segunda-feira, 8 de abril de 2013

Na pele de uma mulher-Nostradamus





Sei, está bom demais para ser verdade. Sei, fazia tempo que alguém não se devotava tanto. Sim, posso imaginar o que esteja pensando: “Esse cara vai me levar às alturas e me deixar sozinha no despenhadeiro”.
“Não, não vou cair mais nessa, sei o tamanho de tombos do gênero,” você prossegue nas suas reflexões, nervosa, nervosíssima, daqui a uma hora se encontrarão mais uma vez.
Ele a convidou para jantar fora. Quanto tempo alguém não a tratava com tanta distinção.
Você se sente valorizada, mas está com medo, pode ser apenas mais um truque. Que que eu faço, Diós mio?
“Ele só quer sexo”, você pensa, como se sexo fosse uma coisa ruim do outro mundo. “Vai ficar comigo e na manhã seguinte esse telefone emudecerá de vez…”
Você projeta o futuro no pior cenário possível. Sim, não à toa, baseia-se no repertório deixado por outros homens. Jurisprudência amorosa.
Você consulta a amiga, a amiga mais cética, porque você está querendo ouvir algo desencorajador.
A amiga recomenda muito pé atrás. A amiga já levou muitos tombos e, de alguma forma, isso é humano, demasiadamente humano, sente uma certa ponta de inveja da sua história. Óbvio que a amiga invejosa vai desencorajá-la.
Falta meia hora para o novo encontro. Você confere o cabelo e acha péssimo. Você está desesperada como uma daqueles mulheres dos filmes de Pedro Almodóvar. “Por que esse cara vem logo para o meu lado”?”, você beira a paranóia delirante.
O carro dele pára na frente da sua casa. Há tempos você não ouvia aquela buzina que parece tocar uma sinfonia, um allegro. A buzina chama para a vida lá fora.
“Não pode ser verdade”, você insiste na desconfiança enquanto pisa na calçada da rua. “O que eu fiz por merecer?”
Entradas, drinques, o jantar está ótimo, a conversa incrível. “Só pode ser truque”, você aciona de novo todos os botões do painel da desconfiança. “Não fico com ele hoje de jeito nenhum, nem me venha com essa conversinha mole, seu canalha”.
Com licença, vai ao banheiro. Não resiste e resolve consultar de novo a amiga, pelo celular. Está em pânico. A amiga recomenda mais pé atrás ainda. Você acha o cabelo péssimo.
Você volta com aquela cara de cautela e dúvidas e é recebida com um sorriso de quem já sentia a sua falta.
“Demorei muito”, você diz. Sim, você demorou muito, só de telefonema foram dez minutos. Mas ele, todo afável: “Imagina, demorou quase nada”.
Sobremesa, café, a conta.
No carro, você nota, como aprendeu com aquele livro “O corpo fala”, que o carinho dele é cada vez físico e o desejo é cada vez mais quente. Mas você se esquiva,afinal de contas você não pode ser vítima desse “truqueiro” que só “pensa naquilo”.
E não era a primeira ou a segunda vez que vocês se encontravam. O flerte e a devoção dele já fizera aniversário de mês.
Moral da história: desconfiada e projetando já um eventual abandono, você, apocalíptica como uma afilhada de Nostradamus, não pagou para ver, você não arriscou, você não se permitiu, deixou de viver, como se na vida pudéssemos ter a certeza prévia das coisas, mesmo em se tratando da obviedade do mundo-macho

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