quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O sorriso do lagarto, de João Ubaldo Ribeiro



Sem perder uma essencial baianidade, como seu conterrâneo Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro tanto enverga o solene fardão da Academia, como espalha pelo mundo suas hsitórias de Itaparica, do Recôncavo e do povo brasileiro, sem preder a leveza e o humor, às vezes cáustico, do cronista que milita com assiduidade na grande imprensa do país.

A obra trata-se de um apanhado de situações-clichê (tem até aquela cena clássica, imortalizada pelo cinemão hollywoodiano e pelas novelas da televisão, da queda da escadaria provocando um aborto providencial) muito bem encadeadas e recheadas de diálogos primorosos.

O Sorriso do Lagarto é um romance escrito na terceira fase do Modernismo (Pós-Modernismo), publicado em 1989, e o autor se permite beber de várias fontes dentre elas: o naturalismo; a degradação do individuo; o cientificismo; o político que quando jovem era de esquerda, depois compromete-se com a direita e o golpe militar de 1964 e, finalmente volta-se para um partido liberal conquistando altos cargos; o homossexualismo; a engenharia genética; o consumo de drogas por parte da elite; a de
egradação da saúde; a igreja e os pobres; o comportamento sexual feminino.


Em O sorriso do lagarto, João Ubaldo Ribeiro sublimou em conflito metafísico entre o Bem e o Mal a sua hostilidade orgânica contra o estrangeiro em geral e, em particular, contra o capitalismo norteamericano:
O sorriso do lagarto é um livro que lida com a má administração do tempo que a humanidade passa na Terra. Acho que escrevi, sim, um romance sobre o mal, que fica transparente na atitude de uma grande parte da classe dominante brasileira - ela detesta nosso país, ela detesta o que nós somos e acoberta todas as violências: a mortalidade infantil, a violência nas cidades, a miséria. Quis escrever um livro sobre o aniversário (sic, por adversário) que existe em cada um de nós, sobre a figura de Satanás. (LEIA, dezembro de 1989)
Esta obra não é um romance regionalista. É visivelmente uma obra de olho no mundo moderno. Ao mesmo tempo em que se propõe a ser um romance universal e contemporâneo, é também uma exteriorização de desconfiança, uma denúncia e uma negação de certos valores caros à universalidade e contemporaneidade. O livro apresenta constante erotismo naturalista misturado a episódios de pescarias que se somam a reflexões sobre Deus, a evolução, a ciência, em uma narrativa ágil e cheia de surpresas.

O autor vale-se de outros narradores para enriquecer seu texto.O título do livro esboça-se no início do romance, quando dois meninos trazem um lagarto com dois rabos para João Pedroso. No sorriso maléfico do réptil, João Pedroso percebe o presságio do medo e do Mal. Ao longo da narrativa, confirma-se a suspeita de Pedroso: o Mal existe, o Inimigo existe e parece rir da humanidade. A partir do título, forma-se o tema básico do romance: a presença do Mal relacionada com o poder da ciência e da política. Quem poderá dizer aonde levará a manipulação de genes humanos por um cientista amoral? João Ubaldo foi o primeiro, na literatura brasileira, a tratar com profundidade, dessa perturbadora questão.

O Sorriso do Lagarto é o mais pessimista dos romances de João Ubaldo Ribeiro. O Mal vence. O Diabo ri por último. O romance gira em torno de um triângulo amoroso constituído por João Pedroso, um biólogo excêntrico, solteirão e alcoólatra, que abandonou a profissão para ser o proprietário de uma modesta peixaria em Itaparica, Bahia; por Ângelo Marcos, um político corrupto ligado à área da Saúde, que construiu sua vida pública e sua fortuna às custas de falcatruas; e por Ana Clara, esposa de Ângelo Marcos, que, com um casamento fracassado, mas do qual não abre mão para não perder a estabilidade financeira, procura preencher seu vazio interior fora da relação que a oprime. Há ainda uma outra trama, tão importante quanto a do triângulo e a ela imbricada, ligada a Lúcio Nemésio, um cientista que, associado a uma multinacional se dedica a experiências genéticas, criando entre outras aberrações, a mistura de humanos com chimpanzés.

A partir dos conflitos gerados pela cadeia de relações entre as quatro personagens, João Ubaldo Ribeiro constrói um romance absorvente, que dá continuidade à pesquisa sobre a identidade nacional, particularmente sobre a questão da dialética entre o dado local e o cosmopolita. Há todo um empenho, no romance, em não limitar a discussão dos problemas ao contexto nacional, ainda que isso seja valorizado, para abarcar as questões por uma visada universal, que não se intimida frente a variados aspectos de ordem filosófica.

É um livro sobre a corrupção e o novo colonialismo. A personagem Nemésio, que pertence à elite, detesta seu país. O livro é sem dúvida, umas grande alegoria sobre o “Mal”, e seu símbolo maior na narrativa é o lagarto que sorri indiferente ou zombeteiro frente à condição humana, na sua arrogância de espécie dominante. A alma humana é colocada em xeque, com suas zonas de sombra e suas covardias a serviço do Mal, e mesmo a própria noção de humanidade é posta na berlinda. “A partir de que ponto um ser vivo pode ser considerado como ser humano? E que diferenças separam um animal dotado de emoção de um homem?, são questões pertinentes colocadas pela obra.

Não se pode deixar de destacar que um grande mérito do romance é o desfecho sem concessões, na contramão do gênero, com tudo para exercer grande impacto sobre o espírito tanto de um leitor mais ingênuo, habituado aos tradicionais finais felizes dos best-sellers, quanto, por sua contundência, sobre o espírito de um leitor mais familiarizado com a visão desencantada da literatura moderna, particularmente a do pós-guerra.

O próprio autor diz a respeito da obra O Sorriso do Lagarto: "O título é uma metáfora, pois é claro que não há prova científica de que existem lagartos que sorriem. Um canadense, cientista, chegou a me procurar pensando que eu escrevia uma história sobre a evolução dos dinossauros. ( .. ) Mas O Sorriso do Lagartonão se refere necessariamente a uma vingança dos dinossauros e lagartos. E no romance o protagonista nem é o lagarto. O Sorriso do Lagarto é um livro que lida com a má administração do tempo que a humanidade passa na Terra. Acho que escrevi, sim, um romance sobre o mal, que fica transparente na atitude de uma grande parte da classe dominante brasileira - ela detesta nosso país, ela detesta o que nós somos e acoberta todas as violências: a mortalidade infantil, a violência nas cidades, a miséria. Quis escrever um livro sobre o adversárioque existe em cada um de nós, sobre a figura de Satanás".

ENREDO E PERSONAGENS
A obra traz uma belíssima descrição física e individualização das personagens.

Após um longo percurso que somente o álcool aqueceu-lhe a existência, João Pedroso, o protagonista e herói do romance, tem a sua sensibilidade despertada por uma aberração da natureza. Pode um lagarto com duas caudas passar despercebido? Existe uma explicação natural e simples para tal espécie de fenômeno? Sendo um biólogo, embora tenha renunciado à profissão para viver como um simples vendedor de peixe na Ilha, João Pedroso ainda não esqueceu que a explicação pressupõe a ocorrência de um novo fator na história genética do calango. Por que um lagarto sorriria? Seria fruto do alcoolismo crônico de João Pedroso? Acontece que embora beba todos os dias, ele se mantém nos limites da lucidez e prefere acreditar em seus olhos. Bêbado e afastado da biologia, Pedroso não caiu no ateísmo. Se de vez em quando brigava com Deus, é porque não perdeu de todo sua fé. E quem crê em Deus, deve crer no Diabo. Por que um lagarto sorriria de modo hostil e zombeteiro senão tivesse algo a ver com as hostes de Satã? Afinal, lagarto é dragão em miniatura. E dragão é uma tradicional representação do Diabo.

Para João Pedroso, biólogo, o fenômeno testemunhado só pode ser fruto de uma intervenção genética artificial; e como tal intervenção supõe um conhecimento muito avançado, não há porque imaginar que tenha sido obra de amador, brincadeira inconseqüente de algum aprendiz de geneticista? Do outro lado da racionalidade, a intuição do crente adverte para a dimensão demoníaca da experiência. Do contrário, por que o lagarto sorriria com aquele ar de superioridade? O desenvolvimento do relato irá confirmar os temores de João Pedroso. E Itaparica é apenas uma das provetas nas quais cientistas de várias partes do mundo realizam uma experiência sem precedentes no campo da genética. Suas conseqüências, avalia o protagonista, podem ser funestas.

O autor avança sem precipitações, valendo-se quase todo o tempo de outros narradores. Aproveita a lição que manda semear as famosas “pistas falsas” para desnortear o leitor, impedindo-o de descobrir, antes do tempo, o verdadeiro desfecho da história. Até o final do segundo capítulo, O Sorriso do Lagarto transmite a impressão de ser um romance de costumes. João Pedroso perambula pelas praias de Itaparica, pesca em companhia de turistas endinheirados, encara seu sorridente lagarto, belisca-se para ter a certeza de que não está de porre nem delira.

Muito longe dali, o Dr. Ângelo Marcos, Secretário de Saúde, faz um interminável toalete matinal, enquanto sua mente se divide entre a próxima falcatrua que irá praticar e o discurso que logo mais deverá pronunciar na inauguraçãode um hospital. Em outro ponto da cidade, Ana Clara, a mulher de Dr. Ângelo conversa sobre sexo e drogas com sua amiga Bebel, a rainha da futilidade.

A narrativa e os personagens crescem devagar. O Dr. Ângelo cresceu na política à sombra de um velho cacique, ultrapassou-o rapidamente na corrida aos dinheiros públicos, vive como um nababo, é cínico, traz na ponta da língua as justificativas das suas radicais guinadas partidárias. Mais tarde, ao ver-se diante da morte, pois fora acometido de um câncer, e um regresso ao passado farão dele um personagem complexo. Pode-se dizer o mesmo de Ana Clara, do médico-pesquisador Nemésio, do Padre Monteirinho. João Pedroso sabe que fazer biologia é o seu dom, e a razão básica de sua angústia é precisamente a consciência de que abandonou, traindo, assim, o destino que Deus lhe traçou ao alcançá-lo com sopro da vida.

Teologia é material forte na construção deste romance. Ângelo Marcos, depois de submeter-se a um tratamento de câncer, anda “morto de pena de si mesmo, mais dependente do que um filhote de gato, e volta e meia cai em depressões abissais.” João Pedroso se compara a Marmeladov, o bêbado e destrambelhado personagem da obra, Crime e Castigo, de Dostoievski. Ana Clara se transforma em Suzanna Fleischman. Tenta assumir a postura de Molly da obra Ulisses (James Joyce) e as fantasias eróticas da heroína Lady Chatterley (D. H. Lawrence). Com essa mutação, Ana Clara tenta denunciar a hipocrisia ao seu redor.

O romance O Sorriso do Lagarto, tem sexo, experimentos genéticos e cientistas malignos. Aborda, também, temas como Deus, o Homem, o Bem e o Mal, a consciência, o sentido da vida. Tudo costurado no estilo sensual de João Ubaldo. O escritor criou uma aura de malignidade e decadência que permeia toda a ação. Seus personagens, inclusive o vilão, o doutor Lúcio Nemésio, são dolorosamente reais, compreensíveis e humanos. A trama caminha de forma inexorável para um final surpreendente e melancólico. Em seu cerne, o romance conta que pescadores de Itaparica, João Pedroso (ex-biólogo, vendedor de peixes e sociólogo amador) e Padre Monteirinho descobrem, na Ilha, o envolvimento do médico-pesquisador, Lúcio Nemésio, com a Engenharia Genética: criação de monstros em laboratório. As cobaias humanas para as experiências eram mulheres negras que geravam bebês-aberrações (meninos-macacos que o ex-biólogo viu nas fotografias.) João Pedroso, o Padre Monteirinho e o curandeiro Bará personificam as forças do Bem que lutarão contra o Mal. O caso é denunciado, porém por falta de credibilidade e provas é abafado.

João Pedroso envolve-se sexualmente com Ana Clara, mulher de Ângelo Marcos. A mulher do médico engravida-se do amante, mas sofre aborto após uma queda na escada. João Pedroso acaba sendo assassinado, com duas balas calibre 45, disparadas por uma pistola com silenciador, que lhe atravessam o coração, pelo matador profissional, Boaventura, encomendado pelo marido traído.

Ao final da obra, tem-se um encontro entre o Padre Monteirinho e Lúcio Nemésio. Trava-se uma luta entre o Bem e o Mal:
- Não quero discutir questões de fé com o senhor, para mim isso tem importância, para o senhor não tem. Mas veja o problema moral contido nisso, o problema político. O poder político plasmando a Humanidade e a Natureza.
- Isso é inevitável. Quem chegou, chegou, quem não chegou, não chega mais. O poder hoje dispõe de tais instrumentos que se sedimentou definitivamente, jamais vai mudar realmente de mãos e a tendência é isso se acentuar. Isso é bom. Isso significa maiores possibilidades de controle racional. Não haverá revolução, nem alteração radical na estrutura do poder, nem entre nações, nem entre classes sociais, nesse sentido a História acabou. Sempre digo que democracia é um mito supersticioso, assim como a igualdade e outros chavões. Há muito tempo que a democracia não é mais praticada em lugar nenhum, a não ser microscopicamente, e temos que colocar essa situação a nosso favor, ou seja, aperfeiçoar o homem de todas as formas possíveis.
- Para mim, isso é extinguir a Humanidade, tal como a conhecemos. Para mim, é o homem se tornando inimigo do homem, deixando o adversário que traz dentro de si vencer, fazendo com que se volte contra si mesmo. É como se fosse a obra de Satanás.
- Sim, Satanás, ha-ha! Satanás quer dizer “inimigo”, não é? Neste caso, eu seria Satanás, ou pelo menos um satanás, pois creio que há controvérsia na própria Igreja sobre a existência de um ou vários satanases. Engraçado, desculpe-me por estar rindo, muito engraçado mesmo – Satanás. Pois, olhe, eu aceito, e acho tecnicamente certa sua inferência. Eu sou inimigo de Deus, sim, embora o considere um inimigo fictício, vocês me arranjaram esse inimigo fictício, que eu preciso combater. (...) Deus não existe e, se existe, é preciso tomar dele o poder, ele não tem sido competente, para um onipotente tem um desempenho muito pouco satisfatório. E então, diante do exposto, o senhor tem razão, de fato eu sou Satanás, o senhor tem razão, é mais do que lógico.
Vade retro, pensou Monteirinho (...) Aquilo tudo era terrível mesmo, e mais terrível ainda por se passar daquela forma irresistível, como Lúcio Nemésio dissera tão convincentemente. João Pedroso tentara resistir e fora eliminado. Sim, fora eliminado, agora tinha certeza, embora não pudesse provar, embora jamais pudesse dizer a ninguém. Tinha certeza, certeza absoluta de que João fora morto por obra de Ângelo Marcos, ao sedescobrir enganado – não sabia como, mas fora. E, assim, esse agente do Mal cumpriu sua missão, removeuum obstáculo. Tudo se encaixava, o Mal havia tido grande vitória. Dedicaria à vida, tinha dito João, dedicaria a vida a lutar contra aquilo. Mas apenas perdeu a vida, martirizou-se anonimamente.
PRINCIPAIS PERSONAGENS DA OBRA

João Pedroso – Protagonista da obra, ex-biólogo, peixeiro, amargurado. A partir do relacionamento com Ana Clara e da descoberta das mutações genéticas, muda de atitude, torna-se um homem resoluto. É morto a mando de Ângelo Marcos, pelo pistoleiro Boaventura.

Padre Monteirinho – (Olavo Bento) Amigo de João. É transferido de Itaparica após o seu envolvimentocom Bará e a denúncia das experiências científicas.

Dr. Lúcio Nemésio – Foi professor de Ângelo Marcos. Era amigo de João Pedroso, mas se rompe com este após revelar seu projeto científico, que tem apoio de estrangeiros e do próprio Ângelo Marcos (que desconhecia tais pesquisas). O sobrenome Nemésio deriva do grego nêmesis, significando “indignação, desrespeito, ira, tornar-se mau.” Na conversa final entre o Padre Monteirinho e o Dr. Lúcio, fica explícita a relação do médico com Satanás: “Riu novamente, uma gargalhada que lhe sacudiu todo o corpanzil e deixou Monteirinho achando que se tratava mesmo da voz das Trevas e do Inimigo. (...) Vade reto, pensou Monteirinho...”

Ângelo Marcos – Político consagrado e marido de Ana Clara. Depois que seu médico, Dr. Deraldo, comunicou-lhe que estava com câncer, Ângelo pensou em se matar. Mas se recupera e tem até chance de vir a ser governador da Bahia. Foi Secretário da Saúde. Embora afirme detestar homossexuais (como Cornélio, o cozinheiro) mantinha relacionamento sexual com o pistoleiro Boaventura. Mantinha, também, relações com outras mulheres. Era infiel. Como político, Ângelo foi da ARENA, partido da Ditadura Militar de 1964, passando depois para o MDB. Ao fazer um exame de consciência, o médico-político busca amenizar sua posição direitista, alegando ter ajudado amigos subversivos que estavam na mira da Operação Bandeirantes (movimento repressorda época da Ditadura Militar).

Bará da Misericórdia – Curandeiro. É acusado de manter práticas que atentam contra a medicina e a saúde pública. É obrigado a mudar de terreiro, mas não vai preso, pois João Pedroso presta-lhe ajuda. Bará relaciona-se com o Bem. Seu nome verdadeiro é Sebastião Boanerges da Conceição.

Ana Clara – Amante de João Pedroso. Apaixona-se por ele e, depois de seu desaparecimento torna-se esquizofrênica, deixando que a personalidade “Suzanna Fleischman” se apodere dela. É uma burguesa frívola e fútil, assim como sua amiga Bebel, esposa de Nando, traindo-lhe com seu ex-marido, Tavinho, dependente de droga (cocaína).

Boaventura – Pistoleiro que trabalhava para família de Ângelo Marcos. Tornou-se amante do político.

TEMPO E ESPAÇO

O tempo predominante na obra é cronológico (gira em torno de um ano), ainda que o tempo psicológico apareça nas muitas lembranças dos personagens, principalmente de Ângelo Marcos. É o tempo cronológico que dá mais ritmo e velocidade à narrativa. O romance inicia-se na época da soalheira, calor insuportável, mormaço e termina após uma chuva, com um céu azul.

A narrativa se passa, basicamente na Ilha de Itaparica, Bahia, que não é mostrada como um paraíso perfeito, já que existem muitos miseráveis e famintos, muita gente aleijada, como a família de Mãozinha e todo tipo de morte.
- Aqui na ilha, se morre de tudo, não tem essa conversa de que aqui não acontece certas mortes – disse Mero Doido, que desde as cinco horas estava fazendo um levantamento dos mortos ligados ao Mercado e das causas de suas mortes. – Você não diz uma doença, inclusive das mais modernas, que alguém aqui não tenha morrido. Até umas doenças que não são nem bem doenças aqui se morre, como Galo Cego, que teve uma espinha no nariz que foi virando câncer e comeu a cara dele toda e ele morreu fedendo e com a cara toda comida. Isso de uma espinha. Filu foi de hidropisi, Nandá foi derrame, Roque Feio foi diabete, Lazarão foi tifo, mosquete foi tuberculose, Unha Grande foi doença de Chagas e Zoinho dizem que foi de Aids. Até Aids já deu aqui, e Zoinho não era falso ao corpo, pelo contrário. Aqui dá tudo. E agora o neto mais velho de Quatinga morreu de tumor no cérego.
Há, também, referências a Salvador e São Paulo. Na cidade grande, há violência, como narra Tavinho a respeito do assalto em que sua namorada, Kátya, foi estuprada por ladrões. Itaparica é o local onde prevalece o ócio, o lazer, a diversão, os desregramentos sexuais, muita pescaria, praia, bebida. Por dentro daquela pedra (a ilha) busca-se o elo perdido entre o homem e o macaco, entre o Homem e Satanás.
FOCO NARRATIVO
O romance é escrito na terceira pessoa por um narrador onisciente que nos leva a ver o mundo sob a ótica de alguns personagens. Há momentos em que a narrativa apresenta-se sob o ponto de vista de um ou outro personagem e nos diálogos. Nesses instantes, o discurso passa de terceira para a primeira pessoa.

O autor utiliza-se bastante de intertextualidades no romance.
... respondera Deraldo com a mesma cara pétrea, e costumam causar queda de cabelo também, embora eu ache que você está cometendo uns certos exageros poéticos, você sempre foi meio puxado a Castro Alves. (Referindo-se a Ângelo Marcos)
..Não, tipo Lady Chatterley – como era mesmo o nome do peru do amante dela? John Thomas, claro que sim, ela tinha até umas três ou quatro anotações que falavam no John Tomas. (Ana Clara comparada à personagem do famoso romance de mesmo nome, do escritor D. H. Lawrence.)
...Meu ideal de vida é Marmeladov, de vez em quando eu pego Crime e Castigo só para ler as partes emque ele aparece! (João Pedroso se comparando ao personagem de Dostoievski)
...Abraão também teve amante, para não falar em Salomão. E o comportamento de David com Urias foi de uma escrotidão inominável, mau caratismo absoluto. É como eu lhe disse e lhe digo sempre: também já li o Livrão, você não me engabela. (João Pedroso se defendendo com o Padre)
...Creio até que sacrifício como o mencionado nem mesmo é estranho à tradição cristã – embora nisso não reivindique legitimidade, nem pretenda mais que dar um exemplo e espicaçar uma lembrança –, pois, senão me trai a memória que os anos já empanam, são abundantes as referências ao assunto na Escrituras e – corrija-me o Reverendo se laboro em erro – recordo que o começo do Levítico estabelece regras para os sacrifícios ditadas por Deus, que até menciona especialmente carneiros. (Bará, o feiticeiro justificando suas práticas religiosas)
A linguagem da obra é contemporânea (variada) em estilo que vai do erudito – cientificismo; linguagem formal (a linguagem de Bará é muito distante da linguagem popular) ao coloquial (gírias; estrangeirismos; termos chulos; deformações lingüísticas, provérbios...).


Fontes: Prof. Ozório Duarte de Lacerda - Mega Concursos | Revista Iberomania (publicado no Jornal da Poesia)

Curiosidades

Ministra de Dilma liga para beneficiários ameaçando com a perda da Bolsa Família se votarem em Aécio Neves.


Maria do Rosário, como ministra de Estado do governo Dilma, durante o I Fórum Mundial de Direitos Humanos, realizado em Brasília entre 10 e 13 de dezembro de 2013 (Bruno Menezes/Epoch Times)
Maria do Rosário comanda esquema criminoso contra Aécio Neves. Ela é ministra da Dilma.

Assista a matéria e ouça que flagra o esquema criminoso do PT e da Dilma para colocarem terror nos eleitores do Bolsa Família.



A secretária do Comitê Central de Campanha da deputada federal gaúcha reeleita e ex-ministra da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos Maria do Rosário aparece num telefonema gravado informando a uma beneficiária do Bolsa Família que o programa será extinto caso o PT perca as eleições para seus adversários no segundo turno.

A gravação foi obtida com exclusividade pelo jornalista Vitor Vieira e divulgada em primeira mão na madrugada desta quinta-feira (16) em seu programa ‘Vide Versus’, na Rádio Vox, uma web rádio brasileira independente com 75 mil ouvintes diários.

No áudio, uma beneficiária do programa identificada apenas como Carla liga preocupada para o comitê da campanha de Rosário em Porto Alegre (RS), localizado à Avenida João Pessoa, 789, no bairro Cidade Baixa. Ela explica que o motivo de sua inquietação foi um telefonema recebido por sua cunhada avisando “sobre a possibilidade de perder o Bolsa Família” caso Dilma Rousseff não vencer as eleições. 

A secretária informa que “a equipe que está fazendo esse trabalho (de telefonar para as pessoas para transmitir o comunicado) não está no momento” e em seguida colhe seu nome e telefone para que a equipe retorne depois para passar a “informação”.

Carla ainda diz que está preocupada porque vive do programa há 11 anos. Então, a a atendente reforça que “a equipe que tem essa informação” irá entrar em contato, porém, já adianta para ela um resumo: “Realmente, senhora, se (o PT) perder o governo… nada disso vai se manter, tá? Mas a nossa equipe tem essa informação melhor porque está fazendo esse trabalho para alertar a população sobre esses benefícios que o governo dá.” “E com quem que eu falo?”, insiste Carla. “Não… Eles vão te ligar, tá, Carla? Pode deixar que eu vou passar para ela, tá?” “Tá bom então, obrigado.” 

Para Vitor Vieira, a se comprovar a afirmação da secretária, de que há uma equipe do comitê da campanha petista de Maria do Rosário espalhando a informação falsa sobre o fim do programa, configura-se “terrorismo eleitoral organizado pelo comitê de campanha do Partido dos Trabalhadores em Porto Alegre utilizando base de dados (cadastro com nome, telefone e e-mail) de um programa que é do Estado, para coagir eleitores que são beneficiários do Bolsa Família”. 

Vieira compara a prática ao escândalo do Mensalão, com a diferença de que compra diretamente os votos dos eleitores. O Comitê de campanha da deputada Maria do Rosário não pôde ser encontrado até o fechamento desta edição. Aécio Neves, do PSDB, e José Ivo Sartori, do PMDB, disputam respectivamente a Presidência da República e o governo do estado do Rio Grande do Sul contra Dilma Rousseff e Tarso Genro, ambos do PT.(Epoch Times) (Viacoronelcoturno)

Enfermeira teria matado 38 pacientes porque eles eram 'chatos'

Enviado por Fernando Moreira -
Daniela Poggiali sorri ao chegar a tribunal em Ravenna (Itália) - Foto: AP
A enfermeira Daniela Poggiali, de 42 anos, foi presa por administrar uma dose fatal de potássio à paciente Rosa Calderoni, de 78 anos. A vítima estava internada em hospital de Lugo (Itália). Ao investigar a morte, a polícia descobriu que Daniela pode estar envolvida na morte de outros 37 pacientes, de acordo com o "Corriere della Sera". 

Funcionários classificaram Daniela como "fria e polida" e afirmaram ter suspeitado da enfermeira após aumentar o número de mortes durante o turno dela. 

Reportagem do jornal "Libero Quotidiano", a enfermeira escolhia as vítimas que ela considerava "chatas" e que possuíam famílias com as quais ela tinha problemas. 

Daniela já vinha sendo investigada por ter feito um selfie com o cadáver de um paciente que acabara de morrer.
Reprodução/Twitter

Prestes a completar 82 anos, Ziraldo inaugura exposição que destaca bumbuns femininos O artista pintou 16 telas de quase dois metros, todas feitas em acrílico. A mostra fica na Rua do Lavradio, no Centro


POR CLARISSA PAINS
15/10/2014 


Todos os quadros têm inspiração ou em celebridades ou em anônimas que Ziraldo observa da janela de seu apartamento, na Lagoa - Divulgação / Divulgação


RIO — “Nada diz mais sobre uma pessoa do que sua bunda”. Menos de três minutos de entrevista foram suficientes para o cartunista Ziraldo disparar a afirmação, que funcionou como força motriz para a exposição “As mulheres de Ziraldo”, inaugurada pelo artista na última segunda-feira, na Galeria Scenarium, no Centro. A mostra reúne 16 telas de quase dois metros de altura. Todas inspiradas em mulheres que fascinam o autor: de famosas como Marilyn Monroe e Betty Grable aos tipos carioquíssimos das mulatas e “garotas de Ipanema”, representadas por anônimas que Ziraldo vê passar da janela de seu apartamento na Lagoa.

— Eu sou especialista em bunda! Sei o significado de cada tipo, até dos masculinos. Homem de bunda alta, por exemplo, não presta — sentencia Ziraldo, emendando numa risada. — Para mim, o ditado que funciona é “mostras tua bunda e eu te direi quem és”. Mas é claro que, na hora de pintar, prefiro sempre pintar mulheres, e não homens, não é? — diz ele, bem-humorado.

O cartunista conta que, há três anos, resolveu colocar as mulheres de sua imaginação em grandes dimensões e em cores vivas. Desde então, o projeto foi tocado aos poucos. Em parte, devido ao gosto de Ziraldo pela vagareza, e, de outro lado, por suas mãos terem hoje menos firmeza do que o artista gostaria.

— Eu sempre quis fazer telas grandes em acrílico, mas não consigo passar o acrílico com muita precisão. Então eu pinto com tinta líquida e quem passa o acrílico é o Paulo Vieira, um artista plástico mineiro importante da nova geração — revela ele.

Prestes a completar 82 anos no dia 24 de outubro, Ziraldo pretende comemorar a data durante a própria exposição.

— Não tenho muitos planos, mas acho que vou atravessar a Rua do Lavradio e tomar um porre — brinca ele, contendo uma risada.

O casarão histórico foi escolhido pelo próprio artista para expor suas obras, que ficarão por lá até 29 de novembro.

— Os cariocas precisam saber que esta é a mais bela galeria do Rio. E aquela rua te transporta para um outro lugar. É uma rua artística, cheia de antiquários, bares — diz.

Pintor, escritor, chargista e cartunista, não é de espantar que ele acumule projetos simultâneos. Além da mostra, o que anda ocupando sua mente é um novo livro da coleção “Os meninos e os planetas”. A publicação já está nos últimos retoques e deve ser lançada no Natal. Será o sétimo livro da coleção, que, a cada edição, relaciona uma criança com um planeta.


— Quando eu comecei a coleção, há sete anos, foi um pretexto, na verdade. Como no total seriam dez livros, um por ano, eu já garantia a minha vida por mais dez anos. Com esse projeto em mente, eu só posso morrer em 2017! — diverte-se ele.

SERVIÇO

Rua do Lavradio 15, Centro Antigo. De terça a sábado, das 13h às 19h. Tel.: 3147-9017. Entrada gratuita.

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Dirceu pode deixar a cadeia na próxima semana

Mensalão

Ex-ministro da Casa Civil conseguiu abater 142 dias de pena e deve ser beneficiado com prisão domiciliar

Laryssa Borges, de BrasíliaDirceu, ao chegar a prédio onde fica o escritório em que vai trabalhar
Dirceu chega ao prédio onde trabalha como auxiliar em escritório de advocacia (Ed Ferreira/Estadão Conteúdo/Estadão Conteúdo)
Condenado a sete anos e 11 meses no julgamento do mensalão, o ex-ministro José Dirceu pode ser beneficiado com o regime aberto a partir da semana que vem. O mensaleiro, penalizado pelo crime de corrupção ativa, conseguiu abater 142 dias de pena, conforme documento homologado pela juíza Leila Cury, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, por ter trabalhado e estudado enquanto cumpria pena. De acordo com a Lei de Execução Penal, o preso pode abater um dia de pena a cada doze horas de frequência escolar e um dia a cada três dias trabalhados.
Como no Distrito Federal não existem casas de albergado, o local que, por lei, deveria abrigar detentos em regime aberto, Dirceu deve passar à prisão domiciliar. Para cumprir a pena em casa, o condenado deve, via de regra, assumir o compromisso de morar no endereço declarado e avisar qualquer mudança, permanecer recolhido das 21 horas até as 5 horas da manhã e ficar recluso nos domingos e feriados por período integral nos primeiros meses da pena.

Leia também: Genoino deixa cadeia para cumprir prisão domiciliar 
Para que Dirceu seja oficialmente beneficiado com o regime aberto, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve dar parecer sobre o caso, e o relator do mensalão, ministro Luís Roberto Barroso, confirmar o benefício.  Em junho, por nove votos a um, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou que Dirceu pudesse trabalhar fora do Complexo Penitenciário da Papuda. Com isso, o mensaleiro foi transferido para o Centro de Internamento e Reeducação (CIR) e passou a cumprir expediente no escritório de advocacia do criminalista José Gerardo Grossi, em Brasília, onde recebe 2.100 reais mensais.


O ex-deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) deve ser o próximo condenado no mensalão a se beneficiar da prisão domiciliar. Ele trabalha em um restaurante industrial, no Núcleo Bandeirante, e também conseguiu abater parte da pena de sete anos e dez meses de prisão.
by Veja

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