Tentativas de assassinato, conspirações mirabolantes, histórias mais alucinantes dignas de filmes de Hollywood, de repente tomam conta da mente humana.
Sem saber diferenciar o que é real e o que é delírio,
no auge do desespero muitos cometem suicídio.
Cenas como essas são típicas de pessoas que estão passando por uma crise de esquizofrenia, doença mental incurável que afeta o raciocínio e as emoções.
Cenas como essas são típicas de pessoas que estão passando por uma crise de esquizofrenia, doença mental incurável que afeta o raciocínio e as emoções.
De acordo com
especialistas a esquizofrenia é uma doença genética, passada de pai para filho,
mas que também ninguém está livre de desenvolvê-la. Já que o surto psicótico é o
aumento de uma substancia do cérebro chamada dopamina, quando em excesso causa
uma série de sintomas que o individuo deve ser medicado. A esquizofrenia
acontece principalmente entre 17 e 30 anos de idade. De acordo com o Ministério
da Saúde 1,5 milhão de pessoas sofrem de esquizofrenia no Brasil.
Os episódios ou
surtos da esquizofrenia só acontecem se tiver um fator desencadeante, associados
ao estresse muito grande, desidratação, infecções, uso de substâncias químicas
que geram estresse dentro do cérebro como a maconha, cocaína e até remédios para
emagrecimento.
O indivíduo passa
a ter sintomas, delírios e alucinações. O esquizofrênico tem percepções que
estão fora do normal, vê coisas que não existem, ouve coisas que não estão
acontecendo, vozes do além, paranóia de estar sendo perseguido, como também
desorganização do pensamento. Além disso, passa a ter um retraimento social,
evitam contatos com os amigos, familiares, não tendo interesse para trabalhar,
estudar. Portadores de esquizofrenia ainda podem ter alucinações táteis, como se
insetos estivessem rastejando em sua pele.
Sem tratamento,
sem o amparo da família, uma vítima da esquizofrenia pode viver como mendigo,
perambulando pelas ruas, gritando e gesticulando.
Não existe cura
para a doença, mas existe controle. Uma pessoa portadora da doença fazendo
acompanhamento médico apropriado poderá ter uma vida normal, voltar a trabalhar,
estudar, ter uma vida social que nem como tinha antes da doença ter se
manifestado. O tratamento inclui uma combinação de medicamentos chamados
antipsicóticos, psicológicos e sociais.
Por a
esquizofrenia ser uma doença que não tem cura é muito importante não interromper
o tratamento até mesmo depois dos sintomas terem desaparecidos, porque existe
uma probabilidade alta dos surtos voltarem, entrar em crise enquanto o paciente
está sem medicamento e cada episódio pode ser
pior.
No Brasil, estima-se que haja cerca de 1,8 milhão de esquizofrênicos. A doença que atinge uma em cada 100 pessoas no mundo geralmente se manifesta no final da adolescência e muitas famílias não reconhecem ou ignoram os sintomas, por isso a pessoa fica anos sem tratamento.
A possibilidade de diagnóstico e intervenção precoces está em estudo em centros de referência como o Projeto Esquizofrenia (Projesq) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Ipq-HC-FMUSP).
Convivendo com a doença
A esquizofrenia apresenta um conjunto de sintomas (ver listagem abaixo) que pode passar despercebido pela família, já que ela não afeta a inteligência. As pessoas que sofrem do mal muitas vezes são vítimas de preconceito, porque podem relatar que escutam vozes ou que são perseguidas, sendo consideradas como "loucas".
Apesar desses delírios, os esquizofrênicos não são perigosos e podem levar uma vida produtiva: " No imaginário popular, esse tipo de paciente pode estar sentado ao seu lado, talvez no ônibus ou no metrô, e de repente te esfaquear, sem motivo algum. Idéias como essa se alimentam do desconhecimento sobre o assunto, que se alia ao preconceito e à fantasia”, diz o médico Mário Rodrigues Louzã Neto, coordenador do Projeto Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele é autor do livro Convivendo com a Esquizofrenia — Um Guia para Portadores e Familiares (Prestígio Editorial).
Primeiros sinais
A esquizofrenia — classificada como transtorno mental, em geral crônico — começa a dar sinais no fim da adolescência e início da vida adulta. Por se tratar de doença, é importante não ter preconceito e procurar ajuda logo que se manifestarem os sintomas. O psiquiatra de uma rede pública pode estar apto a dar o diagnóstico e tratamento. Além dele, a busca de informação em livros e grupos de apoio a doentes e familiares pode ser de extrema utilidade.
Culpa e vergonha são sentimentos que rondam a família quando um parente recebe esse diagnóstico, o que costuma adiar o início do tratamento em cerca de dois anos. “Os pais tendem a se sentir responsáveis e muitos resistem a admitir a presença de um esquizofrênico na família", explica o Dr Mario.A família pode e deve ajudar
O psiquiatra Leonardo Palmeira, a psicóloga Maria Thereza Geraldes e a psicopedagoga Ana Beatriz Bezerra também se aprofundaram no estudo da doença e escreveram um livro: Entendendo a Esquizofrenia – Como a família pode ajudar no tratamento? (Editora Interciência)
O dr. Leonardo explica como surgiu a proposta de escrever um livro para familiares de portadores de esquizofrenia: “ Nós desenvolvemos de 2000 a 2007 um programa de psicoeducação, que vem a ser um curso educativo sobre a esquizofrenia seguido de grupos terapêuticos com as famílias, no Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ). Esse programa era permanente e tinha um curso semestral sobre esquizofrenia, oferecido aos familiares. Esse foi um dos trabalhos mais gratificantes que fiz nos meus dez anos de psiquiatria. Aprendi muito com os familiares, era uma troca intensa de informações e experiências e eles sempre insistiram muito para que houvesse um material didático, que pudessem levar para casa e deixar na cabeceira da cama”.
Além do livro, a equipe tem a expectativa de levar a experiência para a criação de programas similares em outras instituições no país: “ Precisamos falar mais dessa doença nos CAPS, nos centros comunitários, nos espaços da sociedade. Na Suíça, no estado de Vaud, eles organizaram um dia anual para lembrar a esquizofrenia, o Schizophrenia Day, quando ocorrem atividades culturais e são divulgadas informações sobre a doença. Um familiar foi entrevistado e justificou que era preciso falar da esquizofrenia, caso contrário ela voltaria a ser uma doença esquecida pela sociedade e é esta a sensação que tenho”, explica o dr. Leonardo.
Ele também alerta para o papel da família no bem-estar do doente: “ Diversos estudos em vários centros pelo mundo já comprovaram cientificamente que a informação para a família é a principal aliada do tratamento médico na recuperação do paciente. O número de recaídas e internações é significativamente menor entre pacientes que possuem uma família mais esclarecida e acolhedora”, conclui.Principais sintomas da esquizofrenia
- Delírios
- Desorganização do pensamento
- Alucinações
- Perda da capacidade de reagir afetivamente
- Retraimento social e diminuição da motivação
- Tristeza, desesperança
- Idéias de ruína e de suicídio
- Dificuldade de memória e de concentração
- Dificuldade de planejamento e abstração
Mais informações: Projeto Esquizofrenia, Hospital das Clínicas de São Paulo
No Brasil, estima-se que haja cerca de 1,8 milhão de esquizofrênicos. A doença que atinge uma em cada 100 pessoas no mundo geralmente se manifesta no final da adolescência e muitas famílias não reconhecem ou ignoram os sintomas, por isso a pessoa fica anos sem tratamento.
A possibilidade de diagnóstico e intervenção precoces está em estudo em centros de referência como o Projeto Esquizofrenia (Projesq) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Ipq-HC-FMUSP).
Convivendo com a doença
A esquizofrenia apresenta um conjunto de sintomas (ver listagem abaixo) que pode passar despercebido pela família, já que ela não afeta a inteligência. As pessoas que sofrem do mal muitas vezes são vítimas de preconceito, porque podem relatar que escutam vozes ou que são perseguidas, sendo consideradas como "loucas".
Apesar desses delírios, os esquizofrênicos não são perigosos e podem levar uma vida produtiva: " No imaginário popular, esse tipo de paciente pode estar sentado ao seu lado, talvez no ônibus ou no metrô, e de repente te esfaquear, sem motivo algum. Idéias como essa se alimentam do desconhecimento sobre o assunto, que se alia ao preconceito e à fantasia”, diz o médico Mário Rodrigues Louzã Neto, coordenador do Projeto Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele é autor do livro Convivendo com a Esquizofrenia — Um Guia para Portadores e Familiares (Prestígio Editorial).
Primeiros sinais
A esquizofrenia — classificada como transtorno mental, em geral crônico — começa a dar sinais no fim da adolescência e início da vida adulta. Por se tratar de doença, é importante não ter preconceito e procurar ajuda logo que se manifestarem os sintomas. O psiquiatra de uma rede pública pode estar apto a dar o diagnóstico e tratamento. Além dele, a busca de informação em livros e grupos de apoio a doentes e familiares pode ser de extrema utilidade.
Culpa e vergonha são sentimentos que rondam a família quando um parente recebe esse diagnóstico, o que costuma adiar o início do tratamento em cerca de dois anos. “Os pais tendem a se sentir responsáveis e muitos resistem a admitir a presença de um esquizofrênico na família", explica o Dr Mario.A família pode e deve ajudar
O psiquiatra Leonardo Palmeira, a psicóloga Maria Thereza Geraldes e a psicopedagoga Ana Beatriz Bezerra também se aprofundaram no estudo da doença e escreveram um livro: Entendendo a Esquizofrenia – Como a família pode ajudar no tratamento? (Editora Interciência)
O dr. Leonardo explica como surgiu a proposta de escrever um livro para familiares de portadores de esquizofrenia: “ Nós desenvolvemos de 2000 a 2007 um programa de psicoeducação, que vem a ser um curso educativo sobre a esquizofrenia seguido de grupos terapêuticos com as famílias, no Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ). Esse programa era permanente e tinha um curso semestral sobre esquizofrenia, oferecido aos familiares. Esse foi um dos trabalhos mais gratificantes que fiz nos meus dez anos de psiquiatria. Aprendi muito com os familiares, era uma troca intensa de informações e experiências e eles sempre insistiram muito para que houvesse um material didático, que pudessem levar para casa e deixar na cabeceira da cama”.
Além do livro, a equipe tem a expectativa de levar a experiência para a criação de programas similares em outras instituições no país: “ Precisamos falar mais dessa doença nos CAPS, nos centros comunitários, nos espaços da sociedade. Na Suíça, no estado de Vaud, eles organizaram um dia anual para lembrar a esquizofrenia, o Schizophrenia Day, quando ocorrem atividades culturais e são divulgadas informações sobre a doença. Um familiar foi entrevistado e justificou que era preciso falar da esquizofrenia, caso contrário ela voltaria a ser uma doença esquecida pela sociedade e é esta a sensação que tenho”, explica o dr. Leonardo.
Ele também alerta para o papel da família no bem-estar do doente: “ Diversos estudos em vários centros pelo mundo já comprovaram cientificamente que a informação para a família é a principal aliada do tratamento médico na recuperação do paciente. O número de recaídas e internações é significativamente menor entre pacientes que possuem uma família mais esclarecida e acolhedora”, conclui.Principais sintomas da esquizofrenia
- Delírios
- Desorganização do pensamento
- Alucinações
- Perda da capacidade de reagir afetivamente
- Retraimento social e diminuição da motivação
- Tristeza, desesperança
- Idéias de ruína e de suicídio
- Dificuldade de memória e de concentração
- Dificuldade de planejamento e abstração
Mais informações: Projeto Esquizofrenia, Hospital das Clínicas de São Paulo
Quem
desejar o modelo, escreva para o email acima no blog, que enviarei a petição
pronta.
Entendendo a Esquizofrenia
A esquizofrenia um
dos principais transtornos mentais e acomete 1% da população em idade jovem,
entre os 15 e os 35 anos de idade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),
é a terceira causa de perda da qualidade de vida entre os 15 e 44 anos,
considerando-se todas as doenças.
Apesar do impacto
social, a esquizofrenia ainda é uma doença pouco conhecida pela sociedade,
sempre cercada de muitos tabus e preconceitos. Crenças como “as pessoas com
esquizofrenia são violentas e imprevisíveis”, “elas são culpadas pela doença”,
“elas têm dupla personalidade”, “elas precisam permanecer internadas” são fruto
do desconhecimento e do preconceito.
A esquizofrenia
caracteriza-se por uma grave desestruturação psíquica, em que a pessoa perde a
capacidade de integrar suas emoções e sentimentos com seus pensamentos, podendo
apresentar crenças irreais (delírios), percepções falsas do ambiente
(alucinações) e comportamentos que revelam a perda do juízo
crítico.
A doença produz
também dificuldades sociais, como as relacionadas ao trabalho e relacionamento,
com a interrupção das atividades produtivas da pessoa. O tratamento envolve
medicamentos, psicoterapia, terapias ocupacionais e conscientização da família,
que absorve a maior parte das tensões geradas pela doença.
A esquizofrenia
não tem cura, mas com o tratamento adequado a pessoa pode se recuperar e voltar
a viver uma vida normal.
O QUE É A
ESQUIZOFRENIA
A esquizofrenia foi
inicialmente descrita como doença no final do século XIX pelo psiquiatra alemão
Emil Kraepelin. Na época, ele chamou-a de Demência Precoce,
pois as pessoas acometidas por ela, na sua maioria jovens, exibiam um
comportamento regredido e desorganizado, que lembrava os idosos portadores de
demência, como a Doença de Alzheimer.
No início do
século XX, Eugen Bleuler, psiquiatra suíço, cunhou o termo
esquizofrenia (esquizo=cindida; frenia=mente), por achar o termo anterior
inadequado. Para ele, a principal característica da doença era a cisão entre
pensamento e emoção, dando a impressão de uma personalidade fragmentada e
desestruturada. Os pacientes não tinham necessariamente uma evolução
deteriorante como na demência e muitos se recuperavam.
Contudo, a
alcunha de doença degenerativa acompanhou a esquizofrenia por muitas décadas.
Com um arsenal terapêutico limitado, a doença encheu vários hospitais em todo o
mundo, a ponto de ter o maior índice de hospitalização.
A dificuldade de
reintegração à sociedade, motivada por internações muito prolongadas e pelos
poucos recursos de tratamento, aumentou o estigma e o preconceito que cercam a
doença até hoje.
Nos últimos 25
anos assistimos a uma revolução na maneira de tratar os doentes mentais:
medicamentos modernos capazes de controlar a doença e de permitir a reintegração
dos pacientes à família e à comunidade, dispositivos alternativos aos hospitais,
que acolhem a pessoa dentro de sua singularidade e que trabalham pela sua
reabilitação psíquica e social, mais informação para vencer os tabus e
preconceitos da sociedade, participação colaborativa da família e de redes
sociais imbuídas do objetivo comum de apoiar e lutar pela recuperação dos
pacientes.
Tudo isso parece
não bastar para derrotar o preconceito e o estigma. O rótulo “degenerativo”
continua perseguindo a esquizofrenia, apesar dos inúmeros exemplos
contrários.
A pessoa
acometida pela esquizofrenia tem grande potencial à sua frente. Precisa lutar
contra as dificuldades do transtorno, é verdade. Mas pode se recuperar, vencer
os obstáculos e seguir seus sonhos. Nesta batalha, precisa ter ao seu lado sua
família, seus amigos, pessoas que a amem e apóiem e que, sobretudo, saibam
compreendê-la. Tem a seu favor medicamentos eficazes, suporte psicológico e
terapias de reabilitação capazes de ajudá-la nessa superação. Certamente contará
com uma sociedade mais justa e que possa recebê-la um dia como
igual.
QUEM ADOECE
A esquizofrenia acomete cerca de 1% da população
mundial, independente da cultura, condição sócio-econômica ou etnia. Seu início
ocorre mais comumente na adolescência ou início da idade adulto jovem (na
segunda década de vida), sendo rara na infância ou após os 50 anos.
Nos homens, o início é mais precoce do que nas
mulheres, geralmente entre os 15 e 25 anos de idade, enquanto as mulheres
adoecem mais tardiamente, entre os 25 e 35 anos. Não se sabe ao certo o motivo,
mas há a implicação de fatores hormonais e da diferença do desenvolvimento
cerebral relacionado ao sexo. Entretanto, existem homens que adoecem após a
terceira década de vida e mulheres que desencadeiam a doença já na
adolescência.
A esquizofrenia atinge, portanto, uma parcela
significativa da população em idade produtiva, sendo, de acordo com a
Organização Mundial de Saúde, a terceira doença que mais afeta a qualidade de
vida da população entre 15 e 44 anos. Ademais, é responsável por um alto custo
social e dos serviços de saúde, já tendo sido a causa mais frequente de
internação hospitalar.
No Brasil estima-se que haja em torno de 2
milhões de pessoas portadoras de esquizofrenia.
SINTOMAS
Os sintomas
precoces da esquizofrenia, também conhecidos como prodrômicos (do grego
pròdromos = precursor), são aqueles que ocorrem meses a anos antes de um
primeiro surto. Eles não são específicos da doença e não permitem um diagnóstico
precoce do transtorno.
Podem ocorrer
comportamento hiperativo (inclusive desde a infância), desatenção e dificuldades
de memória e aprendizado, sintomas de ansiedade (inquietação, somatizações, como
taquicardia, palpitações e falta de ar), desânimo, desinteresse generalizado e
humor depressivo. O início do transtorno pode ser confundido com depressão ou
outros transtornos ansioso (Pânico, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Ansiedade
Generalizada).
Em alguns casos
ocorre interesse demasiado por temas exóticos, místicos, religiosos,
astronômicos ou filosóficos, que passam a dominar o cotidiano da pessoa. Dúvidas
acerca da sua existência, explicações filosóficas sobre coisas simples da vida e
uma necessidade permanente de buscar significados podem deixar a pessoa mais
introspectiva e isolada socialmente.
É comum haver,
pouco ou muito tempo antes do primeiro surto, dificuldade, ou mesmo,
descontinuidade de atividades regulares, como escola, cursos, trabalho, esporte
ou lazer. Nota-se também maior dificuldade para viver relações sociais e
familiares.
Algumas pessoas
podem desenvolver um comportamento mais arredio ou indisciplinado, ter momentos
de explosão de raiva ou descontrole emocional diante de situações em que se
esperaria maior desenvoltura para resolver os problemas.
A esquizofrenia
pode ainda se manifestar sem um período prodrômico muito claro e com
desencadeamento rápido dos primeiros sintomas psicóticos.
Sintomas positivos
Os sintomas
positivos estão relacionados diretamente ao surto psicótico. Entende-se por
surto psicótico um estado mental agudo caracterizado por grave desorganização
psíquica e fenômenos delirantes e/ou alucinatórios, com perda do juízo crítico
da realidade. A capacidade de perder a noção do que é real e do que é fantasia,
criação da mente da própria pessoa, é um aspecto muito presente nos quadros
agudos da esquizofrenia.
A pessoa adoecida
pode criar uma realidade fantasiosa, na qual acredita plenamente a ponto de
duvidar da realidade do mundo e das pessoas ao seu redor. É o que chamamos de
delírio. O delírio pode ter diversas temáticas, inclusive num mesmo surto. As
mais comuns são a idéia de estar sendo perseguida por alguém, de ser observada
ou de que as pessoas falam dela ou sabem de tudo que se passa na sua vida.
Outras idéias fantasiosas, como de cunho religioso, místico ou grandioso também
podem ocorrer. Menos frequentemente ocorrem delírios de culpa e de
ciúme.
O delírio não é
uma criação intencional da pessoa ou motivada por fatores psicológicos ou de
relacionamento. Na esquizofrenia, o delírio surge espontaneamente e invade e
domina a consciência da pessoa, tirando dela a capacidade de lutar e vencer
sozinha suas próprias idéias. É comum ela se sentir acuada e amedrontada, ou
então, agir com vigor, mas sem um propósito claro ou racional. O delírio traz
consigo uma sensação de sofrimento e fragmentação da própria personalidade, como
se a pessoa perdesse o chão, suas referências básicas, o controle de sua própria
vida.
Outro sintoma
positivo igualmente importante é a alucinação. A pessoa pode ouvir ou ver coisas
que não existem ou não estão presentes, como escutar vozes dialogando entre si
ou se referindo à própria pessoa, insultando-a ou ordenando que faça algo. Pode
ver vultos ou imagens de pessoas, personagens de seu delírio, com as quais é
capaz de conversar e interagir. Há casos também de alucinações olfativas (sentir
cheiros estranhos), gustativas, táteis (sentir choques ou como se bichos
andassem em seu corpo) e dos órgãos internos (como, p.ex., sentir o coração
derretendo, órgãos apodrecendo).
Assim como no
delírio, o paciente não tem nenhum controle sobre as alucinações. Elas têm igual
capacidade de dominar a consciência e influenciar o comportamento. A percepção
de uma alucinação é igual a que ocorre para um objeto real, não sendo possível,
para o paciente, distingui-la da realidade.
Existem outros
sintomas positivos, como acreditar que é outra pessoa ou que tem poderes
paranormais, como a capacidade de ler a mente dos outros. O paciente pode
fantasiar acerca de seus familiares, acreditando que eles sejam impostores ou
sósias, ou confundir pessoas estranhas com alguém familiar.
Os sintomas
positivos podem não ocorrer em todos os casos de esquizofrenia e, mesmo quando
presentes, podem variar na intensidade e qualidade dos sintomas. Existem
pacientes que não possuem muitos delírios e outros que nunca alucinaram. Há os
que apresentam mais sintomas de desorganização psíquica e do comportamento e que
não apresentam delírios ou alucinações.
Sintomas negativos
Os sintomas
negativos estão mais relacionados à fase crônica da esquizofrenia. Embora possam
ocorrer na fase aguda, eles se estendem por mais tempo e predominam a longo
prazo. Esses sintomas são chamados também de deficitários, como referência à
deficiência de algumas funções mentais, como a vontade e a
afetividade.
A falta de
vontade, de iniciativa ou da persistência em algumas atividades da vida
cotidiana é vista pela maioria dos familiares como sinal de preguiça ou má
vontade. Entretanto, este é um sintoma da esquizofrenia. Em graus variados de
intensidade, pacientes têm dificuldade de iniciativa, demonstram-se
desinteressados ou indiferentes aos desafios e atividades que lhes são
propostas. Tendem a escolher atividades mais passivas, onde não é exigido
esforço físico ou cognitivo, como assistir TV, ouvir rádio, ou mesmo passar
grande parte do tempo ociosos. As deficiências da vontade são responsáveis por
grande parte das dificuldades em atividades produtivas, como trabalho e estudos,
e sociais, contribuindo para maior isolamento.
A afetividade
compreende a nossa capacidade de demonstrar afetos e sentimentos. Para isso
usamos nossa mímica facial, os gestos, o tom de voz e a nossa empatia. Alguns
pacientes têm dificuldade em expressar e demonstrar seus afetos claramente e
isso leva, em geral, a uma falta de empatia e a uma dificuldade de interação e
comunicação social. Isto não significa que não tenham sentimentos, que não sejam
capazes de reagir emocionalmente ao ambiente e às pessoas. O que está
comprometido é a forma de demonstrar seus afetos, mas não a capacidade de sentir
emoções.
A fala, o
pensamento e as idéias podem estar lentificados ou desconectados, sem um
encadeamento lógico para quem está ouvindo. Porém, é importante que familiares e
amigos procurem compreender o significado do que está sendo dito, que escutem e
acolham a pessoa com suas diferenças e limitações.
Os sintomas
negativos, por serem mais duradouros e interferirem com funções básicas como
vontade e afetividade, acarretam dificuldades sociais e laborativas que
percebemos em muitos pacientes. É fundamental a compreensão e as tentativas de
estímulo e apoio, dentro de um contexto sócio-familiar saudável e
acolhedor.
Sintomas da cognição
A cognição pode
estar comprometida na esquizofrenia de diversas formas. As mais comuns são a
falta de atenção e concentração e o prejuízo da memória. Essas alterações podem
ocorrer antes mesmo do primeiro surto e piorar nos primeiros anos do
transtorno.
Alguns pacientes
têm dificuldade em manter a atenção por longo tempo, tornando-se facilmente
distraídos e dispersos. Em uma conversa num ambiente tumultuado e ruidoso, por
exemplo, podem não conseguir manter o foco, distraindo-se com estímulos alheios.
Isto ocorre devido à incapacidade de inibir completamente estímulos do ambiente
que não sejam importantes naquele momento. O comprometimento da atenção também
interfere em atividades como leitura e escrita.
Em relação à
memória, pode haver dificuldade para buscar lembranças passadas em momentos
oportunos, como, por exemplo, quando se está conversando sobre um episódio e o
paciente se esquece de mencionar fatos importantes relacionados a ele. O
aprendizado também pode estar prejudicado, com maior lentidão para aprender
informações novas, que pode ser atribuído à dificuldade na formação de
estratégias para aceleração do aprendizado e por problemas na fixação do
conteúdo.
Existem outros
prejuízos da cognição, como pensamento mais concreto, com dificuldades para
abstrair e compreender figuras de linguagem, impulsividade na hora de tomar
decisões, fazendo escolhas erradas, baseadas em decisões imaturas de primeiro
momento, e disfunções executivas, como dificuldade de planejamento das tarefas,
não conseguindo priorizar as mais simples frente às complexas.
Os sintomas da
cognição também interferem na vida social e profissional, contribuindo para
prejuízos em outras áreas de funcionamento da pessoa, como estudo, trabalho e
relacionamentos interpessoais.
Sintomas neurológicos
Os pacientes com
início mais precoce e/ou formas mais graves da esquizofrenia podem apresentar
sinais neurológicos, como tiques faciais, prejuízo dos movimentos mais finos (o
que os torna mais desajeitados ou estabanados), trejeitos e movimentos mais
bruscos e descoordenados, aumento da frequência de piscar os olhos e
desorientação direita-esquerda.
Muitos desses
sinais também estão presentes em outros transtornos psiquiátricos e
neurológicos, como o Transtorno de Tiques e a Síndrome de Gilles de La Tourette.
Portanto, a presença isolada desses sintomas, sem os demais característicos da
esquizofrenia, não deve sugerir esse diagnóstico.
A explicação para
a ocorrência dos sinais neurológicos não é bem conhecida. A maioria não os
apresenta e aqueles que são acometidos, os revelam de maneira tênue e que passam
despercebidos por pessoas com menor grau de intimidade.
Não existem
exames neurológicos, como eletroencefalograma, tomografia computadorizada ou
ressonância magnética, capazes de diagnosticar a esquizofrenia. As alterações
que podem aparecer nesses exames são inespecíficas e podem ocorrer também em
outras doenças psiquiátricas e neurológicas.
Funcionamento social
O funcionamento
social engloba as capacidades de interação e comunicação social, de autonomia,
da vida laborativa, acadêmica, familiar e afetiva. Enfim, é tudo aquilo que diz
respeito à interação da pessoa com o meio em que vive.
Na esquizofrenia,
o funcionamento social pode estar prejudicado pelo conjunto de sintomas que já
abordamos, como os sintomas positivos, negativos e cognitivos. É indiscutível
que, no período de surto (fase aguda), o funcionamento da pessoa fique muito
comprometido, pois os sintomas da crise psicótica afetam o equilíbrio e a
sensatez da pessoa, alteram seu comportamento e a capacidade de administrar seus
sentimentos e relacionamentos, gerando conflitos. Isso não é exclusividade da
esquizofrenia, podendo ocorrer na fase aguda de qualquer transtorno
psiquiátrico.
Passada a crise,
à medida que a pessoa vai se reestruturando, ela passa a ter mais condições de
avaliar e mudar seu comportamento. Entretanto, na esquizofrenia, alguns
pacientes permanecem com dificuldades sociais mesmo após a fase aguda. Os
sintomas mais impactantes neste período são os negativos e cognitivos, os que
mais interferem com o funcionamento do indivíduo.
Alguns ficam com
maior dificuldade para relacionamentos, para fazer novas amizades, tendem a se
isolar ou a restringir o convívio à família. Em casos mais graves, pode haver
limitações para coisas mais simples, como ir a um supermercado ou a um banco,
devido a uma inadequação ou inabilidade para agir em situações sociais, com
prejuízos para a autonomia da pessoa.
As capacidades de
trabalho e estudo também podem ser afetadas, pois dependem da eficiência
cognitiva e social. Muitos pacientes conseguem retornar ao trabalho ou à escola
após sua recuperação, enquanto outros se beneficiariam de atividades menos
exigentes e estressantes. A adequação da vida social e laborativa ao real
potencial de cada um é medida sine qua non para sua estabilidade a longo prazo.
Comportamento
Abuso de drogas
O uso e abuso de
drogas lícitas e ilícitas é comum na esquizofrenia. Entre as drogas lícitas, os
tranqüilizantes, o álcool, a cafeína e o cigarro são os mais comuns. O café ou
bebidas cafeinadas (principalmente a coca-cola) são usados pelos seus efeitos
estimulantes, enquanto o álcool e tranqüilizantes, pelos efeitos ansiolíticos ou
sedativos. O cigarro é usado para controle da ansiedade, mas também porque
alivia alguns efeitos colaterais do medicamento (efeitos de impregnação). Essas
substâncias podem interferir com o metabolismo e a ação terapêutica dos
antipsicóticos, medicamentos utilizados no tratamento da esquizofrenia. No caso
do álcool, é crescente o número de pacientes que desenvolvem o alcoolismo pelo
consumo abusivo e contínuo da substância, o que agrava muito o prognóstico da
esquizofrenia.
No que tange às
drogas ilícitas, a maconha e a cocaína são as mais utilizadas, embora preocupe o
crescimento do número de usuários de crack nas grandes cidades. O ecstasy é mais
usado em festas e de forma recreativa. A maconha parece ter um papel
desencadeador da psicose, ainda não muito bem conhecido. Quando associado à
esquizofrenia, a dependência química tem um papel devastador para a doença,
aumentando sobremaneira o número de recaídas. Pacientes com dependência de
drogas devem ser levados a tratamentos em centros especializados paralelamente
ao tratamento para a esquizofrenia.
Classificação
A esquizofrenia
pode ser classificada em tipos distintos de acordo com sua apresentação
clínica.
→ Esquizofrenia paranóide
É caracterizada
pelo predomínio de sintomas positivos (delírios e alucinações) sobre os sintomas
negativos. Em geral, os pacientes apresentam tramas delirantes bem estruturadas
e alucinações, com alterações de comportamento compatíveis com suas vivências
psíquicas, como inquietação ou agitação psicomotora, comportamento de medo ou
fuga, ausência de juízo crítico, dentre outras. Nesses casos, o paciente melhora
dos sintomas mais agudos com o tratamento, retomando boa parte de suas
atividades e relacionamentos, permanecendo com poucos prejuízos na fase crônica,
já que os sintomas negativos não estão tão presentes. Podem ocorrer sintomas
cognitivos que dificultam a retomada de algumas atividades após a fase
aguda.
→ Esquizofrenia hebefrênica ou
desorganizada
Nesse caso há
predomínio dos sintomas negativos e de desorganização do pensamento e do
comportamento sobre os sintomas positivos. Alucinações e delírios podem não
ocorrer, ou se ocorrerem, não são uma parte importante do quadro, que se
caracteriza mais por um comportamento pueril ou regredido, desorganização do
pensamento e do comportamento, dependência de terceiros para atividades mais
básicas, perda da autonomia, desinteresse, isolamento ou perda do contato social
e afetividade mais superficial ou infantil. Os sintomas mais agudos, como a
desorganização do pensamento e do comportamento, podem melhorar com o
tratamento, mas alguns sintomas negativos podem persistir e dificultar mais a
retomada das atividades. Ocorrem alterações cognitivas, principalmente
relacionadas à atenção, memória e raciocínio, que podem trazer prejuízos sociais
e laborativos.
→ Esquizofrenia catatônica
É o tipo menos
comum, caracterizado por sintomas de catatonia na fase aguda. O paciente pode
falar pouco ou simplesmente não falar, ficar com os movimentos muito lentos ou
paralisados (p.ex., numa mesma posição por horas ou dias), recusar se alimentar
ou ingerir líquidos, interagir pouco ou simplesmente não interagir com ninguém,
embora desperto e de olhos abertos. O tratamento melhora os sintomas de
catatonia, podendo o paciente permanecer com sintomas negativos e cognitivos na
fase crônica. Há casos em que, na fase aguda, podem ocorrer comportamento
agitado e repetitivo sem um propósito claro ou identificável.
→
Esquizofrenia indiferenciada
Quando os sintomas
positivos e negativos estão igualmente presentes, havendo delírios e alucinações
em intensidade semelhante aos sintomas negativos e desorganizados, classifica-se
o tipo como indiferenciado. A evolução e o prognóstico nesses casos são muito
variáveis, geralmente pior do que na esquizofrenia paranóide, porém superior ao
tipo hebefrênico.
→
Esquizofrenia simples
Em casos em que os
sintomas negativos ocorrem isoladamente, sem sintomas positivos e de
desorganização, e não há uma diferença bem delimitada entre as fases aguda e
crônica, optou-se por chamar de esquizofrenia simples. Alguns autores equivalem
esse diagnóstico ao transtorno de personalidade esquizotípico, caracterizado por
afetividade superficial ou imprópria, falta de vontade e comportamento
excêntrico ou desviante, com tendência ao isolamento e desinteresse social. Os
sintomas negativos ocorrem mesmo sem um surto psicótico que os
preceda.
→
Esquizofrenia residual
Utilizado para
tipificar quadros mais crônicos, de longos anos de evolução ou que evoluem
rapidamente para um comportamento mais deteriorado, com muitos prejuízos sociais
e para a autonomia da pessoa, afetando sua capacidade de comunicação, inclusive
verbal, gerando passividade ou falta de iniciativa, lentidão psicomotora,
monotonia e prejuízos inclusive para o autocuidado e higiene
pessoal.
QUAL A
CAUSA????
A esquizofrenia tem causa multifatorial,
envolvendo fatores genéticos e do ambiente ainda não muito conhecidos. A
hereditariedade do transtorno é conhecida desde que a doença foi descrita por
Kraepelin e Bleuler, há um século atrás. Há na família de pacientes adoecidos,
outras pessoas com os mesmos sintomas ou quadros muito parecidos. A
hereditariedade, entretanto, não parece ser o fator determinante, já que também
é comum filhos de pais esquizofrênicos não desenvolverem a doença.
Hoje, após várias pesquisas que investigam a
causa da esquizofrenia, sabe-se que a genética é responsável por cerca de 50% da
chance de adoecer, cabendo a outra metade aos fatores ambientais. A maior
evidência disso são estudos com gêmeos idênticos (e que, portanto, possuem DNA
iguais), que revelaram uma concordância de apenas 50% no diagnóstico de
esquizofrenia. Isto significa que, quando um dos gêmeos desenvolve a doença, o
outro também adoece em 50% dos casos.
Alguns genes já foram relacionados à
esquizofrenia e, provavelmente, outros também o serão. Os genes da esquizofrenia
são responsáveis por regular etapas importantes do desenvolvimento cerebral, bem
como a produção de neurotransmissores (substâncias produzidas no cérebro para
transmitir impulsos elétricos de um neurônio a outro). Esses genes seriam
ativados por fatores ambientais de risco, desencadeando uma cascata de eventos
que culminariam em alterações sutis do desenvolvimento do cérebro,
caracterizadas principalmente por um erro na comunicação entre neurônios de
diferentes áreas cerebrais (desconexão neuronal).
Contudo, um dos maiores obstáculos na pesquisa
genética é a inespecificidade dos genes relacionados. Alguns são comuns a outros
transtornos mentais, como o distúrbio bipolar, o que sugere que doenças
psiquiátricas possam ter uma origem genética comum. O quadro clínico dependeria,
portanto, do número de genes envolvidos em cada pessoa. Isso parece também fazer
sentido na diferenciação entre os casos mais graves da esquizofrenia, que
teriam, teoricamente, uma maior carga genética em comparação aos quadros mais
leves.
As pesquisas genéticas em psiquiatria ainda
estão em fases iniciais e muito há para ser descoberto. Tratamentos e medicações
poderão ser aperfeiçoados a partir das novas perspectivas nesta área.
Ambiente
As pesquisas sobre fatores de risco do ambiente
na esquizofrenia são muito difíceis de serem realizadas, pela alta complexidade
metodológica. Algumas já conseguiram identificar fatores de risco mais
associados ao transtorno, mas provavelmente existem muitos outros ainda
desconhecidos.
Em linhas gerais, o ambiente pode influenciar o
adoecimento nas etapas mais precoces do desenvolvimento cerebral, da gestação à
primeira infância. É nesse período que o cérebro é mais sensível, por estar
crescendo com rapidez e depender do ambiente para o aperfeiçoamento de suas
funções. Esta etapa também é aquela em que os genes de regulação do
desenvolvimento estão mais ativos e que, na presença de variáveis genéticas da
esquizofrenia, podem interferir em processos naturais do desenvolvimento.
A adolescência é um outro momento delicado, pois
o cérebro começa a moldar-se para a vida adulta. Um processo conhecido como poda
neuronal apara as arestas do desenvolvimento, que sempre gera conexões
esdrúxulas ou desnecessárias. A esquizofrenia pode estar relacionada a um menor
número de podas, com conexões errôneas entre os neurônios. Fatores ambientais na
adolescência podem influenciar esse processo, desencadeando o primeiro surto da
doença.
Na tabela abaixo alguns fatores de risco
conhecidos no ambiente e relacionados à esquizofrenia:
Períodos do Desenvolvimento Cerebral | Fatores Ambientais de Risco |
---|---|
Período Pré-Natal | Viroses (influenza, rubéola, herpes) na mãe, particularmente
quando ocorrem no segundo trimestre de gravidez; Desnutrição materna; Morte do esposo; Catástrofes; Gravidez indesejada; Depressão durante a gravidez. |
Período Neonatal | Complicações da gravidez (sangramentos, diabetes,
incompatibilidade rH, pré- eclâmpsia); Crescimento ou desenvolvimento fetal anormal (baixo peso ao nascer, prematuridade, malformações congênitas, redução do perímetro encefálico); Complicações do parto (atonia uterina, asfixia/hipóxia neonatal, parto cesáreo emergencial); Interação mãe- criança atípica ou maternagem deficiente; Perda precoce de um dos pais. |
Primeira Infância | Infecções do SNC (meningite, encefalite,
sarampo); Experiências psicológicas negativas; Traumas, abuso físico e sexual. |
Adolescência | Uso de maconha. |
Causal
O modelo mais aceito hoje para a causa da
esquizofrenia reúne fatores genéticos e ambientais (modelo de estresse-diátese).
Ele é teórico e, embora reúna muitas evidências científicas, ainda não é a
conclusão definitiva sobre a origem da doença.
De acordo com ele, uma pessoa somente desenvolve
a esquizofrenia se houver, de um lado, uma herança genética e, de outro, fatores
ambientais de risco, capazes de torná-la biologicamente vulnerável para o
transtorno.
Indivíduos com maior carga genética (maior
número de genes para a esquizofrenia), por exemplo, podem adoecer com insultos
ambientais mais brandos ou em menor número do que aqueles com menor carga
genética, que precisariam de um componente ambiental mais forte.
Os fatores ambientais de risco interferem em
processos do desenvolvimento e maturação cerebral, ativando genes de
susceptibilidade para a esquizofrenia e causando alterações cerebrais sutis,
como a desconexão entre neurônios. Esta é a base para que disfunções cognitivas
e sintomas positivos e negativos da esquizofrenia se desenvolvam.
Seria como se o cérebro possuísse vários
curto-circuitos e diferentes áreas tivessem maior dificuldade para trocar
informações entre si, gerando erros no processamento e limitações cognitivas e
emocionais. Isso explica, em parte, a vulnerabilidade dos pacientes ao estresse
e sua dificuldade para lidar com situações que geram maior
sobrecarga.
COMO
EVOLUI
A evolução ou
prognóstico da esquizofrenia é tão variável quanto à própria doença. Existem
pacientes que têm apenas uma crise, que retomam suas atividades e que permanecem
com sintomas que pouco interferem com sua vida. Há outros que perdem mais com a
crise e têm maior dificuldade para retomar seus compromissos e são mais
dependentes de supervisão e apoio. E existem aqueles com um curso mais grave,
muitas recaídas e menor autonomia.
A ciência ainda
não descobriu todas as explicações para essas diferenças. Sabe-se que um maior
número de recaídas compromete muito a evolução e as possibilidades de
recuperação a longo prazo. Para cada crise, estima-se que o paciente leve de 6 a
12 meses para recuperar o nível anterior de funcionamento. Portanto, a prevenção
de recaídas, através de um tratamento regular e abrangente que contemple as
esferas bio-psico-sociais do indivíduo e de sua família, é fundamental.
Atualmente as
possibilidades de recuperação são enormes. Os recursos que dispomos para
tratamento são muito superiores aos existentes há vinte ou trinta anos atrás. A
esquizofrenia precisa perder o estigma de doença degenerativa, em que a pessoa
vai perdendo aos poucos sua vitalidade. A ciência já mostrou que não ocorre
degeneração. Pelo contrário, é possível recuperar muitas funções adoecidas pela
doença. Ainda que não exista uma cura, é possível tratá-la a ponto de
estabilizar e preparar a pessoa para uma vida ativa e plena. Tudo depende da
esperança e da energia que conseguimos reunir em torno do paciente para ajudá-lo
a encarar este desafio.
O PAPEL DA
FAMILIA
Os portadores de esquizofrenia, pelas
características da própria doença, passam a maior parte de seu tempo com suas
famílias, principalmente seus pais e irmãos. As pessoas diretamente ligadas a
eles também sofrem com os desgastes provocados pelo transtorno.
A esquizofrenia pode interferir nas relações
familiares, provocar sentimentos negativos, como raiva, medo e angústia, pela
sensação de impotência que os sintomas trazem. Como reagir frente a um delírio
ou uma alucinação, que comportamento deve se ter diante de alguém desmotivado,
que se isola ou que reluta em fazer alguma atividade? Como aceitar os percalços
que a doença traz sem descontar no paciente, sua principal vítima, as nossas
próprias frustrações?
O impacto emocional que o adoecimento traz aos
familiares é muitas vezes tão intenso quanto àquele que atinge o paciente.
Algumas reações comuns entre os familiares, particularmente no início da doença,
quando tomam conhecimento do diagnóstico, são:
→ Negação ou subestimação:
sentimento de incredulidade ou de irrealidade, como se aquilo não estivesse
acontecendo ou como se fosse um pesadelo do qual se poderia acordar a qualquer
momento. O familiar pode criar fantasias acerca da doença, duvidar ou questionar
seus sintomas, acreditar numa cura miraculosa ou achar que o problema é menor e
não deve gerar preocupações.
→ Sentimento de
culpa: procurar responsabilizar alguém ou a si próprio, buscar um
culpado para a doença.
→ Sentimento de revolta: agir
com raiva diante do paciente ou de outro familiar, por não aceitar a
doença.
→ Superproteção: acreditar que a
doença vai deixar o paciente incapacitado e dependente, desenvolvendo formas de
controle e cerceamento que irão tolir a liberdade e limitar a autonomia da
pessoa.
O familiar precisa de tempo e de informação para
mudar seus sentimentos, refletir sobre suas convicções e perder os preconceitos.
Aprender a lidar com os sintomas vem a partir da vivência cotidiana, que precisa
de reflexão e reavaliação constantes. Nossas atitudes podem ser determinantes
para o futuro da pessoa que sofre de esquizofrenia. Atitudes positivas
contribuirão para uma melhor recuperação, um futuro mais promissor, com menores
índices de recaída, maiores possibilidades para se trabalhar a autonomia e
melhorar a qualidade de vida e dos relacionamentos. Atitudes negativas desgastam
as relações, impossibilitam a recuperação plena e estão associadas a um maior
número de recaídas e a uma evolução mais grave da esquizofrenia.
Emoção expressada (E.E.) é o termo dado por
pesquisadores ao conjunto de atitudes, sentimentos e reações de familiares que
refletem emoções desajustadas relacionadas à doença e ao familiar adoecido.
Quando se diz que uma família tem altos níveis de E.E., significa que os
relacionamentos estão em conflito, aumentando a sobrecarga e o estresse. A
capacidade de solucionar os principais problemas trazidos pela doença e sua
convivência fica muito prejudicada. Por esse motivo, altos índices de E.E. são
um dos fatores que mais se relacionam às recaídas e a um pior prognóstico.
Os familiares e pessoas próximas precisam
dedicar um tempo ao conhecimento dos aspectos da doença, como forma de
compreender melhor seu familiar e amigo, refletir sobre suas atitudes, mudar
padrões errados de comportamento e reduzir o grau de estresse, buscando
solucionar da melhor forma os conflitos do dia-a-dia. Essa nova maneira de
encarar a esquizofrenia vai se reverter em benefícios para si, aliviando o
sofrimento e o impacto causados pelo adoecimento e, sobretudo, melhorando a
convivência e o ambiente familiar.
Padrões
Emocionais
Os sentimentos provenientes da
convivência do familiar com o paciente podem se cristalizar com o tempo, ditando
atitudes e comportamentos que se repetirão no dia-a-dia. Muitos não percebem que
estão agindo de maneira errada, pois o padrão de relacionamento estabelecido
está tão enraizado, que permeia, de forma automática, grande parte do contato
entre eles. O familiar passa a ter dificuldade de agir de forma diferente, na
maioria das vezes culpando o paciente por isso, quando, na verdade, ele próprio
não vem conseguindo mudar o seu comportamento sozinho. Isso leva a um ciclo
vicioso, onde não se sabe mais onde está a causa e a conseqüência.
Os principais padrões emocionais
encontrados em familiares de esquizofrênicos são detalhados a seguir.
Um mesmo familiar pode apresentar mais
de um padrão.
→ Hipercrítica – atitude
crítica em relação ao paciente, cobrando atividades, tarefas e resultados com um
nível elevado (e, muitas vezes, incompatível) de exigência, resultando quase
sempre em seu fracasso. O familiar pode se tornar demasiadamente crítico também
em relação aos sintomas e comportamentos provenientes da doença e que o paciente
tem dificuldade de controlar. Esta atitude resulta comumente num padrão mais
hostil de relacionamento.
→
Hostilidade – atitude
hostil e de briga, com discussões e desavenças freqüentes, que pode evoluir, em
alguns casos, para agressividade verbal e física de ambas as partes.
→
Permissividade – atitude
permissiva, descompromissada ou indiferente, que, em geral, revela a pouca
disponibilidade do familiar de se envolver com o paciente, não se importando com
coisas boas ou negativas relacionadas a ele.
→
Superproteção – atitude
superprotetora, preocupação demasiada, tendência a tomar a frente do paciente
nas decisões e atividades que lhe cabem, restringindo sua liberdade e autonomia.
Pode ocorrer controle excessivo, gerando discussões e desentendimentos entre o
controlador e o paciente, evoluindo para um clima hostil.
→
Superenvolvimento afetivo
– alguns familiares anulam-se, deixam de reservar um tempo para si,
para atividades sociais e de lazer, passando a cuidar exclusivamente do
paciente. Podem desenvolver quadros afetivos que variam da estafa à ansiedade e
depressão. Sacrificam muito o seu lado pessoal e deixam transparecer sua
frustração e cansaço, passando a impressão de que o paciente é um estorvo ou
culpado por seu sofrimento. Muitos precisam também de um tratamento médico e de
um acompanhamento psicoterápico.
É importante que o familiar identifique
se alguns dos padrões característicos estão ocorrendo e reflita sobre suas
atitudes e sentimentos. Uma recomendação geral é que cada um possa dedicar parte
de seu tempo às atividades que proporcione prazer, uma válvula de escape para o
estresse. Ter um período sozinho, para se cuidar, fazer atividades físicas, ter
uma leitura agradável ou para relaxar e refletir sobre si mesmo. Buscar
atividades sociais e de lazer que incluam o paciente também ajuda a aliviar as
tensões e a reaproximar as pessoas. Conversar, trocar idéias e experiências,
buscar soluções em conjunto e dividir melhor a sobrecarga, buscando a união de
todos para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia.
Terapia
e
Psicoeducação
A terapia de família na esquizofrenia é
um dos tratamentos complementares de maior eficácia, com repercussão direta no
estado clínico do paciente. Existem vários trabalhos científicos que comprovam
seus efeitos na adesão ao tratamento médico, na redução de recaídas e de
hospitalizações, na melhoria da qualidade de vida e autonomia do paciente. Para
os familiares, a terapia pode ajudá-los a reduzir o estresse, a trabalhar melhor
seus sentimentos e angústias, superando a sensação de culpa e/ou fracasso, a
identificar preconceitos e atitudes errôneas e os auxilia na busca de soluções
para os problemas cotidianos.
O modelo de terapia que mais tem se
mostrado eficaz na esquizofrenia é o da psicoeducação de família, que acrescenta
à terapia informações sobre a doença. Oferecer conhecimento teórico é
imprescindível para ajudar o familiar a compreender melhor seu paciente,
reavaliando julgamentos e atitudes. Esta importante etapa educativa o prepara
para a etapa seguinte, a terapia propriamente.
A terapia pode ser individual (com um ou
mais membros de uma mesma família) ou em grupo (várias famílias). Ela analisa as
situações práticas do dia-a-dia e como cada um lida com os conflitos e soluciona
os problemas, propondo uma reflexão. Ela pode recorrer a qualquer momento à
etapa educativa para corrigir equívocos que porventura persistirem. Essa
reflexão é essencial para que o familiar esteja mais receptivo a novas maneiras
de lidar com o estresse e adquira maior habilidade no manejo e na solução das
situações, reduzindo assim a sobrecarga e melhorando a qualidade do
relacionamento familiar.
O comportamento
pode ser afetado pelos sintomas já comentados, como os positivos e negativos,
porém alguns padrões de comportamento são mais freqüentes e merecem um
comentário à parte. Como a esquizofrenia é um transtorno de apresentação
heterogênea, incluindo quadros clínicos muito diferentes, existem pacientes com
maior ou menor grau de alteração do comportamento, que também é variável de
acordo com a fase da doença (aguda ou crônica)
.
→ Suicídio
As tentativas de
suicídio não são raras na esquizofrenia. Pesquisas apontam que cerca de 50% dos
pacientes tenta o suicídio ao menos uma vez na vida, com uma taxa de suicídio
consumado em torno de 15%. Esta estimativa é a maior dentre todos os transtornos
mentais, inclusive a depressão.
O suicídio pode
ocorrer na fase aguda ou crônica, devendo o familiar ficar atento a alguns
aspectos: se o paciente fala em se matar, caso refira ouvir vozes ordenando que
se fira ou que atente contra a própria vida, quando ocorre intensa ansiedade ou
angústia, se ele se mostra depressivo ou se tem algum comportamento
auto-agressivo ou autodepreciativo.
A família não deve
temer abordar esse assunto com o paciente, pois geralmente ele sente a
necessidade de falar disso para obter algum alívio para o seu sofrimento. Caso
haja intenção ou risco de suicídio, a equipe responsável pelo tratamento deve
ser imediatamente avisada.
→ Agressividade
O comportamento
agressivo não deve ser associado à esquizofrenia, pois a maioria dos pacientes
não é agressiva em nenhum momento ao longo do transtorno. Uma minoria pode ter
reações impulsivas e ataques de raiva ou fúria, geralmente nas fases agudas,
como no surto, mas melhorando significativamente com o tratamento.
O familiar deve
ter paciência e compreensão e jamais revidar algum ato agressivo, sob o risco de
haver aumento da violência e das agressões se tornarem recorrentes ou
constantes. Caso seja necessário conter a pessoa, abraçando-a ou imobilizando-a,
explique o motivo de sua atitude e tente acalmá-la até a chegada de um auxílio
médico.
→ Manias
Alguns pacientes
têm um comportamento mais rígido ou repetitivo, com dificuldade para mudar
determinados padrões. Isso pode variar de hábitos elementares, como relacionados
à higiene, à alimentação e ao vestuário, até hábitos sociais, como rotinas de
atividades, atitudes metódicas ou mecanicistas (precisa fazer aquilo naquela
ordem e daquele jeito). Alguns podem desenvolver rituais e repetições
semelhantes ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
O paciente resiste
a mudar algumas manias e isto provoca conflitos com a família. Por outro lado,
esses comportamentos não podem ser mudados na base da imposição ou da força,
devendo o familiar ter muito diálogo e paciência. Deve procurar, aos poucos,
convencê-lo das desvantagens e encorajá-lo a melhorar suas
atitudes.
→ Solilóquios e risos
imotivados
Solilóquios é o
termo técnico para quem fala sozinho. Há pacientes que os apresentam nas fases
agudas, quando respondem às alucinações (vozes ou pessoas imaginárias). Outros
têm esse comportamento na fase crônica, falando baixinho ou simplesmente mexendo
os lábios e cochichando.
Os risos
imotivados ocorrem quando o paciente ri sem motivo aparente ou fora de um
contexto. Esses sintomas são, na maioria das vezes, automáticos e involuntários,
sem que ele possa controlá-los inteiramente. A irritação de terceiros pode
inclusive intensificá-los
Entendendo a Esquizofrenia II
COMO TRATAR
Os
antipsicóticos, também conhecidos como neurolépticos, são os medicamentos
utilizados no tratamento da esquizofrenia. São assim chamados por possuírem
efeito calmante (neuro=nervo; lepsis=apreensão) e por combaterem sintomas como
delírios, alucinações, comportamento desorganizado e agitado. Eles atuam sobre
um neurotransmissor (substância química responsável pela transmissão dos
estímulos entre os neurônios) chamado dopamina, cujo excesso provoca os sintomas
positivos e desorganizados da esquizofrenia. Bloqueando canais receptores de
dopamina nos neurônios, eles evitam que o excesso da substância atinja as
células nervosas, reequilibrando o sistema de neurotransmissão. Esse efeito é
essencial para a duração do efeito antipsicótico por longo prazo.
O efeito
terapêutico pode demorar de 4 a 8 semanas, embora alguma melhora do
comportamento já possa ser percebida nos primeiros dias de tratamento. É
fundamental que nesse período a medicação seja administrada de forma regular. O
tratamento de manutenção não é menos importante, pois é capaz de evitar futuras
recaídas e precisa ser mantido mesmo que a crise aguda tenha sido contornada. É
comum o abandono do tratamento nessa fase, por acreditar estar curado, o que
deixa a pessoa vulnerável a uma nova crise. O médico é o único capaz de
determinar o tempo total de tratamento para cada caso, podendo variar de 1 a 5
anos ou, em alguns casos, por período indeterminado.
Os primeiros
antipsicóticos foram descobertos na década de 50. A clorpomazina (Amplictil), o
primeiro deles, era utilizada como antiemético e sedativo e teve seu efeito
antipsicótico descoberto por acaso quando foi usado em pacientes psiquiátricos.
A sua eficácia representou uma revolução na maneira de tratar os doentes
mentais, recebendo a alcunha de “esvaziadora de hospícios”, pois contribuiu para
a desinternação de milhares de pacientes. Logo depois vieram outras substâncias,
como o haloperidol (Haldol). Os antipsicóticos mais antigos são conhecidos como
típicos ou de primeira geração, possuem uma alta afinidade por receptores de
dopamina e são muito eficazes no combate à psicose.
Entretanto, a
ocorrência de efeitos colaterais duradouros (vulgarmente conhecidos como
impregnação), principalmente do tipo parkinsoniano (tremores, rigidez, lentidão
e apatia) e de discinesias tardias (distúrbios do movimento, contraturas
musculares), fez com que pesquisadores se preocupassem em desenvolver
substâncias tão eficazes quanto, porém melhor toleradas. Surgiram, então, os
antipsicóticos de segunda geração ou atípicos.
O primeiro deles
foi a clozapina (Leponex), seguido da risperidona (Risperdal) e da olanzapina
(Zyprexa). Eles se diferenciam dos mais antigos por possuírem também efeito
sobre receptores de serotonina e por um bloqueio mais balanceado dos receptores
de dopamina, o que contribui para uma menor incidência de efeitos
parkinsonianos. Também são eficazes no tratamento das psicoses, com ação
superior aos típicos nos sintomas negativos e cognitivos da
esquizofrenia.
Reabilitação
Os antipsicóticos
possuem eficácia inquestionável nas fases agudas da esquizofrenia, reduziram
drasticamente as internações psiquiátricas e permitiram a convivência dos
pacientes na sociedade e junto às suas famílias. Contudo, os sintomas negativos
e cognitivos, obstáculos para que muitos possam viver uma vida produtiva e
independente, mudaram pouco com os medicamentos atuais.
O tratamento
psicossocial, também conhecido como reabilitação psicossocial, procura melhorar
esses sintomas e resgatar a autonomia, a individualidade e a capacidade de
socialização e relacionamento dessas pessoas, através de oficinas terapêuticas
que misturam arte, leitura, trabalhos manuais, música, dança, teatro, atividades
físicas, reflexões e debates sobre a doença. O programa deve ser
individualizado, levando-se em conta o potencial e as limitações de cada um. O
treinamento de habilidades específicas ou o aprendizado de um ofício também pode
e deve ser estimulado, visando uma atividade produtiva ou mesmo um trabalho no
futuro.
No Brasil, esse
tratamento é oferecido no serviço público pelos Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS) e hospitais-dia de centros e hospitais psiquiátricos. Na iniciativa
privada também existem clínicas especializadas na reabilitação de pacientes
psiquiátricos e alguns planos de saúde já cobrem este tipo de
tratamento.
O paciente
freqüenta o serviço de 2ª a 6ª feira (ou em alguns dias da semana), geralmente
entre as 9 e 17 horas, regressando para sua casa ao final do dia. A freqüência e
horário podem ser combinados previamente com a equipe técnica. Esse dispositivo
de tratamento vem contribuindo para a redução das internações psiquiátricas e
dos índices de recaída, já que é possível identificar mais precocemente sintomas
agudos e tratar a crise sem a necessidade de internação hospitalar.
A psicoterapia
pode ser oferecida em conjunto com o tratamento psicossocial ou isoladamente. É
um espaço para o paciente falar de suas angústias e dificuldades e buscar apoio
e coragem para enfrentar os desafios. Pode ajudar a melhorar a auto-estima, a
aceitar e compreender melhor sua doença, bem como a monitorar seus próprios
sintomas. Ela pode ser individual ou em grupo. No grupo, o paciente ouve o
relato de outras pessoas que passaram por problemas semelhantes, relativizando
suas experiências. As técnicas psicoterápicas mais utilizadas são a
psicodinâmica (psicanálise) e a cognitivo-comportamental.
Uma abordagem
mais nova de reabilitação é a que utiliza jogos e tarefas que estimulam funções
cognitivas, como memória, atenção, capacidade executiva e de planejamento
(reabilitação cognitiva). Ela visa aperfeiçoar funções acometidas pela
esquizofrenia e melhorar o desempenho cognitivo global dos pacientes. Pode
utilizar técnicas cognitivo-comportamentais para treinar situações cotidianas,
como, por exemplo, ir ao supermercado fazer compras. Ajuda o paciente a avaliar
e monitorar seu próprio comportamento e desempenho em tarefas do dia-a-
dia.
Internação
A esquizofrenia
já foi caracterizada como a doença com maior percentual de ocupação de leitos
hospitalares no mundo, ganhando das doenças cardiovasculares, segunda colocada.
Desde o advento dos antipsicóticos, a partir dos anos 50, essa realidade vem
mudando: milhares de pacientes deixaram os hospitais e retornaram ao convívio de
suas famílias ou passaram a contar com outros recursos de moradia dentro de sua
comunidade. A psiquiatria e, em particular a esquizofrenia, passaram a ser
tratadas ambulatorialmente.
A internação
continua sendo hoje necessária em alguns casos, mas a grande maioria não precisa
dela para seu tratamento. Internações prolongadas, como as que eram praticadas
antigamente, em que o paciente ficava por meses ou anos internado, mostraram ser
prejudiciais a longo prazo para a doença e seus portadores. A falta de estímulos
para uma vida produtiva, a rotina manicomial, o distanciamento da família, a
escassez de relações afetivas, enfim, o isolamento da sociedade e do mundo,
tornavam os pacientes mais retraídos e apáticos, permitindo que os sintomas
negativos da esquizofrenia se cronificassem. O retorno ao lar ficava mais
difícil à medida que o tempo de internação se prolongava. Muitos pacientes
relutavam em deixar os hospitais com medo da realidade distante que encontrariam
lá fora.
A hospitalização
é necessária quando se esgotam os recursos ambulatoriais para tratamento e
quando o paciente oferece risco à sua vida ou à sua integridade. A internação
visa garantir o início do tratamento, abrandar os sintomas mais agudos e as
alterações de comportamento que estão colocando-o em risco. A duração da
internação deve ser a menor necessária para que as suas motivações sejam
controladas. A família deve estar presente a todo o momento para evitar que esse
período signifique uma ruptura nas suas relações, já que, na maioria dos casos,
a internação é cercada de conflitos de ambas as partes.
Foto: quadro do
pintor Tony Robert-Fleury (1837-1912), retratando Philippe Pinel desacorrentando
pacientes no Hospital de Salpetriere, em Paris. O ato de Pinel representou um
marco na história da psiquiatria, quando loucos passaram a ser tratados como
pacientes e não mais como vagabundos e marginalizados. Nascia a psiquiatria
enquanto especialidade médica, a mais antiga das especialidades
clínicas.
Eletrochoque
A
eletroconvulsoterapia (ECT), popularmente conhecida como
eletrochoque, é um tratamento antigo na psiquiatria, que antecede o arsenal
farmacológico que hoje temos à disposição para tratar as doenças psiquiátricas.
No passado era utilizada indiscriminadamente para vários transtornos, inclusive
de forma errada, como medida punitiva para pacientes com mau comportamento. Isso
fez com que o ECT fosse cercado de tabus que persistem até
hoje. Outros tratamentos polêmicos, como a lobotomia e o choque insulínico já
foram banidos da medicina, mas o eletrochoque permanece como uma alternativa de
tratamento, inclusive para a esquizofrenia.
No Brasil, o
ECT é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina.
Diferente das práticas antigas, o ECT de hoje só lembra o de
antigamente pelo nome. É realizado de maneira criteriosa e com indicações
precisas, em circunstâncias muito diferentes, que preservam o paciente e visam
exclusivamente sua saúde.
Ele é aplicado
sob anestesia, com o paciente monitorado clinicamente através de aparelhos que
medem seus batimentos cardíacos, pressão arterial e saturação de oxigênio. Em
geral são necessários de 6 a 12 sessões, que são realizadas em dias diferentes,
geralmente alternados com um a dois dias de repouso. Através do estímulo
elétrico, o ECT provoca uma liberação maciça de
neurotransmissores no cérebro, o que melhora o quadro mental do paciente após
algumas sessões. Abaixo as principais indicações:
-
Ausência de resposta aos antipsicóticos diante da gravidade do quadro;
-
Catatonia com riscos à saúde, por inanição, desidratação e outras complicações médicas;
-
Risco grande de suicídio ou tentativas sucessivas;
-
Gravidez, quando o quadro é grave e há restrições ao uso de antipsicóticos.
O
ECT ainda é utilizado nos dias de hoje no mundo inteiro (com
exceção de poucos países que o proibiram por questões políticas), por ser um
tratamento eficaz e pouco arriscado. O principal efeito colateral é sobre a
memória, podendo provocar amnésia durante o período do tratamento, mas com
recuperação posteriormente.
QUAL O
REMEDIO
Os antipsicóticos (ou neurolépticos) são medicamentos que
combatem a psicose, indicados no tratamento da esquizofrenia. Eles agem
diretamente no neurônio, bloqueando receptores de dopamina e impedindo que o
excesso da substância, alteração química mais comum na doença, continue
provocando os sintomas positivos e as alterações de
comportamento.
Os mais antigos, desenvolvidos a partir da década de 50, são chamados de típicos ou de antipsicóticos de primeira geração, cujos mais conhecidos são o haloperidol (Haldol) e a clorpromazina (Amplictil). Eles podem ser subdivididos, de acordo com sua potência, em alta potência (alta afinidade por receptores de dopamina já em doses baixas) e baixa potência (baixa afinidade por receptores de dopamina, sendo necessário doses mais altas para o alcance terapêutico).
O haloperidol, por exemplo, é de alta potência, com doses terapêuticas que variam entre 1 e 20mg. Já a clorpromazina é considerada de baixa potência, com doses antipsicóticas geralmente acima de 200mg. O antipsicótico de baixa potência costuma ter um efeito sedativo maior do que o de alta potência, sendo eles comumente usados em conjunto para finalidades distintas (controle dos sintomas positivos + sedação, p.ex.).
A partir da década de 90 surgiram substâncias com ação mais equilibrada nos receptores de dopamina e efeito adicional sobre receptores de serotonina. Elas foram classificadas como antipsicóticos de segunda geração ou atípicos. A clozapina (Leponex) foi a primeira a ser descoberta, seguida pela risperidona (Risperdal) e a olanzapina (Zyprexa). Outras substâncias com o mesmo perfil foram desenvolvidas. Veja abaixo a tabela de antipsicóticos disponíveis no Brasil:
→ Aqui entra tabela de antipsicóticos
Os mais antigos, desenvolvidos a partir da década de 50, são chamados de típicos ou de antipsicóticos de primeira geração, cujos mais conhecidos são o haloperidol (Haldol) e a clorpromazina (Amplictil). Eles podem ser subdivididos, de acordo com sua potência, em alta potência (alta afinidade por receptores de dopamina já em doses baixas) e baixa potência (baixa afinidade por receptores de dopamina, sendo necessário doses mais altas para o alcance terapêutico).
O haloperidol, por exemplo, é de alta potência, com doses terapêuticas que variam entre 1 e 20mg. Já a clorpromazina é considerada de baixa potência, com doses antipsicóticas geralmente acima de 200mg. O antipsicótico de baixa potência costuma ter um efeito sedativo maior do que o de alta potência, sendo eles comumente usados em conjunto para finalidades distintas (controle dos sintomas positivos + sedação, p.ex.).
A partir da década de 90 surgiram substâncias com ação mais equilibrada nos receptores de dopamina e efeito adicional sobre receptores de serotonina. Elas foram classificadas como antipsicóticos de segunda geração ou atípicos. A clozapina (Leponex) foi a primeira a ser descoberta, seguida pela risperidona (Risperdal) e a olanzapina (Zyprexa). Outras substâncias com o mesmo perfil foram desenvolvidas. Veja abaixo a tabela de antipsicóticos disponíveis no Brasil:
→ Aqui entra tabela de antipsicóticos
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Classe | Substância | Nome Comercial | Apresentações (via de administração) |
---|---|---|---|
Primeira Geração - Baixa Potência | Clorpromazina | Amplictil
® Longactil Genérico |
Comp. 25 e 100mg (oral) Gotas 1mg/gt (oral) Ampolas 25mg (injetável) |
Levomepromazina | Neozine
® Levozine |
Comp. 25 e 100mg (oral) Gotas 1mg/gt (oral) | |
Periciazina | Neuleptil ® | Comp. 10mg (oral) Gotas 0,25mg/gt (oral) | |
Tioridazina | Melleril ® | Comp. 25, 50, 100 e 200mg (oral), Líquido 30mg/ml com dosador em mg (oral) | |
Primeira Geração - Alta Potência | Haloperidol | Haldol ® Haldol decanoato Halo Genérico |
Comp. 1 e 5mg (oral) Gotas 0,1mg/gt Ampola 5mg (injetável) Depot (Haldol Decanoato) – ampola 50mg (IM) |
Flufenazina | Flufenan ® | Comp. 5 mg (oral) Depot (Flufenan Depot) – ampola 25mg (IM) | |
Pimozida | Orap ® | Comp. 1 e 4 mg (oral) | |
Trifluoperazina | Stelazine ® | Comp. 2 e 5mg (oral) | |
Sulpirida | Dogmatil
® Equilid |
Comp. 50 e 200mg (oral) Gotas 1mg/gt | |
Pipotiazina | Piportil L4 ® | Depot – ampola 100mg (4ml), ampola 25mg (1ml) | |
Zuclopentixol | Clopixol ® | Comp. 10 e 25mg
(oral) Acuphase – ampola 50mg (injetável), Depot – ampola 200mg (IM) | |
Penfluridol | Semap ® | Comp. 20mg (oral – 1x por semana) | |
Segunda Geração | Risperidona | Risperdal
® Risperdal-Consta Zargus Risperidon Respidon Genérico |
Comp. 1, 2, 3 e 4 mg
(oral) Líquido 1mg/ml com dosador ® (oral), Depot (Risperdal Consta®) – ampola 25mg (IM) |
Olanzapina | Zyprexa
® Zyprexa-Zydis Zyprexa IM |
Comp. 2,5 – 5 – 10mg
(oral) Comp. orodispersíveis (Zyprexa-Zydis) 5 e 10mg (oral) Ampola 10mg (IM) | |
Quetiapina | Seroquel ® Seroquel XRO ® |
Comp. 25, 100 e 200mg
(oral) Comp. 50, 200 e 300mg (oral) | |
Ziprasidona | Geodon ® Geodon IM |
Cáps. 40 e 80mg (oral) Ampola 20mg (IM) | |
Aripiprazol | Abilify ® | Comp. 10, 15, 20 e 30mg (oral) | |
Amissulprida | Socian ® | Comp. 50 e 200mg (oral) | |
Clozapina | Leponex ® | Comp. 25 e 100mg (oral) | |
Paliperidona | Invega ® | Comp. 3, 6 e 9mg (oral) |
Os de segunda geração são mais eficientes do que os de
primeira geração em alguns aspectos: causam menos efeitos de impregnação (tipo
parkinsoniano, distonias e discinesias), são mais eficazes no combate aos
sintomas negativos e cognitivos e têm uma ação complementar sobre o humor (ação
antidepressiva e estabilizadora do humor).
Os antipsicóticos diferem também quanto à sua via de administração. A maioria é por via oral (comprimidos, cápsulas, líquido, comprimidos orodispersíveis, comprimidos de liberação controlada), mas existem formas injetáveis de absorção rápida (para pacientes agitados) e de absorção lenta ou “depot” (de depósito, para pacientes que se recusam a ingerir medicamentos). Os antipsicóticos de depósito são administrados por via intramuscular em intervalos que variam de 14 a 28 dias, dependendo da substância.
O efeito terapêutico completo dos antipsicóticos, seja qual for a via de administração, é geralmente lento e pode demorar de 4 a 8 semanas. Contudo, alguma melhora dos sintomas pode ser notada ainda na primeira semana de tratamento. O tempo total de uso da medicação deve ser determinado pelo médico, de acordo com as particularidades de cada caso (tempo de doença, número de recaídas, gravidade do caso), sendo normalmente de 1 a 5 anos ou por tempo indeterminado.
Mesmo que o paciente apresente a remissão completa dos sintomas em poucos meses de tratamento, a medicação deve ser mantida por um período chamado de tratamento de manutenção, a fim de se evitar recaídas e de se alcançar efeitos mais duradouros sobre o comportamento e a cognição.
Os antipsicóticos diferem também quanto à sua via de administração. A maioria é por via oral (comprimidos, cápsulas, líquido, comprimidos orodispersíveis, comprimidos de liberação controlada), mas existem formas injetáveis de absorção rápida (para pacientes agitados) e de absorção lenta ou “depot” (de depósito, para pacientes que se recusam a ingerir medicamentos). Os antipsicóticos de depósito são administrados por via intramuscular em intervalos que variam de 14 a 28 dias, dependendo da substância.
O efeito terapêutico completo dos antipsicóticos, seja qual for a via de administração, é geralmente lento e pode demorar de 4 a 8 semanas. Contudo, alguma melhora dos sintomas pode ser notada ainda na primeira semana de tratamento. O tempo total de uso da medicação deve ser determinado pelo médico, de acordo com as particularidades de cada caso (tempo de doença, número de recaídas, gravidade do caso), sendo normalmente de 1 a 5 anos ou por tempo indeterminado.
Mesmo que o paciente apresente a remissão completa dos sintomas em poucos meses de tratamento, a medicação deve ser mantida por um período chamado de tratamento de manutenção, a fim de se evitar recaídas e de se alcançar efeitos mais duradouros sobre o comportamento e a cognição.
Efeitos
Colaterais
Antes de prosseguir, leia atentamente os alertas a
seguir:
Cada antipsicótico possui um conjunto
diferente de efeitos colaterais. Alguns efeitos ocorrem mais no início,
desaparecendo à medida que o organismo vai se adaptando ao
medicamento;
- Em caso de efeito colateral, a medicação não deve ser interrompida por conta própria. Entre em contato com o médico e busque uma orientação. A suspensão abrupta do medicamento pode acarretar problemas muito mais graves à saúde, como a piora rápida do quadro psicótico;
- Os antipsicóticos são medicações seguras. A tolerabilidade é boa e os benefícios do tratamento são muito superiores ao risco de efeitos colaterais;
- Antipsicóticos não causam dependência física ou psicológica, como muitos acreditam;
- Abordamos aqui os efeitos colaterais mais importantes, sem discriminar a substância mais responsável por este ou aquele efeito. É uma prerrogativa do médico diagnosticar e tratar os efeitos colaterais dos medicamentos que prescreve. O familiar e o portador devem esclarecer suas dúvidas e consultar o médico sempre que necessário antes de tomar qualquer atitude.
1. Efeitos Neurológicos
-
Tremores
-
Rigidez muscular
-
Contrações musculares involuntárias (semelhantes a câimbras)
-
Inquietação
-
Ansiedade
-
Dificuldade de ficar parado muito tempo
-
Ficar marchando
-
Lentidão
-
Aumento da salivação
-
Síndrome neuroléptica: quadro raro caracterizado por febre (40ºC), rigidez muscular, variação da pressão arterial, taquicardia, sudorese, palidez, confusão mental, desorientação. O paciente deve ser levado imediatamente ao médico.
2. Efeitos Cardiovasculares
-
Redução da pressão arterial ou hipotensão postural (quando o paciente se levanta)
-
Taquicardia
-
Bradicardia
-
Distúrbios da condução cardíaca em pacientes com predisposição a arritmias (raro)
-
3. Alterações visuais
Visão embaçada -
Cuidado com pacientes que tenham glaucoma
4. Alterações cutâneas
Reações cutâneas, como rash cutâneo
(manchas ou pápulas avermelhadas pelo corpo)
-
Sensibilidade à luz solar (uso de fotoprotetor)
-
5. Aumento do colesterol
-
Aumento de LDL e triglicerídeos
6. Ganho de peso
7. Alterações hormonais
-
Aumento da prolactina, que pode causar entumescimento da glândula mamária nas mulheres com saída de leite
-
Alterações menstruais
-
Redução de libido
8. Hiperglicemia e Diabetes
(raros)
-
Aumento da glicose no sangue
-
Diabetes em pessoas predispostas (mais raro)
9. Efeitos Hematológicos (raros)
-
Diminuição de glóbulos brancos (agranulocitose)
-
Redução de plaquetas
-
10. Efeitos Hepáticos
-
Aumento transitório de transaminases (enzimas do fígado conhecidas pela sigla TGO e TGP)
-
11. Efeitos Gastrintestinais
-
Boca seca
Náuseas
Vômitos
Diarréia Prisão de ventre
12) Efeitos Urogenitais
Retenção urinária
-
PROTEGENDO DAS RECAIDAS
A pessoa acometida pela
esquizofrenia tem uma maior vulnerabilidade ao estresse, ou seja, é menos
tolerante e reage mal quando em situações de sobrecarga emocional, que requeiram
maior equilíbrio mental. Isso explica, por exemplo, porque um ambiente familiar
negativo pode ser tão danoso à estabilidade ou porque muitos pacientes entram em
crise em momentos de perigo, trauma ou estresse.
Essa dificuldade está relacionada à capacidade individual de processar informações do meio e de planejar saídas ou soluções para uma determinada situação. A sensação de estar perdido ou paralisado diante de algo provoca uma reação que desestabiliza a pessoa e a torna ainda mais vulnerável ao ambiente, gerando medo, desconfiança e deixando-a em estado de alerta.
A contrapartida comportamental disso é um maior isolamento, retraimento emocional, necessidade de estar atento a tudo, menor necessidade de sono e avaliações deturpadas da realidade, características que antecedem a crise. Identificar esses sintomas é essencial para uma intervenção precoce, evitando-se um novo surto da doença.
Da mesma forma, zelar pelo ambiente do paciente, reduzindo o estresse e fatores que possam gerar instabilidade, é fundamental na prevenção de recaídas. Sabemos que nem todos os fatores podem ser controlados, que fatalidades ocorrem e que a crise muitas vezes chega sem aviso prévio. Porém, é possível controlar alguns fatores de proteção e evitar outros de vulnerabilidade, fazendo a nossa parte pela estabilidade da doença.
Essa dificuldade está relacionada à capacidade individual de processar informações do meio e de planejar saídas ou soluções para uma determinada situação. A sensação de estar perdido ou paralisado diante de algo provoca uma reação que desestabiliza a pessoa e a torna ainda mais vulnerável ao ambiente, gerando medo, desconfiança e deixando-a em estado de alerta.
A contrapartida comportamental disso é um maior isolamento, retraimento emocional, necessidade de estar atento a tudo, menor necessidade de sono e avaliações deturpadas da realidade, características que antecedem a crise. Identificar esses sintomas é essencial para uma intervenção precoce, evitando-se um novo surto da doença.
Da mesma forma, zelar pelo ambiente do paciente, reduzindo o estresse e fatores que possam gerar instabilidade, é fundamental na prevenção de recaídas. Sabemos que nem todos os fatores podem ser controlados, que fatalidades ocorrem e que a crise muitas vezes chega sem aviso prévio. Porém, é possível controlar alguns fatores de proteção e evitar outros de vulnerabilidade, fazendo a nossa parte pela estabilidade da doença.
COMO PROTEGER?
Existem fatores que foram relacionados pelos
pesquisadores a uma maior chance de recaída e outros que conferem proteção à
pessoa vulnerável a novas crises de esquizofrenia. O equilíbrio entre esses
fatores deve tender para o lado da proteção para que o indivíduo mantenha-se
estabilizado.
Os principais fatores de proteção contra recaídas são:
Os principais fatores de proteção contra recaídas são:
-
Todas as formas de tratamento: médico, psicoterápico, psicossocial e de família.
-
Tolerância pessoal ao estresse.
-
Ambiente social e familiar em harmonia.
-
Os fatores de risco para a recaída são:
-
A própria doença: gravidade das alterações neuroquímicas (níveis de dopamina), intensidade dos sintomas, disfunção cognitiva e dificuldade de processamento das informações do ambiente.
Personalidade difícil. -
Ambiente social e familiar estressante ou superestimulante.
-
Eventos de vida traumáticos ou estressantes.
Os fatores de proteção devem ser maiores do que os de
risco para que a doença permaneça estabilizada. Todos os fatores de proteção
podem ser aperfeiçoados com o tratamento: a tolerância pessoal pode ser
reforçada através da psicoterapia e dos medicamentos; o ambiente social pode ser
readequado através do tratamento psicossocial e de família, levando-se em conta
as potencialidades e fragilidades de cada um; o ambiente familiar pode melhorar
com a orientação ou terapia de família.
Já entre os fatores de risco, apenas o ambiente social e familiar são passíveis de mudança. As características da própria doença, como os níveis de dopamina, a gravidade dos sintomas e da disfunção cognitiva podem não ser completamente neutralizados com os tratamentos. Por isso existem pacientes mais graves e que respondem pior ao tratamento do que outros. A personalidade é mais resistente à psicoterapia e pacientes mais difíceis não aderem bem a esse tratamento. Eventos de vida traumáticos, como catástrofes, acidentes ou morte de algum familiar também não podem ser controlados.
Portanto, o enfoque no tratamento médico, psicoterápico, psicossocial e de família são os recursos hoje disponíveis, que podem manter o paciente bem por longo tempo, ajudando na sua recuperação e na superação dos obstáculos.
ATIVIDADES DIÁRIAS
Já entre os fatores de risco, apenas o ambiente social e familiar são passíveis de mudança. As características da própria doença, como os níveis de dopamina, a gravidade dos sintomas e da disfunção cognitiva podem não ser completamente neutralizados com os tratamentos. Por isso existem pacientes mais graves e que respondem pior ao tratamento do que outros. A personalidade é mais resistente à psicoterapia e pacientes mais difíceis não aderem bem a esse tratamento. Eventos de vida traumáticos, como catástrofes, acidentes ou morte de algum familiar também não podem ser controlados.
Portanto, o enfoque no tratamento médico, psicoterápico, psicossocial e de família são os recursos hoje disponíveis, que podem manter o paciente bem por longo tempo, ajudando na sua recuperação e na superação dos obstáculos.
ATIVIDADES DIÁRIAS
Uma das maiores preocupações da família e do paciente com o tratamento é qual será o grau de autonomia que ele conseguirá alcançar com a recuperação de sua doença. Muitos trabalhavam, estudavam e tinham outras atividades regulares antes de adoecerem. A primeira crise representou, para a maioria, uma ruptura neste processo. Os familiares temem que os sintomas mais duradouros da esquizofrenia interfiram com a capacidade de planejamento e realização, dificultando a retomada de uma vida produtiva. Isso inclui, além do trabalho e dos estudos, os relacionamentos afetivos e sociais, a capacidade de manter o tratamento e de equilibrar-se para uma vida saudável, almejando maior independência social, emocional e financeira.
Abordamos os sintomas mais persistentes da esquizofrenia, como os cognitivos e os negativos, que ocorrem em grau variado de intensidade na maioria dos pacientes. Esses sintomas costumam interferir mais na autonomia do que os sintomas positivos. Os tratamentos precisam ser planejados, levando-se em conta o quadro clínico e as limitações de cada um, com metas de curto, médio e longo prazo, que precisarão ser reavaliadas à medida que o paciente avança em seus objetivos. O grau de autonomia a ser alcançado depende também da estabilidade da doença (prevenção de recaídas) e da qualidade do meio em que o paciente vive (menor sobrecarga e estresse).
O trabalho deve ter num primeiro momento um propósito ocupacional. O paciente deve ser estimulado dentro de suas potencialidades, com o cuidado de se evitar a superestimulação ou a sobrecarga de responsabilidades e demandas que possam desestruturá-lo. Ele pode ser gradativamente encorajado a assumir novas responsabilidades à medida que se mostrar mais seguro e confortável em sua função. A equipe terapêutica pode ajudar nesta orientação.
Alguns podem necessitar de um trabalho assistido, ou seja, sob supervisão de alguém que possa assumir responsabilidades que o paciente demonstra não suportar. Esta proteção visa evitar que o trabalho se transforme num potencial risco de recaída, por exceder as capacidades de enfrentamento por parte do paciente, gerando mais angústia e estresse.
Não é nenhum demérito se o paciente precisar assumir uma função com grau menor de complexidade do que a que vinha exercendo antes de seu adoecimento. O processo de reabilitação deve focar no melhor desfecho de longo prazo, sem abrir mão da estabilidade da doença, componente fundamental.
Relacionamentos
Um aspecto
importante para a autonomia dos portadores de esquizofrenia é a capacidade de se
relacionarem com outras pessoas, ampliando assim seu ciclo social. A timidez, a
introspecção, o isolamento e a inibição social que alguns apresentam dificultam
a formação de novas amizades e de relacionamentos afetivos, que poderiam ajudar
no resgate da motivação e do prazer para novas atividades. É comum a constatação
por familiares e portadores de que a falta de companhia é muitas vezes o motivo
para a ociosidade.
Outro ponto comum entre os familiares é que os modos e a capacidade do paciente avaliar seu comportamento em situações sociais geram, muitas vezes, constrangimento para si próprio. Alguns relutam em freqüentar determinados ambientes e em outros as famílias têm resistência a levá-los, por temer que o comportamento não será adequado.
O aprendizado social, ou seja, o treinamento e a exposição a situações e ambientes sociais devem fazer parte do processo de reabilitação. A privação social, seja qual for a razão alegada, só contribui para que antigos hábitos permaneçam disfuncionais e para que novas habilidades não sejam incorporadas para moldar melhor o comportamento.
O tratamento psicossocial e a psicoterapia podem oferecer ferramentas para ampliar relacionamentos e para aperfeiçoar o comportamento social, ajudando o paciente a ter uma melhor autocrítica e a monitorar (e corrigir) seus próprios hábitos e atitudes. Entretanto, a família não deve se furtar a levar o paciente aos eventos sociais, ajudando-o no treinamento contínuo desse aprendizado e resgatando o prazer da convivência em comunidade.
Outro ponto comum entre os familiares é que os modos e a capacidade do paciente avaliar seu comportamento em situações sociais geram, muitas vezes, constrangimento para si próprio. Alguns relutam em freqüentar determinados ambientes e em outros as famílias têm resistência a levá-los, por temer que o comportamento não será adequado.
O aprendizado social, ou seja, o treinamento e a exposição a situações e ambientes sociais devem fazer parte do processo de reabilitação. A privação social, seja qual for a razão alegada, só contribui para que antigos hábitos permaneçam disfuncionais e para que novas habilidades não sejam incorporadas para moldar melhor o comportamento.
O tratamento psicossocial e a psicoterapia podem oferecer ferramentas para ampliar relacionamentos e para aperfeiçoar o comportamento social, ajudando o paciente a ter uma melhor autocrítica e a monitorar (e corrigir) seus próprios hábitos e atitudes. Entretanto, a família não deve se furtar a levar o paciente aos eventos sociais, ajudando-o no treinamento contínuo desse aprendizado e resgatando o prazer da convivência em comunidade.
Lazer
O lazer é tão
importante quanto às demais atividades rotineiras do paciente. Alguns incorrem
no erro de julgar atividades ocupacionais, que não o trabalho, como lazer. Aula
de artes, atividades físicas, oficinas lúdicas, terapias, enfim, a maior parte
das atividades propostas aos pacientes tem caráter terapêutico. Embora possam
ser prazerosas, não substituem os momentos de lazer.
Lazer são atividades espontâneas e voltadas ao entretenimento e prazer, que ajudam a descarregar tensões, que trazem relaxamento e bem estar e que, se possível (e é desejável que assim o seja), reúnam pessoas amigas e queridas.
Apesar da reabilitação psicossocial incluir atividades com este propósito, é recomendável que elas também aconteçam em outros ambientes, como o familiar. A família precisa de momentos de congraçamento e prazer, para estreitar seus laços afetivos e aproximar as histórias de vida das pessoas. Manter um momento desses, ao mínimo algumas horas uma vez por semana, para ir ao cinema ou a um restaurante, ou mesmo a um piquenique no parque, pode ajudar a melhorar os relacionamentos.
Lazer são atividades espontâneas e voltadas ao entretenimento e prazer, que ajudam a descarregar tensões, que trazem relaxamento e bem estar e que, se possível (e é desejável que assim o seja), reúnam pessoas amigas e queridas.
Apesar da reabilitação psicossocial incluir atividades com este propósito, é recomendável que elas também aconteçam em outros ambientes, como o familiar. A família precisa de momentos de congraçamento e prazer, para estreitar seus laços afetivos e aproximar as histórias de vida das pessoas. Manter um momento desses, ao mínimo algumas horas uma vez por semana, para ir ao cinema ou a um restaurante, ou mesmo a um piquenique no parque, pode ajudar a melhorar os relacionamentos.