que “Lula promete repassar pedidos a Dilma”. Essa matéria, se tivesse algum conteúdo, possibilitaria insinuar que estaria havendo algum tipo de influência de Lula junto à Presidência da República para que esta ajudasse as empresas que o pagam.
A matéria não aponta nada disso. Leia, abaixo. Em seguida continuo.
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FOLHA DE SÃO PAULO
22 DE março de 2013
No exterior, o ex-presidente Lula participou de encontros privados entre políticos locais e empresários brasileiros, além de prometer levar pedidos a Dilma Rousseff, segundo telegramas do Itamaraty.
Em maio de 2011, Lula foi ao Panamá a convite da Odebrecht. Na agenda, visitas a obras da empresa com ministros, o presidente Ricardo Martinelli e a primeira-dama.
O diretor da Odebrecht no país ofereceu jantar em sua casa para Lula, Martinelli e os ministros da Economia, Obras Públicas e Assuntos do Canal.
Ao final do jantar, o ex-presidente prometeu levar três pedidos a Dilma, em encontro na mesma semana: maior presença da Petrobras no Panamá, um encontro entre os ministros dos dois países e a criação de um centro de manutenção da Embraer.
A Odebrecht obteve no Panamá contratos de US$ 3 bilhões. Cinco meses depois do jantar, engenheiros da construtora foram fotografados com um estudo de impacto ambiental sobre uma obra que só seria anexado à licitação três meses mais tarde.
A brasileira conquistou a obra de US$ 776 milhões e foi acusada de já saber do resultado previamente pela ONG Orgulho Panamá. “Há um sentimento geral de que a obra é motivada simplesmente por interesses especiais. O maior interesse comercial é da Odebrecht e políticos”, diz, em nota, a organização.
Em julho de 2011, Lula esteve em Angola para um evento patrocinado pela Odebrecht -empresa que tem 20 mil funcionários no país.
“Quando era presidente, Lula não gostava do presidente de Angola, mas ganhou um bom dinheiro para dizer que está tudo bem no país, o que é importante para a elite corrupta”, disse à Folha Rafael Marques, da ONG Maka Angola.
Em junho de 2011, Lula viajou em jato da Odebrecht para Caracas, na Venezuela. Lá, encontrou-se com “grupo restrito de autoridades e representantes do setor privado”.
A conversa com o então presidente Hugo Chávez, morto este mês, ocorreu no momento em que o governo local devia cerca de US$ 1 bilhão à empreiteira por obras como a do metrô de Caracas.
Três dias após a visita, Chávez anunciou que as dívidas com a Odebrecht estavam “quase” resolvidas.
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Como se vê, no segundo dos três textos sobre a “denúncia” que o jornal fez com enorme destaque em sua primeira página, constrói-se a teoria de que “o ex-presidente prometeu levar três pedidos a Dilma” para favorecer empreiteiras brasileiras.
O ex-presidente teria prometido ao presidente do Panamá que pediria a Dilma “Maior presença da Petrobrás no Panamá, um encontro entre os ministros dos dois países [Brasil e Panamá] e a criação de um centro de manutenção da Embraer”.
Ou seja: haveria um legítimo – e antiético – lobby de Lula junto a uma presidente sobre a qual ele exerce conhecida e ampla influência.
Que fique registrado, portanto, que uma empresa pública ou estatal brasileira – no caso, a Petrobrás – realizar operações no país vizinho é considerado pela Folha de São Paulo um grande escândalo que merece destaque escandaloso em sua primeira página.
Não esqueça, leitor, porque precisará dessa informação logo adiante.
Ocorre que, como a matéria mostra (ao bom entendedor), o jornal não descobriu absolutamente nada que relacione as atividades da Petrobrás no Panamá à suposta “promessa” de Lula de pedir a Dilma que a empresa aumentasse suas atividades naquele país.
De forma confusa, a matéria, em seguida, pula para uma acusação que se confunde com aquela sobre a Petrobrás, mas que nada tem a ver. Diz que “A Odebrecht obteve no Panamá contratos de US$ 3 bilhões. Cinco meses depois do jantar, engenheiros da construtora foram fotografados com um estudo de impacto ambiental sobre uma obra que só seria anexado à licitação três meses mais tarde”.
O que tem a ver com a Petrobrás a obra que a Odebrecht conseguiu junto ao governo do Panamá? Nada. O governo do Panamá pode fazer quantas obras quiser com a Odebrecht mesmo se for a pedido de Lula que, no Brasil, não se pode reclamar de nada.
O máximo que poderia haver de ilegal nesse caso seria relativo ao Panamá. A matéria, então, já esquecida da Petrobrás, diz que uma ONG panamenha questiona o governo panamenho por suas relações com a empreiteira brasileira.
Todavia, não diz qual é a acusação. Faz apenas uma ilação sobre parecer que há alguma coisa estranha.
Não há nada, absolutamente nada na “denúncia” contra Lula que sequer insinue que o governo brasileiro mexeu uma palha pelas empreiteiras brasileiras a pedido de Lula.
O que espanta na iniciativa da Folha de São Paulo, então, é que aquilo de que acusa Lula – e que sua matéria não conseguiu provar – o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez comprovadamente em 2007 através do Instituto Fernando Henrique Cardoso.
Em 17 de janeiro de 2007, foi o portal Terra quem fez a denúncia de que uma grande empresa estatal, a Sabesp (empresa de saneamento básico de São Paulo, Estado governado pelo PSDB, partido de FHC), doou QUINHENTOS MIL REAIS (!) ao Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC).
Leia, abaixo, a matéria do Terra. Em seguida continuo.
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TERRA MAGAZINE
17 de janeiro de 2007
Daniel Bramatti
O Instituto Fernando Henrique Cardoso, ONG criada pelo ex-presidente tucano com a ajuda de grandes empresários, foi contemplado no ano passado com uma doação de R$ 500 mil de uma empresa estatal do governo paulista, que no período 2003-2006 foi comandado por Geraldo Alckmin (PSDB) e Cláudio Lembo (PFL).
O dinheiro saiu da Sabesp – então presidida por outro tucano, Dalmo Nogueira Filho – e foi direcionado para um projeto de conservação e digitalização do acervo do instituto, conhecido pela sigla iFHC.
A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) é uma das sete empresas que, até o final do ano passado, haviam doado R$ 2.095.000,00 para o projeto de preservação e digitalização do acervo do iFHC, com incentivos fiscais da chamada Lei Rouanet – as contribuições podem ser descontadas do Imposto de Renda.
O acervo é formado por livros, fotos e obras de arte de FHC e também de sua mulher, Ruth Cardoso. Reúne não apenas itens coletados durante a passagem do tucano pela Presidência, mas também da época em que era professor e um dos líderes da oposição ao regime militar. Entre os objetos em processo de catalogação estão os presentes que FHC recebeu durante seu governo – vasos, quadros, tapetes e até capacetes de pilotos de Fórmula 1.
O projeto de preservação e digitalização do acervo está orçado em mais de R$ 8 milhões – valor que equivale a cinco vezes o orçamento anual da Biblioteca Mário de Andrade, a maior de São Paulo, com mais de 3,2 milhões de itens.
O site do iFHC afirma que a digitalização dos documentos será feita com softwares e equipamentos cedidos pela IBM e pela Sun Microsystems do Brasil, mas não faz referência à Sabesp e aos outros patrocinadores, nem detalha como serão aplicados os R$ 2 milhões já recebidos. Ontem à noite, a entidade divulgou uma nota sobre o assunto (leia aqui).
O Instituto Fernando Henrique Cardoso é uma espécie de “organização ex-governamental” – reúne em seu conselho deliberativo diversas estrelas dos dois mandatos presidenciais tucanos, entre eles ex-ministros como Pedro Malan (Fazenda), Luiz Carlos Bresser-Pereira (Administração) e Celso Lafer (Relações Exteriores e Desenvolvimento).
A entidade tem como fonte de inspiração as fundações mantidas por ex-presidentes norte-americanos. Mas as semelhanças são limitadas. A ONG do ex-presidente Bill Clinton, por exemplo, atua na prática: apóia e implementa programas de combate à aids, de redução do custo de medicamentos e de controle do aquecimento global, entre outros. Também administra uma biblioteca pública no Estado de Arkansas que recebe cerca de 300 mil visitantes por ano.
Já o iFHC afirma ter dois objetivos básicos: o primeiro é a preservação do próprio acervo do ex-presidente e de sua mulher; o segundo é a promoção de debates e seminários – que são restritos a convidados. O site do instituto na internet destaca que “o iFHC, entidade privada, não está aberto à visitação pública”.
O site também anuncia que parte do acervo será aberto ao público quando for concluído seu processo de catalogação e digitalização. Não há informações sobre a possibilidade de pesquisar os itens mais interessantes, do ponto de vista histórico e jornalístico: as gravações e anotações que o ex-presidente fez, durante seus oito anos de governo, sobre temas polêmicos como privatizações e reeleição.
O auxílio estatal ao instituto, via Sabesp, foge à regra: o iFHC nasceu e é mantido graças a contribuições privadas. Quando inaugurado, em 2004, tinha R$ 10 milhões em caixa. O tucano começou a pedir doações a empresários quando ainda era presidente.
Em um jantar no Palácio da Alvorada, em 2002, FHC expôs os planos de sua futura ONG a convidados como Emílio Odebrecht (grupo Odebrecht), Lázaro Brandão (Bradesco), Olavo Setubal (Itaú), Benjamin Steinbruch (CSN), Pedro Piva (Klabin) e David Feffer (Suzano). Na época, o colunista Elio Gaspari criticou o fato de a coleta de fundos ser feita entre representantes de empresas financiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ou contempladas no processo de privatização.
Já as relações da Sabesp com políticos do PSDB não constituem propriamente uma novidade. No ano passado, reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que a estatal patrocinou uma edição da revista Ch’an Tao, do acupunturista do então candidato à Presidência Geraldo Alckmin – o tucano foi assunto de capa e apareceu em 9 das 48 páginas da publicação.
A estatal também destinou R$ 1 milhão de sua verba publicitária para uma editora e um programa de TV do deputado estadual Wagner Salustiano (PSDB). O Ministério Público abriu uma investigação sobre o eventual uso de empresas do Estado para beneficiar aliados de Alckmin na Assembléia Legislativa.
Terra Magazine procurou ontem a Sabesp e FHC, em busca de esclarecimentos sobre a doação de R$ 500 mil. Não houve resposta da estatal. A assessoria do iFHC informou apenas que o ex-presidente não se encontrava no local.
Além da Sabesp, da Sun e da IBM, os outros patrocinadores do projeto de digitalização do iFHC são as empresas Philco Participações (R$ 600 mil), Arosuco Aromas e Sucos (do grupo Ambev, R$ 600 mil), Mineração Serra Grande (do grupo Anglo-American, R$ 200 mil), Norsa Refrigerantes (representante da Coca-Cola no Nordeste, R$ 140 mil), Rio Bravo Investimentos (R$ 30 mil) e BES Investimentos do Brasil (R$ 25 mil).
A Rio Bravo Investimentos foi fundada e é dirigida por Gustavo Franco, que presidiu o Banco Central nos anos FHC. A Norsa Refrigerantes têm entre seus proprietários outro tucano famoso, o senador Tasso Jereissati (CE). O BES Investimentos faz parte do grupo português Espírito Santo, cujo representante no Brasil, Ricardo Espírito Santo, teve seu nome associado ao escândalo do mensalão por supostas relações com o publicitário Marcos Valério. Em 2005, o banqueiro foi acompanhado por Valério a uma reunião com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em 2002, Ricardo Espírito Santo também estava no jantar do Palácio da Alvorada em que FHC pediu contribuições para a criação de sua ONG.
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Como se vê, outro ex-presidente recebe benefícios imensos de empresas públicas e privadas brasileiras de todo tipo, mas isso não vira escândalo.
O jornal que acusa Lula com tanto destaque por seus negócios privados, que não têm relação alguma com empresas estatais ou públicas, em 2007 repercutiu a matéria do Terra no dia seguinte à sua publicação, no dia 18 de janeiro.
Porém, o que escandaliza é que a Folha, à diferença do que faz com Lula em um caso sem gravidade, não repercutiu o caso de FHC, que é grave, com mínimo destaque. E, claro, sem chamada alguma na primeira página.
Leia, abaixo, a notinha que a Folha publicou escondida em suas páginas internas em 2007 relatando a denúncia do Terra sobre a qual a mesma Folha – ou qualquer outro grande veículo – nunca mais disse nada – o que, por certo, não acontecerá na acusação vazia contra Lula.
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FOLHA DE SÃO PAULO
17 de janeiro de 2007
DA REPORTAGEM LOCAL
O Instituto Fernando Henrique Cardoso, entidade não-governamental criada pelo ex-presidente da República, recebeu no ano passado doação de R$ 500 mil da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), administrada por indicados pelo PSDB.
A ONG do ex-presidente captou por meio da Lei Rouanet, de incentivo a cultura, cerca de R$ 2 milhões de doadores diversos, entre os quais a Sabesp, para um projeto de preservação do acervo de FHC -documentos, fotografias e objetos. Em nota, o instituto negou haver irregularidades na doação.
A Sabesp é uma empresa de economia mista cujo principal acionista é o governo do Estado de São Paulo. A doação feita pela empresa foi revelada por reportagem publicada ontem no site “Terra Magazine”. De acordo com o texto, os recursos serão abatidos do Imposto de Renda por meio da Lei Rouanet.
A nota divulgada ontem pelo instituto FHC explica que as doações, fruto de um projeto aprovado pelo Ministério da Cultura, se destinam à digitalização do arquivo do instituto, que poderá ser acessado pela internet.
“Além das atividades acima referidas [digitalização], ele [o projeto] prevê a realização de exposições, seminários e palestras dirigidos a um amplo público de estudantes e professores.”
A nota prossegue ressaltando a legalidade da doação da Sabesp. “O iFHC manteve-se no estrito cumprimento das determinações legais, seja em relação à Lei Rouanet, que permite a doação de empresas públicas, seja da Lei 4.344, que faculta a qualquer entidade ou pessoa física mantenedora de acervos documentais privados de presidentes da República “buscar apoio financeiro e técnico do poder público para projetos de fins educativos, científicos e culturais”.”
A Folha não conseguiu falar ontem com a Sabesp.
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A notinha diz que “A Folha não conseguiu falar com a Sabesp”. E, como mostram os arquivos do jornal, nunca mais tentou. Ficou por isso mesmo. Até porque, o jornal nunca tivera ímpeto de investigar. Apenas repercutira matéria do Terra.
Assim, vale repetir: no caso de FHC, não se tratou de negócios privados dele, mas de ter recebido DOAÇÃO de dinheiro público feita pelo governo de São Paulo, que à época – como continua sendo até hoje – era do seu partido.
Imagine, leitor, se a Folha ou algum outro veículo da mídia atucanada, parcial, golpista, mentirosa e chantagista tivesse descoberto que a Petrobrás – que, como a Sabesp, é uma empresa pública dirigida por grupos políticos – doou dinheiro público a Lula.
 by eduguim 
Blog da Cidadania

Coração Satânico (Angel Heart, 1987 ) - Dissecação de um filme



O texto abaixo contém spoilers pesados de Coração Satânico e não é recomendável à quem não conhece o filme e pretende assistí-lo.
Se você não viu Coração Satânico, veja antes de ler o post. Afinal, nenhum filme se resume a uma análise fria de cenas.


Com Chinatown, de Roman Polanski, criou-se uma vertente do filme policial. O neo-noir se refere aos longas com elementos dos thrillers dos anos 30 e 40, mas produzidos após os anos 70 (embora alguns críticos considerem algumas produções sessentistas como neo-noirChinatown é, sem dúvida, o maior representante). E na década de 80, houve algumas tentativas bem sucedidas de se emular as características do cinema noir, aquele clássico que você deve conhecer com Humpfrey Bogart como grande ícone. Blade Runner, O Ano do Dragão, Perigo na Noite, entre outros, foram produzidos com muita competência em mostrar o (anti)herói relutante, as femme fatales, as tramas de intriga e os personagens de caráter duvidoso.
Em 1987, o diretor Alan Parker se apossou do estilo (porque os teóricos não consideram o noir como um gênero) para contar uma história de terror e se beneficiou imensamente disso. Coração Satânico é uma adaptação do livro Falling Angel de William Hjortsberg, porém, além da trama principal, o longa compartilha pouco da narrativa literária. Isso porque Parker, como Ridley Scott em Blade Runner, preferiu por uma linguagem mais pessoal, carregada de simbolismos para ajudar no andamento da história. Por isso, Coração Satânico merece uma análise da utilização de símbolos e de sua atmosfera opressiva e decadente. O cineasta, com seu diretor de fotografia, Michael Seresin. e seu diretor de arte, Armin Ganz, conseguiu criar uma obra fortemente baseada no visual mas que não deixa de lado o roteiro, carregado de ironias e subtextos.
Coração Satânico começa mostrando um sombrio beco da Nova York dos anos 50 na escuridão da noite. A neve cobre a calçada e a silhueta de um homem caminha enquanto os créditos iniciais são revelados. Corta para um gato, em uma sacada, e logo depois para o beco novamente, quando um cachorro surge em cena e ameaça o felino lá de baixo. Uma bela caracterização sobre do que o filme trata. Uma caçada, como a trama sugere em seu início, mas também sobre um predador que mantém sua presa acuada, mesmo ela estando em terreno mais elevado, onde aparentemente a ameaça não chegaria. O cachorro desiste de sua perseguição e continua sua caminhada apenas para encontrar um corpo de um homem que teve seu pescoço cortado. Seria a misteriosa figura de minutos atrás, o assassino?
Na sequência seguinte, o filme apresenta seu protagonista, Harry Angel, interpretado por Mickey Rourke, em uma atuação memorável. Angel é um detetive decadente chamado por uma firma de advogados para atender um novo cliente. Um encontro é marcado entre eles. No caminho, uma cena interessante mostra que Harry, apesar de sua profissão, tem boa índole, como seu nome sugere. Enquanto caminha até seu destino, o vento tira o chapéu de uma senhora e Angel imediatamente o pega do chão para entregá-lo a sua dona.
Ao entrar no local do encontro, o espectador é gradualmente apresentado ao cenário, quando o som, aos poucos, revela um culto religioso acontecendo ali. É uma igreja e Harry chega justamente no momento em que o pastor diz algo como “se você acredita em Deus, abra sua carteira”. É uma das ironias do texto, que ficará bem clara quando a verdadeira identidade do empregador do detetive for revelada. Harry observa tudo do alto, como o gato da primeira cena do filme e também como o “anjo” de seu sobrenome.
Em uma sala em algum lugar do prédio, Harry se encontra, finalmente, com seu misterioso cliente, Louis Cyphre, vivido por Robert De Niro. É bom ressaltar como os nomes dos personagens revelam muito sobre suas naturezas. Infelizmente, Harry não foi tão esperto pra fazer a ligação e, de certa forma, na posição dele, ninguém faria. Cyphre revela o propósito desse encontro. Ele precisa que o detetive encontre Johnny Favourite (novamente, o nome sendo usado para dar pistas sobre um personagem). Favourite era um cantor que tinha um contrato com Cyphre e que desapareceu depois da Segunda Guerra, deixando seu acordo para trás. É bom prestar atenção à posição de De Niro em cena. Ele está sentado em uma cadeira levemente elevada, como se todos que fossem visitá-lo estivessem abaixo dele. Sua postura é de um homem que espera reverência das pessoas que o veem naquela cadeira, como um rei em seu trono.
Harry começa sua investigação por um asilo onde Favourite estaria internado com psicose pós-guerra. Essa sequência mostra o protagonista tirando uma carteira de sua mala e escolhendo, entre várias identidades, qual usaria para tentar descobrir alguma coisa sobre seu investigado. Essa cena é interessante por revelar que um dos temas do filme é justamente a busca por identidade, ainda que o protagonista não se dê conta disso até o último ato da trama.
Depois de descobrir que Favourite não se encontra naquele lugar há 12 anos, Harry decide ir atrás do médico que liberou o paciente do Asilo e segue até um bar para pesquisar na lista telefônica. Nesta cena Harry é mostrado atrás de uma janela com um vidro amarelo, na altura de sua cabeça formando uma espécie de auréola, daquelas usadas em pinturas de figuras santas.
Harry vai até a casa do médico e descobre que este é viciado em ópio. Usa isso para tirar algumas informações e como percebe que o homem está quase desmaiando por querer uma dose de sua droga, o tranca em seu quarto, revelando aí um signo que perseguirá o personagem por toda sua jornada: um ventilador. Quando Harry entra com o médico no quarto, o ventilador gira para um lado, mas conforme o protagonista coloca seu interrogado na cama, o ventilador para e começa a girar para o outro lado. Isso vai acontecer várias vezes durante o filme e sempre indicará a morte do coadjuvante em cena, como Harry descobre momentos depois, ao voltar para o quarto e encontrar o médico com um tiro no olho.
Antes, porém, o detetive sai para caminhar e escuta sussurros chamando por seu nome. O que chama atenção nesta cena é a iluminação que privilegia apenas um lado do rosto do personagem, deixando o outro completamente escurecido por uma sombra. É um recurso muito utilizado para revelar dualidades e que funciona muito bem por colocar essa dúvida na cabeça tanto do espectador quanto do próprio protagonista.
Depois do suposto suicídio do médico, Harry se encontra com Cyphre novamente, pois começa a ter dúvidas quanto ao trabalho, já que poderia ser facilmente incriminado por uma morte em circunstâncias misteriosas. Cyphre convence o detetive a continuar sua investigação enquanto descasca um ovo cozido. Como o personagem de De Niro explica, pouco antes de morder o alimento, o ovo é, em algumas culturas, uma representação da alma. Mais uma pista sobre a natureza de Cyphre que Angel deixa escapar, mais por seu ceticismo do que por distração.
Depois de investigar mais um pouco, Harry descobre que se Favourite estiver vivo, talvez se encontre em Lousiana e segue rumo ao sul dos Estados Unidos. É bom lembrar que ao seguir rumo ao sul, o detetive começa sua descida ao inferno como sugere o título do livro que o filme se baseia.
Uma das pistas sobre o paradeiro de Favourite é Margeret Krusemark, antiga namorada do cantor, que, dizem, lida com magia negra. Aqui, outro símbolo é usado como pista para que a trama seja decifrada. O colar de Margaret tem um pingente com um pentagrama invertido, ícone muito usado no Satanismo.
Angel continua seguindo pistas até encontrar a jovem Epiphany Proudfoot (Lisa Bonet). Mais uma vez o nome exerce função para a história. A garota mais tarde é revelada como sacerdotisa devoodoo e filha de Favourite. Logo depois, Epiphany e Harry protagonizam uma tórrida cena de sexo em que o ritmo é ditado por goteiras no quarto onde o detetive está hospedado. Quanto mais íntima se torna a relação, mais molhada a cena se revela. Sem precisa entrar em detalhes sobre o significado disso, este é o momento chave em que Harry Angel finalmente concretiza sua descida ao inferno. Ao ir para a cama com Epiphany, surge um comportamento selvagem que não havia ainda se manifestado. Neste momento, a água se torna sangue e Harry a ataca com uma violência assustadora.
Quando percebe que estava quase sufocando a moça, Angel se levanta e esmurra o espelho do quarto, que reflete sua imagem em pedaços, revelando como o personagem se sente, e, como é mostrado mais pra frente na trama, como é a sua personalidade.
No final, somos apresentados ao ponto de virada: Harry e Favourite são a mesma pessoa. O cantor havia feito um pacto com o demônio, Louis Cyphre (Lúcifer), vendendo sua alma. Mas, como se achava esperto demais, descobriu uma forma de enganar o “maior enganador de todos” em um ritual para devorar a alma de outra pessoa, neste caso o verdadeiro Angel. Favourite então é convocado para a guerra mas volta desfigurado e com amnésia, assumindo assim, as memórias de sua vítima acreditando realmente ser Harry. Todas as mortes que acontecem foram efetuadas pelo detetive quando a mente de Favourite despertava. Por isso os ventiladores mudavam de direção, representando a outra personalidade, controlada por Lúcifer, comentendo seus crimes. Como dito acima, o momento do sexo é a derradeira descida de Angel ao inferno, pois comete um deplorável ato de incesto, mesmo sem saber.
Há, além disso, outro elemento surpresa, cuja natureza não será revelada neste texto (quem sabe assim, mesmo depois de já conhecer toda a história, quem não tiver assistido ao filme, resolva o fazer). Os créditos finais, são intercalados com Angel/Favourite, descendo por um interminável elevador, representando sua chegada ao Reino de Lúcifer.
Coração Satânico, como já dito, é dotade de forte apelo visual. E é justamente na riqueza da utilização de símbolos e imagens emblemáticas que a película de Alan Parker encontra força para contar uma história relativamente simples (sem ser vazia). Se fosse apenas um filme de terror, sem todas as referências, não se tornaria tão memorável. Assim como se fosse simplesmente um filme visual, sem um roteiro decente, também não mereceria destaque. E a interpretação de Mickey Rourke também ajuda. É interessante reparar em como seu semblante vai mudando durante o filme. Do detetive decadente mas sempre fazendo piadas, a um homem sem identidade, e que deve encarar as consequências de atos feitos em uma “outra” vida, por assim dizer. Assim, o longa, além de ser satisfatório como exemplo do cinema neo-noir, com suas nuances duvidosas herdadas de Chinatown, também não faz feio como terror, na atmosfera pesada e na sensação de perigo iminente.
by Cine Alerta

Prefeitura sonegou documentos sobre Kiss, aponta investigação



Prefeito Cezar Schirmer foi um dos 28 responsabilizados pela tragédia.
Incêndio na casa noturna de Santa Maria em janeiro matou 241 pessoas.

Prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, pronunciou-se sobre o inquérito da Kiss (Foto: Bernardo Bortolotto/RBS TV)Prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer,
pronunciou-se sobre o inquérito da Kiss
(Foto: Bernardo Bortolotto/RBS TV)
Apontado pelo inquérito que investigou o incêndio na Kiss como um dos responsáveis pela tragédia, o prefeito Cezar Schirmer teve a conduta criticada ao longo das 188 páginas do relatório enviado à Justiça. Para os delegados, ele teve comportamento omisso e negligente e que contribuiu para as 241 mortes e as centenas de feridos. O resultado da investigação foi apresentado na sexta-feira (22), com 16 indiciamentos criminais e um total de 28 pessoas responsabilizadas. Leia a íntegra do relatório.
Apesar de responsabilizado, Schirmer não está entre os indiciados porque tem foro privilegiado por ser prefeito, então terá seu envolvimento analisado pelo Tribunal de Justiça. Em pronunciamento no fim da tarde de sexta-feira (22), o prefeito classificou o inquérito de "aberração jurídica". O G1 tentou contato com os assessores do prefeito durante a noite para comentar a íntegra do relatório, mas não teve sucesso.

O inquérito ainda cita uma denúncia anônima de que a prefeitura estava omitindo documentos essenciais para a investigação, como um parecer do arquiteto Rafael Escobar de Oliveira, que apontava 29 irregularidades na boate Kiss. Esse documento determinava que o estabelecimento não poderia estar funcionando. A polícia cumpriu um mandado de busca no local, confirmando a suspeita.
“Havia realmente outros documentos relevantes relativos à boate Kiss que não foram encaminhados à Polícia Civil. Ao serem analisados estes últimos documentos,  verificou-se que o mais importante documento relativo às irregularidades realmente não havia sido encaminhado pela prefeitura”, diz o texto, citando o relatório do arquiteto.
Entre os problemas apontados por Oliveira, estaria a desconformidade com o número de saídas de emergência da boate Kiss. Em seu parecer, destacou que não seria possível emitir alvará de localização para a casa noturna, considerando que não houve aprovação do projeto arquitetônico.
Em depoimento à polícia, uma funcionária da prefeitura disse que recebeu um pedido para que fossem feitas cópias de documentos sobre a Kiss. Questionada pela polícia sobre o motivo de o parecer do arquiteto com restrições não ter sido enviado à polícia, não soube responder. “Respondeu que não tem conhecimento e que as cópias solicitadas pela Procuradoria foram feitas na sua totalidade, inclusive o documento em que constam as restrições ao projeto da Kiss”.
Em depoimento, o prefeito disse que não viu o documento elaborado pelo arquiteto e disse que nunca se reuniu com servidores ou secretários para orientar depoimentos. “Não tem conhecimento de que alguém tenha retirado ou escondido algum documento relativo à boate Kiss”.
Em nota enviada ao G1 neste sábado (23), a assessoria da prefeitura contestou as informações do inquérito e afirmou que "em momento algum" houve sonegação de documentos. Segundo o texto, ao ser oficiado pela Polícia Civil, o Gabinete do Prefeito despachava as solicitações à Procuradoria Geral do Município (PGM) e aos setores competentes para prestar todas as informações, atendendo determinação do próprio Schirmer.

Em relação ao parecer do arquiteto apontando irregularidades na Kiss, a assessoria disse que o documento estava no arquivo da Superintendência de Análise de Projetos, que trata de edificações, da Secretaria de Controle e Mobilidade Urbana, e não junto aos outros documentos relativos à Kiss. E garante "que todos os documentos foram entregues quando requeridos".
No pronunciamento, Schirmer falou que seu possível envolvimento é uma “tese ridícula”. "Fui tomado de surpresa. Talvez tenha sido a maior surpresa da minha vida pública e pessoal. Estamos diante de um absurdo, de uma aberração jurídica, de um processo que é de natureza política. Com todo o respeito, essa é uma tese ridícula", afirmou.
À noite, o delegado Marcelo Arigony publicou uma mensagem em seu perfil pessoal do Facebook rebatendo as críticas. "’Aberração’ é brincar com o sentimento de 241 famílias. Eu vou dormir tranquilo hoje. Isso pela primeira vez depois de ter trabalhado incessantemente por 55 dias para apresentar respostas à sociedade que me paga”, comentou.
Para a polícia, como prefeito, Schirmer “podia e devia prever o resultado, bem como agir para que ele não ocorresse. Como não agiu, deve responder por culpa na modalidade de negligência, uma vez que não cumpriu com sua obrigação”. O relatório ainda sugere que o prefeito poderia responder a processo por homicídio culposo.
“A materialidade do fato típico previsto no Art. 121, §3.º do Código Penal, na forma consumada (homicídio culposo) é provada pelas provas periciais e documentais juntadas aos autos. Também comprova a existência do fato a prova oral produzida nos autos”.
Resumo do que disseram as 810 pessoas que depuseram
- 119 pessoas afirmaram que a boate tinha lotação superior a mil pessoas

- 83 afirmaram que o fogo iniciou com o artefato pirotécnico

- 50 pessoas afirmaram que havia mais artefatos pirotécnicos nas laterias do palco

- 181 pessoas afirmaram que o incêndio se iniciou no palco principal

- 108 pessoas afirmaram que o extintor de incêndio não funcionou

- 153  afirmaram que não enxergaram luzes e sinalização de emergência

- 84 afirmaram que os seguranças impediram saída por alguns segundos

- 124 afirmam que as barras de contenção ou guardas-corpos obstruÍram a saÍda da kiss

- 178 afirmaram que já viram show pirotécnico na Kiss em outras oportunidades

- 18 pessoas afirmaram que a boate não ofereceu qualquer treinamento para incêndio

- 24 afirmaram que a boate Kiss passou por diversas reformas ao longo do tempo

- 17 pessoas afirmaram que Mauro Hoffman participava da administração da boate

- 47 viram civis entrando na boate para auxiliar no resgate sem serem contidos por bombeiros (no mínimo cinco morreram)
 
 A lista dos 16 indiciados criminalmente

241 homicídios com dolo eventual qualificado e 623 tentativas de homicídio
1- Marcelo de Jesus dos Santos (vocalista da banda Gurizada Fandangueira)
2 - Luciano Augusto Bonilha Leão (produtor da banda Gurizada Fandangueira)
3 - Elissandro Callegaro Spohr (sócio-proprietário da Kiss)
4 - Mauro Londero Hoffman (sócio-proprietário da Kiss)
5- Ricardo de Castro Pasche (gerente da Kiss)
6 - Ângela Aurelia Callegaro (irmã de Kiko, proprietária da boate no papel)
7 - Marlene Teresinha Callegaro (mãe de Kiko, proprietária da boate no papel)
8 - Gilson Martins Dias (bombeiro que vistoriou a boate)
9 - Vagner Guimarães Coelho (bombeiro que vistoriou a boate)
Indiciados por 241 homicídios culposos*
10 - Miguel Caetano Passini (secretário de Mobilidade Urbana)
11 - Luiz Alberto Carvalho Junior (secretário do Meio Ambiente)
12 - Beloyannes Orengo de Pietro Júnior (chefe da fiscalização da Secretaria de Mobilidade Urbana)
13- Marcus Vinicius Bittencourt Biermann (funcionário da Secretaria de Finanças que emitiu o Alvará de Localização da boate)
* Denúncias por crime de lesões corporais dependem de representação das vítimas
Indiciados por fraude processual
14 - Gerson da Rosa Pereira (major dos bombeiros que incluiu documentos na pasta referente ao alvará da boate após a tragédia)
15 - Renan Severo Berleze (sargento dos bombeiros que incluiu documentos na pasta referente ao alvará da boate após a tragédia)
16 - Elton Cristiano Uroda (ex-sócio da boate Kiss, que deu falso testemunho)
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 241 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. O inquérito policial, que indiciou 16 pessoas criminalmente, conclui que:
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco
- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo
- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou
- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás
- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas
- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular
- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas
- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída
- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência
- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário
- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas
by G1

Polícia britânica abre inquérito sobre morte de Berezovsky




Magnata russo foi encontrado morto em Londres neste sábado (23).
No Brasil, ele ficou conhecido por possível ligação com o Corinthians.


Boris Berezovsky, um dos maiores críticos de Vladmir Putin, morreu neste sábado (23) (Foto: Neil Hall/Reuters)Boris Berezovsky, um dos maiores críticos de
Vladmir Putin, morreu neste sábado (23)
(Foto: Neil Hall/Reuters)
A polícia britânica disse neste sábado (23) que abriu inquérito sobre a morte em circunstâncias "não esclarecidas" do magnata russo Boris Berezovsky, em sua residência perto de Londres.
No Brasil, o magnata ficou conhecido por sua possível ligação com a MSI, parceira do Corinthians de 2004 a 2007. Ele chegou a ter sua prisão decretada pelo suposto envolvimento com o time de futebol. O empresário era acusado de ter o controle financeiro da MSI, que tinha sede em Londres e era representada no Brasil por Kia Joorabchian. A conexão entre Berezovsky e MSI foi investigada pela Interpol e, em julho de 2007, o Ministério Público pediu a prisão do empresário pela acusação de lavagem de dinheiro.
"A morte dele está sendo tratada no momento como não esclarecida e uma investigação está sendo feita", afirmou a polícia em uma declaração que não citou o nome do empresário de 67 anos.
"A área ao redor da propriedade foi isolada para permitir que a investigação ocorra", completou a fonte.
Berezovsky era um homem com forte influência política e econômica na época do falecido presidente Boris Yeltsin, antes de se desentender com Putin e seguir à Grã-Bretanha em 2001.O corpo de Berezovsky foi encontrado em uma propriedade em Ascot, uma pequena cidade localizada cerca de 40 km a oeste de Londres, acrescentou o comunicado.
"Posso confirmar que ele morreu em sua casa. Eu o conheço há muito tempo, passamos muito tempo juntos. Estou chocado. É o fim de uma era", disse à Reuters Andrei Sidelnikov, amigo de Berezovsky.
O magnata perdeu um importante processo judicial contra o proprietário do time de futebol Chelsea, Roman Abramovich, em Londres, no ano passado, depois de uma batalha legal de seis bilhões de dólares relacionada a uma divisão dos vastos recursos naturais da Rússia pós-soviética.
Berezovsky, que orquestrou a reeleição de Boris Yeltsin em 1996 e teve um papel importante na ascensão ao poder de Putin, tendo recebido asilo político da Grã-Bretanha em 2003.
Pedido de prisão no Brasil

Em julho de 2007, a Justiça Federal determinou a prisão de Boris Berezovsky e dos iranianos Kia Joorabchian e Nojan Bedroud, seus representantes no Brasil, com a suspeita de lavagem de dinheiro na parceria da empresa MSI com o Corinthians.  A denúncia do Ministério Público que baseou o pedido de prisão indicava que Berezovsky utilizou o Corinthians para lavar dinheiro obtido de forma ilícita no exterior.

Além de Kia e Nojan, foram denunciados na época por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha o ex-presidente do Corinthians, Alberto Dualib, o ex-vice-presidente, Nesi Curi, o ex-diretor de futebol Paulo Angioni, o empresário Renato Duprat e o advogado Alexandre Verri, da empresa Veirano Advogados.

Entretanto, em 2009 o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu uma liminar que suspendeu a decisão judicial que condenava Berezowsky e Kia a pagar R$ 37,2 mil cada por litigância de má-fé (quando uma das partes de um processo recorre apenas para retardar a tramitação de uma ação). O STF entendeu na época que os dois não tiveram assegurado o direito de ampla defesa, porque o juiz teria negado aos advogados dos réus a formulação de perguntas durante o interrogatório judicial –direito previsto em lei. Os advogados entraram então com a ação de suspeição contra o juiz.
*com informações da BB
G1

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