segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Velocidade dos negócios de Zé Dirceu exige que se desloque só por ar; a terra já não dá conta

Abaixo, publico um post sobre uma frase realmente estupefaciente dita por Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, em encontro com petistas. O Estadão publica nesta segunda uma impressionante reportagem de Bruno Boghossian e Fausto Macedo. Leiam. Volto em seguida.

A Operação Porto Seguro revelou que o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) mantém relação próxima com o empresário e ex-senador Gilberto Miranda – denunciado por corrupção ativa e apontado como principal beneficiário do suposto esquema de compra de pareceres técnicos em órgãos federais.
Telefonemas gravados pela Polícia Federal, em novembro de 2012, mostram que Dirceu e Miranda marcaram pelo menos duas reuniões às vésperas da deflagração da operação e que um assessor do petista chegou a pedir emprestado um jato particular do ex-senador para voar até a Bahia no feriado da República – viagem que Dirceu fez com a namorada e com Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo. A voz do ex-ministro do governo Lula não aparece nos áudios. Ele não era alvo da missão policial, mas Miranda estava sob vigilância permanente.
Em uma ligação gravada três semanas depois que Dirceu foi condenado no julgamento do mensalão, seu auxiliar diz que o petista se recusava a desembarcar no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, em horários de grande movimento. “Correr risco agora é besteira, né?”, recomenda Miranda ao assessor. Os 25.012 telefonemas gravados pela PF no decorrer da Porto Seguro detalham a intimidade com o poder mantida por Miranda e outros integrantes do grupo. Eram frequentes os diálogos com deputados, senadores, governadores, prefeitos e diretores de órgãos técnicos. Foi com a ajuda de algumas dessas autoridades que Miranda conseguiu benefícios para empreendimentos de suas empresas, como a construção de um porto privado na Ilha de Bagres, em Santos, litoral paulista.
A PF não envolve Dirceu com os negócios sob suspeita de Miranda. Mas as ligações interceptadas a partir de um grampo no telefone do ex-senador revelam que os dois tinham interesses em comum e uma relação que permitia ao petista pedir até empréstimo de um avião particular. As escutas mostram que Dirceu e Miranda tiveram um encontro no início da tarde de 8 de novembro. O assessor do petista telefona para a secretária do empresário às 11h59 para avisar que ele se atrasaria porque havia sido convocado para uma “reunião de urgência”.
“Eu só queria te pedir o seguinte: é que o Zé foi chamado para uma reunião de urgência, então a Evanise, a companheira dele, vai chegar um pouco antes no horário combinado e ele, se atrasar, ele chega uns minutos depois. Você pode avisar o Gilberto?”, pede o auxiliar de Dirceu.
RiscoNo dia seguinte, o assessor de Dirceu começa a articular com o ex-senador reunião para 19 de novembro entre a dupla e Saulo Ramos, ministro da Justiça na presidência de José Sarney – a quem Miranda é ligado. O avião de Miranda buscaria Dirceu no litoral da Bahia para levá-lo ao encontro, em São Paulo, e depois seguiria para Brasília. “A princípio estava marcado com o ministro (Saulo Ramos) dia 19, às 16h, mas isso daí eu vou falar com ele agora, pra ver até a parte da tarde. Isso daí eu te confirmo”, diz Miranda. A reunião acabou cancelada, dias depois.
No mesmo telefonema, o assessor de Dirceu pede informações sobre um helicóptero do empresário que levaria o petista ao Rio. Os dois temem que o mau tempo obrigue a aeronave a pousar no movimentado Aeroporto Santos Dumont, no meio da tarde. “O Zé não estava querendo descer lá no Santos Dumont, entende?”, diz Miranda. “Qualquer coisa pego um avião, saio daqui no domingo, quinze para as nove da noite, chego em Santos Dumont mais vazio, entendeu?”, sugere o auxiliar do petista.
O assessor telefona mais uma vez para Miranda, em 14 de novembro, às 14h20, para pedir um favor ao ex-senador. “É só uma consulta, não é oficial. O Zé tava indo viajar para a Bahia hoje e acabaram de ligar, que o King (jato executivo) deu uma pane elétrica, que iam emprestar para ele… Por acaso o teu está por aqui e poderia levá-lo, ou não?”, pergunta o assessor. “O meu está, mas eu estou sem piloto. Eu, como não ia viajar… Eu dei folga para eles”, responde Miranda. Apesar da recusa, Dirceu foi à Bahia, na praia de Camaçari, com a namorada e Rose.
Os criminalistas José Luís Oliveira Lima e Rodrigo Dalla’Acqua, que defendem Dirceu, responderam que o ex-ministro “não mantém nenhum relacionamento profissional com o sr. Gilberto Miranda, bem como não utilizou nenhum meio de transporte de propriedade do mesmo”. Eles destacaram: “A reunião com o sr. Saulo Ramos, como evidenciam as próprias gravações obtidas pelo ‘Estado’, acabou não se realizando.”
VolteiUma das funções dos advogados, é da profissão, é tentar demonstrar que nem tudo o que parece é. A depender do cliente, a tarefa é mais difícil e consiste em provar que TUDO o que parece não é. Dirceu se encaixa nesse grupo. Naqueles SMSs do celular de Oliveira Lima que milagrosamente iam parar nas mãos de jornalistas, aparece um José Dirceu grato a seu advogado, comovido mesmo. Não é pra menos. A gente nota que ele atua como um difícil porta-voz do outro.
O relato acima fala por si. Vejam com que desenvoltura os homens do Zé negociam aviões para ele pra cima e pra baixo. Um trecho chama a minha atenção em particular — e nem é aquele dos favores de Miranda. O King Air que “iam emprestar” para o Zé dá uma pane… Quem empresta avião, assim, quem empresta a caneta BIC. Nada é corriqueiro no mundo do Zé.
E, claro, como se nota, ele parece ter especial atração por figuras da
República que se envolvem em escândalos.  Na velocidade em que evoluem os negócios do Zé, ele já não pode mais se movimentar por terra — agora, é só pelo ar. De preferência, nas asas de patriotas como Gilberto Miranda.
E assim é porque o Zé, formalmente ao menos, está fora do poder. Imaginem quando era o segundo homem mais poderoso da República. Continuasse por lá, Angola (ainda tratarei do assunto) seria um exemplo de moralidade pública para o Brasil.
Por Reinaldo Azevedo

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