sábado, 12 de janeiro de 2013

Guerreiros do Coração: "Ser um guerreiro, homem ou mulher, significa ousar viver genuinamente, mesmo em fase de obstáculos como o medo, a dúvida, a depressão e a agressão externa. Ser um guerreiro não mantém nenhuma relação com travar uma guerra. Ser um guerreiro significa ter a coragem de saber completa e totalmente quem você é. Quer se julgue bom ou mau, quer seja feliz ou deprimido, jovem ou velho, neurótico ou equilibrado, como um autêntico guerreiro você reconhece a inerente bondade básica, mais profunda e duradoura do que todos esses efêmeros altos e baixos. Quando se é genuinamente autêntico, fica-se aberto a essa bondade fundamental existente em si e nos outros, mesmo quando ela parece obscura ou completamente enterrada. Os guerreiros nunca desistem de ninguém, inclusive de si mesmos.".



Guerreiros do Coração


Os Guerreiros do Coração acreditam que o mundo chegou num momento muito importante, para nós como também para toda a humanidade. Sabemos que o planeta está sendo destruído por causa de um materialismo excessivo. Nós sabemos que as pessoas seguem um caminho formal em suas vidas. É um tempo de realinhamento (onkoy) dos mundos, uma peça de uma tapeçaria da percepção que nos abrirá os olhos para realmente vermos o mundo como ele é.

Ser um guerreiro, homem ou mulher, significa ousar viver genuinamente, mesmo em fase de obstáculos como o medo, a dúvida, a depressão e a agressão externa. Ser um guerreiro não mantém nenhuma relação com travar uma guerra. Ser um guerreiro significa ter a coragem de saber completa e totalmente quem você é. Quer se julgue bom ou mau, quer seja feliz ou deprimido, jovem ou velho, neurótico ou equilibrado, como um autêntico guerreiro você reconhece a inerente bondade básica, mais profunda e duradoura do que todos esses efêmeros altos e baixos. Quando se é genuinamente autêntico, fica-se aberto a essa bondade fundamental existente em si e nos outros, mesmo quando ela parece obscura ou completamente enterrada. Os guerreiros nunca desistem de ninguém, inclusive de si mesmos.

O guerreiro não vive com o coração superficial do romance ou da emoção, embora a descoberta do coração possa começar por aí. Lamentavelmente, para muitas pessoas, a percepção do coração termina na emoção. O coração vai muito mais fundo do que isso. Viver com o coração não é ser sentimental ou confuso, e sim extremamente preciso e inteligente. O coração sente as qualidades de tudo em sua singularidade. Significa a capacidade de valorizar, exaltar profundamente tudo com que entramos em contato.

Bem, vou tentar explicar o que vem a ser o Caminho do Guerreiro do Coração que aprendi com uma Curandeira que me treinou dentro deste caminho. Me lembro muito bem que certa vez ela falou: “Papa, a raiva e a ira perpetuam o medo dentro de nós. Temos que enfrentar o medo sem esses sentimentos para seguirmos o caminho do Guerreiro do Coração”.

Como sabemos, o xamanismo poderia ser uma concentração de conceitos e de técnicas psíquicas que, ao longo das idades, foram desenvolvidos por um grupo particular, por povos de caçadores que se espalharam em cada continente. Numa época em que o ser humano se sentia inevitavelmente inferior ao meio ambiente, ele tentou entrar em harmonia com aquele ambiente, e escutar as mensagens dos povos mineral, animal e vegetal, com isso enriquecendo sua força psíquica. Todavia essa aptidão acabou por perder-se ao longo do tempo ou, mais exatamente, por refugiar-se entre indivíduos particulares que conhecemos pelo nome de xamãs.

Na antiquidade, todas as pessoas viviam uma vida holística. Não valorizavam o intelecto, mas a integração de mente, corpo e espírito em todas as coisas. Eles procuravam fazer exercícios que desenvolviam todo seu Ser e não só o seu corpo. Dentro da minha linhagem aprendi que quando nossa mente e espírito são forçados a praticar austeridades antinaturais ou devotar-se a dogmas externos, o nosso corpo cresce doente e fraco, tornando-se um traidor do ser integral. Ou seja, quando o corpo é enfatizado em detrimento da mente e do espírito, estes se tornam semelhantes a serpentes presas, que tornam-se frenéticas, explosivas e venenosas para si própria, tornando-se pessoas desequilibradas, sendo conduzidas até a exaustão e ao fim da sua força vital.

Geralmente os Xamãs que prefiro chamar aqui de Guerreiros do Coração são as pessoas que são mestres na arte de “ver” e que sabem utilizar-se da energia. Estas pessoas são respeitadas pelas suas comunidades em reconhecimento ao seu desenvolvimento espiritual e os benefícios que eles trazem às pessoas. Antes que os humanos fossem convertidos em massas de concreto, eles eram espíritos xamãs e estavam servindo o Grande Mistério da vida que é o Criador, Pachakamaq. Para nós que trilhamos esse Caminho Sagrado, consideramos o cosmo, e todas as coisas no mundo, como um campo de energia. Uma árvore é um campo de energia. Uma montanha é um campo de energia. A pedra. A estrela. Tudo irradia energia, e é composto de filamentos de energia luminosa. Você poderia imaginar um violão, ou uma harpa que estão repleto de cordas invisíveis. Nossos corpos são iguais, e preenchidos por filamentos de energia luminosa. Esses filamentos estabelecem comunicação com o infinito. A vida de um Guerreiro do Coração é uma vida de serviço. Todo ser vivente no universo tem uma relação para consertar que deve ser descoberto e deve ser desenvolvido e reconstruído. De algum modo, nós temos que aprender com a Pachamama, a Mãe Terra. Todas as práticas dos Guerreiros do Coração visam curar nossa relação com as forças cósmicas e trazer equilíbrio para nossas vidas, tecendo uma teia de energia com todas as coisas.

O Xamanismo é uma responsabilidade espiritual e estética de todos nós. O mundo foi desenvolvido com abuso e exagero. O mundo tecnológico alcançou um nível incrível, bonito, mas produziu exageradamente um desequilíbrio na Mãe Terra, devido à ganância do homem. O grande corpo da natureza constantemente demonstra reciprocamente que o idioma universal é o do espírito. Esta reciprocidade, especialmente no campo de energia, cria uma harmonia que pode equilibrar a energia coletiva do planeta dentro de uma matriz antiga da ordem universal. O idioma formal e o cultural criam limites. Para nós a essência principal da vida é a Natureza e o idioma é o amor. Se não há nenhum amor, então nós temos que usar nossa mente, mas ela freqüentemente só traz preocupações cotidianas. Nosso trabalho mais importante é pôr nossa mente no travesseiro e deixar que ela descanse. A mente é um espelho de nosso ego e nos carrega com todos os tipos de reflexões, racionalizações, inseguranças, e diálogo interno. É necessário abrir as portas da percepção e escutar com nosso corpo inteiro. Desta forma, nosso diálogo interno desaparecerá. Se nós formos além de nosso diálogo interno e abrirmos as portas à energia do cosmo, e escutarmos o silêncio, nós perceberemos que tudo é povoado por vozes. A primeira voz que nós ouvimos pode ser o espírito do fogo ou o do vento, e então nós notaremos que as outras vozes da natureza virão. A árvore, a pedra, a água. E pouco a pouco, nossos corpos tomam consciência que nós somos uma parte da grande totalidade da energia cósmica. Se você conecta com os filamentos do cosmo, então você não é um indivíduo separado do resto do universo inteiro. Se você conecta seu corpo com as pedras, com as árvores, com o céu e com o cosmo inteiro, você verá então que é muito fácil transformar a energia da vida. Imagine como é insignificante os problemas cotidianos, quando uma pessoa sabe manipular o uso correto de energia.

A mente é um espelho de nosso ego e nos carrega com todos os tipos de reflexões, racionalizações, inseguranças, e diálogo interno. É necessário abrir as portas da percepção e escutar com nosso corpo inteiro. Desta forma, nosso diálogo interno desaparecerá. Se nós formos além de nosso diálogo interno e abrirmos as portas à energia do cosmo, e escutarmos o silêncio, nós perceberemos que tudo é povoado por vozes. A primeira voz que nós ouvimos pode ser o espírito do fogo ou o do vento, e então nós notaremos que as outras vozes da natureza virão. A árvore, a pedra, a água. E pouco a pouco, nossos corpos tomam consciência que nós somos uma parte da grande totalidade da energia cósmica. Se você conecta com os filamentos do cosmo, então você não é um indivíduo separado do resto do universo inteiro. Se você conecta seu corpo com as pedras, com as árvores, com o céu e com o cosmo inteiro, você verá então que é muito fácil transformar a energia da vida. Imagine como é insignificante os problemas cotidianos, quando uma pessoa sabe manipular o uso correto de energia.

Aprendi no Taoísmo, como também no Caminho Tolteca, entre outros que as informações que recebemos da mente é ordenada por julgamentos, que foram baseados em julgamentos anteriores, que são baseadas nas idéias de outros. Mas voltando ao assunto, a energia mental flui constantemente através de canais distorcidos e inadequados, e quanto mais o indivíduo utiliza a mente, mais confuso ele fica.

A fim de eliminar o tormento da mente, de nada adianta fazer alguma coisa; isto só reforça o mecanismo da mente. Ao contrário, dissolver a mente é não-fazer. Simplesmente devemos evitar nos apegarmos aquilo que vemos e pensamos. Temos que abandonar a idéia de que estamos separados da mente onisciente do universo. Só assim poderemos recuperar nossos insights puros e originais, e podermos enxergar através de todas as ilusões. Sem nada saber, termos consciência de tudo. Tem um ditado Taoista que fala: “A clareza e a iluminação encontram-se em sua própria natureza, por isso são recuperadas sem que se mova uma palha”.

Nós estamos aqui para não fazer nada. “Nada”, é a coisa mais difícil para fazer porque nós vivemos fazendo coisas e usamos a nossa energia para tal. Nós sempre estamos sofrendo com aquele diálogo interno que não deixa nossa mente só. Assim, nosso trabalho tem certas divisões aparentes. Primeiro, nossa tarefa é estabelecer contato com os espíritos da natureza. Nós temos que aprender a curar com pedras, ervas, e o vento. Nós temos que saber como a energia do cosmo trabalha em nosso próprio corpo. Nós temos que ver além do que nossos olhos físicos podem ver, temos que aprender a ver com nosso corpo inteiro. E a coisa mais importante é permitir que nosso coração nos conduza nesse processo. Isso é a primeira parte do trabalho. A segunda parte é o intenso processo de meditação que nos conecta com o espírito e com as forças sobrenaturais. Pondo nossa mente para descansar e jogando fora toda a energia supérflua de estados meramente mentais da consciência. Nosso terceiro trabalho é a iluminação, onde alcançaremos a evolução necessária para conectar com o cosmo de forma que nós podemos sentir a nossa luz interna. Nós temos que sentir o fogo interno de outros estados de consciência que nós temos, que nunca experimentamos antes. Em meu próprio caminho, percebi que nossa terra, Pachamama é maravilhosa. Não acredito que, em todas as constelações e milhões de mundos no cosmo, possa existir um planeta mais maravilhoso que nossa Terra! Eu sei que pode ser uma arrogância pensar assim, que existem outros lugares na galáxia, mas nenhum deles é a nossa Mãe Terra. Mas, eu estou muito interessado na asa colorida da borboleta. Na respiração de uma árvore. No vôo do Beija-Flor. O que pensa o Jaguar na floresta? O que pensa a floresta do rio? Pois esta é a voz da natureza na qual o chorar de medo, é simplesmente falta de amor.

Os Guerreiros do Coração tendem a não fazer a distinção Cartesiana entre assunto e objeto, entre interno e exterior, entre os significaram e o significa, entre o secular e o sagrado. Assim eles podem realizar os saltos dos causais, e são capazes literalmente de pisar fora do tempo linear. Eles não perderam a função sensória do conhecimento, eles percebem sentem e são capazes de atravessar as cinco sensações. Eles são capazes de sentir a textura de uma montanha, percebem totalidades que são por definição não lineares. A fluência das percepções sensórias deles é em parte um resultado da relação deles com a Natureza. A interação deles com a Mãe Terra, Pachamama, como parte de sua vida diária não é só ambiental, mas é energética, fazem parte do seu ser e de sua existência. Os Guerreiros do Coração ainda saudam o sol ao amanhecer e o cumprimenta ao entardecer. Sua vida diária é submergida no sensório, no mítico, no Feminino, em Eros. Eles praticam ayni com Natureza e entre si. Ayni é reciprocidade, ou o processo de troca. Para nós como Guerreiros, a condição de nossa vida é um espelho de nossa relação com a Natureza. A meta do Guerreiro do Coração é entrar em ayni perfeito em todos os três níveis do cosmo. O mundo inferior, ou o mundo pessoal, interior; o mundo mediano que é o mundo físico no qual nós moramos; e o mundo superior ou atmosfera que não são comparadas com o conceito Ocidental de “céu” mas com a energia que flui dentro do universo inteiro. O mastay é trazer harmonia para todos os três mundos, e é melhor realizado estabelecendo uma relação de sincronicidade entre o mundo e o ego, tendo acesso a energia yoqe que nos conecta o mágico, com os reinos não ordinários. Estes reinos podem e devem ser acessados fora do tempo ordinário, embora o mastay, é um alinhamento de ambos com o tempo e além-tempo. Os Guerreiros do Coração têm acesso a estes reinos tendo acesso aos seus egos múltiplos. Seu conceito sobre egos múltiplos é intimamente ligado com os conceitos deles de pisar fora do tempo. Eles vivem no dreamtime. Para eles o dreamtime não é exclusivo ao domínio do sono quando sonhamos, mas esta comprometido ao estado alerta do despertar. Além disso, tendo acesso a egos múltiplos, alcança-se múltiplas consciências. Raramente usam drogas psicotrópicas, eles não induzem o estado de consciência, pelo toque do tambor ou dança, como é a prática de muitas culturas xamânicas. Pelo contrário, para eles entrar nos domínios do não ordinário, normalmente se faz na Natureza, através do poder pessoal e do amor. Um destes egos múltiplos é claro que manifesta no nosso tempo. Isso é, aquele que “nós” somos. Existem outros egos, em contraste com este, múltiplas relações do dreamtime no tempo; em tempo ritual, em tempo sagrado. Para os Guerreiros do Coração, tempo é um complexo, uma realidade múltipla. Eles vêem uma relação causal com o tempo, o tempo monocrônico, é determinado pela fonte da violência. No cronômetro monocrônico você é forçado a vivenciar um futuro pré-ordinário que o mantém no pesadelo da história. Por sua vez, no cronômetro policrônico, você ganha a habilidade para decidir como você vai responder ao que acontece a você. Por exemplo, se você é encarnado através de cronômetro monocrônico, então você é forçado a olhar para trás os eventos que aconteceram com você em seu passado, para explicar o que é você hoje. Os ocidentais criaram uma profissão que verificasse a relação de pais e filhos, para explicar através desse passado a dinâmica das suas almas e psiques atuais. Ao crescer, segundo eles, você tem que se redimir de seu passado e das relações dele com o passado. Em um nível cultural e espiritual, este é o espelho Ocidental da percepção teológica Judaico-Cristã onde a pessoa deve, por exemplo, reconciliar-se do pecado original, ao qual foi banido do Jardim do Éden. Os Guerreiros do Coração, porém, estão olhando para frente em lugar de olhar para trás. Eles se reconciliam com quem eles estão se tornando, ao invés de quem eles foram. Para nós, a primeira prática xamânica é o Rito da Morte. Os rito de morte são uma série de rituais em qual trabalhamos o Wiracocha que para os Andinos tem um desdobramento que significa a existência. Primeiro é o corpo luminoso, o corpo de energia pessoal que informa o físico. E o modelo para o físico é o ego psicológico. Tendo acesso ao nosso Wiracocha pessoal, nós podemos limpar nosso ego, podemos mudar as encrustações culturais que influi na nossa vida “física e psíquica”. Em um contexto maior, o Wiracocha é uma energia universal que forma o cosmo. Limpando nosso Wiracocha pessoal, nós podemos forjar laços mais fortes para o Wiracocha universal. Os ritos de morte, ao contrário do nome, são ritos de passagem que acontece sempre que há uma transição ou uma passagem na nossa vida; do velho para o novo, de quem você era a quem você está se tornando. Eles também são rituais que auxiliam você a enfrentar seus medos, raiva e agressividade. Para os Guerreiros do Coração, medo é comparado com agressividade. O oposto da ordem, ou harmonia, não é o caos, mas sim a agressividade. Até que você ultrapasse a agressividade em seu trabalho pessoal ao redor da Roda da Medicina, você é incapaz de limpar o Wiracocha completamente e empenhar-se no que você está se tornando. Os Guerreiros do Coração vêem duas linhagens do passado que devem ser reconciliados: a biológica e a reencarnatória. Estas duas linhagens se cruzam no tempo em que vivemos neste mundo no momento presente. Estas duas linhagens enchem seu corpo de energia. O biológico é sua herança física, genética. O psico-espiritual; na linha encarnatória do que você foi, por outro lado, energiza seu presente e o predispõe para certos eventos e experiências. No Ocidente, nós lidamos principalmente com nossa herança genética. Buscando superar nossas fraquezas biológicas e nosso lado psico-espiritual, buscando melhorar o dano causado por nossa família e história ancestral. Porém, os Guerreiros do Coração começam buscando remover o impulso negativo de qualquer reencarnação, limpando-nos e nos despindo destes rastros. Eles dizem que ao nascermos, fantasmas famintos do passado vieram nos convidar para alimentar as sobras do outono de seu prato. Estes fantasmas alimentam-se do presente; eles se alimentam de sua energia vital. Assim os ritos de morte, e muitos outros rituais dos Guerreiros do Coração, são projetados para exorcizar; e se livrar destes fantasmas famintos, de forma que o presente não esteja sendo reivindicado pelo passado. Na Roda da Medicina Wayra, ou dos Ventos, o Trabalho do Sul é onde enfrentamos nosso passado; é a direção simbolizada pelo arquétipo da serpente. Os Guerreiros do Coração dizem que você tem que deixar seu passado, do mesmo modo que uma serpente deixa sua pele cair para que uma nova surja. Fazendo isto, você tem que deixar também sua relação para o tempo linear. Se você escolhe manter boas relações com a marcha do tempo linear e seguir o comando de Logotipos, então você não pode ter acesso a seus egos múltiplos facilmente, livre-se de tempos em tempos de traumas que o perturbam. Quando eles falam sobre limpar o Wiracocha, não só estão falando de lançar a energia pesada, eles não falam sobre a energia negativa e positiva, mas da energia mais pesada (densa) que prejudica inclusive o corpo físico. Eles não só podem efetuar uma cura física, mas acelerar a evolução. Eles acreditam que eles estão criando o corpo pessoal e, por causa de ayni, acabam germinando o corpo do mundo. Assim, o mastay é imediatamente individual e universal. Esta realização é um dos modos mais fáceis para um ocidental observar brevemente a percepção do mundo dos Guerreiros do Coração, até mesmo nossos egos racionais podem entender que nós como indivíduos afetamos o mundo ao redor de nós. Nós podemos nos ver como múltiplos, simplesmente vendo a conexão entre nossas ações individuais e os resultados deles como reflexo na condição mundial.

Como já falei anteriormente, todos nós somos formas de energia e como tal estamos ligados a tantos outros seres de energia nesta dimensão da realidade e também em outras. Quando entramos no dreamtime, temos acessos a consciências que não são exatamente nossas, mas o são, pois fazemos parte de uma essência primária. Quando estamos em comunhão perfeita com a Natureza, eu posso sentir a liberdade do pássaro voando, a força da correnteza do rio, entre tantas coisas mais. Quando estamos assim, neste dreamtime, sentimos isso não do nosso ponto de vista, e sim pelo do pássaro e do rio. Essa metáfora é apenas um vislumbre do que é realmente o dreamtime.

Segundo a filosofia dos Guerreiros do Coração, eles visam alcançar a integridade pessoal e harmonia completa com a Natureza. Don Alberto, um xamã que me apresentou a minha “Maestra”, me ensinou que: “Para o Guerreiro do Coração, sua vida é um espelho perfeito de sua relação com Natureza; o estado de sua vida reflete a sua natureza pessoal e sua relação com Mãe Terra, Pachamama”. O caminho para atingir essa meta é chamado de Roda da Medicina Wayra. A Roda da Medicina é um caminho com quatro estágios ou passos, que uma pessoa necessita galgar para tornar-se uma pessoa de poder e conhecimento. Cada passo ou estágio é representado pelas direções da bússola e é acompanhado por um animal de poder que ensina uma lição específica, por isso chama-se Roda dos Ventos. A Roda da Medicina começa no sul, e é representado pela serpente Satchamama, a Grande Serpente do Lago Yarinacocha, a Senhora das Emoções. É o lugar que você se livra do passado da mesma maneira que a serpente se livra de sua pele. É um ato de poder e um ato de amor. Na visão andina, a beleza e a simplicidade são as recompensas do trabalho no sul. O modo da serpente no sul nós ensinam como caminhar com a sua barriga na Terra, a mãe de todos nós. A serpente nos ensina o Caminho da Beleza: como entrar em beleza e trazer beleza para tudo que nós tocamos. Esse caminho é comumente chamado de Caminho do Curador. O trabalho do Sul é onde exorcizamos o passado que nos persegue, nos prende e nos restringe.

Para desempenhar totalmente o trabalho do Sul, é necessário aplacar o medo. O medo é o reino do Oeste, onde vai se defrontar a morte. Entretanto, não poderá se exorcizar a morte enquanto não completar o trabalho do Sul. É como um círculo vicioso. Saindo do sul realizamos o trabalho do oeste. Representado pelo Jaguar, Otorongo, o oeste é um lugar onde você enfrenta a morte. Quando você entra nesta fase em seu trabalho, você tem que passar por uma morte ritual -uma morte simbólica- de tudo que você foi antes. Um ritual comum do trabalho do oeste é a cerimônia do fogo no qual uma flecha que simboliza recordações de eventos passados é queimada (muito parecida com a tradição Lakota de queimar as trouxinhas com coisas negativas). O Perdão que é buscado e dado. O oeste é onde você pisa além do medo – além da raiva, da violência, e da ira. Raiva e ira perpetuam o medo dentro de nós, assim você tem que aprender o modo do Guerreiro do Coração, o Caminho da Não Violência, ou Caminho do Guerreiro. Realizando o trabalho do oeste você irá além da morte, de forma que a morte já não o assombrará. O Oeste é onde perdemos o medo ao enfrentar a morte e nos libertamos do futuro desconhecido. Na Roda da Medicina Inca, o oeste vem sempre depois do sul, e o trabalho do norte não pode ser feito até o trabalho do oeste ser completado.

O norte é representado pelo Beija-flor (Q’enti), sendo algumas vezes substituídos pelo Dragão, e é o lugar dos ensinos do mistério e das tradições. É o lugar onde você se torna uma pessoa de conhecimento. No norte você aprende a ficar invisível. Você não tem nada a esconder ou para defender, e poderá deixar as pessoas vê-lo. O norte é filosoficamente crítico às pessoas em recuperação, especialmente de hábitos. Na maioria dos programas de recuperação, são ensinadas as pessoas a acreditar que elas serão sempre viciadas. Da perspectiva xamânica, você admite o fato que você é um fumante, entretanto os passos 13 e 14 envolvem não se definindo como o que você foi, mas se definindo em termos do que você está se tornando. Este é um das falácias da psicologia ocidental. Nós somos as únicas pessoas no mundo que se define de acordo com algo que aconteceu a nós no passado. Na tradição xamânica você se define em termos de quem você está se tornando. A chave para achar seu futuro, está na convicção do xamanismo sobre a Natureza do tempo. Há dois tipos de tempo aos quais eu já falei, mas é bom lembrar para deixar claro: Monocronológico, ou tempo linear que voa como uma flecha; e policronológico que cronometra como gira a Roda da Medicina. Fazendo o trabalho da Roda da Medicina, um indivíduo aprende sair do tempo linear no cronometro policronológico. É um tempo que é não casual, um tempo onde você pode chamar seu destino e pode cutucar o futuro. Isto é essencial em qualquer desenvolvimento do trabalho do Leste, caso contrário você poderá tornar-se uma vítima.

As chaves para entrar em tempo de policronológico são técnicas arcaicas de êxtase. Para o Guerreiro do Coração, algumas dessas técnicas podem ser tão simples quanto à meditação e ainda podem alcançar resultados notáveis. Durante o meu trabalho no Leste, viajei para fora do meu corpo e testemunhei milhares de eventos distantes, e anos no futuro. A maioria das pessoas nunca vai além do trabalho do norte. Eu quase não passei envolvido pelo meu Egocentrismo. O trabalho do norte é o Caminho do Professor ou do Mestre.

Os que realizam o trabalho do leste se tornam visionários. O leste é o lugar onde você exercita seu conhecimento e recebe o poder para realizar o bem aos outros. É o lugar onde nós pressentimos o tipo de mundo que nós queremos quando somos crianças, e o mundo em que as crianças irão herdar. O leste é o lugar mais duro, o lugar onde você vem e contata novamente o mundo. Você regressa para seu trabalho, seu matrimônio, e quando você traz sua cura para os outros, você transforma esses ambientes. No leste nós usamos algumas variáveis em vez de reescrever nossas descrições de trabalho, matrimônios variáveis em vez de redefini-los e transformando nossos matrimônios. Nós aceitamos o usual. No leste, nós não aceitamos o usual; ao invés disso nós nos tornamos os agentes da transformação e visionários. Este é o Caminho do Visionário e seu animal totem é o Condor ou a Harpya.

A tradição xamânica andina têm uma ciência que é muito elegante e sofisticada, só que muito diferente da nossa. Nós somos enfocados no mundo exterior; enquanto a ciência deles é enfocada no mundo interno. Nós somos mestres em transformar os rios em eletricidade e distribuir aquela eletricidade para as nossas cidades. Nós queremos dominar a energia no mundo exterior. Os Paq’os (xamãs andinos) são os mestres em fazer a mesma coisa, mas no mundo interno. Eles levam energia interna – a energia do coração – e a transforma, distribuindo-a, para a cura de seu povo. Eles alcançaram o equivalente do que nós temos no mundo exterior, mas faz isto com o mundo da alma e da mente.Voltar


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