domingo, 4 de agosto de 2013

Notas sobre estratégia e socialismo




Olhando o mundo atual em perspectiva, não é difícil constatar que o capitalismo gerou uma abundância produtiva imensa e, ao mesmo tempo, criou um absurdo civilizacional ao manter bilhões de pessoas sem acesso a tal abundância. E que, quanto mais as grandes corporações monopolizam a economia, mesmo dos países pouco desenvolvidos, mais elas colocam em risco o próprio desenvolvimento burguês. Isto é, emparedam as empresas capitalistas não corporativas, ameaçam a já limitada democracia econômica da burguesia, comprimem a democracia social e se confrontam com a necessidade de liquidar a própria democracia política burguesa.

São essas discrepâncias que abrem a possibilidade de apresentar, no Brasil, umprograma ou estratégia de transição socialista, que preveja a continuidade de empresas privadas como condição para o desenvolvimento das forças produtivas sociais. Não será mais o espírito anticapitalista, de 1980, nem o espírito temeroso da Carta aos Brasileiros da campanha presidencial do PT, em 2002, com sua tática ambígua de continuidade do neoliberalismo, que alguns pretenderam manter como estratégia.

Nos anos 1980, o PT reiterou uma ideia estratégica do pensamento socialista e comunista. Isto é, que a emancipação da classe trabalhadora será obra da própria classe trabalhadora. Por outro lado, confundiu a contradição fundamental da sociedade capitalista, entre capital e trabalho, com a contradição principal da sociedade brasileira naquele momento histórico. A contradição fundamental só se transforma na contradição principal quando o capitalismo concentrar e centralizar, em um pequeno número de burgueses, a esmagadora maioria da massa de meios de produção. Em sociedades como a brasileira, em que o capitalismo ainda não fechara as portas para diversos tipos de desenvolvimento capitalista, a contradição fundamental era a que separava o capital do trabalho, mas a principal contradição histórica era outra.

Por um lado, o PT demonstrou radicalidade em reiterar que o capitalismo não muda sem a luta pelo socialismo. Por outro, foi incapaz de distinguir a contradição principal da sociedade brasileira da contradição fundamental entre capital e trabalho, e ficou devendo um programa ou uma estratégia que respondesse à situação real do Brasil, em que ainda havia espaço para uma série considerável de reformas de caráter democrático-burguês. E, também, para a introdução de reformas de caráter socialista, pelas dificuldades da própria burguesia nacional em cumprir o que deveria ser seu papel histórico.

Não é por outro motivo que parece haver, no Brasil, concordância em instituir medidas que assegurem o caráter público e universal à educação e à saúde; implantem o imposto sobre grandes fortunas; taxem fortemente os lucros das empresas monopolistas; realizem a reforma agrária, fortaleçam a agricultura familiar e criem uma agroindústria ecológica; submetam o sistema bancário ao interesse coletivo; assegurem o controle público das ações do Estado; descriminalizem o aborto; democratizem os meios de comunicação em todos os níveis; deem fim à concentração fundiária urbana; garantam o domínio do país sobre seus recursos hídricos, florestais, biológicos e minerais; intensifiquem os trabalhos de unificação política e econômica dos países latino-americanos; protejam os biomas ameaçados pelos interesses econômicos; mudem radicalmente o modelo de transporte público; combatam a corrupção pública e privada; impeçam o financiamento privado das eleições; criem mecanismos democráticos de controle externo dos poderes públicos; consolidem a subordinação do aparato militar ao poder civil; e imponham a formação democrática a todas as instituições militares e policiais. Como se nota, todas de natureza democrático-burguesa.

Essas medidas podem abrir campo para o desenvolvimento posterior do socialismo, mas não representam mudanças socialistas. Estas só ocorrem quando a maior parte da propriedade privada dos meios de produção, circulação e distribuição se tornou propriedade social. E quando o Estado se tornou um instrumento de poder a serviço principalmente da classe trabalhadoras e das demais camadas populares da população, marcando uma diferença de qualidade entre o capitalismo e o socialismo. Mas essa diferença de qualidade entre capitalismo e socialismo está longe de ser consensual dentro da esquerda.

Alguns setores de esquerda temem ou não querem realizar mudanças que reforcem essa diferença qualitativa. Para eles, basta continuar realizando maquiagens de reformas e pinturas das favelas, sem ouvir o que realmente suas populações precisam e querem. Outros setores, por sua vez, confundem o desenvolvimento capitalista com o desenvolvimento socialista e acreditam que já constroem o socialismo no Brasil. Baseiam-se no fato de a burguesia reacionária considerar comunista qualquer medida democrática, e de a burguesia conservadora considerar socialista qualquer programa de cunho social.

Em sentido oposto, há setores da esquerda que consideram que um desenvolvimento de caráter socialista terá necessariamente o mesmo caráter de destruição ambiental do capitalismo, e buscam uma terceira via de não crescimentoe não desenvolvimento, cujo resultado mais viável deve ser uma estagnação mais profunda do que a do período de predomínio neoliberal. E há setores com a ideia firme de que socialismo é a transformação plena da propriedade dos meios de produção em propriedade social. Não acham necessário considerar o estágio de desenvolvimento desses meios de produção. Portanto, para ser socialista, qualquer revolução social no Brasil teria que realizar uma construção socialista de tipo soviético, apenas expurgada do totalitarismo stalinista.

A sugestão de que se possa diferenciar o desenvolvimento capitalista, mesmo que contenha enclaves socialistas, do desenvolvimento socialista, mesmo que contenha enclaves capitalistas, não faz parte das considerações de grande parte da esquerda brasileira. Apesar disso, nas atuais condições econômicas, sociais e políticas do Brasil, há uma real possibilidade de que ambos os caminhos possam ser trilhados. Eles podem mesmo, momentaneamente, parecer de natureza idêntica. Porém, da mesma forma que na bifurcação das espécies, num determinado estágio de sua evolução, um dos caminhos subordinará o outro, que perecerá.

O que exige, da esquerda, em especial da que dirige o governo, uma visão clara da possibilidade de transformar o caminho de desenvolvimento capitalista, atualmente predominante, em caminho de desenvolvimento socialista. No estágio de desenvolvimento das forças produtivas no Brasil, o caminho socialista terá que conviver com uma proporção de enclaves capitalistas que contribuam para completar aquele desenvolvimento. Se as forças de esquerda se limitarem a reiterar que um governo dirigido por elas tem como objetivo transformar o Brasil num país de classe média, elas na prática ficarão nos limites da suposta revolução democrática e nos limites do desenvolvimento capitalista. E enfrentarão crescentes manifestações de insatisfação popular. Para transformar as lutas sociais em lutas por um desenvolvimento socialista, além de radicalizar as reivindicações democrático-burguesas consensuais, será necessário incrementar os enclaves socialistas na economia, nas condições sociais e no poder político. E transformá-las em predominantes.

Wladimir Pomar

De acordo com um site do PT, "Aprofundar o processo de mudanças em cada país e acelerar o processo de integração regional foram os grandes temas em debate no XIX Encontro do Foro"

Trata-se do primeiro encontro do Foro, depois da morte de Hugo Chávez e da eleição de Nicolas Maduro. Citamos esses dois fatos, porque ajudaram o conjunto da esquerda regional a perceber que estamos em uma nova etapa na região, marcada principalmente pela contra-ofensiva da direita local e de seus aliados nos Estados Unidos e Europa. Nessa nova etapa, há dois desafios principais: aprofundar o processo de mudanças em cada país e acelerar o processo de integração regional. Foram estes os grandes temas em debate no XIX Encontro do Foro.
O Encontrou ocorreu logo em seguida a visita do Papa Francisco ao Brasil. Os governantes da região comemoraram um papa de nacionalidade argentina. E setores da esquerda regional tem expectativas positivas, o que é compreensível se lembrarmos do comportamento do Papa anterior. Mas há, também, setores muito preocupados, por três motivos: primeiro devido a versões acerca do que ocorreu na época da ditadura militar argentina; segundo, por lembrar do papel jogado por outro Papa no combate ao socialismo, tal como existia no Leste Europeu; terceiro, devido a crescente influência dos conservadores no interior da igreja católica. Ademais deste, é preciso lembrar do papel da Democracia Cristã no pós-Segunda Guerra.
Durante o XIX Encontro, os partidos brasileiros que integram o Foro – o PT, o PC do B (Partido Comunista do Brasil), o PSB (Partido Socialista Brasileiro), o PDT (Partido Democrático Trabalhista), o PPL (Partido Pátria Livre) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro) – tiveram diversas oportunidades, nas atividades oficiais do Foro e nas bilaterais, para apresentar seu ponto de vista sobre o que ocorreu no Brasil e sobre os impactos presentes e futuros.
Há uma grande curiosidade a respeito, especialmente daqueles que acreditavam na existência de “duas esquerdas” na região. Pois um dos ensinamentos das mobilizações de junho é que a direita brasileira, como a venezuelana, disputa a mídia, as urnas e as ruas conosco. E que as esquerdas enfrentam dilemas muito semelhantes, em todos os países da região.
Sobre a integração regional, ficou claro mais uma vez tratar-se de um processo em disputa. Primeiro, disputa contra o imperialismo, que deseja uma integração subalterna a eles, como no projeto da Alca. Segundo, disputa contra a grande burguesia, que deseja uma integração focada nos mercados e no lucro de curto prazo, o que conduz a uma integração que aprofunda as disparidades regionais e sociais, o que por sua vez acabaria nos levando a uma integração subalterna aos gringos. Terceiro, uma disputa entre diferentes ritmos e vias de desenvolvimento e integração. Trata-se, portanto, de um processo quente, que do ponto de vista da esquerda precisa ser simultaneamente político, econômico e cultural. Tarefas nas quais os governos são fundamentais, mas insuficientes. Os partidos políticos, assim como os movimentos sociais e o mundo da cultura são essenciais nesse processo.
Um dos desafios da integração, para além do comportamento do imperialismo estadounidense e das burguesias locais, é o processo de desaceleração da China, que está fazendo uma inflexão em direção ao seu mercado interno. Isto pode ter duas consequências: ou voltarmos ao “estado normal” de economias dependentes, vítimas da desigualdade nos termos de troca entre produtos de baixo e de alto valor agregado; ou fazermos uma inflexão em direção a um ciclo de desenvolvimento econômico regional, impulsionado pelo Estado e baseado na ampliação de infraestruturas, políticas universais e capacidade de consumo.
Este é o pano de fundo do acirramento da luta de classes na região, assim como do acirramento no conflito entre alguns países da região, para não falar do acirramento de nossa relação com as potências imperialistas.
De maneira geral, podemos dizer que o XIX Encontro realizou-se num momento de esgotamento da primeira etapa do ciclo progressista e de esquerda, esta etapa que começou entre 1998 e 2002, com as eleições de Chávez e de Lula. E que se concluiu em algum ponto entre a eclosão da crise internacional e a posse de Obama. Deste momento em diante, entramos em outra etapa, marcada pela crise, pela contraofensiva da direita e pelo esgotamento do padrão adotado em todos os governos progressistas e de esquerda. Esse padrão foi, na Venezuela, no Brasil, na Bolívia e na Argentina, por todos os lados, redirecionar para outros setores sociais a renda e a riqueza geradas pelo modelo herdado. Este modelo se esgotou. Agora está posto construir outro modelo. Se tivermos sucesso, por outro lado, viveremos um salto de qualidade.
As forças de direita sabem disto e estão em plena ofensiva contra nós. Elas se apoiam em suas próprias forças, que são enormes; nos seus aliados internacionais; e nas debilidades de nossos governos. A direita está jogando seu papel. O desafio é reagir a isto, corrigindo erros, superando debilidades, ampliando a cooperação entre nós.

Morre morador de rua queimado no DF

04/08/2013 - 12h13

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – Morreu na noite de sexta-feira (2) o morador de rua Edivan da Lima Silva, 48 anos, que teve o corpo queimado na última quinta-feira (1), enquanto dormia em uma rua do Guará (DF). A informação foi fornecida na manhã de hoje (4) pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal e confirmada por funcionários do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
De acordo com a assessoria da Secretaria de Saúde, o informe divulgado ontem pela manhã, notificando que Silva continuava internado em estado grave, respirando com a ajuda de aparelhos após sofrer uma parada cardiorrespiratória, foi fruto de um desencontro de informações. Com base nas informações fornecidas pela secretaria, a Agência Brasil chegou a divulgar, às 11h40 de sábado (3), que o quadro de Silva era estável, quando, na verdade, ele já estava morto.
O corpo de Silva está no Instituto Médico-Legal (IML), à disposição da Polícia Civil.
De acordo com testemunhas, o morador de rua foi atacado enquanto dormia no Guará, cidade do Distrito Federal (DF) situada a cerca de 10 quilômetros de Brasília. Os relatos prestados indicam que três pessoas encapuzadas atearam fogo na vítima.
Silva foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e pela Polícia Militar (PM). A Polícia Civil informou que havia quatro moradores de rua dormindo no local no momento do crime. Silva teve queimaduras de terceiro grau em 27% do corpo, inclusive na região da cabeça. O caso está sendo investigado pela 4ª Delegacia de Polícia, no Guará.
Edição: José Romildo
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Sequestradora de Pedrinho, Vilma Martins volta a ser detida, diz polícia


04/08/2013 16h03 - Atualizado em 04/08/2013 16h03

Segundo a PM, ex-empresária foi flagrada com veículo roubado, em Goiânia.
Ela já havia sido detida neste ano por receptação de produtos furtados.



Ex- empresária Vilma Martins é detida em Goiânia
(Foto: Weimer Carvalho/O Popular - 20/06/08)


A ex-empresária Vilma Martins voltou a ser detida pela polícia na noite de sábado (3) no Setor Jardim Planatalto, em Goiânia. Segundo a Polícia Militar, ela foi flagrada com um veículo com registro de roubo. Vilma Martins é conhecida pelo sequestro de dois bebês, dentre eles Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho, levado de uma maternidade de Brasília, em 1986.
De acordo com a PM, ela foi flagrada pelo Batalhão de Trânsito ao estacionar em local proibido na Avenida T-9. Os policiais checaram a situação do veículo, um Ford Fiesta, e constataram que o carro tinha registro de roubo, além de mais de R$ 5 mil em multas e não pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Segundo a Polícia Militar, ela foi encaminhada ao 20º Distrito Policial, no Setor Sudoeste. A reportagem do G1 entrou em contato com a Polícia Civil, que informou que Vilma Martins não está detida na delegacia. A polícia também não informa o procedimento realizado, nem se a ex-empresária foi transferida ou liberada.
Esta é a segunda vez que Vilma Martins é detida neste ano. Em maio, a ex-empresária foipresa suspeita de receptação de materiais odontológicos furtados de uma clínica de Goiânia. Na ocasião, ela foi flagrada no mesmo veículo e no mesmo setor. A polícia encontrou o material roubado dentro do carro.
Condenação

Na ocasião, Vilma negou que tivesse participação no crime e afirmou: “Nunca fiz nada de errado em 57 anos de vida”. Autuada por receptação, Vilma foi levada na mesma noite para a carceragem da 14º Distrito Policial, na Vila Pedroso, onde passou cinco dias e, em seguida, foi transferida para Casa de Prisão Provisória (CPP), no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
Vilma Martins foi condenada, em 2003, a 15 anos e nove meses de prisão por subtrair Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho, e Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva, retirados de maternidades de Brasília e Goiânia em 1986 e 1979, respectivamente.
Em junho de 2008, ela ganhou o direito de cumprir pena em regime aberto. Em agosto daquele ano, depois de ter cumprido um terço da pena, Vilma obteve a liberdade condicional.
Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho, com os pais - sequestrado por Vilma Martins (Foto: Sebastião Nogueira/O Popular - 22/02/2003)Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho, com os pais
(Foto: Sebastião Nogueira/O Popular - 22/02/2003)
Caso Pedrinho
Pedrinho ele foi sequestrado, poucas horas depois de nascer, no dia 21 de janeiro de 1986, em uma maternidade de Brasília. A imprensa divulgou amplamente o crime. Mesmo com o passar dos anos, os pais biológicos da criança, Jayro Tapajós e Maria Auxiliadora Rosalina Braule Pinto, nunca desistiram de procurar o filho. Mais de uma década depois do sequestro, as fotos do bebê foram publicadas em vários sites de pessoas desaparecidas.
Foram várias pistas falsas. Até que, em 2002, Vilma Martins foi reconhecida como a sequestradora do bebê, que ela registrou como filho e deu o nome de Osvaldo Martins Borges Júnior, em Goiânia.
Pedrinho se encontrou pela primeira vez com os pais biológicos em novembro de 2002, mas continuou morando em Goiânia com as irmãs. Somente no ano seguinte, ele se mudou para Brasília, onde passou a viver com Jayro, Maria Auxiliadora e os irmãos biológicos. O jovem cursou direito, tornou-se advogado, casou-se e, no final do ano passado, teve o seu primeiro filho. Durante todo esse período, ele manteve contato com Vilma Martins.

by G1

PT profissionaliza ação nas redes sociais para se reaproximar das massas


Por Ricardo Galhardo - iG São Paulo | 04/08/2013 06:00

Ex-presidente Lula afirma que mobilizações pegaram todos de surpresa e que PT age de forma antiga na política


Em janeiro deste ano um grupo de assessores e dirigentes petistas se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede do Instituto Lula e sugeriu um forte investimento na profissionalização da gestão das redes sociais pelo PT e pelo governo.


Gabriela Bilo/Futura Press


Segundo relatos, Lula está fascinado com as novas formas de atuação política online. Na imagem, ex-presidente em julho passado

Eles teriam mostrado a Lula um gráfico sobre a presença dos grupos políticos nas redes. A direita era um enorme círculo azul. A esquerda um pequeno círculo vermelho e o PT um ponto, representado apenas pelo perfil Dilma Bolada no Facebook.

Segundo relatos, Lula teria ignorado a sugestão.

"Isso aí não resolve nada. O que importa é a TV", teria dito o ex-presidente, adepto até então da máxima do marqueteiro Duda Mendonça segundo a qual "TV é benzetacil, o resto é homeopatia".

Seis meses depois, na última sexta-feira (2), o próprio Lula fez uma espécie de mea culpa na abertura do XIX Encontro do Foro de São Paulo.

"Estes movimentos que aconteceram aqui no Brasil pegaram de surpresa todos os partidos de esquerda, de direita, o movimento sindical e o movimento social porque nós ainda agimos da forma antiga para fazer política", disse Lula. "Nós na verdade, fomos ficando velhos e perguntamos: cadê a juventude do nosso partido? Como estamos nos comunicando com eles?", admitiu o ex-presidente.

Leia também: "As manifestações não foram nada demais", diz Francisco de Oliveira

Com aval de Lula, o PT decidiu contratar uma equipe para gerir de forma profissional a presença nas redes sociais, segundo o presidente do partido, Rui Falcão. A contratação faz parte de uma série de medidas que o PT pretende adotar para se reaproximar dos movimentos sociais, em especial da juventude que foi às ruas em junho.

Hostilizados: Participação do PT em ato em SP termina com briga e fuga

Alex Falcão/Futura Press


Integrantes do Movimento Passe Livre em encontro com Conselho da Cidade, em junho

Nas últimas semanas movimentos da juventude como os coletivos digitais ganharam espaço nas concorridas agendas de Lula e Falcão. O presidente do PT fez uma reunião com toda a executiva da Juventude Petista e intermediou encontros do ex-presidente com o a Juventude do PT, blogueiros progressistas e o coletivo Fora do Eixo, do qual faz parte a mídia NINJA.

Segundo relatos, Lula está fascinado com as novas formas de atuação política online.

Análise: Protestos mundiais refletem crise de representação política

Além de melhorar a estratégia de comunicação, o PT decidiu incorporar vários pontos da pauta de reivindicação da juventude. Temas como novas oportunidades de acesso à educação, melhoria do transporte nas grandes cidades, abertura de mais espaços públicos para atividades culturais, aumento na qualidade dos empregos para os jovens, criação de novos canais de participação política, descriminalização das drogas leves e também o direitos das mulheres entraram na pauta do partido e, segundo Falcão, devem ser o eixo da modernização programática. O palco para a inclusão desta nova agenda deve ser o 5º Congresso Nacional do PT, em fevereiro de 2014.

Veja coberta dos protestos no País

"O legado destes 10 anos de governo petista deve ser divulgado e protegido, mas não é suficiente. Temos que pensar no futuro. E o futuro não é o presente com um upgrade", disse Rui Falcão.

Depois do impacto negativo no primeiro momento (queda da aprovação do governo e reação negativa à presença de partidos políticos), o PT passou a encarar as mobilizações populares de forma mais otimista, como uma oportunidade de guinada à esquerda. Daí as críticas aos aliados "conservadores" e à dependência excessiva de marqueteiros eleitorais incluídas em documentos do partido.

AE

"O futuro não é o presente com um upgrade", disse Rui Falcão

Depois de muita discussão e dúvidas a direção petista elaborou um discurso segundo o qual os governos dos partidos criaram uma base de direitos sociais que permitiu à juventude ir às ruas impor uma nova agenda ao país e cobrar um salto de qualidade baseado na melhoria dos serviços públicos. Além disso, o partido identificou pontos em comum como a reforma política e o combate aos monopólios da mídia.

Diante dos protestos de junho, o PT assumiu, dentro da coalizão de 22 partidos que integra o governo Dilma Rousseff, o papel de pressionar o governo pela inclusão das novas pautas e por mudanças na política econômica. "Cabe tudo isso no Orçamento da União?", questiona Rui Falcão. "Não cabe. Então uma saída é rever o modelo fiscal e a escala das prioridades de gastos do governo", disse ele.

Tudo isso para aproximar o PT das novas formas de mobilização política e tentar trazer os novos ativistas para a política partidária. "A utilização das redes sociais, a possibilidade de cada um dizer para todo mundo o que pensa de forma individual no Facebook é, de certa forma, um movimento antiassociativo e, portanto, antipartidário também já que os partidos pressupõem associação e ação coletiva", disse Falcão. "A última grande formulação programática do PT foi no final dos anos 80. Desde então temos nos dedicado a outras tarefas como o governo ou os embates eleitorais que acontecem a cada dois anos. Temos que nos perguntar o que a gente representa hoje e a quem estamos nos dirigindo. No 5º Congresso vamos ter que refletir sobre tudo isso", completou.

Para o PT, mais do que pegar carona na onda de manifestações, é fundamental renovar os vínculos naturais e históricos do partido com os movimentos sociais. "Houve um refluxo dessa relação, seja porque alguns movimentos se sentiram contemplados pelo governo, seja porque muitas pessoas foram beneficiadas nestes 10 anos", admitiu Falcão. "Precisamos reforçar este vínculo. Os movimentos são ao mesmo tempo a linha de frente das mudanças sociais e a retaguarda estratégica para nos defender em caso de ataques", disse o presidente do PT.

by ultimo segundo

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