terça-feira, 11 de novembro de 2014

Eu sei, mas não devia



Marina Colasanti

Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(1972)

Marina Colasanti
 nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

domingo, 9 de novembro de 2014

Câmara aprova lei que permite exércitos estrangeiros atuarem no Brasil

Por   


A Venezuela prepara um plano com a assessoria de Cuba para criar um “exército guerrilheiro” que teria um milhão de militantes (Reprodução / Defesanet)
A Venezuela prepara um plano com a assessoria de Cuba para criar um “exército guerrilheiro” que teria um milhão de militantes (Reprodução / Defesanet)

A Câmara dos Deputados aprovou ontem (23) Projeto de Lei Complementar 276/02, que autoriza o ministro da Defesa e os chefes das Forças Armadas a autorizar o trânsito e a permanência temporária de força estrangeiras no país. De autoria do Executivo, o projeto altera os casos previstos na legislação em que a competência para determinar o ingresso de forças estrangeiras é privativa da Presidência da República, independentemente de autorização do Congresso Nacional.

Pela projeto aprovado, o ministro da Defesa poderá autorizar o ingresso de forças armadas estrangeiras nos casos de missões de busca e salvamento; missões humanitárias; programas de treinamento ou aperfeiçoamento; transporte de pessoal, carga ou de apoio logístico.

O texto também autoriza o ministro da Defesa a permitir a entrada de forças em situações de “visita oficial ou não oficial programadas pelos órgãos governamentais, inclusive as de finalidade científica e tecnológica e atendimento técnico, nas situações de abastecimento, reparo ou manutenção”.

De acordo com o autor do substitutivo aprovado, deputado Ney Lopes (PMDB-RN), o objetivo da medida é diminuir a burocracia envolvendo a autorização para a entrada de forças estrangeiras no país, uma vez que é frequente a passagem de aviões e navios militares procedentes de países vizinhos pelo espaço territorial brasileiro. “São cerca de 800 pedidos por ano, de liberações de sobrevoo ou de pouso”, além de mais de 50 de atracamento de navios de guerra estrangeiros”.

Em sua justificativa, o deputado argumentou ainda que tais situações se configuram em situações de rotina e que o “Poder Executivo apresentou o projeto em exame, a fim de desburocratizar o andamento de tais processos autorizativos e, sobretudo, evitar que a mais alta autoridade do país seja sobrecarregada desnecessariamente”.

Essa matéria foi originalmente publicada pela Defesane
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Arno Augustin: o malvado favorito de Dilma Rousseff

Secretário do Tesouro deve permanecer no próximo governo da presidente com poder ainda maior: será a ponte entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda

Ana Clara CostaArno Augustin, secretário do Tesouro
  Arno Augustin, secretário do Tesouro (Rodrigo Pozzebom/ABr/VEJA)
É sabido que Dilma Rousseff é severa com seus subordinados. Os que melhor se adaptam ao seu estilo de gestão são aqueles que ou se curvam às suas ideias, ou compartilham delas. O secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin faz ambas as coisas. Como na célebre animação Meu Malvado Favorito, toda vez que Dilma trama algo na economia, pode contar com Arno: ele é o seu 'minion' perfeito.
Arno guarda as chaves do Tesouro Nacional desde 2007. No governo e, sobretudo, fora dele, as preces são para que sua temporada na administração federal termine este ano. Contudo, o caminho será inverso. O secretário deverá ganhar mais poder. Dilma o quer mais perto e, por isso, deve “promovê-lo” a assessor especial, com direito a sala no Palácio do Planalto. Uma promoção e tanto para um homem que é malquisto não só por parte dos técnicos de sua própria secretaria, como também por políticos, empresários e pela alta cúpula do PT.
Levam a sua assinatura as medidas de “contabilidade criativa” que dilaceraram a credibilidade das contas públicas e que podem conduzir o país a um rebaixamento de nota pelas agências de classificação de risco em 2015. Também é atribuída a ele a parternidade de ações intervencionistas como a Medida Provisória 579, que provocou desequilíbrios no setor elétrico, e a redução da taxa de retorno para investidores interessados em dar lances nas concessões de infraestrutura feitas ao longo do governo Dilma.
Novo pitbull — No novo governo, Arno Augustin deverá servir de ponte entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda. A depender de quem ocupe essa pasta, pode ser uma tarefa muito, muito árdua. Cresceu ao longo da semana a expectativa de que Dilma convide o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para comandar a Fazenda. Depois de se reunir com Lula, na segunda-feira, a presidente está propensa a ceder e convidar Meirelles. Assessores próximos de Dilma reconhecem que ela não morre de amores pelo banqueiro, mas ficou balançada com a pressão vinda de seu antecessor. O argumento mais forte usado por Lula, afirmam, é de que uma guinada na economia será essencial para pavimentar a volta do ex-presidente na disputa eleitoral de 2018. E, para Lula, tal guinada só poderá acontecer se houver uma reconciliação com o mercado que Meirelles seria capaz de conduzir. Não que tenha mudado suas convicções ou reconhecido erros. Mas ela tampouco quer arcar com a culpa de ser a responsável pela saída do PT do poder.
Se Meirelles aceitar assumir a pasta, condicionará sua volta a Brasília à escolha de sua própria equipe econômica e a interferência mínima do Palácio do Planalto. Nesse contexto, a presença de Arno Augustin será crucial. “Ele será o pitbull de Dilma na área econômica. Como ele é de sua inteira confiança, Dilma vai delegar ao Arno todo o desgaste com a Fazenda”, afirma um assessor que acompanha as discussões sobre a troca ministerial. No PT, o secretário é visto com antipatia. Sua interferência na relação da Presidência com o setor privado, ainda que ele tenha apenas seguido ordens, é vista como um problema que poderia ter sido evitado. Diz um petista que se reuniu com Lula na quarta-feira, em São Paulo, que o desprezo do cacique petista por Augustin é tal que “não quer nem ouvir falar dele”. 
Soldado fiel — De fala mansa-esganiçada, vida simples e discrição pouco usual entre os caciques de Brasília, Augustin nada tem de truculento. Quem o conhece ressalta características como a boa educação e, em muitos casos, a docilidade — que só dá lugar à rispidez quando suas ordens são contrariadas. Seu domínio técnico e dedicação ao trabalho no Tesouro também são características constantemente mencionadas. Diz um senador petista que, ao participar como convidado das reuniões da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, sempre que questionado sobre números e conceitos, Augustin sabe tudo na ponta da língua e se mostra sempre solícito em ajudar.
Sua dedicação ao PT, partido ao qual é filiado desde 1987, somada à sua experiência na Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, fez com que fosse alçado ao posto de Secretário do Tesouro ainda durante o governo Lula — posto que continuou ocupando na gestão seguinte, num grau de poder que jamais havia sido oferecido a um secretário. Dilma foi responsável por trazê-lo a Brasília, nos idos de 2003, por ver nele um soldado fiel. Com Augustin, a presidente compartilha uma linha de pensamento econômico com forte viés à esquerda, que vê no emprego, e não na estabilidade macroeconômica, a chave para o desenvolvimento do país.
A subserviência do secretário à presidente, a quem não costuma responder com negativas, coloca em xeque sua própria credibilidade como técnico. Augustin lança mão da ortodoxia econômica para vetar a liberação de empréstimos a estados, mas pode ser o mais heterodoxo dos economistas ao criar medidas contábeis que mascaram as derrapadas fiscais do governo federal. Notórias foram as vezes em que, durante o governo Lula, o secretário criou disputas entre o Tesouro e governadores devido à sua “mão fechada”.
Numa ocasião, quando ainda era secretário no Rio Grande do Sul, brigou por uma linha de crédito de 1 bilhão de dólares junto ao Banco Mundial que, ao ingressar no Tesouro, decidiu negar. O ato suscitou revolta de parlamentares gaúchos. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) fez vigília no Senado, num discurso de mais de seis horas, para tentar chamar a atenção do Executivo. O estado era então governado pela tucana Yeda Crusius. Outro governador tucano, o paranaense Beto Richa, chegou a pedir à Justiça estadual uma mandado de prisão contra o secretário justamente por ele ter negado aval a um empréstimo de 600 milhões de reais ao estado. À época, Augustin alegou que liberar o limite significaria o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Curiosamente, hoje, devido à contabilidade criativa de Augustin e aos efeitos nocivos da política econômica de Dilma Rousseff, o país deverá encerrar o ano com déficit fiscal. Ou seja, até o momento, a diferença entre a arrecadação e os gastos do governo está negativa em 15 bilhões de reais, o pior resultado da história. A previsão do governo era de um superávit de 99 bilhões de reais para este ano. Diante da impossibilidade de se chegar a tal número, o Executivo tentará aprovar uma nova meta fiscal antes do apagar das luzes de 2014 — proposta que a oposição já sinalizou que combaterá. Se não conseguir aprovar a nova meta no Congresso, o governo terminará o ano descumprindo a LRF que o secretário dizia respeitar, o que poderá acarretar sanção penal contra a administração federal.
Pobre menino rico — Nascido numa abastada família da cidade de Carazinho (RS), Augustin encantou-se, ainda jovem, pelo pensamento trotskista. Por ser ainda criança durante os anos de chumbo da ditadura, nada teve a ver com a resistência, muito menos luta armada. Mas desenvolveu uma peculiar sensibilidade aos temas sociais e sempre se mostrou desprendido da riqueza que seu pai, de quem herdou o nome, acumulava com o passar do tempo. Dono de terras, comerciante de máquinas agrícolas e empresário do setor automotivo, Arno pai tentou trazer os filhos para o comando dos negócios.
Avesso à política e a qualquer ideologia que não fosse o trabalho duro, o patriarca escalou o filho mais velho, Claudio, para tocar a empresa. Um contemporâneo dos irmãos Augustin contou ao site de VEJA que, em poucos meses, o primogênito organizou uma greve de funcionários na empresa paterna e foi demitido. Claudio, um dos fundadores do PT no Rio Grande do Sul, foi uma das grandes influências políticas na vida do irmão, Arno Filho. Ambos deixaram Carazinho ainda jovens para estudar em Porto Alegre — e nunca mais abandonaram o engajamento político. Enquanto Arno se dedicou à administração pública de seu estado, daí sua devoção a Dilma Rousseff, que também iniciou carreira em solo gaúcho, Claudio se tornou líder sindical e hoje preside o Sindicado dos Funcionários Públicos do Rio Grande do Sul. O único a seguir o caminho do pai foi o empresário Carlos Ernesto Augustin, que hoje comanda um conglomerado de agronegócio, em especial de soja e algodão, com sede em Rondonópolis, no Mato Grosso.
Com reportagem de Naiara Infante Bertão e Talita Fernandes

Cigarro de maconha causa tumulto durante voo do RS para São Paulo



"Senhores passageiros, pedimos a todos que permaneçam sentados após o pouso. Teremos um procedimento de segurança." A frase, ouvida na manhã de sexta-feira (7) pelo sistema de som do voo JJ 3297, da TAM, mal anunciava o cenário que estava por vir.

Eram 7h32 quando o avião, vindo de Porto Alegre, pousara em Guarulhos. Passaram cinco minutos. Dez. Vinte...

De repente, o comandante: "A Polícia Federal virá em poucos minutos. Um passageiro será detido por fato ocorrido com uma comissária."

Assédio? Abuso? Das últimas fileiras, perto de onde estava a reportagem da Folha, veio a resposta: uma comissária encontrara maconha no banheiro da aeronave e apontara um passageiro de 19 anos como o suposto "dono".

Foi o pontapé para que o movimento do "quero sair" virasse uma "minimarcha" da maconha à bordo.

"Toma uma atitude aí, tchê!", gritava um passageiro idoso, não sem um colega deixar de emendar, aos risos: "Mas é só um 'baseadinho!'"

Junião

De repente, um famoso "maconha é remédio!" vindo do escritor e apresentador Eduardo Bueno, o Peninha. "Tem que prender quem não fuma!", gritou, na tentativa de "liberar" se não a legalização, pelo menos os passageiros.

Antes que a polícia viesse, o relógio já contava 8h55 -uma hora e 20 minutos trancados no "voo do baseado".

Foi aí que um grupo de passageiros quis sair. "A escada está aqui, vamos abrir a porta e sair!" Os comissários tentavam bloquear a saída. Minutos depois, chegava a PF.

Com a espera total de uma hora e 50 minutos (mais do que o tempo de voo) ao menos 90 passageiros perderam conexões, segundo funcionários. O suspeito, que iria (e ainda vai) passar férias em Alagoas, foi conduzido pela PF. Ouvido, negou tudo.

Segundo a PF, a comissária relatou que havia 18 "baseados" em um maço de cigarros. A polícia não informou a quantia (a bordo, o zum-zum-zum dava conta que era menos e foi parar na privada).

Ao final da confusão, o jovem assinou um termo circunstanciado e foi liberado.

"É fácil acusar. Ele tem 19 anos. Queria saber se eu que tivesse ido ao banheiro, se ela ia me acusar", defendeu a mãe, que pediu anonimato.

"Ele colocou a vida de todo mundo em risco", justificou um funcionário da TAM, sobre o risco de incêndio para quem fuma dentro do avião.

Com a demora para a chegada da PF, que alegou estar atribulada com a demanda pela manhã, quem acabou "preso" foram outros passageiros.

"Vou perder 12 horas nessa brincadeira. Me ferrei por meio baseado que eu nem vi", disse a estudante Anelise Wätcher, 20, que perdeu um voo para Lima, e ainda esperava por outro na noite de sexta.

Em nota, a TAM diz que o atraso ocorreu devido ao "passageiro indisciplinado" -nome técnico dado a passageiros que descumprem regras-, diz que seguiu as normas e que "prestou a assistência" aos que perderam conexões".

http://www1.folha.uo...sao-paulo.shtml

10 recados aos manifestantes anti-PT


Protesto antiPT
Milhares saíram pelas ruas de São Paulo no sábado, 1 de novembro, em protesto contra Dilma e o PT
1.
Uma coisa é a denúncia (como a do acordo Venezuela/MST). Outra a investigação do caso. Outra a justificativa legal para uma ação militar. Outra a cobrança intelectual pela atenção dos militares. Outra a cobrança do povo nas ruas pela intervenção. A falta de senso das nuances e compreensão do jogo político faz com que uma minoria acredite que a mera denúncia já é motivo para exigir nas ruas a intervenção. Não é. É motivo para as pessoas exigirem nas ruas investigação, lançando ainda mais luz sobre a denúncia, o que automaticamente chama a atenção dos militares, que não precisam de “cartazinho” com o nome deles para saber o que devem fazer, se e quando a Constituição assim o permitir. Uma coisa de cada vez, portanto, ou os manifestantes serão inevitavelmente tachados de golpistas. Sei que alguns não se importam. Sei que não entendem que isto afasta a população do movimento, em vez de atraí-la; e justifica que o PT convoque à militância às armas, como já fez no Facebook. Petistas levaram 40 anos para chegar ao poder. Há manifestantes que, após 12 anos inertes, querem tomá-lo do dia para a noite, correndo o risco de provocar um inútil banho de sangue.
2.
Assim como “leviana” PODE ser entendida como “vadia”, “vagabunda” ou “p***” – e o PT explorou isso na campanha eleitoral para tachar Aécio como homem que desrespeita e até agride as mulheres -, “intervenção militar” SÓ É ENTENDIDA como “golpe” e “volta da ditadura” – e será explorada por jornalistas e políticos petistas assim, independentemente de seu sentido técnico específico, queria você ou não.
Levar cartazes e gritar por isso nas ruas só serve para despertar ainda mais ódio pelo movimento e pelos próprios militares, mais uma vez associados à ditadura, à censura, à tortura e a todo o pacote do mal.
3.
Você tem o documento que prova que o Foro de São Paulo é entidade estrangeira? Você tem o documento que prova que o PT é subordinado a ele? Você já levou o caso aos tribunais nacionais e internacionais para ver se as provas são legítimas e justificam o impeachment e o fechamento do partido? Já aguardou o processo legal? Já moblizou milhões de pessoas nas ruas para exigir a investigação? Ou tem apenas denúncias e viu alguns milhares protestando em São Paulo e já quer ser juiz, povo e Exército, e derrubar o governo?
4.
Para a geração facebook, qualquer meme é uma prova cabal com valor jurídico.
5.
Ronaldo Caiado: “Os ministros Luiz Figueiredo (Relações Exteriores) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) terão que vir aqui detalhar esse acordo nebuloso entre MST e Venezuela.”
Caiado viu o vídeo do acordo e tomou essa providência legal para investigar o caso. Há pessoas – daquele tipo que nunca deu nem 10 reais para um site independente de oposição – que veem o vídeo do acordo e já querem “intervenção militar”.
A essa minoria, pedimos a gentileza de deixar claro o objetivo de suas manifestações de rua e marcá-las bem longe dos protestos anti-PT.
6.
Uma guerra cultural que limpe o nome das Forças Armadas e faça o povo entender que elas não são sinônimo de golpe, ditadura, tortura, censura etc., é uma coisa (que leva anos e precisa ser feita, como fazemos). Outra é sair às ruas clamando pelo Exército.
Sair às ruas clamando pelo Exército antes da hora tende a fazer apenas com que o trabalho da guerra cultural ande para trás.
Em março, o movimento que pedia intervenção militar fracassou. Mas parece que o fracasso subiu à cabeça de alguns.
7.
A oposição cresceu, conseguiu 51 milhões de votos anti-PT. Agora tem força, mas em vez de aproveitá-la, alguns querem chutar o balde. Depois não sabem por que perdem. “É urgente ter paciência”, dizia Goethe. E paciência com luta é bem diferente de passividade suicida.
8.
Político nenhum tem de apoiar pedido de impeachment sem ter provas cabais de que ele se aplica, senhores. É uma infantilidade esperar e exigir que o façam com base em simples denúncias. Eles podem apoiar manifestações, apontar que o povo está insatisfeito etc. Isto não é ser frouxo. Isto é respeitar as instituições, ainda que estejam aparelhadas, o que tanto o povo quanto eles podem denunciar também. O PSDB foi frouxo no combate ao PT nos últimos 12 anos até Aécio subir um pouco o tom, mas não é frouxidão alguma repudiar qualquer salto sobre a Constituição brasileira. O povo pode até gritar por impeachment nas ruas (não que eu recomende tal coisa), mas aos políticos cabe exigir investigação e punição aos corruptos, como fez o senador em sua volta ao Plenário. Tenham senso das nuances. Nem tudo que é tolerável na voz do povo é admissível na voz de um político. O sentimento de revolta contra o PT leva muita gente a exigir dos oposicionistas a postura que os petistas mais desejam que eles adotem para terminar o serviço de assassinar suas reputações.
9.
Que o Brasil se mire no exemplo dos EUA, onde a população rejeitou democraticamente o desgoverno Obama, deu a vitória no Senado aos Republicanos e renovou a minha fé na humanidade. O que seria do mundo, afinal, sem os americanos? Não respondam, MAVs.
Republicanos Senado
10.
Agora Dilma quer diálogo com PSDB. Agora Obama quer diálogo com Partido Republicano. O que oposição tem de fazer? Parar Dilma. Parar Obama.

by Felipe Moura Brasil
Veja

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