Por Pablo Huerta
Com a morte de um de seus principais chefes, “Avô Hassan”, apelido de Aslan Usoyan, a máfia russa voltou a estampar as manchetes dos jornais internacionais – embora nunca tenha deixado de ser notícia, já que seus tentáculos criminosos são tão extensos que vivem entranhados nas páginas policiais. No entanto, sua existência está relacionada ao contexto econômico e político da sociedade em que se desenvolve. Vale lembrar que a máfia é uma estrutura criminosa que estabelece vínculos com o governo e outras esferas de poder para evitar que seus membros sejam perseguidos e condenados pelos delitos que cometem.
A máfia russa é a mais poderosa do planeta, ao menos que se a considerarmos como um bloco que reúne as etnias da ex-União Soviética, incluindo russos, judeus, ucranianos, armênios, azerbaijanos, assírios, bielo-russos, chechenos, georgianos, usbeques e letões. Dado que algumas etnias engendraram suas próprias máfias nos países que habitam, seria mais apropriado falar da máfia soviética ou máfia do leste.
Comparada com as Tríades chinesas ou a Yacuza, no Japão, a máfia russa é jovem, embora existam microorganizações criminosas desde a época dos czares da Rússia imperial. O crescimento desses grupos se deu com a estagnação econômica da era Brézhnev (1964-1982), abrindo espaço para os vor v zakone, vendedores que forneciam ilegalmente produtos escassos, como jeans, cigarros, vodca, gomas de mascar e equipamentos de alta tecnologia a quem podia pagar. Isso mudou na década de 1990, com a Perestroika e o livre comércio.
A queda do comunismo, o desemprego e a mudança das regras do jogo econômico geraram um terreno fértil para as atividades ilícitas. Criou-se um vácuo na sociedade, que a máfia se dispôs a preencher, sobretudo quando jovens, ex-militares e ex-agentes da KGB começaram a procurar trabalho. Além disso, a burocracia – que caracterizou historicamente esses estados – acabou favorecendo o crescimento dos grupos mafiosos.
O avanço da máfia russa surpreenderia até as start-ups mais famosas do momento (Instagram, por exemplo), já que nos próximos cinco anos, calcula-se que haverá interferência da máfia em 40% das iniciativas privadas, 60% dos órgãos governamentais e, de forma direta ou indireta, em 80% das instituições bancárias.
A internacionalização da economia soviética também ampliou os horizontes mafiosos, sobretudo pela mão de obra que se deslocou para outros países em busca de novas oportunidades e por suas conexões com outras organizações criminosas, como os cartéis do narcotráfico da América Latina. Nessa “abertura de mercados”, Espanha, Hungria, India, Israel, África do Sul e Tailândia são alguns dos principais destinos.
Prostituição, tráfico de mulheres, venda de drogas, tráfico de armas e materiais nucleares, comércio ilegal de petróleo, lavagem de dinheiro de apostas ilegais e práticas menos “comerciais”, como assassinatos, atentados e sequestros, são algumas das atividades que a máfia russa desenvolveu ao longo dos anos.
Para saber mais sobre o funcionamento das máfias do planeta, não perca a série A Máfia Por Dentro, em breve no Discovery.

by Discovery/Uol