sábado, 13 de dezembro de 2014

Exemplo de superação, quadra de futebol flutuante vira atração turística Ela fica em vila na Tailândia com moradores apaixonados por futebol. Na falta de locais planos, eles construíram a quadra no mar.

Da France Presse  
Com seus penhascos impressionantes e seu mar de um azul intenso, a ilha de Panyee é um típico paraíso tailandês. Mas não são as belezas naturais que levam os turistas até lá.
Pertencente à província de Phanga Nga, a ilha atrai cada vez mais visitantes por sua quadra de futebol inovadora. Localizada ao lado de um píer, a quadra de 16 m x 25 m se tornou um tesouro nacional depois de uma campanha publicitária de um banco em 2010, que celebrizou a paixão da comunidade de pescadores pelo futebol.
Desafio
Moradores construíram a quadra porque não tinham lugar para jogar devido à falta de locais planos na cidade (Foto: Christophe Archambault/AFP)Moradores construíram a quadra porque não tinham lugar para jogar devido à falta de locais planos na cidade (Foto: Christophe Archambault/AFP)
A falta de lugares planos na cidade não foi empecilho para os moradores, que originalmente jogavam bola na praia, mas só durante a maré baixa, quando havia uma faixa de areia de tamanho suficiente.
Eles então construíram a primeira quadra flutuante há 30 anos, mas ela era feita de madeira com pregos rústicos, e por isso perigosa.
Inspirado na dedicação dos moradores, um banco fez uma campanha falando do sucesso do time de futebol local em um torneio apesar da falta de condições para treinar. Depois da campanha, as autoridades locais construíram a quadra flutuante que está lá atualmente, e que tem contribuído com o turismo local.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O vírus da Aids está mais fraco

Pesquisa inglesa afirma que o HIV está perdendo sua capacidade de se multiplicar dentro do corpo e de provocar o surgimento dos primeiros sintomas da enfermidade

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
Depois de passados 33 anos após o surgimento dos primeiros casos de Aids, cientistas ingleses surpreenderam o mundo na semana passada com a afirmação de que o HIV – o vírus causador da doença – está ficando mais fraco. Ou seja, sua capacidade de efetivamente desencadear a enfermidade está menor, além de hoje ser maior o tempo para começarem a aparecer os primeiros sintomas após a infecção. A constatação é o destaque do artigo sobre o assunto, publicado na última edição da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, uma das mais renomadas do mundo.
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A pesquisa foi realizada por cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, com participação de estudiosos da África do Sul, do Canadá, do Japão e da Universidade Harvard (EUA). O trabalho investigou o estado de saúde de mais de duas mil mulheres infectadas em Botsuana e na África do Sul, dois dos países africanos mais atingidos pela epidemia de Aids.
Eles verificaram que em Botsuana – onde o vírus está presente há pelo menos dez anos a mais do que na África do Sul –, a capacidade de multiplicação do HIV está cerca de 10% mais baixa do que no outro País. “Estamos observando a evolução do HIV ocorrer diante de nós e é surpreendente o quanto rápido o processo está acontecendo”, afirmou Phillip Goulder, da Universidade de Oxford. “A capacidade de o vírus causar a doença está se atenuando e isso contribuirá para sua eliminação”, completou o cientista.
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De acordo com o estudioso inglês, há 20 anos uma pessoa levava em torno de dez anos, após contrair o vírus, para manifestar os primeiros sintomas da Aids. “Mas nos últimos dez anos, em Botsuana, esse período aumentou para 12,5 anos. Pode parecer um tempo pequeno, mas visto dentro de um contexto mais amplo é uma mudança rápida. Pode-se imaginar que, a continuar assim, no futuro teremos pessoas que poderão ficar sem apresentar sintomas por décadas.”
Há duas explicações para a chance de isso ocorrer. A primeira reside na própria mecânica de infecção associada ao HIV. Ao entrar no organismo e misturar seu material genético ao das células invadidas – as CD-4, que são parte do sistema de defesa do organismo –, o vírus passa a usar essas células como se fossem fábricas e segue seu curso de replicação. Porém, em alguns indivíduos com sistema imunológico mais forte, o HIV muitas vezes sofre mutações para poder sobreviver. Nesse processo, ele pode se enfraquecer.
A outra tese diz respeito ao uso dos remédios para impedir a multiplicação viral (antirretrovirais). Depois de aplicar um modelo matemático para investigar o efeito dessas medicações, os cientistas verificaram que o tratamento seletivo dado a pessoas com baixa contagem de CD-4 irá contribuir, por diversos mecanismos, para que prevaleçam as formas mais brandas do vírus.
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Isto É Independente

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Surto de norovírus infecta 200 pessoas em cruzeiro

Infecção provoca gastroenterite e inclui sintomas como náusea e diarreia. Navio está na Nova Zelândia e deve ir para a Austrália nesta segunda-feira

No navio Dawn Princess, 200 pessoas foram contaminadas por norovírus
No navio Dawn Princess, 200 pessoas foram contaminadas por norovírus (Divulgação)
Um surto de norovírus em um cruzeiro na Nova Zelândia deixou cerca de 200 pessoas infectadas. O vírus, um dos principais causadores de gastroenterite, é transmitido por ingestão de alimentos crus manipulados por alguém contaminado. 
Autoridades de saúde do país disseram nesta segunda-feira que todas as infecções foram confirmadas por testes laboratoriais. Os passageiros contaminados foram isolados em suas cabines para evitar a propagação da doença. Segundo o governo neozelandês, o surto viral no cruzeiro parece estar em declínio.
O navio Dawn Princess, operado pela empresa Princess Cruise, tem mais de 1 500 pessoas a bordo e deve partir da Nova Zelândia para a Austrália nesta segunda-feira, após 13 dias de viagem. 
A última vez em que um navio desta empresa registrou um surto de norovírus foi em setembro de 2012. Os sintomas da infecção costumam durar de um a três dias e incluem dor de estômago, náusea e diarreia.
by Veja

domingo, 7 de dezembro de 2014

O juiz certo na operação certa

Operação Lava Jato


Como pensa o juiz federal Sergio Moro, responsável pelas investigações do maior propinoduto já descoberto na história brasileira

Daniel Haidar, do Rio de Janeiro, e Laryssa Borges, de Brasília
O juiz federal de Curitiba Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, participa do Seminário Nacional sobre Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, no Rio de Janeiro
INDEPENDENTE – O juiz federal de Curitiba Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato (Ricardo Borges/Folhapress)
Regras tácitas ditam o funcionamento de empreiteiras. Lances em licitações devem ser preservados internamente com o máximo sigilo. Brigas ruidosas entre concorrentes devem ser evitadas. Seguido à risca, esse receituário foi crucial para que, ao longo dos anos, construtoras virassem conglomerados com atuação diversificada e controlassem as maiores e mais importantes obras públicas e privadas do país. Mas desde o dia 14 de novembro, quando foi deflagrada a sétima fase da Operação Lava Jato, o país foi apresentado ao lado escuro domodus operandi das construtoras, um mundo de negociatas abastecidas cotidianamente com propinas milionárias. O país conhecia o Clube do Bilhão.
Por trás de cada decisão que levou empresários de sucesso para a cadeia está o jovem juiz federal Sergio Moro. Aos 42 anos e avesso aos inevitáveis holofotes instalados diante da 13ª Vara Federal em Curitiba, Moro é hoje o magistrado mais respeitado pelos colegas na Justiça Federal. Em uma votação promovida entre associados pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), recebeu 141 votos e liderou uma lista tríplice a ser encaminhada como indicação para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa.
A consagração não podia ocorrer em melhor momento. Os crimes investigados na Operação Lava Jato são o maior desafio de sua carreira. Além da trajetória na Justiça Federal do Paraná, Moro também passou pelo STF como auxiliar da ministra Rosa Weber no julgamento do mensalão, até então o maior caso criminal já analisado pela Corte – mas que diante do petrolão, hoje, poderia ser julgado num tribunal de pequenas causas, como afirmou o ministro do Supremo Gilmar Mendes. Profundo conhecedor de detalhes que permeiam os maiores crimes financeiros, Sergio Moro ganhou confiança para lidar com as práticas do tribunal e elaborar o embasamento teórico dos votos da ministra sobre lavagem de dinheiro. Na Lava Jato, teve segurança para contornar, em maio, o risco de libertação de réus determinado por liminar do ministro Teori Zavascki.
"Moro foi o primeiro juiz a fazer delação premiada no Brasil. Foi um dos primeiros a conseguir cooperação internacional para rastrear contas no exterior. É um estudioso e uma pessoa que consegue fazer um trabalho brilhante, seguro e firme. Esse know-how está sendo utilizado agora", afirma a juíza federal Salise Sanchotene. A seguir, o que pensa o juiz que, mesmo diante de seu momento mais consagrador, se nega a aceitar o título de “ídolo nacional”

by Veja

sábado, 6 de dezembro de 2014

Proposta de reforma do Código Penal transforma caixa dois em crime

O texto do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) impõe prisão de dois a cinco anos para quem for condenado

O senador Vital do Rêgo, autor da proposta que criminaliza o caixa dois
O senador Vital do Rêgo, autor da proposta que criminaliza o caixa dois (Agência Senado/VEJA)
Nos próximos dias, o Senado irá apresentar uma proposta de reforma do Código Penal para endurecer as penalidades a quem comente desvios de dinheiro público e crimes de corrupção. O texto eleva a pena para esses crimes e pune com prisão quem comete caixa dois e o servidor ou político que se enriquece ilicitamente. A proposta também prevê sanções severas, até mesmo com a dissolução, para empresas que tenham cometido crimes contra a administração pública.
A minuta do novo Código Penal, obtida pelo jornal O Estado de S. Paulo, prevê que os crimes de corrupção ativa e corrupção passiva tenham uma pena mínima elevada de dois para quatro anos de prisão e a máxima permaneça em 12 anos. Essa mudança tem como objetivo impedir que o condenado pelos crimes consiga se livrar de uma punição mais efetiva. Pelo regime atual, o condenado à pena mínima pode, por exemplo, prestar serviços para a comunidade. Segundo a proposta, ele teria obrigatoriamente de começar a cumprir pena em regime semiaberto, isto é, trabalhar fora e dormir na cadeia.
O projeto também propõe que a pena pelo crime de peculato (crime praticado pelo funcionário público contra a administração) terá a mesma punição que a de corrupção.
O texto será apresentado na quarta-feira pelo relator da proposta, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. A intenção é votar a proposta no colegiado na semana seguinte, dia 17.
Segundo a proposta, a corrupção e o peculato entram na nova lista dos crimes hediondos, isto é, tornam-se crimes inafiançáveis e não passíveis de serem perdoados pela Justiça, tendo regimes de cumprimento de pena mais rigoroso que os demais crimes.
É introduzida a figura do crime de enriquecimento ilícito do servidor público, uma das promessas da presidente Dilma Rousseff nas eleições e inexistente na atual legislação. O delito é punido com pena de dois a cinco anos de prisão, além do confisco dos bens. A proposta também cumpre outra promessa eleitoral de Dilma, que prevê pena de prisão de dois a cinco anos para quem for condenado por caixa dois. Atualmente, a prática é punível apenas com a desaprovação das contas do partido ou candidato.
O texto ainda prevê aumento generalizado de penas para crimes como compra e venda de votos e lavagem de dinheiro. Prevê também punições para empresas que cometerem crimes contra a administração pública. 
(Com Estadão Conteúdo)

Cápsula Órion volta à Terra depois de sua primeira viagem ao espaço

Nave com quea Nasa pretende levar humanos a Marte passa por primeiro teste não tripulado


POR 

CABO CANAVERAL - A cápsula Órion, da Nasa, voltou à Terra no início da tarde desta sexta-feira após sua primeira viagem ao espaço. Com um dia de atraso, a agência espacial americana lançou a nave às 10h05 de hoje em seuprimeiro voo de teste do Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Flórida.

Na quinta-feira, um problema no foguete Delta IV Heavy, da empresa United Launch Alliance (ULA), obrigou a Nasa a adiar o voo da cápsula, com a qual planeja enviar astronautas para explorar um asteroide capturado por uma nave robótica e trazido à órbita da Lua na década de 2020 e para Marte em meados dos anos 2030 — primeira iniciativa do tipo desde que as missões Apollo levaram o homem à Lua, há 40 anos.

Neste primeiro teste, a Nasa pretende analisar principalmente o desempenho de sistemas como a separação por etapas do foguete lançador, a blindagem contra a alta radiação em algumas regiões do espaço e o calor abrasador de 2.200°C que atinge seu escudo térmico durante a descida.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/capsula-orion-volta-terra-depois-de-sua-primeira-viagem-ao-espaco-14746356#ixzz3L8wPSoHJ
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Como vivem os frangos que comemos

Produtor fica revoltado com a falsidade da propaganda de frigorífico e denuncia em vídeo as condições de vida das aves criadas para abate nos EUA
Nicholas Kristof
 



Frangos criados para a Perdue, dos EUA: vídeo revela maus tratos (Reprodução/Youtube)
Ao comprar um frango da marca Perdue no mercado, poderíamos imaginar que o animal teve uma confortável existência de ave de classe média.
“Fazer a coisa certa significa tratar as galinhas com consideração”, diz Jim Perdue, diretor da empresa, num vídeo promocional. Os rótulos da empresa trazem um selo de aprovação do Departamento da Agricultura garantindo que a ave foi “criada fora de gaiolas” e, às vezes, “criadas livres de maus tratos”, embora a Perdue diga que este último será gradualmente aposentado.
Os consumidores aprovam. A maioria de nós é formada por carnívoros que ainda assim desejam um tratamento decente para os animais, e uma pesquisa revelou que 85% dos consumidores prefeririam comprar frangos que viessem com selos como o de “criadas livres de maus tratos” visto nos rótulos da Perdue.
Entra em cena Craig Watts, 48 anos, granjeiro da Carolina do Norte que diz criar 720 mil frangos por ano para a Perdue. Ele assistiu ao vídeo de Jim Perdue e teve uma crise de consciência. “Meu queixo caiu”, disse ele. “A verdade não poderia ser mais diferente.”Assim, Watts abriu suas quatro granjas para mostrar como é a vida dos frangos da Perdue. A visão é perturbadora.
Watts convidou um grupo de defesa dos direitos dos animais, Compassion in World Farming, para documentar durante meses as condições do local. A organização acaba de lançar o vídeo resultante em sua página da internet.
O mais chocante é que o ventre de quase todos os frangos perdeu as penas, parecendo uma enorme ferida. A barriga da imensa maioria das galinhas é uma contínua escara. Como menino do interior que criava pequenos bandos de galinhas e gansos, nunca vi nada parecido.
Um motivo parece ser a técnica moderna de reprodução: as galinhas são agora criadas para terem peitos imensos, e isso faz com que muitas vezes seus corpos sejam pesados demais para as pernas. A revista científica Poultry Science calculouque, se os humanos crescessem a um ritmo semelhante ao dos frangos humanos, uma pessoa pesaria 330kg quando chegasse a oito semanas de idade.
Esses frangos não correm por aí nem ciscam como pássaros normais. Eles cambaleiam alguns passos, muitas vezes sobre pernas deformadas, e então desabam no excremento de dezenas de milhares de pássaros anteriores. O chão é encharcado com amônia, que parece atacar as penas e a pele.
Entrei em contato com a Perdue para saber o que a empresa tinha a dizer. Jim Perdue não quis fazer nenhum comentário, mas uma porta-voz da empresa, Julie DeYoung, concordou que o ventre dos animais não deveria estar praticamente em carne viva. Ela deu a entender que o granjeiro talvez estivesse cuidando mal da propriedade.
Essa alegação não foi engolida por Watts, cuja família é dona da granja desde o século 18; ele diz que cria frangos para a Perdue desde 1992, seguindo meticulosamente as especificações da empresa.
Para Watts, a Perdue percebeu que os consumidores estavam preocupados com o bem estar dos animais e a segurança alimentar, e decidiu manipular o público.
O selo que atesta que os frangos foram criados “fora de gaiolas” é enganosa, porque as aves criadas para o abate não ficam em gaiolas. O problema das gaiolas afeta as galinhas criadas para botarem ovos, e não as aves que comemos. Assim, dizer que as galinhas são “criadas fora de gaiolas” só faz sentido para as aves que botam ovos, e não para os frangos de abate. Além disso, os frangos da Perdue ficam tão amontoados na granja que é como se ficassem em gaiolas. Cada ave na granja Watts tem para si apenas 0,05m2.
Por que o governo americano está aprovando esses métodos como “livres de maus tratos”, enganando assim o consumidor?
“O depto. de Agricultura dos EUA é cúmplice da Perdue num empreendimento enganoso contra o consumidor”, diz Leah Garces, diretora da Compassion in Food Farming nos EUA, que descreve o caso como fraude de marketing.
Talvez a Perdue tenha optado por rever algumas dessas afirmações. A empresa fez um acordo com a Humane Society of the US ao concordar em remover o selo de “criado livre de maus tratos” de alguns dos rótulos, embora negue qualquer tipo de má conduta.
Tudo isso deixa milhões de americanos – eu entre eles – sem saída. Comemos carne, mas queremos minimizar a crueldade contra o animais. Trata-se de um rumo incerto, inconsistente e talvez até hipócrita, e já seria difícil o bastante sem empresas gigantescas do setor dos alimentos tentando nos manipular – em conluio com nosso próprio governo.
Leah sugere que tais consumidores procurem etiquetas com os dizeres “certificado de bons tratos”, “parceria global pelos animais” ou “aprovado pelo bem estar animal”. Mas essas são mais caras e difíceis de encontrar.
Os métodos de criação de frangos da Perdue são típicos da agricultura industrial. Assim, chegamos ao grande dilema: a grande indústria da agricultura obteve sucesso impressionante na produção de alimento barato – o preço do frango teve queda de 75% em termos reais desde 1930. Mas há imensos custos externos, como a resistência aos antibióticos e apoluição da água, bem como uma crueldade rotineira que só toleramos porque é cometida longe dos nossos olhos.
Basta torturar uma única galinha e podemos ser presos. Mas, se abusarmos de centenas de milhares de galinhas durante toda a sua vida, isso não passa de agribusiness.
Não sei onde estabelecer o limite. Mas, quando as galinhas têm imensas feridas abertas na barriga, eu me pergunto se a criação de animais não se converteu em abuso contra os animais./Tradução de Augusto Calil.

by THE NEW YORK TIMES

Primeiro ônibus do mundo movido a esgoto começa a circular

ECONOMIA & NEGÓCIOS
21 Novembro 2014

Veículo que funciona com gás biometano ganhou dos ingleses o apelido de ‘número dois’

Bio-bus, movido a gás biometano (Foto: divulgação)
Bio-bus, movido a gás biometano (Foto: divulgação)
O primeiro ônibus do mundo movido a esgoto começou a circular na Grã-Bretanha. O ônibus ecológico tem um motor alimentado por dejetos humanos e lixo orgânico.
Com 40 lugares, o Bio-bus vai circular entre a cidade de Bath e o aeroporto de Bristol movido a gás biometano.
O combustível é produzido a partir do tratamento do esgoto da região. O veículo eco-friendly pode viajar até 300 quilômetros com um tanque. A capacidade do tanque equivale à produção anual de esgoto de cinco pessoas. Agências internacionais

Ônibus que funciona com titica de galinha já está circulando

ECONOMIA & NEGÓCIOS

05 Dezembro 2014 | 18:26

Combustível alternativo do veículo é produzido por 84 mil aves de uma granja em Foz do Iguaçu, no Paraná

Novo combustível: titica de galinha (Foto: Divulgação)
Novo combustível: titica de galinha (Foto: Divulgação)
Já está circulando no Brasil o primeiro ônibus movido a gás proveniente de titica de galinha. O projeto é da geradora de energia Itaipu, localizada no Paraná, e da fabricante de caminhões e ônibus Scania, que lançaram o veículo abastecido com biometano.
O gás usado é produzido a partir de dejetos de 84 mil aves de uma granja que fica a cem quilômetros da usina.
O novo combustível teria algumas vantagens em relação ao óleo diesel, como emitir 70% a menos de poluentes e sair até três vezes mais barato. O ônibus já está circulou no Paraná e agora seguirá para demonstrações no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Ele é o primeiro do tipo na história da indústria de veículos comerciais do Brasil.
Silvio Munhoz, diretor de Vendas de Ônibus da Scania no Brasil, explica que o veículo é fabricado na Suécia, e atende às normas internacionais. O ônibus é considerado um dos mais modernos do transporte público do mundo, com motor dedicado ao uso tanto do com gás natural veicular (GNV) quanto do biometano.
Segundo ele, várias cidades já entraram em contato para conhecer a nova tecnologia. “O mais importante é perceber que ela é 100% viável para comercialização”, afirma Munhoz. Durante quase um mês o veículo fez o transporte de trabalhadores e estudantes, sendo abastecido apenas com biometano.
O presidente da Associação Brasileira de Biogás, Cícero Bley Júnior, conta que o objetivo é demonstrar a viabilidade da aplicação do biometano na mobilidade urbana, para que ele possa ser integrado à matriz de combustíveis do país. Atualmente a Agência Nacional do Petróleo (ANP) está com uma consulta pública aberta para regulamentar o uso do combustível.
“Acreditamos na viabilidade e estamos iniciando um novo período na busca de alternativas mais sustentáveis ao meio ambiente”, afirma Bley. No primeiro teste, o ônibus circulou 3 mil quilômetros e, em relação ao preço por quilometragem, o custo do biometano foi menor em 56% em relação a um veículo similar a diesel.
Capacidade. O ônibus Scania tem 15 metros de comprimento, com dois eixos direcionais e capacidade para até 120 passageiros. As características do motor Scania Euro 6 a gás permitem que o veículo rode não só com biometano, mas também com gás natural ou a combinação de ambos.
Antes de chegar ao Brasil, o coletivo passou pelo México e pela Colômbia, sempre abastecido com GNV. Em Bogotá, foi testado em condições extremas: altitude elevada, baixa pressão atmosférica, tráfego pesado e ladeiras.
O motorista Miguel Morales Gomes garante que não notou diferença de desempenho do veículo abastecido com biometano ou com o GNV convencional, derivado do petróleo. “A diferença é zero, tanto em topografias de subidas quanto de descidas”. No Brasil, a granja que fornece os dejetos produz 700 metros cúbicos de biometano por dia. Rene Moreira, especial para O Estado de S. Paulo

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Brasil Justiça mantém júri, mas reduz pena de Alexandre Nardoni






Os desembargadores da 4ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de SP negou a anulação do julgamento do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá (Foto: Juliana Cardilli/ G1)

Os desembargadores da 4ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo decidiram por unanimidade, nesta terça-feira (3), negar a anulação do julgamento do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenados em 2010 por matar Isabella (filha de Nardoni) em 2008. No entanto, a pena de Alexandre Nardoni foi reduzida em cerca de 11 meses devido a uma falha no cálculo da pena em relação aos agravantes. A pena de Anna Jatobá, madrasta da garota, foi mantida.

A pena de Alexandre ficou definida em 30 anos, 2 meses e 20 dias. Em 27 de março de 2010, depois de quatro dias de julgamento, ele tinha sido sentenciado a 31 anos, 1 mês e dez dias de prisão sob a acusação de ter jogado a própria filha Isabella da janela do sexto andar do prédio. A madrasta da menina recebeu pena de 26 anos e 8 meses de reclusão pela esganadura antes da queda.

A redução da pena ocorreu devido a um erro em seu cálculo, quando foram incorporados os valores dos agravantes - houve uma sobreposição na sua aplicação. Em casos de crimes com agravantes, sobre a pena base se incidem frações dela mesma para cada qualificadora. No caso de Alexandre, um dos agravantes não foi calculado sobre a pena base, e sim sobre a pena já com duas qualificadoras. Por isso, houve um ligeiro aumento na pena correta.

“Não é por mérito dele [Alexandre Nardoni], ou porque ele merecia menos pena, ou porque a pena foi exacerbada. Nós temos que calcular a pena em três fases. Houve um acerto de colocação de pena. Eu não mudei nenhum fator de incidência da pena. O que eu fiz é um novo cálculo matemático em cima de todos os valores que incidem na origem”, disse o relator do processo, desembargador Luís Soares de Mello Neto.

A autoria do crime e a validade do julgamento, entretanto, não geraram dúvidas ao desembargador. “O recurso estava muito bem feito, me deu muito trabalho, mas tenho certeza absoluta de que tudo correu exatamente como eu falei, que foram os dois os autores do homicídio.”

Defesa Para o defensor do casal, Roberto Podval, a redução da pena foi uma vitória. “Eu saio achando que ganhamos, com uma redução de pena, ainda que pequena. Era inesperada qualquer redução neste tribunal, nesta Câmara, fomos surpreendidos com uma redução, acho que pequena, acho que poderia ter sido maior, poderia ter sido de ambos, mas para mim foi o começo de uma vitória. Não tenho dúvida de que outras virão nos tribunais superiores”, afirmou.


Em relação à manutenção do júri que condenou seus clientes, o advogado afirmou que a decisão já era esperada. “O que aconteceu aqui era em grande parte previsível, a maioria das teses já tinham sido trazidas através de habeas corpus, já tinham sido negadas, mas é necessário trazê-las de novo para poder subir aos tribunais superiores.”


Já o promotor que acompanhou todo o caso, Francisco Cembranelli, minimizou a redução da pena. “Não significou nada, isso é irrelevante no contexto. Foi tão mínima no contexto da sanção que passou completamente despercebida, em uma pena de mais de 30 anos reduziu-se menos de um ano, isso não vai significar nada no cumprimento da sanção. A defesa vem colhendo desde o início do caso decisões desfavoráveis e todas por unanimidade, o que mostra que a acusação esta absolutamente e categoricamente correta”, afirmou.


A procuradora Sandra Jardim, que discursou durante o julgamento, ressaltou que a função do tribunal é reparar eventuais erros, e que a principal questão desta terça, a anulação do processo, foi negada. “Eu acho que essa é a função do tribunal, operar quando visualiza um equívoco, embora o juiz que aplicou a pena tivesse um entendimento particular nessa questão. É uma correção que, na prática, vai ter um efeito quase que nenhum, inexpressivo. No que importava realmente, foi mantida a sentença.”


Fonte: Portal G1

Em livro, Rosane conta sobre vida com Collor: do impeachment a ritual macabro com fetos humanos Ex-primeira-dama conta o que viu e viveu com ex-presidente da República

POR BRUNO GÓES

Fernando Collor e Rosane após o impeachment - Sergio Marques / O Globo


RIO — Cortejada pelo então prefeito de Maceió Fernando Collor de Mello, a menina que ainda usava uniforme escolar, aos 15 anos, e vivia sob ordens severas do pai não imaginava que seria a futura esposa do 32º presidente da República do Brasil. Envaidecida e animada com os elogios, ela levou adiante o flerte, consumado anos mais tarde, após um telefonema surpresa. O roteiro que poderia ser apenas de uma garota apaixonada esbarrou no destino atribulado de Rosane. Ela enfrentou, no centro do poder, crises de depressão, medo do suicídio do marido e “humilhações públicas”, segundo diz no livro lançado na quinta-feira, em Maceió. “Tudo o que vi e vivi” (R$ 39,90, editora LeYa) é a versão de Rosane Malta (agora com o nome de divorciada) sobre a sua relação com o ex-presidente apeado do poder.

— É uma história dolorosa e triste. Mas uma história bonita que poderia terminar da melhor forma possível. Eu aprendi desde criança a falar a verdade. Se não pudesse, não falava nada. Então, tudo o que digo no livro é verdade — afirma ela ao GLOBO.

Mesmo vivenciando a conturbada rotina de primeira-dama, com muitas brigas conjugais, Rosane subiu a rampa do Palácio do Planalto após o impeachment, apertou a mão de Collor, e disse: “Levante a cabeça. Não abaixe, não. Seja forte”. Collor é, segundo ela, o maior amor e a maior decepção de sua vida. Em 288 páginas, Rosane relata intrigas familiares, os rituais macabros que eram realizados na Casa da Dinda, os esquemas do ex-tesoureiro de campanha de Collor, além da morte de PC Farias e do destino do dinheiro do esquema de corrupção.

Durante a Presidência da República, ela conta que Collor usava a Casa da Dinda para rituais que pudessem fortalecê-lo politicamente. O relato mais forte sobre as sessões realizadas pela Mãe Cecília, de confiança do ex-marido, envolveu fetos humanos.

“Cecília me contou que, certa vez, fez um trabalho para Fernando envolvendo fetos humanos. Ela pegou filhas de santo grávidas, fez com que abortassem e sacrificou os fetos para dar às entidades. Uma coisa terrível, da qual ela obviamente se arrepende. Quando eu soube disso, chorei copiosamente”.

Um dos primeiros “trabalhos” dos quais Rosane teve notícia ocorreu quando Collor ficou enfurecido com a decisão de Silvio Santos de se candidatar à Presidência em 1989. E ainda mais com o apoio de José Sarney, seu inimigo político. O dono do SBT havia dito a Collor que não concorreria ao cargo, mas descumpriu o acordo. O candidato do PRN, então, encomendou um “trabalho”. Pouco depois, a candidatura de Silvio foi impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Perguntada se tem medo da repercussão e de possíveis processos judiciais por conta das revelações do livro, Rosane responde de forma tranquila:

— Estamos muito bem documentados. E não temos preocupação em relação isso. Tudo o que eu falei eu vi e vivi, como diz o título do livro. É realmente isso.

COLLOR E A CUNHADA

“O grande problema de Fernando era com Pedro. E o meu, com Thereza, a mulher dele”. Rosane diz que o irmão caçula do ex-marido tinha ódio do ex-presidente. Segundo ela, Pedro sustentava que Fernando cantava Thereza.

“Acredito na tese de que os dois tiveram algo antes do meu casamento e Thereza continuou apaixonada. Eu também não duvido que tenha sido por Thereza, por essa obsessão que ela tinha pelo cunhado, que Pedro resolveu destruir o próprio irmão”, diz ela.

Pedro Collor denunciou à revista “Veja”, em 1992, que PC Farias era testa de ferro do então presidente, e que o jornal Tribuna de Alagoas, que PC queria lançar em Maceió, na verdade pertenceria a seu irmão.

No período mais agitado da República desde a redemocratização, ela diz que não tinha dúvidas de que Collor era inocente. “Eu era muito nova, pouco experiente e acreditava no meu marido. Eu achava normal que as pessoas ajudassem Fernando espontaneamente, como fazia PC Farias”. Depois, no entanto, mudou de opinião e relatou que “algumas dúvidas foram surgindo”.

Rosane descreve o deslumbramento da jovem que desfrutou o poder: a dedicação ao figurino e as palavras elogiosas que trocou com a princesa Diana, além da amizade com Cláudia Raia e outras pessoas famosas. Conta que foi elogiada por Fidel Castro:

“Esse presidente do Brasil é muito esperto. Arrumou uma esposa novinha e linda” teria dito o ditador cubano a Collor. Segundo Rosane, mesmo após o impeachment, Fidel continuou a enviar charutos da ilha caribenha ao ex-presidente.

AMIGA DE ROGER ABDELMASSIH

Em busca por tratamento para a gravidez, Rosane, que abortou naturalmente filhos de Collor, procurou Roger Abdelmassih, hoje condenado a 181 anos, 11 meses e 12 dias de reclusão por abusar sexualmente de pacientes. Ele era amigo do casal.

“O doutor Roger era nosso amigo. Frequentávamos a casa dele, e ele, a nossa. Houve até um Natal em que assistimos a uma missa em sua casa antes de ir para a festa na residência de Patsy Scarpa (falecida em 2012,aos 82 anos), mãe do Chiquinho Scarpa, onde comemorei a data por três anos. (...) Fiquei muito assustada quando vieram à tona as histórias de mulheres que dizem ter sido abusadas por Roger durante as consultas”.

COLLOR NÃO TEM CARÁTER

Nos últimos oito anos, Rosane briga com Collor no tribunal para que seja reconhecido o direito de ser compensada pelo fato de ter deixado de lado a sua própria vida profissional para acompanhá-lo. Recentemente conseguiu que ele fosse condenado, mas o processo ainda não terminou.

— Muitas coisas que aconteciam, como abandonar a carreira, não concordava, com certeza. Mas não ia largá-lo. A mesma dignidade que eu tive com ele, ele não teve comigo. Ele não teve caráter — diz ela, que acrescenta:

— Eu amenizei muitas coisas que estão no livro, não passei ódio. Passei, sim, decepção. Eu não guardo ódio. Guardo decepção. Eu lutei para que a Justiça me desse os meus direitos.

Procurada pelo GLOBO sobre os assuntos descritos no livro, a assessoria de Fernando Collor ainda não retornou.

PRIMEIRA-DAMA EM APUROS

Enquanto o marido era presidente, Rosane estava à frente da Legião Brasileira de Assistência (LBA), um órgão assistencial público. À época, ela foi acusada de envolvimento na compra superfaturada de 1,6 milhão de quilos de leite em pó: cerca de 25% a mais pelo quilo do leite. Além disso uma cunhada sua, que ocupava uma superintendência do órgão, foi acusada de dirigir projetos que nunca saíram do papel.

No livro, ela diz que “sequer precisava assinar a autorização para esses projetos nos Estados. Cada superintendente estadual era indicado por uma liderança política da base aliada do governo”. Sobre o escândalo do leite, diz que “não tinha nada a ver com aquilo, como ficou comprovado depois na Justiça”. Ela relata que Collor ficava preocupado que o escândalo o atingisse.

Rosane também conta que foi acusada pela imprensa de dar uma festa de aniversário para a amiga com dinheiro público. Ela sustenta, no entanto, que apenas convidou-a para um evento de embaixatrizes no dia de seu aniversários.

Além dos fatos noticiados sobre a primeira-dama, Collor preocupava-se com irmão de Rosane, “Joãozinho”, que poderia atingir a imagem do presidente. Após saber que o prefeito Canapi, Mauro Fernandes da Costa, havia falado mal de Rosane, Joãozinho foi atrás dele em um bar, sacou um revólver, e atirou contra o prefeito. “Os Malta não levam desaforos para casa e, quando alguém provoca um parente, toda a família se sente atingida”, escreve Rosane.

PC FARIAS E CONTA SECRETA

No início das investigações contra o governo, abertas em 1992 para investigar o chamado esquema PC Farias, o secretário particular de Collor, Cláudio Vieira, afirmou que os gastos pessoais do presidente vinham de um empréstimo para a campanha de US$ 5 milhões feito no Uruguai. A versão foi desmentida após uma secretária relatar que o empréstimo ocorreu depois das eleições, apenas para encobrir o pagamento das contas da Casa da Dinda.

"Quando eu ouvia de Fernando que os depósitos que recebíamos não eram fruto de negócios escusos, mas simplesmente de doações de empresas que não foram usadas na campanha, eu não tinha por que duvidar. Parecia normal para mim, talvez por inexperiência, ter recursos de campanha, e que usufruir disso não era errado", conta Rosane.

Sobre a conta no exterior dos restos de campanha, no montante de US$ 50 milhões, como admitiu Collor em 2009 à Globonews, Rosane diz que ouviu "algumas conversas de que essa bolada realmente existia". A versão não oficial era a de que seu irmão, Augusto, a movimentava.

Na segunda metade da década de 1990, Collor teria dito a Rosane que estava tendo dificuldade para acessar uma conta gerida pelo irmão. Ela sugere no texto que era a tal conta do escândalo. "Além do mais, eu conheci o suíço Gerard".

Aos 50 anos, Rosane diz que ainda tem muito a contar. Outras histórias podem ficar para um segundo volume.

— Quem sabe? Vamos como me saio com esse livro. Depois a gente vê.

Leia alguns trechos do livro cedidos pela editora LeYa:

“O grande problema de Fernando era com Pedro. E o meu, com Thereza, a mulher dele. Em seu livro cheio de rancor ‘Passando a Limpo – A Trajetória de um Farsante’, publicado em 1993, sobre a rivalidade entre ele e o irmão, Pedro defende a tese de que Fernando dava em cima da cunhada. Eu não acredito nisso. Acredito na tese de que os dois tiveram algo antes do meu casamento e Thereza continuou apaixonada. Eu também não duvido que tenha sido por Thereza, por essa obsessão que ela tinha pelo cunhado, que Pedro resolveu destruir o próprio irmão”.

“Logo depois de Fernando assumir a presidência, comecei a ser alvo de críticas porque meus gastos aumentaram. Isso é uma bobagem tremenda. É claro que eu estava gastando mais! Afinal, eu passei a ter certas obrigações que não tinha como primeira-dama do Estado ou como esposa de um deputado federal. Uma primeira-dama do país gasta mais do que todas as outras, é óbvio! Até mesmo as roupas do dia a dia têm que ser muito alinhadas. Não se pode, por exemplo, comparecer a uma entrevista com um traje simplesinho. Para cada um dos eventos, é preciso pensar em um figurino diferente. E tem ainda as viagens... Um país diferente requer roupas específicas. E eu sempre gostei de boas marcas”.

“Pela péssima execução daquilo que ficou conhecido como Plano Collor, Zélia, para mim, está associada ao primeiro grande erro de Fernando como presidente. Na minha opinião, ela não estava preparada para o cargo de ministra, apesar de ser uma mulher muito inteligente e de ter ajudado muito na elaboração do programa de governo. Ali eu acredito que o governo perdeu muita credibilidade e tornou-se uma vitrine muito frágil para todas as pedras que foram atiradas depois”.

“Aliado a PC Farias, Fernando começou a criar a Tribuna de Alagoas. Na época, ninguém sabia que se tratava de um jornal do presidente. O que se sabia era que PC e seus irmãos estavam montando um diário que, em teoria, concorreria com o jornal da família Collor. E que, por mais estranho que fosse, Fernando apoiava a iniciativa. Só isso. Mas Fernando estava, sim, envolvido no negócio. Tanto é que discutiu com Pedro diversas vezes por causa disso. Pedro temia que a Tribuna tomasse o mercado e os funcionários da Gazeta, e cobrava do irmão uma postura enérgica, pois sabia que PC era seu braço direito. Fernando se negou a fazer qualquer coisa, o que deixou Pedro furioso.”

“Lembro apenas que, depois de um tempo de governo, Fernando começou a se incomodar um pouco com Itamar. Segundo meu marido, seu vice era uma pessoa demasiadamente sensível, que tem um ego dependente de elogios, de afago. Por qualquer coisinha, Itamar se chateava e, para que isso não acontecesse, alguém precisava sempre elogiá-lo, valorizá-lo. Fernando odiava tal comportamento.”

“Dizem que Fernando ficou devendo meses de aluguel da Casa da Dinda para a mãe, dona Leda, quando era deputado. Não duvido. Ele gastava sem saber se tinha dinheiro para bancar e, depois, tinha que fazer essas maluquices para cobrir a conta.”

“Em 12 de outubro de 1992, um helicóptero que fazia um voo entre São Paulo e Angra dos Reis (RJ) caiu e desapareceu no mar. Dentro dele estavam o deputado Ulysses Guimarães e sua mulher, além de outros passageiros e, claro, o piloto. Apesar de todas as buscas, o seu corpo nunca foi encontrado. Era a primeira manifestação do que ficou conhecido como “a maldição do impeachment”, uma série de mortes estranhas e trágicas de pessoas ligadas a Fernando ou ao seu afastamento da presidência. Além do deputado Ulysses, também Pedro Collor, PC Farias e sua mulher, Elma, supostamente haviam sido atingidos por tal maldição. Todos eles morreram poucos anos depois do impeachment. Todos vítimas de magia negra? Eu não sei quem espalhou esse boato, só sei que ele faz algum sentido.”

“Íamos ao terreiro mais ou menos uma vez por mês, mas, sempre que queria algo, Fernando ligava para a mãe de santo e ela dizia o que precisava ser feito para atingir seus objetivos. Dali até a eleição para a presidência, Fernando não vivia sem as orientações daquela mulher. A Mãe Cecília também passou a frequentar o Palácio, aonde ia para receber as entidades (os espíritos) que falavam com o presidente. Anos depois, em uma entrevista, ela contou que, aos poucos, os santos foram se acostumando com o bom e o melhor. Só queriam champanhe e uísque importado e faziam questão de fumar charuto cubano. Fernando bancava tudo isso, para que os trabalhos espirituais tivessem efeito.”


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“O fato é que Fernando foi meu grande amor e também minha grande decepção. Não só por tudo o que ele me fez até hoje, mas por não me deixar viver em paz depois da separação. É claro que só vou conseguir deixá-lo no passado quando essa situação se resolver e eu encontrar um outro amor verdadeiro. Já tive alguns namorados desde a separação, pessoas muito queridas, mas nenhum conseguiu ocupar esse lugar. Mesmo assim, sinto-me bem resolvida no campo do coração.”

“Em 2014, 22 anos depois do impeachment, ele foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal, por falta de provas, das acusações restantes referentes aos anos em que esteve na presidência do país (peculato, falsidade ideológica e corrupção). O que mais ele queria da vida? Por que nada disso lhe deu a tranquilidade para conseguir me deixar em paz, dando-me uma oportunidade para que eu também pudesse reconstruir minha vida? Ele não parecia querer me ver livre. Eu, pelo contrário, não vejo a hora de essa novela acabar. Também escrevi uma carta pedindo a ele, por favor, que parasse, refletisse, que eu aceitava a proposta irrisória só para ter um ponto final, mas não adiantou. Então não me sobrou outra opção a não ser seguir tentando, para ter o que é meu de direito.”

“Enquanto esse problema não se resolve, eu não quero parar minha vida. E este livro é a prova de que a fila anda. Há anos recebo convites para me candidatar à deputada, vereadora e outros cargos, mas não era a hora, ainda. Outros desafios podem surgir, e estou preparada para enfrentá-los. Já venci tantos problemas... Meu futuro promete!”



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