O colossal edifício que nos anos 40 albergou o antigo Ministério de Obras Públicas (que movimentava grande parte do Orçamento Nacional da época) - e que atualmente é a sede da pasta de Ação Social (que hoje em dia movimenta grande parte do Orçamento Nacional) - ostenta o único ‘monumento à propina’ conhecido no planeta.
Na ponta que olha para o norte, do lado direito do
edifício art-déco – para quem entra no Ministério - está a estátua de um homem que,
com pouca sutileza, coloca os dedos abertos
estratégicamente para o lado, na espera de uma "molhada de mão".
Diz a lenda que o arquiteto colocou essa estátua ali como recado futuro
sobre as eventuais negociatas que seriam protagonizadas nesse edifício.
Durante anos, o detalhe passou despercebido.
A estátua está na artéria mais movimentada do centro de Buenos Aires: Avenida 9 de Julio, 1925.
PROPINAS MAIS CARAS - Uma pequisa realizada pela consultoria KPMG no início deste ano destacou que a imensa maioria dos altos executivos entrevistados afirmam que as propinas solicitadas – em média – são de 20% do total da quantia dos contratos.
Isso indica que os custos dos subornos cresceram de forma exponencial ao longo dos últimos 30 anos no país. Segundo fontes empresariais, nos anos 80 o pedido para “molhadas de mão” costumava ser de 6% do contrato.
Mas, nos anos 90 – embalada pelas controvertidas privatizações realizadas durante o governo do presidente Carlos Menem – a proporção elevou-se para uma faixa entre 8% e 10%.
Em 2003, um poderoso ministro do governo do então presidente Néstor Kirchner foi batizado (pelas más línguas) de “Celular”.
O irônico apelido fazia referência ao prefixo “15” dos telefones celulares na Argentina, em alusão à suposta comissão de 15% que ele cobrava dos contratos que autorizava.
O apelido já não vale, pois – novamente, segundo as más línguas – a tarifa teria subido.
VOCABULÁRIO DAS PROPINAS
Coima – Suborno preparado, organizado. “Propina”, em espanhol, é usado para “gorjeta”.
La Banelco – Alusão à “Banelco”, marca de um cartão de débito bancário. Surgiu no ano 2000, quando o então ministro do Trabalho, Alberto Flamarique, teria afirmado que resolveria um impasse sobre a votação da polêmica Lei Trabalhista no Senado com “La Banelco”. Ou seja, pagando aos senadores. O termo é usado de forma geral para o pagamento de subornos em empresas e governo.
Diego – Alusão a “El Diez” (O Dez), apelido do ex-astro do futebol, Diego Armando Maradona, por causa do número em sua camiseta. Mas, neste caso, o “Diego” refere-se ao 10% de alguma quantia em jogo. Uma espécie de dízimo periódico. Essa proporção, evidentemente, foi superada nos últimos anos.
Sobre – “Sobre” é “envelope”. Os subornos são enviados em envelopes.
Cadena de la felicidad – Rede da felicidade. O dia - ou semana - em que são distribuídos os “sobres”.
Tener el lápis – “Ter o lápis” é ter o poder. E, consequentemente, é quem – no governo - pode autorizar contratos com empresas. Estas, precisam pagar a comissão para quem “tiene el lápis”.
FRASES SOBRE PROPINAS E CORRUPÇÃO
“Para que a Argentina progrida, a gente tem que deixar de roubar pelo menos durante dois anos” (Luis Barrionuevo, um dos principais líderes sindicais do país, nos anos 90).
- “Neste país ninguém faz dinheiro trabalhando” (Luis Barrionuevo, sindicalista, na virada deste século).
- “Se fosse pelos antecedentes penais e judiciários, não sobraria ninguém no país” (José Luis Manzano, Ministro do Interior no governo Menem, no início dos anos 90).
- “A economia da Argentina só cresce porque de noite os políticos e empresários estão dormindo e não podem roubar” (estadista francês Georges Clemenceau, após sua visita à Buenos Aires no começo do século vinte).