sábado, 1 de novembro de 2014

“O Brasil perdeu o medo do PT”, diz Aécio

O candidato tucano tinha fortes razões para acreditar que venceria, mas reagiu rapidamente à derrota e se prepara para voltar a enfrentar Dilma como líder da oposição

Bela MegaleO OPONENTE - Dois dias depois da derrota, Aécio Neves gravou um vídeo para ser distribuído nas redes sociais. O tom conciliatório do candidato vencido, exibido no discurso de domingo, deu lugar ao do oponente pronto para o combate
O OPONENTE - Dois dias depois da derrota, Aécio Neves gravou um vídeo para ser distribuído nas redes sociais. O tom conciliatório do candidato vencido, exibido no discurso de domingo, deu lugar ao do oponente pronto para o combate     (Ricardo Moraes/Reuters)
Pelo telefone, a voz de Aécio Neves em nada se parece com a do candidato vencido que, no domingo, ao assumir a derrota, discursou em tom abatido por pouco mais de dois minutos. O timbre mudou — é de novo o de alguém em combate. De sua fazenda em Minas Gerais, o tucano falou a VEJA sobre os erros da campanha, os planos para o futuro e o novo país que ele acredita ter saído destas eleições.
O senhor saiu desta eleição com a maior votação que um candidato do PSDB já teve no segundo turno, o apoio de 51 milhões de brasileiros e o título de “líder natural da oposição”. Como pretende usar esse patrimônio?
Pretendo usá-lo para cumprir minha parte no que será a missão do nosso partido a partir de agora: ser a voz e o sentimento de mais de 50 milhões de brasileiros que demonstraram com a contundência do voto que estão cansados da incompetência e dos desvios éticos desse grupo que está no governo. Desvios éticos que na eleição ficaram ainda mais patentes como o modo de ser deles. O uso despudorado da máquina pública e o terrorismo com que o PT intimidou os eleitores são manifestações de uma mesma visão de mundo, a de que eles são donos do país e podem fazer impunemente tudo o que quiserem. Essa violência não tem paralelo na nossa história democrática. Foram cruéis com os eleitores ao mentir descaradamente para eles. Na baixeza para com seus adversários,
o PT estabeleceu também um novo e degradante patamar. Primeiro o Eduardo Campos e depois a Marina Silva foram tratados não como adversários políticos com visões diferentes das deles. Foram tratados como inimigos da humanidade, como seres humanos moralmente defeituosos, maus e insensíveis. Uma eleição ganha dessa maneira diminui o Brasil perante o mundo e perante nós mesmos. A torpeza de métodos do PT depois se voltou contra mim com toda a força, o que me fez pensar com mais carinho em Eduardo e Marina, pessoas decentes, figuras públicas com contribuições sociais extraordinárias para o povo brasileiro, destroçadas sem dó pela máquina do PT. Mas essa campanha produziu um avanço importante. Enquanto o PT envenenava o horário eleitoral, surgia nas ruas uma reação espontânea de resistência cívica popular. As pessoas retomaram as ruas, redescobriram a coragem. Finalmente, depois de tantos anos, o Brasil perdeu o medo do PT.
Esse sentimento cívico que o senhor despertou vai durar quanto tempo?
A vitalidade que esta campanha injetou nas pessoas é uma força que não se dissipará facilmente. Ela vai nos manter unidos. Esse Brasil sem medo do PT
vai ser percebido logo pelo governo. A sociedade está muito mais atenta, vigilante e serenamente imune ao discurso raivoso dos petistas. A oposição saiu revigorada desse processo. Estou pronto para assumir meu lugar nela.
Sem trégua nem lua de mel, como disse o senador (e candidato a vice na chapa tucana) Aloysio Nunes?
Os 51 milhões de brasileiros que se puseram na oposição nas eleições esperam que seus representantes no Congresso sejam vigilantes e firmes. Que se oponham ao governo, e não ao país. Seremos firmes porque nossos eleitores reprovaram nas urnas os métodos do PT, sua visão de mundo, seus desvios éticos, a forma como compõe o governo e a forma como governa. Não vamos permitir que o governo desvie a atenção dos brasileiros do maior escândalo de corrupção da nossa história, o da Petrobras.

Asas da encrenca



Dirceu usou jatinho de executivo delator

A delação premiada de Júlio Camargo, o executivo da empreiteira japonesa Toyo Setal que já topou devolver 40 milhões de reais aos cofres públicos, está deixando José Dirceu de cabelo (implantado) em pé.
Depois que deixou o governo Lula, em 2005, Dirceu pegou emprestado várias vezes o jato Citation de Camargo para cruzar o Brasil.
Por Lauro Jardim

Sergio Moro, o juiz na mira dos acusados do petrolão

Os envolvidos no escândalo que desviou bilhões da Petrobras se movimentam para impedir o avanço das investigações. O alvo principal é o magistrado responsável pelo processo

Daniel Pereira e Robson BoninINDEPENDENTE - Sergio Moro: o trabalho do juiz provocou protestos da presidente Dilma Rousseff, que reclamou da realização de interrogatórios durante a campanha eleitoral
INDEPENDENTE - Sergio Moro: o trabalho do juiz provocou protestos da presidente Dilma Rousseff, que reclamou da realização de interrogatórios durante a campanha eleitoral (VEJA)
A história recente do Brasil tem algumas lições para o juiz federal Sérgio Fernando Moro. 
Relator do processo do mensalão, o ex-ministro Joaquim Barbosa recebeu do PT a alcunha de traidor e foi atacado, de forma impiedosa, antes mesmo de decretar a prisão da cúpula do partido. Autor do pedido de condenação no caso, o então procurador-geral Roberto Gurgel foi transformado por petistas e asseclas em personagem de uma CPI, sendo ameaçado, inclusive, com um processo de impeachment. Os dois resistiram, e o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou os mensaleiros. Descrita como “ponto fora da curva”, a decisão, em vez de atenuar, agravou uma lógica perversa -- quanto maior o esquema de corrupção, maior o peso de certas forças para engavetá-lo. Moro agora é quem carrega as responsablidades que foram de Barbosa e Gurgel. Ele está na mira dos interesses contrariados.
Nascido em Maringá, no norte do Paraná, Moro é um dos maiores especialistas do país na área de lavagem de dinheiro. Obstinado pelo trabalho e discreto a ponto de a maioria de seus colegas desconhecerem detalhes de sua vida pessoal, como a profissão da esposa (advogada) e a quantidade de filhos (dois). Aos 43 anos de idade e dezoito de profissão, Moro é um daqueles juízes intocáveis, incorruptíveis, com uma carreira cujos feitos passados explicam seu comportamento no presente e prenunciam um futuro brilhante. Moro conduziu o caso Banestado, que resultou na condenação de 97 pessoas de diversas maneiras rsponsáveis pelo sumiço de 28 bilhões de reais. Na Operação Farol da Colina, decretou a prisão temporária de 103 suspeitos de evasão de divisas, sonegação, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro - entre eles, um certo Alberto Youssef. No ano passado, um processo sob a responsabilidade de Moro resultou no maior leilão de bens de um traficante já realizado no Brasil. Foram arrecadados 13,7 milhões de reais em imóveis que pertenciam ao mexicano Lucio Rueda Bustos, preso em 2006. Com sólida formação acadêmica, coroada por um período de dois anos de estudos na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Moro também atuou como auxiliar da ministra do STF Rosa Weber no processo mensalão. Com frequência, suas teses eram citadas por colegas dela nos debates em plenário.
Um roteirista de filme diria que o destino preparou o juiz Sérgio Moro para seu atual desafio - a Operação Lava Jato, que começou localmente em Curitiba, avançou por quase duas dezenas de estados e foi subindo, subindo na hierarquia política do Brasl até chegar a inimaginável situação de ter um ex-presidente e a atual ocupante do cargo citadas por um peixe grande caído na rede. Moro começou investigando uma rede de doleiros acusados de lavagem de dinheiro, mas enredou em um esquema de corrupção na Petrobras armado durante os governos do PT com o objetivo financiar campanhas políticas e, de quebra, enriquecer bandidos do colarinho branco. Lula teve o Mensalão. Dilma agora tem o Petrolão. 
VEJA

O renascimento do nazismo na Europa – não é somente racismo

Greek Nazis
Publicado em 28 de outubro de 2014 | por Stephen Hicks

Um antigo fantasma está novamente assombrando a Europa – movimentos e partidos políticos neofascistas e neonazistas estão voltando à tona.
Essa reportagem no The Guardian destaca um aumento nos ataques aos judeus na França, Alemanha e Holanda. Mais ao leste e ao sul, partidos simpatizantes ao nazismo estão crescendo nas urnas em países como Hungria e Grécia, como relata essa reportagem do New York Times, acompanhada por ofensas verbais e violência física de seus defensores a imigrantes asiáticos e africanos.
É tudo muito repugnante e desanimador. Mas existem forças poderosas em ação que aqueles de nós que defendem liberdade, individualismo e tolerância devem compreender de forma a ser capaz de responder de forma precisa e decisiva.
Nessas reportagens, foca-se no racismo. Na Grécia, por exemplo, os partidários da Aurora Dourada, que agora possuem representantes no parlamento, expressaram seu desejo de “livrar o país da sujeira”.
Mais precisamente, todavia, as reportagens deveriam focar no etnocentrismo. A hostilidade é, às vezes, direcionadas a indivíduos por causa da cor de sua pele, contudo, na maioria das vezes, ela é focada na religião, nacionalidade ou condição financeira, todas as quais perpassam muitas categorias raciais. Ver indivíduos como membros permutáveis de grupos raciais é uma parte do problema, mas tratar indivíduos primeiramente como membros de grupos étnicos é outra parte importante. Tanto o coletivismo biológico como o cultural estão em ação.
A maioria das reportagens, infelizmente, deixa escapar grande parte do fenômeno. Uma dica disso é que os partidos neofacistas são normalmente rotulados de partidos de “extrema direita” ou de “direita radical”, como o foram pelos jornalistas do The Guardian e do New York Times. E é aí onde a forma amplamente descreditada de expor o espectro político (direita-esquerda) e a falta de pesquisa geram muitos problemas para os jornalistas.
Veja o manifesto da Aurora Dourada, por exemplo, como declarado por um dos seus articulistas. Leia, atentamente, o ponto 8. De forma clara, em inglês e grego, afirma:
O Estado deveria ter controle sob a propriedade privada de forma que ela não seja perigosa para a sobrevivência do povo ou que possa manipulá-lo. A economia deveria ser planificada de forma que sirva à política nacional e assegure a máxima autossuficiência sem dependência do mercado internacional e controle de qualquer companhia multinacional.
Resumido em quatro sub-pontos:
  1. Controle estatal da propriedade privada
  2. Uma economia planificada
  3. Isolamento dos mercados internacionais de capital, bens e talentos.
  4. Empresas estrangeiras não são permitidas ou estão sujeitas a controles adicionais.
Todos os pontos supracitados são profundamente anticapitalistas e parte de uma longa tradição do socialismo – o outro socialismo, isto é: o nacional-socialismo. Como os autores do manifesto deixam claro no primeiro ponto, os integrantes da Aurora Dourada “opõem-se ao internacionalismo comunista e ao liberalismo universal”.
É claro, o “nacional-socialismo” nos remete a Adolf Hitler e Benito Mussolini e nos força a refletir sobre as lições da história. Aquela história está viva na Grécia, os apoiadores da Aurora Dourada saudaram Hitler e cantaram a música Horst Wessel na parte de fora do parlamento em Atenas, e a hashtag #Hitlerwasright(tradução livre, #Hitlerestavacerto) hoje disfruta de muitas curtidas no Twitter. (e, incidentalmente, o livro A Minha Luta de Hitler foi um best-seller na Turquia em 2005).
Uma noção particular de identidade humana e uma noção particular de economia são ambas relevantes ao nacional-socialismo. E de acordo com seus defensores, existem conexões claras e fundamentais entre as duas. Podemos discordar, mas para entendê-las, não podemos ignorar a persistência dessa prática e sua contínua popularidade.
Volte à década de 1920, quando o Partido dos Trabalhadores Alemães, como era então chamado, e seu líder Adolf Hitler anunciou seu novo programa e a troca de nome para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (PNSTA). O programa do PNSTA listou 25 pontos: 14 dos 25 pontos relacionam as demandas econômicas socialistas. Essas incluem a nacionalização das indústrias, o confisco estatal de terras, a assistência social, previdência, educação e saúde providas pelo Estado, a abolição da cobrança de juros e da especulação de mercado, e assim por diante.
Em discursos e panfletos, Hitler e Goebbels atacam regularmente o capitalismo de livre mercado e endossavam o socialismo.
O discurso a seguir foi feito por Adolf Hitler em 1927:
 “Nós somos socialistas, nós somos inimigos do sistema econômico capitalista atual que explora os economicamente mais fracos, com seus salários injustos, com sua avaliação imprópria do ser humano com base na riqueza e propriedade ao invés da responsabilidade e do desempenho, e nós estamos totalmente determinados a destruir esse sistema de todas as formas”.
Esse é um panfleto escrito por Joseph Goebbels em 1932, com retórica inspirada diretamente de um dos seus heróis intelectuais, Karl Marx:
“O trabalhador em um estado capitalista – e esse é o seu pior infortúnio – não é mais um ser humano ativo e criador. Ele torna-se uma máquina. Um número, uma peça na engrenagem que não tem sentido ou conhecimento. Ele está alienado do que produz”.
Sim, os nazistas eram racistas e etnocêntricos, mas eram também socialistas. (propaganda comercial: eu discuto o socialismo do nacional-socialismo em detalhes no meu livro e documentárioNietzsche and the Nazis (Nietzsche e os Nazistas em tradução livre, sem versão em português)).
O mesmo se aplica à variante fascista. Benito Mussolini foi um socialista ortodoxo do tipo marxista de sua juventude até seus 30 anos. Ele se filiou ao Partido Socialista Italiano, uniu-se aos sindicatos para organizar os trabalhadores, e escreveu panfletos exortando uma revolução violenta.
A 1ª Guerra Mundial e a leitura das obras de Friedrich Nietzsche provocaram a ruptura de Mussolini com o marxismo. Ele foi surpreendido pelo intenso fervor nacionalista despertado pela guerra: os seres humanos são mais movidos, Mussolini julgou, não pela união mundial da classe trabalhadora, mas sim por sua identidade étnica como italianos, alemães e russos. Portanto, a causa socialista tinha que ser reformulada em termos nacionalistas para ter êxito na Itália.
O que Mussolini concluiu de sua leitura de Nietzsche era que o socialismo não poderia esperar pelo levante das massas – era necessário um forte líder que o implantasse de cima para baixo.
O fascismo de Mussolini seria o socialismo para os Italianos, assim como o nazismo de Hitler seria o socialismo para os alemães. Mussolini afirma, em 1932: “com respeito às doutrinas liberais, a posição do fascismo é de oposição absoluta tanto no campo político quanto no econômico” (ênfase do autor)
A Aurora Dourada e os outros são os herdeiros ideológicos de Hitler e Mussolini. Existe uma conexão orgânica entre o fascismo/nazismo do início do século XX e o fascismo/nazismo do início do século XXI. Seus defensores tentaram sempre levar tanto o nacionalismo quanto o socialismo à sério.
Isso quer dizer que eles levam o coletivismo a sério. O racismo e o etnocentrismo são o coletivismo aplicado à identidade humana: você não é, em primeiro lugar, um indivíduo, eles dizem, mas o membro de um grupo. E o socialismo é o coletivismo aplicado à ação humana: você não é um agente econômico livre, mas sim, um ativo pertencente à sociedade. Uma resposta efetiva ao triste fenômeno do neofascismo na Europa deve tratar desses dois elementos.
O antídoto para o coletivismo é o individualismo: os indivíduos são, em primeiro lugar, indivíduos, e eles deveriam julgar a si e aos outros, principalmente, em termos de suas crenças, caráter e ações individuais. E os indivíduos são agentes que deveriam ser livres para traçar seus próprios caminhos na vida pessoal e profissional.
// Traduzido por Matheus Pacini. Revisado por Russ da Silva| Artigo original.

Sobre o autor

Hicks-Stephen-2013
Stephen Hicks é professor de Filosofia na Rockford University em Illinois. Ele é o autor de "Explaining Postmodernism: Skepticism and Socialism from Rousseau to Foucault (Scholargy Publishing, 2004). Ele pode ser contactado pelo seu website.




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5 coisas que você só vai saber se tiver crescido em um regime comunista



comunismo
Publicado em 29 de abril de 2014 | por Partice Béconne and Jason Iannone

Meu nome é Partice Beconne. Eu cresci na Romênia comunista sob o olhar despótico do presidente Nicolae Ceausescu. Eu vi meu país ser reduzido a farrapos – e não o vi se recuperar. Provavelmente você consegue imaginar os elementos mais óbvios de uma sociedade comunista – os blocos cinzentos implacáveis que não conseguem se passar por arquitetura, as filas sem fim até mesmo para os produtos mais básicos, o humor subversivo, porém compreensível de Yakov Smirnoff – mas houve um lado muito mais estranho em nossa sociedade comunista que ninguém menciona. Por exemplo …

#5. J.R. Ewing do seriado Dallas foi a primeira pessoa a nos apresentar à liberdade

J.R. Ewing
Embora os romenos oficialmente tenham deixado o comunismo para trás no final de 1989, nós ansiamos por uma vida melhor antes disso. Por que desejamos o que não podíamos ter? Vai saber? Talvez o espírito humano saiba o que significa ser livre; talvez as pessoas soubessem que o sistema trabalhava contra nós; ou talvez um dos grandes burocratas se enganaram e acidentalmente nos mostraram algo da TV americana uma vez.
É. Foi principalmente o último.
Dallas
Se esse show tivesse existido em 1787, nossa Constituição seria … basicamente a mesma coisa.
Ceausescu não permitia nada estrangeiro em nosso país, com algumas excessões bem raras. Uma delas foi a série Dallas, que ele liberou por pura propaganda. O personagem principal, J. R. Ewing, era um barão do petróleo sociopata e sem piedade, que não se importava em destruir seus amigos e família se isso significasse ganhar um dólar. Ele explorava políticos, atormentava seus conhecidos, traía sua esposa, e geralmente parecia um cachorro-quente enrugado em um chapéu de caubói. Em geral, ele representava o capitalismo em seu pior. Que maneira melhor de nos voltar contra seus inimigos que nos mostrando a encarnação viva do Malvado Porco Capitalista?
Dallas cowboy
Toda vez que você vê esse rostinho, um anjo coloca US$ 350 milhões em uma conta bancária no exterior.
Ceausescu estava levando tão a sério a ideia de usar Dallas para retratar os males do capitalismo que ele chegou ao ponto de pagar Larry Hagman, o ator que representava J. R., pelo direito de colocar sua foto sorridente em um outdoor gigante na lateral de um prédio residencial no centro de Bucareste. Desse modo as pessoas veriam todo santo dia a pior versão de um americano malvadão.
Ewing  vendendo petróleo russo
Depois da queda da União Soviética, Ewing continou tão popular que o usaram para vender óleo lubrificante russo. Em 1999.
Enfim, essa era a teoria. Na realidade, assistimos Dallas e nos apaixonamos por tudo que o seriado mostrou. Ao invés de rolar em desgosto sobre a prova da ganância americana, nos maravilhamos por todas as coisas legais que os americanos tinham – mesmo os personagens secundários que supostamente eram “pobres” e “explorados”. E a simples ideia que as pessoas podiam vir do nada e de fato tornarem-se ricas? Aquilo nos deixou absolutamente de boca aberta. A maioria de nós nem mesmo considerava a riqueza como uma opção antes de um ditador perdido chegar e dizer: “Estão vendo? Essassão as desvantagens de ser magnificamente rico!”. Depois de várias temporadas testemunhando uma boa vida, todos nós coletivamente nos perguntamos, “Por que não nós, também?”. Após alguns passos lógicos, tivemos uma revolta sangrenta e violenta.
Claro, a revolução romena e a queda do Império Soviético foram questões vastas e complexas – mas ainda assim, de uma forma bem sutil e pequena, é correto dizer que J. R. Ewing nos ajudou a derrubar o comunismo.
J. R. Ewing e o bolo daquele cara
 J. R. Ewing e o bolo daquele cara.

#4. Uma mulher aleatória era responsável por praticamente todo o nosso entretenimento

 mulher com um microfone na boca
Ceausescu baniu todos os seriados não-texanos da TV, como também filmes, video games, música, e qualquer coisa que você pudesse colocar os olhos e achar engraçado. A maioria de nós não podia bancar um videocassete, e de qualquer modo a TV romana não tinha muito o que gravar. Em vários momentos você estava destinado a assistir em preto-e-branco um homem perseguindo uma cabra, antes que você trocasse de canal para a reprise de Dallas. Felizmente, nós romenos tínhamos milhares de filmes ilegais para escolher, graças quase que totalmente a uma mulher.
contrabandistas
E vários contrabandistas corajosos.
Em 1986, Irina Nistor, até então apenas uma tradutora oficial da TV estatal, foi contratada por vários contrabandistas para traduzir filmes de Hollywood que outras pessoas tinham contrabandeado para o país. Mas ela não traduziu roteiros e os entregou para um elenco variado de dubladores capacitados – o que você pensa que aquilo era, Rollywood? Quem tinha essa quantidade de tempo e dinheiro disponível? Certamente não Irina, então ela apenas dublou por conta própria todas as vozes em inglês em todos os filmes. Ela era literalmente a voz da mídia romena. Quando o comunismo caiu e assistir The Breakfast Club não era mais punível com a morte, ela já havia traduzido e dublado cerca de 3.000 filmes. Somente ela e sua solidão.
Irina Nistor
Foto de: Marilyn Monroe, Audrey Hepbum, Lon Cheney, John Wayne …
E ela fez a maior parte do seu trabalho às cegas. Ela nunca tinha visto os filmes banidos antes e estava obviamente muito ocupada para sentar e assistir milhares de horas de filme antes e depois gravar suas milhares de horas de locuções. Não havia espaço para ritmo, ou nuances, ou impressões complexas para cada personagem – havia apenas uma mulher romena de meia-idade falando em sua própria voz, com sua própria cadência, preenchendo todos os papéis em todos os filmes que passaram pela gente. Ela era Bruce Lee. Ela era Chuck Norris. Ela era tudo: todos os nossos heróis, nossos vilões, nossas sedutoras sensuais, e nossos Sylvester Stallones eram Irina Nistor.
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Sim, até mesmo nossos Tony Montanas.

#3. Trabalho não-assalariado era a lei na Romênia

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Na Romênia dos anos de 1980, todos os soldados, professores e estudantes eram obrigados a particpar de algo chamado practica agricola.
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Todo o árduo trabalho agrícola sem nada daquela maldita “propriedade de terra”.
Há uma razão para as crianças acima não parecerem muito contentes (mesmo se nós considerarmos a careta padrão que é confundida com o “sorriso comunista”). Practica agricola não era sobre aquela coisa tipicamente comunista de “compartilhar o fardo igualmente” – estava bem mais próximo de trabalho escravo na cara dura. Há uma linha muito tênue separando os dois o tempo todo, e a practica agricolaescavou essa linha com uma enxada improvisada e enterrou seus sonhos e esperanças nela. Todos eram forçados a ir em uma dessas “viagens de campo” para fazendas especiais. Uma vez lá, plantava-se sementes o dia inteiro, não importando o clima ou sua riqueza pessoal. Nada atrapalhava – nem escola, nem educação, nem treinamento militar, nem carreira. Meus pais eram engenheiros, o que significava apenas que eles tinham que colher pêssegos e maçãs da maneira mais engenhosamente possível.
Macieira
O que acaba sendo apenas segurá-las como lágrimas normais e em seguida sufocá-las.
Haviam cotas rígidas para cumprir, o pagamento era inexistente, a situação teria que melhorar muito para ficar péssima e a participação era obrigatória para todos, sem exceção. Se você se recusasse a trabalhar, a punição variava de perda de créditos, perda de trabalho, à perda da vida. Apenas … de sua vida.

#2. Tínhamos pouca noção do mundo exterior

pegada do homem na lua
Graças ao bloqueio quase completo de Ceausescu a todas as coisas exceto o comunismo, toneladas de informações sobre o mundo exterior simplesmente passaram batido pela gente. Dia após dia, ano após ano, o noticiário local era apenas o mesmo: um pouco de propaganda pró-commie, talvez alguma boa notícia sobre a cota de colheita sendo alcançada antes do prazo (ou “boas notícias” sobre aqueles que falharam em cumprir a cota não sendo mais um fardo sobre o proletariado).
homem segurando gatilho da arma
Graças a esses “limpadores de fardos” garantidos pelo governo.
Enquanto isso, os feitos incríveis do mundo exterior mereceram apenas uma menção passageira. Em 1969, quando o EUA enviou o homem à Lua pela primeira vez, o jornal nacional romeno brevemente mencionou “um grande sucesso para o pensamento científico – o homem na lua!” junto com algumas linhas do telegrama do presidente Nixon. E era isso: cerca de metade do espaço que você esperaria que um tabloide dedicasse ao novo penteado da Beyonce. Isso foi tudo que a porra da aterrissagem na Luamereceu. O que poderia ter sido uma maior manchete aquela semana? Ceausescu dirigindo um Dacia 1100, é claro!
Ceausescu em um cadilac
É como se um Cadillac defecasse um Datsun.
Sim, era a estreia do novíssimo modelo Dacia 1100, e o próprio Ceausescu foi até a fábrica inspecionar o primeiro produzido. Todo aquele negócio da Lua teve tanta atenção quanto um pequeno incêndio na loja de pornôs local teria em um jornal americano atual. Os noticiários daquela semana ignoraram completamente a humanidade colocando o pé em solo extraterrestre pela primeira vez, em prol de um homem fingindo dirigir um carro que provavelmente pegaria fogo se ele desse realmente a partida.

#1. Haviam imitações comunistas “de Marca” de Tudo

pés de frango
Não foi apenas entretenimento estrangeiro que Ceausescu baniu – foi tudo de origem estrangeira. Se não fosse feito por mãos comunistas, não teríamos. Sem bananas, sem cigarros Marlboro, sem camisinhas, sem nada (embora tívessemos laranjas, também conhecidas como “a Dallas do reino das frutas”, por razões que nunca foram completamente explicadas).
crianças foto velha
Mas hey, infância não faz muito sentido para qualquer um.
Tudo não foi apenas banido, mas trocado por genéricos comunista de baixa qualidade. Café, por exemplo, foi condenado como um luxo muito grande para nós camponeses. Bebíamos Nechezol, uma lavagem sem cafeína que era uma parte café e 20 partes lama de sarjeta congelada. Cozinhávamos com óleo fake feito de soja não-refinada, comíamos queijo fake artificialmente remexido com farinha (provavelmente fake), e bebíamos o que eu suspeito que fosse urina do demônio diluída homeopaticamente que chamavam de Cil-Cola. Carne? Esqueça. Se tínhamos algo parecido com isso, tínhamos as dregs, algo tipo garras de galinha, pernas que eram nada além de pele e osso, e salame feito de farinha de ossos. Mmm, você consegue sentir o gosto dos ossos! E sentí-los. Quebrando seus dentes.
copo de café
Felizmente, a farinha de ossos serve como um bom creme para seu café de mentira.
O Papai Noel também foi banido. Um cara gordo e feliz que traz presentes opulentos para as crianças boazinhas? Soa como uma capitalista corporativista para mim! Mas temos que dar crédito ao governo, eles não se recusaram abertamente a deixar nós, crianças pobres, celebrarem. Não, ainda tínhamos o dia dos presentes, trazido para nós por um homem sisudo vestindo calças compridas e roupão de banho:
papai noel comunista
Esse é o Mos Gerila. Ele era magro, triste e sisudo, e aparecia em 30 de Dezembro. Quatro dias depois do Papai Noel, mas ao menos seus presentes eram muito, mas muito piores.
// Tradução de Robson Silva. Revisão de Russ Silva e Ivanildo Terceiro. | Artigo Original
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